QUEM ESTÁ CERTO? O BRASIL É MACHISTA OU FOMOS ENGANADOS PELO IPEA?

eu nao mereço Quem está certo? O Brasil é machista ou fomos enganados pelo IPEA?

QUEM ESTÁ CERTO? O BRASIL É MACHISTA OU FOMOS ENGANADOS PELO IPEA?

Repare as fotos acima. Na contramão da campanha contra os resultados da pesquisa do IPEA,  em que muitas internautas postaram as fotos com a hastag #EuNãoMereçoSerEstuprada, eis que surge uma outra iniciativa, dizendo que os resultados da pesquisa servem para manipular a opinião pública.
A esta altura do campeonato um pouco de informação, neste ano em que seremos cercados de pesquisas sobre a  opinião pública,  não é de todo um mal, estou correto? Se você concorda com este pretenso blogueiro, passemos pois a elas. Primeiramente quero elucidar três pontos (e deixo de lado a questão de amostras representativas neste post, o que, trocando em miúdos, diz respeito aos cálculos e à escolha em um determinado grupo de indivíduos, de uma parcela menor, de cuja opinião se extrai uma ideia sobre a opinião do todo, isto é, do grupo inteiro).  Vamos a eles:
1) Toda opinião pressupõe 2 elementos: um dado da realidade (que é o objeto da opinião) e o valor que atribuímos este dado, ou objeto.
2) Um objeto de pesquisa para ter relevância na esfera da opinião pública tem que apresentar uma especificidade: ele, o objeto, deve ser de matéria pública. Afinal, de que adiantaria perguntar para as pessoas sobre assuntos que elas não conhecem? Por sua vez, o requisito óbvio para que um tema seja de interesse da agenda pública nos dias de hoje, parece ser a presença do tema nos meios de comunicação. (Lembra-se que nestes dias o assédio sexual  às mulheres dentro dos trens foi manchete? Pois é, pouco depois a pesquisa do IPEA foi divulgada…)
3) Para que a opinião pública possa ser entendida como a somatória das opiniões individuais o que é preciso? R: que todos os entrevistados tivessem opiniões individuais (somáveis) sobre os temas da agenda pública, o que nem sempre acontece. A população nem sempre tem acesso a notícias isentas de ideologia por parte da mídia e nem entende bem os fatos ou processos que geraram estas notícias. Do mesmo modo, as opiniões muitas vezes não são somáveis. Alguém por exemplo pode dizer que não gosta do governo Dilma porque a acha uma ignorante, outro também diz não gostar do governo dela, mas porque não admite a ideologia do Partido dos Trabalhadores. Estas opiniões, ao menos em tese, não seriam “somáveis”.
Dito isso, imagine o que significa o resultado de uma pesquisa de opinião pública sobre intenções de voto, ou sobre a satisfação em relação ao desempenho de um político: se a população não tem critérios, nem possibilidades de comparação com um exemplo de candidato ideal, ou de governo ideal, como vai atribuir um valor (mesmo que qualitativo, do tipo de “péssimo à ótimo, escolha uma opção)? No exemplo de uma opinião sobre o governo Dilma, isto se torna evidente: nossa população mal conhece as competências e atribuições que cabem a um presidente, entretanto, respondem às pesquisas na rua sem pestanejar um minuto sequer.
O fato é que, dificilmente se tem no campo das coisas públicas, uma opinião formada. O que temos são simpatias, antipatias, gostos, desgostos… opiniões formadas exigem capacidade de pensamento abstrato, conhecimento aprofundado sobre o tema. No caso de opinião sobre votos, a verdadeira opinião pública, se existisse, deveria levar em conta a ética e o melhor programa de governo e não simpatias e  ideologias rasas… Sem contar que, por mais paradoxal que pareça, a “opinião” pública quando divulgada, é ela mesma uma… formadora de “opinião”!
Logo, as tais pesquisas de opinião, dizem sim alguma coisa sobre os grupos da sociedade, mas devem ser olhadas com senso crítico. Muitas vezes não são opiniões fundamentadas, são apenas indicadores de para onde sopra o senso comum. Isto explicaria alguns resultados ditos contraditórios presentes na pesquisa do IPEA. Afinal, em um país que não tem elementos para julgar os valores e assim emitir opiniões, é comum se repetir disparates, coisas ditas aqui e ali, ideias “prontas” se me permitem dizer. O que é um sintoma grave, que demonstra a falta de gente que pensa, que pondera e que discerne. Mas… esperar o que, se nem em matemática, que é ciência exata, nosso país consegue uma boa posição no ranking ,né? #BrasilUmPaísDeTolos? #AtéQuando?!

A CULPA NÃO É SUA? SOMOS TODOS CULPADOS! #EUNÃOMEREÇOSERESTUPRADA

boca A CULPA não é sua? Somos todos CULPADOS! #EuNãoMereçoSerEstuprada
Protestos pela pesquisa do IPEA que revelou que 58,5% dos entrevistados brasileiros concordaram com a ideia de que mulheres provocantes pedem pelo estupro. Os selfies seguidos de #EuNãoMereçoSerEstuprada circulam pela web como um grito revolta. DE QUEM É A CULPA? É UM POUCO DE TODOS NÓS, ouso dizer, na contramão da reflexão vigente.
Viemos de um contexto histórico, ao menos este é o cenário de nosso país, de total exaltação da sensualidade e do culto ao corpo, ao prazer e ao sexo. Que o digam os carnavais da Sapucaí com toda a sua exuberância e seios fartos nos destaques dos carros alegóricos. O corpo feminino a muito é uma espécie de produto quando filmado ou fotografado, sem nenhuma ou com quase alguma roupa, para as revistas masculinas. Revistas de sacanagem é como a chamávamos no anos 80-90. De um tempo para cá, este “privilégio” foi estendido aos homens. Alguns também podem lucrar (bem menos que as mulheres) com a exposição do próprio corpo para mexer com os desejos e com a libido dos compradores desta publicações. Nem precisa dizer que este material está fartamente disposto na Internet.
Peito, bunda, lábios carnudos, vestidos provocantes: tudo a venda! Desde que alguém desceu até a “boquinha da garrafa” para “ralar”, minha percepção musical não foi mais a mesma. (e eu em sei se se isso tem cura) Além do que: Corpos sarados, panicats, “bailarinas” de programas de auditório, o que exploram em comum? A beleza desejante de suas bundas e peitos, é bom que se diga sem fazer rodeios com o palavrório usado aqui.
Daí que um dia vemos o resultado de uma pesquisa: “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. O levantamento mostrou que 42,7% concordaram totalmente com a afirmação e 22,4% parcialmente; 24% discordaram totalmente e 8,4% parcialmente. Das 3.810 pessoas entrevistadas, 66,5% eram mulheres. (Recalque?) Beijinho no ombro para elas?. E mais: 58,5% dos entrevistados brasileiros concordaram totalmente ou parcialmente com a frase “Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.
A esta altura, antes de fazer minhas ressalvas, afirmo que não concordo que alguém mereça ser estuprado de maneira alguma. E acho equivocado que um vestido ou um decote suscite em alguém o motivo para realizar um estupro. De quem é a culpa pelo estupro? Apenas do estuprador, evidentemente! Este é um ponto que é preciso reforçar inclusive com as crianças vitimas de abuso: no atendimento desta Vítimas, descobrimos que muitas delas carregam uma noção (inconsciente?) de que de alguma maneira foram culpadas. O estupro lhes serviria como punição!
Nada mais errado que isso. Só ao estuprador deve ser imputada a culpa pelo seu ato e a mais ninguém, se a questão é culpabilizar alguém. Então, de que somos culpados afinal? Somos culpados pelo resultado da pesquisa do IPEA. Culpados por vivermos em uma sociedade com valores deturpados sobre a inviolabilidade do corpo, a sacralidade do sexo e a estimulação exacerbada da sensualidade. Geramos uma sociedade caduca do ponto de vista da sexualidade humana, que protesta por não merecer estupro, mas que não vê erro algum em  almejar ser objeto de consumo nas páginas da Playboy.
O equívoco e a mentalidade doentia que a pesquisa demonstrou, gente que pensa que pode fazer o que quiser com o corpo alheio, é reflexo de uma sociedade que se comporta de maneira desonesta em relação às questões ligadas ao outro, à ética, ao corpo, ao desejo, à libido e ao belo. Uma sociedade mais equilibrada poderia não conseguir conter seus estupradores, mas teria uma porcentagem diferente de respostas sexistas como as que vimos publicadas pelo IPEA. Ninguém é culpado por ser estuprado, mas pode, em maior ou menor número, ser culpado por esta falta de noção de quem acha o contrário. Isto passa pelo nosso exemplo, pela educação que damos às nossas crianças, pela postura que temos em relação à coisificação do sensual e do erótico. Como afirmou Levinas “”somos responsáveis por todos, e eu, mais que todos”.
Fonte:http://sabedoriadeamar.com.br/quem-esta-certo-o-brasil-e-machista-ou-fomos-enganados-pelo-ipea/

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