A DANÇA NA UMBANDA,CANDOMBLÉ,DANÇA AFRO,DANÇA E RELIGIÃO

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A Dança na Umbanda

A Umbanda

A Umbanda é uma religião brasileira, porém, formada pela união de elementos de outras religiões como o catolicismo e o espiritismo e ainda elementos da cultura indígena e africana. Não podemos considerá-la como uma religião politeísta e sim, monoteísta devido a presença do orixá supremo Olorum ou Obatalá em seu panteão.
Assim como no candomblé, nos rituais da Umbanda as danças são realizadas com os participantes dispostos em forma circular, onde essas rotações são realizadas em sentido anti-horário para se repensar a ideia de volta aos princípios, uma forma de aproximação com a ancestralidade.
As cerimônias são caracterizadas por dois momentos, o Xirê, onde se canta para todos os orixás, no mínimo três cantigas acompanhadas pelas danças. Em uma grande roda, todos os integrantes dançam representando as características de cada orixá, imitando seus gestos. O segundo momento é caracterizado pela chegada dos orixás, os integrantes então são devidamente trajados e recebem suas ferramentas. A partir daí, o orixá que desenvolve a coreografia sagrada.
Essa dança ritualística da umbanda, acaba por corresponder uma forma de oração corporal, uma prece em movimento. Essa oração é expressada pela dança ritual, promovendo harmonia entre espírito, mente e corpo, como uma forma de canalização de energias transcendentes do mundo espiritual e externando-as na dimensão material.
Na dança umbandista, consolida-se o fenômeno mediúnico no movimento. Fato que ocorre na dança ritualística, onde o médium comunica corporalmente seu estado de transe e deixa transparecer o outro espiritual que naquele momento apodera-se, mesmo que parcialmente, na sua mente. O médium libera a irradiação da energia pelo seu guia, o círculo feito durante a dança afasta tudo que se refere ao mundo exterior e concentra ali apenas o que é espiritual e divino, acontecendo então a união com o sagrado, o seu orixá.
Ao longo do transe, as entidades manifestadas nos médiuns executam movimentações e gestos que caracterizam símbolos arquetípicos das entidades que habitam seu corpo. Movimentos circulares ou em forma de cruz, movimentações feitas geralmente com as mãos para representar as flechas, espadas, lanças, espelhos, pentes, laços e etc, objetos pertencentes aos orixás.
Outro fator de suma importância nas danças ritualísticas, é a relação dos pés com o chão. Os pés descalços relembrando a dança dos negros e dos indígenas brasileiros, a relação com a terra dando a ideia de ancestralidade está presente quase sempre nessas danças. O corpo do médium a partir desse momento simboliza a memória e tradição da cultura umbandista.
A dança umbandista então, integra aspectos sociais, espirituais e cósmicos. Por conta disso utilizam-se de movimentos que expressam suas tradições, o contato como mundo espiritual e a alteração da consciência.
A prática da dança ritualística de forma ordenada e realizada com conhecimento acaba ocasionando uma condição de saúde mental, valorizando a imagem corporal dos indivíduos e colocando-os em uma condição de relacionamento saudável com ele próprio e com o coletivo.

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Por que o Orixá dança?
Quando nos referimos ao candomblé ou a umbanda, tratamos de falar de religiões que são passadas aos indivíduos de forma oral, através das danças. Para os que praticam essas religiões, a partir de suas danças, o Orixá conta ao público suas mitologias históricas, seus feitos, suas batalhas, redistribuindo sua energia vital e trazendo o sagrado de volta ao mundo cotidiano. Na umbanda assim como no candomblé, todos são irmão e expressam a partir de seus cantos e danças, a alegrias de estarem ali dividindo e presenciando aquela imensa fé e representando os orixás tão adorados pelos seus seguidores.
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Os Orixás e seus movimentos característicos
§  Ogun : bravando sua espada ou seu facão;
§  Bará : versatilidade e energia;
§  Xangô : tremendo a terra com a força de um trovão;
§  Iansã : linda, leve e solta;
§  Obá : em suas disputas de guerra, com sua curta espada;
§  Oxum : meiga e vaidosa, mirando-se em seu espelho;
§  Ossaim : recolhendo as folhas do chão e pulando em um pé só, sem fazer barulhos;
§  Odé : coreografia de caçador;
§  Nanã : embalando simbolicamente seus filhos;
§  Obaluaiê : celebrando vida e morte com seus movimentos rápidos e vibrantes;
§  Omolú : cansado, velho;
§  Iemanjá : com seus movimentos de remadora, banhando-se em suas águas;
§  Oxalá : em certos momentos vibrando e em outros apoiando-se;
§  Oxumaré : graça, beleza e leveza;

Referências
Raiz Cultura. Cultura Umbandista. Disponível em: <http://raizculturablog.wordpress.com/2008/09/03/cultura-umbandista-part-i/>. Acesso em: 11 jun. 2013.

A Dança no Candomblé

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O Candomblé
O candomblé é uma religião afro-brasileira desenvolvida em terras brasileiras. Os seguidores dessa religião cultuam os orixás –divindades- e se consideram ligados a objetos, plantas e animais ancestrais. É uma religião criada em uma base que podemos chamar de alma da natureza, podendo assim ser considerada uma religião anímica. Atualmente pelo menos três milhões de brasileiros revelam-se praticantes deste culto. Salvador é o grande centro desta prática, com aproximadamente 2230 terreiros oficialmente registrados pela Federação Baiana de Cultos Afro-Brasileiros. Os Orixás, festas e cultos do candomblé hoje são considerados patrimônios culturais brasileiros e parte essencial do folclore.
Os seguidores do candomblé são denominados médiuns, seus médiuns não dão passividade a Espíritos ‘mortos’, conhecidos como ‘eguns’, mas somente a estas divindades chamadas de orixás.
Por diversas vezes as pessoas confundem a religião do Candomblé com a de Umbanda, elas são diferentes mesmo possuindo algumas características em comum. No Candomblé não acontece a incorporação de espíritos, são incorporados apenas os orixás (divindades da natureza), já a Umbanda se caracteriza pela incorporação de espíritos encarnados ou desencarnados. Essas duas religiões podem ser praticadas pelo mesmo indivíduo, porém, em dias, horários e locais diferentes.
A Dança tem papel fundamental na religião do candomblé, logo que, é uma religião musical e culturalmente rica, é através da dança que o povo de santo cultua e homenageia seus orixás.
A dança tem um sentido particular porque é a expressão da divindade e da identidade mais verdadeira da filha ou do filho-de-santo. Cada um possui a própria "identidade-sonora", o próprio duplo no orum, que o fiel encontra no momento da possessão e que aprende a reconhecer e a conhecer através da dança e da música. E pelo corpo que o ser humano começa o caminho do conhecimento e o papel por ele desempenhado no cosmo e na sociedade. Sendo no corpo que o ser humano vivência a própria experiência da vida e junta as várias informações simbólicas sobre o mundo, é no corpo divino, que vivenciando as energias sagradas, ele pode se comunicar com o sagrado, pode juntar o lado sensível com aquele material, porque não dados cognitivos, mas as cores, as formas, os sentimentos internos dão forma á matéria.
No Candomblé as danças são estruturadas a partir de coreografias executadas no xirê ou até mesmo nas incorporações. Pode-se observar que as movimentações executadas são relacionadas às letras das canções e as características dos orixás, as trocas das coreografias são feitas quando se começa a cantar outra canção.
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Os desenhos característicos dessa dança estão relacionados ao círculo, a antiga roda sagrada, que pode ser encontrada em danças de diversas culturas. Os integrantes rodam em torno de um centro e em torno de si mesmo, realizando assim movimentos de rotação e translação. O interessante é que são círculos que giram em sentido anti-horário, trazendo assim a ideia entre sagrado e profano e simbolizando a volta à origem.
A forma do círculo tem uma grande importância na África, Neumann (1981:214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os elementos masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes as divindades da Água: Oxum e Iemanjá possuem um movimento circular.
As danças no candomblé se caracterizam por começarem em um grandioso e lento círculo que vai diminuindo com o decorrer do ritual, desde a grande roda até o indivíduo dar voltas em torno de si mesmo, simbolizando assim um contato maior com o seu interno. Assim como o círculo, as espirais também são figuras que aparecem nessas danças, aparecendo nas rotações que as filhas-de-santo realizam em torno de si mesmas quando incorporam e também nas danças de Exu.
A espiral é o símbolo da comunicação (Santos:1977; Pelosini:1994). Assim, quando o orixá possui o corpo da filha-de-santo, realiza-se uma comunicação entre o homem e a divindade. Enquanto o corpo vira sobre si mesmo, a energia do orixá penetra no corpo. Não é por acaso que Exu, a divindade da comunicação, roda sobre si mesmo desse modo. A espiral expressa a evolução a partir de um centro; simboliza a vida, porque indica o movimento numa unidade de ordem ou, ao inverso, a permanência do ser na mobilidade. Durand (1972), sugere que, a espiral, simboliza a permanência do ser, através das flutuações da mudança da vida”.
A espiral pode representar nessa religião a procura do próprio espírito, que a partir de um ponto fixo alcança, com voltas, o mundo do sagrado. No candomblé a espiral está ligada a Exu (orixá que expressa a dinâmica da vida, o movimento interno na criação e na expansão do mundo).
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Os Ritmos do Candomblé
Os ritmos do Candomblé (culto tradicional afro brasileiro) são aqueles usados para acompanhar as danças e canções dos Orixás (Deuses), em um contexto ritual, folclórico ou artístico.
§  São cerca de 28 ritmos entre as Nações (denominação referida à origen tribal e o conjunto de seus rituais) de Keto, Jeje e Angola.
§  São executados através de quatro instrumentos: o Gã (sino), o Lé (tambor agudo), o Rumpi (tambor médio) e Rum (tambor grave responsável por fazer as variações).
§  Os ritmos da Nação Angola são tocados com as mãos, enquanto que os de Keto e Jeje são tocados com a utilização de baquetas chamadas Aquidavis.
§  Nas aulas se trabalha cada ritmo individual em seu respectivo instrumento, com notas, CDs e material de apoio adaptados às necessidades dos alunos.
§  Também são abordadas algumas canções (idioma original, fonética e tradução) e aspectos da dança.
Finalidade das cantigas
§  Abertura de caminhos;
§  Cura de doenças;
§  Misericórdia;
§  Saída do roncó;
§  Rito fúnebre.

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Os Atabaques

São eles os principais instrumentos da música no candomblé, a execução dos mesmos são de responsabilidade dos Ogãn, os atabaques marcam o toque, mas, tem como finalidade principal chamar os orixás para o mundo dos humanos. Eles só podem ser usados no âmbito religioso e são feitos das peles dos animais sacrificados dentro dos locais consagrados.
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Os tipos de atabaques

§  RUM - é o maior dos atabaques e possui o registro grave;
§  RUMPI - é o segundo e possui o registro médio;
§  LÊ - é o menos e possui o registro agudo.

Referências
Tudo Sobre...Candomblé... Disponível em: <http://www.juraemprosaeverso.com.br/TudoSobre/TudosobreCandomble.htm>. Acesso em: 5 jun. 2013.
Candomblé. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/religiao/candomble.htm>. Acesso em: 5 jun. 2013.

Dança Afro-brasileira


Uma das grandes características da cultura africana é a oralidade. Crenças, conhecimentos e filosofias são passadas de pai para filho desde tempos imemoriais nos mais diversos campos da vida africana.
Um pouco de História

A oralidade como ferramenta de registro atingiu muitos campos da vida africana, o que deixou como legado para a dança, mesmo a afro-brasileira, uma grande lacuna quando falamos em sistematização ou mesmo um registro formal de um saber que há muito vem sendo repassado somente pelas vozes do corpo e do gesto. Para os africanos “o corpo é, por excelência, o local da memória, o corpo em performance, o corpo que é performance” (CARDOZO, 2006).

A dança afro como uma técnica corporal já é reconhecida e praticada há muito tempo. Pode-se pensar na dança afro como uma inauguração da dança moderna brasileira nos idos dos anos 50 e 60. A dança afro-brasileira é então fruto das práticas trazidas pelos escravos africanos para o Brasil e que foram reelaboradas e transformadas na América Portuguesa (MONTEIRO,2011), que em medos do século XX tomam forma e caráter cênico.
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Balé Folclórico da Bahia - Dança de Origem
Foto: Marisa Viana

A técnica de dança afro-brasileira como se conhece hoje foi sistematizada por
 Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro ainda nos anos 40. A partir da necessidade de criar espaço para um corpo negro em cena, frente às dificuldades encontradas para subir no palco do Theatro, Mercedes iniciou uma fusão entre a dança realizada pelas pessoas nas ruas, seus conhecimentos de clássico e moderno, adquiridos de seus estudos com Katherine Dunham em Nova York (CAMINADA, 1999, p. 423) e as informações recebidas sobre religiosidade durante suas pesquisas. Tudo isso fundido de maneira “autodidata” (MELGAÇO, 2007, p. 40). Dessa forma nasceu a dança afro de Mercedes Baptista. Como relata Monteiro (2011) “Mercedes propôs uma leitura peculiar da cultura afro-brasileira e situou a dança em novas bases. A dança afro de Mercedes Baptista configurou-se como uma prática, um estilo, um repertório de práticas e danças em ruptura com o balé clássico e completamente identificado com os novos parâmetros da dança moderna, mas tendo como referência a tradição africana tal qual se configurava no Brasil”.

A dança afro, tal qual foi sistematizada por Mercedes Baptista, se constitui por influências diversas. Tendo sido bailarina de formação essencialmente clássica, levou para a sua dança alguns dos preceitos do balé clássico, mas sobretudo, o conhecimento adquirido sobre dança moderna e a influência das danças de matrizes africanas, com as quais teve contato inicialmente durante o período em que estudou dança moderna com Katherine Dunham, em Nova York.

Katherine Dunham foi uma pesquisadora norte americana que trabalhou com a dança de matriz africana no Caribe e no Haiti aliada à dança moderna e que convidou Mercedes Baptista, então bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a estudar dança junto a sua companhia.

Mercedes passou um ano e meio nos EUA estudando dança e retornou ao Rio de Janeiro em 1951 com toda a bagagem artística e cultural adquirida com Katherine Dunham. Há época, o palco do Theatro Municipal ainda não era o mais receptivo para uma bailarina negra e ela então começa a pesquisar, com a ajuda fundamental de figuras religiosas como Joãozinho da Golméia, Paulo Conceição, Gilberto de Jesus, Fu-Manchu e Humberto, a religião africana no Brasil e como ela se dava em termos de dança. Mercedes havia experienciado, a partir das pesquisas de Katherine Dunham, a dança de matriz africana que se dançava no Haiti e no Caribe e que percebeu, não funcionaria aqui (MELGAÇO, 2007, 39-41).

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Mercedes Baptista ministrando aulas no Clark Center de Nova Iorque.
Fonte: Livro "Mercedes Baptista, a Criação da Identidade Negra na Dança"

As manifestações afro na dança surgem dentro de um contexto maior, o contexto de um projeto nacional para a cultura brasileira, iniciado com o governo Vargas e que visava a valorização do que poderia ser genuinamente nosso, algo, ou algumas coisas, dentre elas a dança, que nos unificassem como nação (PEREIRA, 2003). A dança afro levada para a cena, com corpos negros e uma técnica que deu à dança de matriz africana um lugar no palco, aparece então com o sentido de reafirmar a cultura afro-brasileira, nacional portanto, na cena artística nacional e internacional através da dança. O popular e o folclórico ganharam espaço cênico a partir das décadas de 30 e 40 e a dança afro como foi sistematizada por Mercedes Baptista veio a legitimar, mesmo que posteriormente ao governo Vargas, essas iniciativas de representar com dança e através dela o que seria realmente nacional.

A Movimentação na Dança Afro-brasileira
“As especificidades da dança afro são justamente essa trajetória que ela realiza a partir da tradição oral africana, resguardando elementos do drama ritual (homenagem aos deuses, à natureza, ao líder, ao cotidiano), e como qualquer dança local de qualquer comunidade é representada principalmente pelos movimentos advindos dos rituais (não necessariamente os religiosos, mas sim os culturais), acompanhados por forte influência dos instrumentos e ritmos africanos.” (CARDOZO, 2006)

“Dança afro são os movimentos corporais ritmados que perfomatizam elementos das matrizes tradicionais orais africanas.”
 (CARDOZO, 2006).

A dança afro-brasileira, sistematizada por Mercedes Baptista, teve por base os movimentos realizados nos cultos do [Wikipedia:Candomblé|candomblé], religião essencialmente africana, onde a dança é parte integrante e inerente ao culto religioso. Transportada para os palcos, a dança dos
 orixás, os deuses da cultura yorubá, constitui então uma das principais bases coreográficas da dança afro, mas não se reduzindo a ela. Uma vez no palco, a dança, que em sua origem é dançada em roda e nos espaços delimitados dos terreiros e casas de santo (SABINO;LODY, 2011), ganha um caráter performático, completamente diferente do religioso e o que antes era o candomblé ou a incorporação de um filho de santo, passa a ser a representação do candomblé, a representação da incorporação de um filho de santo (LIMA, 1995). A conexão com a religiosidade passa a se dar apenas no nível do embasamento coreográfico, mesmo este sofrendo todas as mudanças necessárias para fazer da dança afro uma dança cênica, uma dança de palco. A dança afro se torna, então, pelo trabalho de Mercedes Baptista, espetáculo, objeto de apreciação estética.

“A dança afro incorpora a dança dos orixás sem o caráter ritualístico ou litúrgico dos candomblés, adaptada para o palco a partir do terreiro. Nesse processo mudam-se os objetivos: a dança não é mais instrumento para se atingir o transe religioso o que torna os movimentos repetitivos ao som dos atabaques. A coreografia constrói uma grande variedade de movimentos corporais em rápida sequência procurando ocupar todos os espaços do palco. A mesma lógica se aplica à dança do
 maracatu, lundu, jongo, cafezal, caxambu, que também fazem parte da base coreográfica da dança afro.” (LIMA,1995).
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Balé Folclórico da Bahia – Maracatu
Foto: Marisa Viana

A dança afro-brasileira tem por características marcantes a força em seus movimentos, a grande agilidade na execução dos passos e a sensualidade, que é algo natural dos povos africanos.

Na movimentação da dança afro, assim como nas técnicas de dança moderna, como, por exemplo, a preconizada por Nina Verchinina (CERBINO, 2010), o corpo move-se como um todo. Não há partes esquecidas, estando todas as estruturas presentes e ativas durante a movimentação cênica.
A tabela abaixo, idealizada por Cardozo (2006), mostra algumas das principais diferenças entre a dança afro e o balé clássico, a título de melhor compreensão da estrutura coreográfica desenvolvida a partir das pesquisas de Mercedes Baptista.

Parte do Corpo
Dança Clássica
Dança Afro-brasileira
Tronco
Bailarino clássico apresenta uma rigidez vertical do corpo, que limita os movimentos dos quadris.
Bailarino afro em posição vertical ou inclinada, realizando frequentes ondulações e intenso movimento de quadris.
Pernas
Bailarino clássico com pernas extremamente esticadas, projetando o corpo para cima.
Bailarino afro com pernas dobradas, que levam o corpo a se voltar para o chão, sendo este referência determinante.
Pés
Bailarino clássico em ponta, meia-ponta e/ou na posição en dehors (pés voltados para a lateral).
Bailarino afro com as plantas dos pés voltadas para o chão, em posição paralela.
Ombros
Bailarino clássico com ombros rígidos, eretos.
Bailarino afro com ombros flexíveis e em intensos movimentos giratórios.

Cardozo (2006), sob a luz do pensamento de Marques (1999), sugere ainda que “ao contrário do que acontece no ballet clássico, cujos movimentos arredondados e ‘para cima’ lhe conferem uma harmonia de continuidade, na dança moderna (afro) eles são mais naturais e angulares. Se no clássico a intenção é ‘atingir o céu’, no moderno (afro) dá-se o retorno à terra, os pés descalços sentindo o chão”.

Os movimentos de quadril estão muito presentes nos movimentos da dança afro-brasileira, remetendo à sensualidade, que se mostrará presente principalmente na representação de das danças de orixás femininos. Os movimentos de ombro também são muito utilizados na técnica de dança afro, estes trazidos por Mercedes Baptista a partir das pesquisas de Katherine Dunham, que como relata Lima (1995) são movimentos exógenos à dança afro que tem suas bases nos movimentos rituais do candomblé. Katherine utilizava-se dos movimentos de ombros em sua dança em função desta nuance de movimento estar muito presente nas danças locais do Caribe e particularmente do Haiti.

A Dança dos Orixás
A dança de matriz africana é entendida e utilizada como uma linguagem corporal socialmente contextualizada, que conta histórias, que descreve vivências, recria o mundo. (SABINO;LODY, 2011)

As danças dos orixás são parte integrante do culto religioso do candomblé. A dança dos orixás demonstra e ilustra a conexão com as divindades, representa o movimento e as histórias dos deuses em seu aspecto divino e em seu contato com o mundo humano.
O panteão de orixás do candomblé, no Brasil, conta com mais de 10 principais deuses que são aqui cultuados, cada um deles com personalidades e histórias distintas, o que influencia diretamente em sua representação cênica através da dança. Os pés de dança, como são chamados (SABINO;LODY, 2011), representam as características coreográficas detalhadas de cada orixá.
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Balé Folclórico da Bahia - Corte de Oxalá (Exu)
Foto: Philip Martin

A representação do orixá torna-se então diferenciada no culto e no palco. No culto, ela é dançada pelos membros da comunidade religiosa, com seus corpos distintos e não necessariamente com treinamento específico de dança, limitando-se ao enfoque religioso e ritual do movimento dançado. Para o palco, a movimentação de cada orixá foi trabalhada por Mercedes Baptista durante sua pesquisa de construção da técnica da dança afro-brasileira, o que dá à movimentação singularidades específicas a serem desenvolvidas pelo corpo treinado do bailarino.

As danças dos orixás são executadas sob um ritmo específico para cada divindade do panteão africano e cada uma terá traços coreográficos próprios. As coreografias das danças dos orixás remetem à mitologia de cada orixá, representando seus feitos, suas características individuais, suas histórias. Os orixás são comumente representados cenicamente portando uma ferramenta, uma espécie de insígnia que “identifica o caráter, a função e a história dos orixás” (SABINO;LODY, 2011).

Abaixo, descrições de algumas danças de orixás que tem sua representação solo mais difundida, especificando as formas que cada uma delas toma cenicamente e como se dá o modo de execução específico de cada uma.

Ogum
Na mitologia africana, Ogum é um orixá guerreiro, um rei e general de batalha, responsável pelo armamento bélico possuído pelos homens e por todos os instrumentos de metal utilizados não só na guerra, mas também nas atividades do cotidiano. Orixá de grande vitalidade e virilidade, a dança de Ogum é rápida, forte, precisa e ilustra a movimentação que esse orixá realiza quando utiliza seus facões para abrir a mata ou em movimentos de batalha, amolando seus facões (LIMA, 1995).

Assim como a maioria dos orixás, Ogum possui um objeto que o identifica, e que são seus facões, que serão utilizados então em boa parte de sua representação cênica. As mãos espalmadas, com dedos unidos e os braços esticados, como os dois grandes facões, são utilizados para representar esses objetos característicos de Ogum. Os movimentos dos ombros também são traços fortes na dança de Ogum, bem como os de peito, que ilustram o embate corporal durante uma batalha (LIMA, 1995). O toque de atabaque específico de Ogum é o aderé.

Iansã
Deusa dos raios e das tempestades, senhora dos ventos, Iansã é na mitologia africana uma orixá de extrema força e feminilidade. Além do controle sobre alguns elementos da natureza, ela é ainda responsável por “espantar” os eguns, que são espíritos de ancestrais, mortos. Nas mãos, Iansã carrega uma espécie de ornamento de palha, que é usado, bem como alguns ornamentos nos pés, para espantar esses eguns. Essa característica da orixá se representa na dança através de movimentos dos braços, como dois “ventiladores” que rodam para dentro (LIMA, 1995) e do intenso movimento dos quadris, que fazem mexer os “espanta eguns” dos tornozelos. A movimentação de Iansã também remete ao controle dos ventos através dos intenso movimento dos braços.

Iansã é ainda representada com espada e escudo ou chicote, o Erechim, que usa para espantar os eguns e mover os ventos (SABINO;LODY, 2011).

Oxum
Assim como Iansã, Oxum também é uma orixá feminina. Deusa das águas doces, como os rios e cachoeiras, Oxum é sempre representada com um espelho nas mãos, o Abebê, no qual está sempre a mirar-se. Símbolo da vaidade e da beleza, Oxum tem em sua movimentação uma leveza e sensualidade inerentes. Movimentos calmos e autoapreciativos são característicos dessa orixá, que tem por toque de atabaque específico, o ijexá.

A mão espalmada e com a palma voltada para o rosto, representa o espelho de Oxum e com ele se dá boa parte de sua representação cênica, que adota por ambiente os rios e lagos, como se a orixá estivesse neles se banhando enquanto executa sua dança (LIMA,1995), o que aumenta o toque de leveza e feminilidade de sua dança. Arrumar os cabelos e adornar-se com jóias são atos que remetem a personalidade da orixá e que também são bastante característicos de sua movimentação cênica.

Referências
§  CAMINADA, Eliana. História da Dança – Evolução Cultural. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
§  CARDOZO, Kelly, A. Dança Afro: O que é e Como se Faz! Minas Gerais, 2006. 15 f. Monografia (Especialização em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2006.
§  CERBINO, Beatriz. Nina Verchinina e a construção de um corpo expressivo. O Percevejo Online – Volume 02 – Número 02. UNIRIO, 2010.
§  LIMA, Nelson. Dando conta do recado - A dança afro no Rio de Janeiro e suas influências. Rio de Janeiro, 1995. Dissertação (Mestrado em Sociologia e Antropologia) Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995.
§  MARQUES, Ana Clara Guerra. A Alquimia da Dança. Luanda: Edições CC, 1999.
§  MELGAÇO, Paulo. Mercedes Baptista, a Criação da Identidade Negra na Dança. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2007.
§  MONTEIRO, Marianna. F. M. . Dança Afro: Uma Dança Moderna Brasileira. In: NORA, Sigrid e SPANGHERO, Maíra. (Org.). Húmus 4. Caxias do Sul: Lorigraf, 2011, v., p. 51-59.
§  PEREIRA, Roberto. A Formação do Balé Brasileiro. Rio de Janeiro: 2003. Editora FGV.
§  SABINO, Jorge; LODY, Raul. Danças de Matriz Africana: antropologia do movimento. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
§  BALÉ DE PÉ NO CHÃO – a dança afro de Mercedes Baptista. Direção: Lilian Sola Santiago e Marianna Monteiro. São Paulo: Fundação Cultural Palmares, c.2005. 1 DVD.

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 Dança e Religião

Como pode ser observado em relatos historiográficos, a dança está presente em nossas vidas desde os tempos pré-históricos, praticada por nossos ancestrais. No período paleolítico a dança estava presente como forma de poder do homem sobre a natureza, eles acreditavam que dançando teriam o controle sobre os fatores naturais e sobre suas caças, já no período neolítico a dança passa a ter um caráter mais religioso, para agradecer uma boa colheita e outras conquistas. Com isso podemos perceber a relação de dança e religião sendo fundada e praticada pelo homem desde os tempos mais remotos. Segundo BOURCIER (2006), a figura cientificamente comprovada de um homem dançando tem 14.000 anos.
“Na época paleolítica o homem é um predador. Sua sobrevivência humana está ligada aos animais – carne e gordura para alimentação, peles para as vestimentas, ossos e chifres para os instrumentos. Dessa forma, as danças só poderiam estar ligadas aos animais. Algumas evidências levam a supor que na pré-história os homens cultuavam os animais. Não se pode excluir também, a existência de uma dança religiosa, porém nenhum documento atesta expressamente o fato”. (BOURCIER, 2006, s.n.) No decorrer dos séculos a dança vem acompanhando o desenvolvimento do pensamento humano e sendo reflexo de filosofias vigentes e da sociedade em que estava inserida. A dança é algo que vem quebrando paradigmas ao longo dos séculos, principalmente dentro de instituições religiosas. Barreiras geralmente vindas de doutrinas impostas pelas igrejas e até mesmo criadas pelo homem tem ficado para trás.
Na ascensão do cristianismo na cultura ocidental, o corpo foi considerado e visto como lugar do pecado, merecendo, portando, o repúdio. Entre os anos 465 e 1453 da era cristã, o ato da dança era considerada pecado gravíssimo perante a igreja.
Considerado como profano e lugar do pecado, o corpo passa a ser lugar de estudo e forma de cultuar ao Deus em diversas faces da cultura e da religião.
Podemos ver que atualmente diversas religiões aderem a dança aos seus cultos característicos. No candomblé e na umbanda, são realizadas danças para oferecer presentes e até mesmo na incorporação de seus orixás, para os Budistas e Espiritas, a dança é uma forma de gerar maior energia ou estabilizar esta energia com seus deuses, para os católicos e evangélicos ainda são encontradas algumas restrições, porém podemos observar algumas características de dança em seus cultos, entre outras diversas religiões que em seus rituais realizam inúmeros tipos de danças características.

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A forma com que as pessoas enxergam esta arte pode variar de acordo com o contexto histórico no qual estão inseridos e a sociedade que fazem parte, porém mesmo assim podemos perceber que a dança está direta ou indiretamente ligada a todas as culturas.
A dança e a religião possuem significados particulares para cada um de nós, de acordo com a bagagem cultural que temos. O que para alguns pode ser apenas uma forma de entretenimento, para outros possui um significado mais aprofundado.
Ao se pensar em dança e religião, podemos recordar de Ruth Sains Denis, Ted Shawn e a criação da escola de dança Denishawn. Ruth foi uma das fundadoras da dança moderna americana, acreditava que a dança e a religião andavam em inseparável união, afirmando que para a pessoa se tornar um indivíduo dentro da dança seria necessária a ligação entre dança e religião. Para Ted e Ruth a dança era essencialmente religiosa, nela o corpo e o espírito agiam unidos e em harmonia, e a arte era a mais profunda ligação com Deus.
“A dança, por isso, não é apenas a transparência do divino, assim como uma janela aberta, uma vista para o divino. A dança também não é uma viva imagem reminescente – a dança é, em tempo e espaço, um signo, um acontecimento visível, uma forma cinética para o invisível.” (WOSTIEN, 2000)
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Religiões que possuem práticas Dançantes
§  Candomblé;
§  Umbanda;
§  Culto Hinduísta;
§  Cultos indígenas;
§  Rituais Primitivos;
§  Rituais de vodu;
§  Cultos Evangélicos;
§  Catolicismo, entre outras.

Referências
BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Curso de História da Arte. ARTE – DANÇA – TED SHAWN – 1891 – 1972. Disponível em: <http://www.cursodehistoriadaarte.com.br/lopreto/index.php/arte-danca-ted-shawn-1891-1972/>. Acesso em: 15 jun. 2013.

Fonte:http://wikidanca.net/wiki/index.php/

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Comentários

  1. Ótima matéria; contudo achei muito estranho a afirmação final de que os evangélicos dançam. Estudei regiões comparadas e escatologia (as profecias sobre o final dos tempos) e não conheço uma única denominação com doutrina de danças nos cultos. Ultimamente eles fazem o "cai-cai", ou seja: procedem como se perdessem a consciência, qdo o Pastor assopra em seus rostos. Alguns membros, antes de caírem se movimentam para a frente e para os lados, mas sem esboçar qualquer tipo de dança. Além disso, o louvor (canto) é no máximo um leve movimento de ombros e da cabeça, para esquerda e direita. Respeitosamente, postei...

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