Qualquer tipo de bullying é, por convenção, a realização de atitudes que envolvem a agressão verbal ou física,feita de modo repetido e intencional, causando assim dor e angústia a quem o sofre. O objetivo do agressor é, geralmente, intimidar, ofender e humilhar outra pessoa sem dar a ela a possibilidade ou capacidade de se defender.
O bullying homossexual envolve tudo isso, mas o principal tema das ofensas é outro: a possível ou aparente sexualidade. Isso significa quem ninguém precisa ser gay pra sofrer bullying homofóbico. Basta que o menino não seja como um dos “machões” da sua turma, ou mesmo que ninguém tenha ficado sabendo de algum “rolo” de alguma das meninas da sala.
O bullying sempre existiu, em escala menor ou maior. Quem de nós nunca foi alvo de risadas dos “amigos” por ser, pra eles, gordo demais, magro demais, orelhudo demais, alto, baixo, inteligente, por usar óculos, por ter o cabelo assim ou assado, por ter um tênis novo ou por não o ter… A verdade é que em um ambiente escolar, praticamente tudo é motivo pra bullying, só que o bullying homofóbico (assim como o racista) vai além: é um ato preconceituoso e criminoso.
Homofobia é o termo usado para chamar qualquer tipo de discriminação e/ou aversão aos homossexuais, assim, o bullying homofóbico é sim um ato de homofobia, mesmo que seja cometido por crianças ou adolescentes.
Eu acredito que a principal causa da existência do bullying homossexual é realmente o preconceito que, infelizmente, ainda está enraizado em grande parte da nossa sociedade e que é praticamente passado de pai pra filho, junto com o que ainda resta da “cultura” de sociedade patriarcal. Assim, a criança é criada de forma a ser contra a homossexualidade ou a qualquer tipo de diferença, e pode, por acreditar que isso é o certo, influenciar outras crianças¹ a fazerem parte das agressões.
Qualquer criança que apresente algum tipo de característica de uma sexualidade fora do “padrão” pode se tornar uma vítima desse tipo de violência, mesmo que ela não seja homossexual ou ainda nem tenha “se descoberto” homossexual. Vale acrescentar aqui, que “existe homofobia em todas as 44 escolas pesquisadas, entre 2010 e 2011, pela organização não governamental Instituto Ecos – Comunicação e Sexualidade”.
Um grande tipo de desrespeito com os alunos LGBT vem também por parte dos professores, que quase nunca pensam na possibilidade de ter uma pessoa homossexual na sua classe e, assim, não tornam suas explicações ou ações adequadas a elas de uma forma inclusiva. Podemos citar como exemplo a divisão que ainda existe em muitos colégios, onde meninas são separadas dos meninos na aula de educação física e só podem realizar alguns tipos de atividades: menina não joga futebol e menino não joga vôlei.
Depois que a violência verbal tem início, ela vai se agravando pouco a pouco e começa a se refletir no comportamento da criança, que pode se tornar mais retraída, ficar menos sociável e mais triste, apresentar medo, além de alguns sintomas que podem ser notados em casa, como mudança de comportamento, pesadelos e medo ou aversão à escola. As vítimas também são mais propensas realizar automutilação, cometer suicídio e iniciar atividades perigosas à sua saúde, o bullying pode, ainda, influenciar gravemente no desempenho dos alunos e aumentar a taxa de evasão escolar.
Além disso, é importante ressaltar que o bullying não ocorre só na escola. Ele pode acontecer em casa, entre vizinhos, no condomínio, no prédio onde a criança mora ou em qualquer outro local que ela frequente.
O que não se aprende em casa é dever do professor tentar ensinar. Assim, ao contrário do que muitos acreditam, o papel do professor é extremamente importante na ruptura das agressões e na manutenção do respeito dentro e fora da sala de aula. Trazer a diversidade para dentro da escola e fazê-la ser respeitada é indispensável à manutenção dos direitos humanos.
O grande problema do controle efetivo do bullying homofóbico está na falta de conhecimento sobre o assunto e até mesmo no preconceito nutrido pelo próprio professor. É por isso que relatos sobre professores que simplesmente ignoram o que está acontecendo não são poucos. Assim, vemos a grande necessidade de tornar todos os profissionais de educação, e não só os professores, entendedores de todos os temas que envolvem a questão de identidade de gênero, de orientação sexual e de tudo que isso envolve, além da necessidade de inclusão do tema nos livros didáticos, o que abrange as novas configurações familiares. Ainda podemos colocar aqui o fato de que muitos professores certamente enfrentam o medo de denunciar, impedir o bullying ou de trabalhar a temática da diversidade em sala e serem, por isso, julgados como homossexuais em seu local de trabalho, o que também geraria discriminação e bullying homofóbico contra eles.
Outro ponto agravante do bullying homossexual é o silêncio da vítima, principalmente em casa. Isso ocorre porque muitas delas ainda não se assumiram pra família ou, se já o fizeram, talvez não possam contar com o apoio de quem deveria protegê-los. Assim, as agressões se tornam uma verdadeira tortura psicológica e/ou física,que se repete dia após dia e que por vezes não tem fim.
” ‘Se você é um/a estudante LGBT e foi vítima de bullying homofóbico ou qualquer outro tipo de agressão física ou simbólica na escola, denuncie’. Essa é a recomendação dada pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) na campanha contra homofobia nas escolas. A campanha de março desse ano estimula a vítima de homofobia na escola a registrar um boletim de ocorrência (BO) sobre o caso, denunciar ao Disque 100 e relatar o ocorrido para a ABGLT no correio eletrônico presidencia@abglt.org.br, a fim de que a entidade acompanhe o caso.”
Fonte: http://sapatomica.com/blog/2012/09/25/o-bullying-homofobico/
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