DA MEDIUNIDADE DOS ANIMAIS


O Livro dos Médiuns


por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires


            234. Os animais podem ser médiuns? Freqüentemente se tem proposto esta questão, e certos fatos pareciam respondê-la afirmativamente. O que, sobretudo, tem dado motivo a aceitá-lo, são os notáveis indícios de inteligência de alguns pássaros educados pelo homem, que parecem adivinhar o pensamento e chegam a tirar de um maço de cartas as que correspondem exatamente ao pedido feito. Observamos essas experiências com especial cuidado, e o que mais admiramos foi à arte que se teve de desenvolver para a instrução desses pássaros.
            Não se pode negar que eles possuem uma certa dose de inteligência relativa, mas devemos convir que, na circunstância aludida, sua perspicácia ultrapassaria de muito a do homem, porque ninguém se pode vangloriar de fazer o que eles fazem. Seria mesmo necessário,para certos casos, supor que eles possuem um dom de segunda vista superior ao dos sonâmbulos mais clarividentes. Sabemos, com efeito, que a lucidez é essencialmente variável e está sujeita a freqüentes intermitências, enquanto entre esses pássaros seria permanente e funcionaria, no caso, com uma regularidade e uma precisão que não se encontram em nenhum sonâmbulo.
Numa palavra: ela jamais lhes faltaria.(1)
            A maioria das experiências que presenciamos assemelham-se às práticas dos prestidigitadores. Não podia deixar dúvidas quanto aos meios empregados particularmente o das cartas preparadas. A arte da prestidigitação consiste em dissimular os truques empregados sem o que o efeito não seria atingido. Mas embora assim reduzido o caso não é menos interessante, pois resta sempre a admirar o talento do instrutor e também a inteligência do aluno, porque a dificuldade a vencer é bem maior do que se o pássaro só tivesse de agir através das suas próprias faculdades. Conseguir que ele faça coisas que excedem os limites do possível para a inteligência humana é provar, por esse mesmo fato, o emprego de um processo secreto. Aliás, é inegável que os pássaros só atingem esse grau de habilidade após algum tempo de cuidados especiais e perseverantes,o que não seria necessário se sua inteligência bastasse para levá-los aos resultados. Não é mais extraordinário ensinar-lhes a tirar cartas do que habituá-los a cantar ou repetir palavras.
            Aconteceu o mesmo quando a prestidigitação quis imitar a segunda vista: levava-se o sujeito ao extremo, para que a ilusão fosse mais durável. Desde a primeira sessão que assistimos, nada mais vimos do que umas imitações muito imperfeitas do sonambulismo, revelando ignorância das condições mais característica dessa faculdade.(2)
            235.De qualquer maneira, as experiências acima deixam intacta a questão principal, pois assim como a imitação do sonambulismo não nega a existência da faculdade, a imitação da mediunidade nos pássaros nada prova contra a sua possível existência nesses ou em outros animais. Trata-se pois de saber se os animais são aptos, como os homens, a servir de intermediários aos Espíritos para as suas comunicações inteligentes. Parece mesmo muito lógico supor que um ser vivo, dotado de certo grau de inteligência, seja mais apropriados a esses efeitos do que um corpo inerte, sem vitalidade, como uma mesa, por exemplo. Apesar disso, é o que não se dá.
            236. A questão da mediunidade dos animais foi plenamente resolvida na dissertação seguinte, feita por um Espírito cuja profundidade e sagacidade podem ser apreciadas nas citações que já fizemos. Para bem se aprender o valor de sua demonstração é essencial que nos reportemos à sua explicação anterior sobre o papel do médium nas comunicações reproduzidas atrás, no nº 225.
            Esta comunicação foi dada em seguida a uma discussão a respeito, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas:
            Abordo hoje a questão da mediunidade dos animais, levantada e sustentada por um dos vossos companheiros mais fervorosos. Pretende ele, em virtude deste axioma: quem pode mais, pode o menos, que nós podemos mediunizar os pássaros e outros animais, servindo-nos deles nas comunicações com a espécie humana. É o que chamais em Filosofia, e mais particularmente em lógica, única e simplesmente um sofisma. “Animais, diz ele, a matéria inerte, ou seja, uma mesa, uma cadeira,um piano, com mais razão deveis animar a matéria já animada, principalmente a dos pássaros”. Pois bem, dentro das leis normais do Espiritismo, isso não é assim e não pode ser assim.
            Primeiro, ponderemos bem as coisas. O que é um médium? É o ser, indivíduo que serve de intermediário aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens, espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer espécie que seja.
            Há um princípio que, disso estou seguro, é admitido por todos os espíritas: o de que os semelhantes agem através dos semelhantes e como os seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos encarnados ou não? Seria preciso repetir isto sem cessar? Pois bem, eu o repetirei ainda: o vosso perispírito e o nosso são tirados do mesmo meio, são de natureza idêntica, são semelhantes, numa palavra. Possuem ambos uma capacidade de assimilação mais ou menos desenvolvidos, de imantações mais ou menos vigorosas, que permite a nós Espíritos e encarnados, pôr-nos muito pronta e facilmente em relação. Enfim, o que pertence especificamente aos médiuns à essência mesma de sua individualidade, é uma afinidade especial, e ao mesmo tempo uma força de expansão particular, que anulam neles toda possibilidade de rejeição, estabelecendo entre eles e nós uma espécie de corrente ou de fusão, que facilita as nossas comunicações. É, de resto, essa possibilidade de rejeição, própria da matéria, que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade na maioria dos que não são médiuns.(3)
            Os homens estão sempre propensos a exagerar tudo. Uns, e não me refiro aqui aos materialistas, recusam uma alma aos animais, enquanto outros querem dar-lhes uma, por assim dizer, semelhante à nossa. Porque pretender assim confundir o perfectível com o imperfectível? Não, não, convencei-vos disso, — o fogo que anima os animais, o sopro que o faz agir, movimentar-se e falar na sua linguagem própria, não tem, quanto ao presente, nenhuma aptidão para se mesclar, se unir ou se confundir com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito, numa palavra, que anima o ser essencialmente perfectível: o homem, esse Rei da criação. Ora, não é isso que faz a superioridade da espécie humana sobre as outras espécies terrenas, essa condição essencial de perfectibilidade? Pois bem: reconhecei então que não se pode assimilar ao homem, único perfectível em si mesmo e nas suas obras, qualquer indivíduo de outras espécies viventes da Terra.
            O cão,cuja inteligência é superior os animais e o tornou amigo e comensal do homem, será perfectível por si mesmo e por sua própria iniciativa? Ninguém ousaria sustentar isso, porque o cão não faz progredir o cão. E o mais amestrado entre eles é sempre ensinado pelo seu dono. Desde que o mundo é mundo que a lontra constrói a sua choça sobre as águas, sempre com as mesmas proporções e seguindo um sistema invariável. Os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram seus ninhos de maneira diferente dos seus ancestrais. Um ninho de pardais de antes do dilúvio, como um ninho de pardais de hoje é sempre o mesmo, feito nas mesmas condições e pelo mesmo sistema de entrelaçamento de capins e pauzinhos recolhidos na primavera, na época dos amores. Às abelhas e as formigas, em suas pequenas repúblicas organizadas, jamais variaram os seus hábitos de coleta de provisões, a sua maneira de agir, os seus costumes e as suas produções. Por fim, a aranha tece sempre a sua teia da mesma maneira.
            De outro lado, se procurardes as cabanas de ramagens e as tendas das primeiras idades da Terra, encontrareis em seu lugar os castelos e os palácios da civilização moderna. Às vestes de peles selvagens sucederam os tecidos de ouro e seda. Enfim, a cada passo encontrareis a prova da marcha incessante da Humanidade em seu progresso.
            Desse progresso constante, invencível, irrecusável da espécie humana, e do estacionamento indefinido das outras espécies animadas, concluireis comigo que se existem princípios comuns a tudo o que vive  e se move na Terra: o sopro e a matéria, não é menos verdade que somente vós, Espíritos encarnados, estais submetidos a essa inevitável lei do progresso que vos impele fatalmente para frente e sempre para frente. Deus pôs os animais ao vosso lado como auxiliares para vos alimentares, para vos vestirem e vos ajudarem. Deu-lhes um pequeno grau de inteligência porque, para vos auxiliar, precisam compreender, e condicionou essa inteligência aos serviços que devem prestar. Mas, na sua sabedoria não quis que fossem submetidos à mesma lei do progresso. Tais como foram criados, assim ficaram e ficarão até a extinção de suas espécies.(4)
            Costuma-se dizer: os Espíritos mediunizam e fazem mover-se a matéria inerte, as cadeiras, as mesas, os pianos. Fazem mover, sim, mas mediunizam, não! Porque, ainda uma vez: sem médium, nenhum desses fenômenos se produz. Que há de extraordinário em fazermos que se mova, com a ajuda de um ou de muitos médiuns, a matéria inerte, passiva, que justamente em razão de sua passividade, de sua inércia, está em condições de receber os movimentos e os impulsos que lhe desejamos dar? Para isso necessitamos de médiuns, é claro, mas não é necessário que o médium esteja presente ou consciente, porque podemos agir com os elementos que ele nos fornece, sem que ele o saiba e longe dele, sobretudo nos fenômenos de tangibilidade e de transportes. Nosso envoltório fluídico, mais imponderável e mais sutil que o mais sutil e imponderável de vossos gases, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico mais animalizado do médium, e cuja propriedade de expansão e de penetrabilidade escapa aos vossos sentidos grosseiros e é quase inexplicável para vós, permite-nos movimentar os móveis e até mesmo quebrá-los em aposentos vazios.
 Certamente os espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis para os animais, e muitas vezes o pavor súbito que os toma., e que vos parece sem motivo, é causado pela visão de um ou de muitos desses Espíritos, mal intencionados em relação aos indivíduos presentes ou aos seus donos. Muito freqüentemente se vêem cavalos que se recusam a avançar ou recuar, ou que se empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! Podeis estar certos de que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em detê-los. Lembrai-vos da mula de Balaão, que, vendo um anjo pela frente e temendo sua espada flamejando, não queria avançar. É que antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quis torna-se visível apenas para o animal. Mas, quero repeti-lo: não mediunizamos diretamente nem os animais nem a matéria inerte. Precisamos sempre do concurso consciente ou inconsciente de um médium humano, porque necessitamos da união dos fluidos similares, que não encontramos nos animais nem na matéria bruta.
            O Sr. T., dizem, magnetizou o seu cão. A que resultado chegou? Matou-o. Porque esse infeliz animal morreu depois de haver caído numa espécie de atonia, de langor, conseqüência de sua magnetização. Com efeito, infiltrando-lhe um fluido haurido numa essência superior à essência especial da sua natureza, ele o esmagou, agindo sobre ele, embora mais lentamente, à semelhança do raio. Assim, não havendo nenhuma possibilidade de assimilação entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos animais propriamente ditos, nós os esmagaríamos imediatamente ao mediunizá-los.(5) 
 
            Isso estabelecido, reconhece perfeitamente a existência de aptidões diversas entre os animais; que certos sentimentos, certas paixões idênticas a paixões e sentimentos humanos se desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e rancorosos, segundo o tratamento bom ou mau que lhes dispensarmos. É que Deus, nada fazendo incompleto, deu aos animais, companheiros e servidores do homem, as qualidades de sociabilidade que faltam inteiramente nos animais selvagens que habitam as solidões. Mas daí a poderem servir de intermediários para a transmissão do pensamento dos Espíritos vai um abismo: a diferença das naturezas.(6)
            Sabeis que tiramos do cérebro do médium os elementos necessários para dar ao nosso pensamento a forma sensível e apreensível para vós. E com o auxílio dos seus próprios materiais que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Pois bem: que elementos encontraríamos no cérebro de um animal? Haveria ali palavras, letras, alguns sinais semelhantes aos que encontramos no homem, mesmo o mais ignorante? Não obstante, direis, os animais compreendem o pensamento do homem, chegam mesmo a adivinhá-lo. Sim, os animais amestrados compreendem certos pensamentos, mas acaso  já os vistes reproduzi-los? Não. Concluí, pois, que os animais não podem servir-nos de intérpretes.(7)
            Para resumir: os fenômenos mediúnicos não podem produzir-se sem o concurso consciente ou inconsciente dos médiuns, e é somente entre os encarnados, Espírito como nós, que encontramos o que podem servir-nos de médiuns: Quanto a ensinar cães, pássaros e outros animais, para fazerem estes ou aqueles serviços, é problema vosso e não nosso – ERASTO
 
            Nota de Kardec: Na Revista Espírita de setembro de 1861 encontra-se a explicação minuciosa de um processo empregado pelos amestradores de pássaros sábios, para fazê-los tirar de um maço as cartas que se quiserem. (N. de Kardec)


(1) Esta observação de Kardec sobre a variabilidade da percepção sonambúlica da clarividência está hoje cientificamente comprovada. É mesmo um dos obstáculos à aplicação prática de percepção extra sensorial em Parapsicologia. Não admitindo que se trata de emancipação da alma, com todas as implicações psicológicas decorrentes desse desprendimento, os parapsicólogos materialistas são levados às hipóteses mais curiosas a respeito. (N. do T.)
 (2) O conhecimento dessas características torna ridícula para os experimentadores traquejados, as imitações com que os adversários pretendem provar que os fenômenos não passam de fraudes. Estes possuem elementos que só nas pesquisas regulares vão se revelando, e que não podem ser imitados. (N. do T.)
 (3) Trata-se do fluido vital específico dos organismos humanos, correspondentes a uma constituição física superior no plano evolutivo. É evidente que os animais não dispõem desse grau do fluido vital humano, de maneira que a resistência da matéria é neles maior, não permitindo a fusão fluídica necessária às comunicações. (N. do T.)
 (4) Todo este período deve ser compreendido em função do assunto, não se tirando ilações contrárias aos princípios fundamentais da Doutrina, o que seria absurdo, O Espiritismo ensina que tudo evolui no Universo, desde a matéria bruta até os Espíritos superiores. Os animais também evoluem, mas sua evolução é forçada e lenta, produzida por influências exteriores, enquanto a humana é determinada de dentro, pela consciência do Espírito já esclarecido do homem. O Espírito comunicante serviu-se das condições de aparente estabilidade da vida terrena para ilustrar o seu ensino. Trata-se apenas de um recurso didático aliás bem aplicado, e que deve ser entendido como tal. (N. do T.)
 (5) Esta afirmação parece absurda, diante das teorias atuais do Hipnotismo que negam inteiramente a existência do fluido magnético. Mas as pesquisas parapsicológicas demonstraram a ação da mente sobre a matéria e comprovaram a influência do pensamento sobre vegetais e animais. Por outro lado, a hipótese fluídica, como também a do éter já não pode mais ser considerada cientificamente herética, diante do avanço das pesquisas físicas no campo nuclear. Também neste ponto, portanto,as Ciências atuais estão confirmando rapidamente os princípios espíritas. (N. do T.)
 (6) Novamente deparamos com uma figura didática, pois é evidente que o Espírito, por seus conhecimentos já demonstrados, sabe que a domesticação dos animais decorre do processo evolutivo das espécies. Mas convém lembrar que a evolução se processa sob o impulso e segundo as leis de Deus, o que permitiu a imagem ilustrativa. (N. do T.)
 (7)  Os episódios curiosos de animais matemáticos, como os dos cavalos de Elberfeld, que tanta celeuma têm provocado, podem hoje ser explicados, embora ainda de maneira hipotética, pelo mecanismo da percepção mais aguçada de certas espécies animais, e até mesmo pela influência da mente humana sobre os sentidos animais. As pesquisas parapsicológicas abriram novas perspectivas nesse sentido, embora a Parapsicologia Animal esteja ainda numa fase de desenvolvimento incipiente. As experiências de Fabry, entomólogo da Universidade de Leningrado e parapsicólogo da equipe do famoso prof. Vassiliev, demonstraram a existência de percepção extra sensorial nos animais. Assim, as hipóteses de fraude mecânica e de inteligência especial desses animais vão sendo igualmente afastadas pela pesquisa científica, dando razão ao Espírito de Erasto. (N. do T.)

Fonte:https://livrodosmediuns.wordpress.com/2a-parte-das-manifestacoes-espiritas/cap-22-da-mediunidade-nos-animais/?blogsub=confirming#subscribe-blog

Estudo da Mediunidade  |  Mediunidade   | 
 Mediunidade e Animismo:   |  01/11/2002

EURÍPEDES KUHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)
 
 

Eurípedes Kühl


MEDIUNIDADE NOS ANIMAIS
A questão da mediunidade nos animais apareceu no tempo de Kardec e foi  objeto de estudos e debates na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Tanto os Espíritos,quanto Kardec e a Sociedade Espírita consideraram o assunto como sem fundamento.

            O animal pode ser considerado como o último elo da cadeia evolutiva que culmina no homem. Depois da Humanidade inicia-se um novo ciclo da evolução com a Angelitude (Reino Espiritual).  Não há descontinuidade na evolução. Tudo se encadeia no Universo, como acentuou Kardec.

            A teoria doutrinária da criação dos seres, isto é, a Ontogênese Espírita (do grego: onto é ser; logia é estudo) revela o processo evolutivo a partir do reino mineral até o reino hominal.

Léon Denis a divulgou numa sequência poética e naturalista: “A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem“. Entre cada uma dessas fases existem faixas intermediárias , nas quais o ser guarda características da fase que está deixando, incorporando-se à próxima, sem que  esteja plenamente caracterizado.  Assim, a teoria espírita da evolução considera o homem como um todo formado de espírito e matéria. A própria evolução á apresentada como um processo de interação entre esses dois elementos.

Cada fase, definida num dos reinos da Natureza, caracteriza-se por condições próprias, como resultantes do desenvolvimento de potencialidades dos reinos anteriores. Só nas zonas intermediárias, que marcam a passagem de uma fase para a outra, existe misturas das características anteriores com as posteriores.

Por exemplo: entre o reino vegetal e o reino animal, há a zona dos vegetais carnívoros; entre o reino animal e o reino hominal, há a zona dos antropóides. A teoria da evolução se confirma na pesquisa científica por dados evidentes e significativos.

A caracterização específica de cada reino define as possibilidades de cada um deles e limita-os em áreas de desenvolvimento próprio. A pedra não apresenta sinais de vida,  embora em seu núcleo estrutural intensa atividade esteja  se processando nas forças de atração; o vegetal tem vida e sensibilidade, o animal acrescenta às  características da planta a mobilidade e os órgãos sensoriais específicos, com inteligência em processo de desenvolvimento. Somente no homem todas essas características dos reinos naturais se apresentam numa síntese perfeita e equilibrada, com inteligência desenvolvida, razão e pensamento contínuo e criador. Mas a mais refinada conquista da evolução, que marca o homem com o endereço do plano angélico (Reino Espiritual) é a Mediunidade. Função sem órgão, resultante de todas as funções orgânicas e psíquicas da espécie, a Mediunidade é a síntese por excelência, que consubstancia todo o processo evolutivo da Natureza. Querer atribuí-la a outras espécies que não a humana é absurdo, uma vez que mediunidade requer processo de sintonia impossível de acontecer no pensamento fragmentado do animal. Por isso, todos os que querem encontrá-la nos animais a reduzem a um sistema comum de comunicação animal, desconhecendo-lhe a essência para só encará-la através dos efeitos.

O ponto de máximo absurdo nessa teoria da mediunidade nos animais é a aceitação de “incorporação” de espíritos humanos em animais.

As comunicações mediúnicas são possíveis somente no plano humano. A Natureza emprega os processos das formas no desenvolvimento das espécies animais e no crescimento das criaturas humanas, sempre no âmbito de cada espécie e segundo as leis das lentas variações da formação dos seres. Jamais o Espiritismo admitiu os excessos de imaginação que o fariam perder de vista as regras do bom senso e a firmeza com que avança na conquista dos mais graves conhecimentos de que a Humanidade necessita para prosseguir na sua evolução moral e espiritual.

As pesquisas parapsicológicas atuais demonstram a percepção extra-sensorial  no animal que lhes permite perceber (enxergar, ouvir) vibrações de ondas não passíveis de serem captadas pelo sensório humano.

Certas faculdades dos animais são agudas como a visão na águia e no lince, a do olfato e da audição nos cães, a da direção nas aves e animais marinhos; faculdades estas desenvolvidas na medida das necessidades de sobrevivência de certas espécies.

As nossas faculdades correspondentes são menos acentuadas, porque já possuímos outros meios para aferir a realidade, usando faculdades superiores de que temos maior necessidade no campo da evolução espiritual. A percepção extra-sensorial é muito difundida no reino animal, e os espíritos incumbidos de zelar por esse reino, em certos casos podem excitar suas percepções para atender a circunstâncias especiais. Os casos de animais que se recusam a passar num trecho da estrada porque este é assombrado - segundo lendas, nada tem que ver com a mediunidade. Muitas vezes o animal se recusa porque percebeu não um espírito, mas sim a presença de uma serpente no mato.  

Na Revista Espírita, Junho de 1860, pg 179, no artigo - O Espírito e o Cãozinho - é relatado o caso de um cão que percebia a presença do Espírito de seu dono, desencarnado havia pouco. É perguntado ao Espírito do rapaz por que meios o cão o reconhece, e ele responde:

“A extrema finura dos sentidos do cão”.

Posteriormente o Espírito Charles comunica-se explicando:

“A vontade humana atinge e adverte o instinto dos animais, sobretudo dos cães, antes que algum sinal exterior o revele. Por suas fibras nervosas o cão é colocado em relação direta conosco, Espíritos, quase tanto quanto com os homens: percebe as aparições; dá-se conta da diferença existente entre elas e as coisas reais ou terrenas, e lhes tem muito medo”.

“(...) Acrescentarei que seu órgão visual é menos desenvolvido do que as suas sensações; ele vê menos do que sente; o fluido elétrico o penetra quase que habitualmente”.

Desse modo, compreendemos que o cão percebe a presença de Espíritos, não através da mediunidade, mas através da percepção peculiar acentuada e por ser, em princípio, constituído do mesmo fluido que os Espíritos.           

Outros casos comentados são as aparições de animais - fantasmas. Na Revista Espírita - Maio de 1865, pg 125 a 129, é relatada a aparição de uma cachorra chamada Mika.

Será que o princípio inteligente, que deve sobreviver nos animais como no homem, possuiria, em certo grau, a faculdade de comunicação como o Espírito humano?

Posteriormente, é recebida a seguinte comunicação de um Espírito, sobre o assunto (transcrevemos parte dela):

            “(...) Assim, a manifestação pode dar-se, mas é passageira, porque o animal para subir um degrau, necessita de um trabalho latente que aniquila, em todos, qualquer sinal exterior de vida. Esse estado é a crisálida espiritual, onde se elabora a alma, perispírito informe, não tendo nenhuma figura reprodutiva de traços (...)“.

            “(...) que o animal, seja qual for, não pode traduzir seu pensamento pela linguagem humana, suas idéias são apenas rudimentares; para ter a possibilidade de exprimir-se como faria o Espírito de um homem, ele necessitaria ter idéias, conhecimentos e um desenvolvimento que não tem, nem pode ter. Tende, pois,como certo, que nem o cão, o gato, o burro, o cavalo ou o elefante, podem manifestar-se por via mediúnica. Os Espíritos chegados ao grau da humanidade, e só eles, podem fazê-lo, e ainda em razão do seu adiantamento porque o Espírito de um selvagem não vos poderá falar como o de um homem civilizado”.

            As manifestações de fantasmas-animais não são naturalmente conscientes como as de criaturas humanas, mas são produzidas por entidades espirituais interessadas nessas demonstrações, seja para incentivar o maior respeito pelos animais na Terra, seja por motivos científicos.

            Continuando nossa análise, recorremos aos capítulos XIX e XXII de O Livro dos Médiuns e juntos, analisemos fatores que nos permitam compreender o papel dos médiuns nas comunicações, excluindo assim a possibilidade dos animais serem médiuns. 

O Livro dos Médiuns,

• cap XIX - Papel dos Médiuns nas Comunicações;
• Cap XXII – Da Mediunidade nos animais, q.236 

”(...) que é um Médium? É o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens, Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza que seja”.

            “(...) os semelhantes agem através de seus semelhantes e como os seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos, encarnados ou não? (...) o vosso perispírito e o nosso procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite aos Espíritos e aos encarnados entrar facilmente em relação. Enfim, o que pertence especificamente aos médiuns, à essência mesma de sua individualidade, é uma afinidade especial, e ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que anulam neles toda possibilidade de rejeição, estabelecendo entre eles e nós, uma espécie de corrente ou fusão, que facilita as nossas comunicações. É, de resto, essa possibilidade de rejeição, própria da matéria, que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns”.

            “(. ..) o fogo que anima os irracionais, o sopro que os faz agir, mover, e falar na linguagem que lhes é própria, não tem quanto ao presente, nenhuma aptidão para se mesclar, unir, fundir com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito em uma palavra, que anima o ser essencialmente perfectível: o homem (...)“.

            “(...) não mediunizamos diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. Precisamos sempre do concurso consciente ou inconsciente, de um médium humano, porque precisamos da união de fluidos similares, o que não achamos nem nos animais nem na matéria bruta”.

            O Sr. T..., diz-se, magnetizou o seu cão. A que resultado chegou? Matou-o, porquanto o infeliz animal morreu, depois de haver caído numa espécie de atonia, de langor, conseqüência de sua magnetização. Com efeito, saturando de um fluido haurido numa essência superior à essência especial da  sua natureza de cão, ele o esmagou, agindo sobre ele, embora mais lentamente, à semelhança do raio. Assim, não havendo nenhuma possibilidade de assimilação entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos animais, propriamente ditos, nós os esmagaríamos imediatamente ao mediunizá-los.

            "(...)sabeis que tiramos do cérebro do médium os elementos necessários para dar ao nosso pensamento a forma sensível e apreensível para vós. É com o auxílio dos seus próprios materiais que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Pois bem: que elementos encontraríamos no cérebro de um animal? Haveria  ali palavras, números, letras, alguns sinais semelhantes aos que encontramos no homem, mesmo o mais ignorante? Entretanto, direis, os animais compreendem o pensamento do homem, chegam mesmo a adivinhá-lo. Sim, os animais amestrados compreendem certos pensamentos, mas já os vistes reproduzi-los? Não. Concluí, pois, que os animais não podem servir-nos de intérpretes".

Resumindo: os fenômenos mediúnicos não podem produzir-se sem o concurso consciente ou inconsciente dos médiuns, e é somente entre os encarnados, Espíritos como nós, que encontramos os que podem servir-nos de médiuns. Quanto a ensinar cães, pássaros e outros animais, para fazerem estes ou aqueles serviços, é problema vosso e não nosso. – ERASTO” 

Assim concluímos ser a Mediunidade uma faculdade natural do Espírito. Querer encontrá-la nos animais significa não entender seu mecanismo, finalidade e função, ignorando-lhe a essência para só encará-la através dos efeitos. Os principais elementos que permitem o desabrochar dessa faculdade só apareceram no homem: a sensibilidade aprimorada ao extremo das possibilidades materiais, o psiquismo requintado e sutil, a afetividade elaborada aos impulsos da transcendência, a vontade dirigida por finalidades superiores, a mente racional e perquiridora , a consciência discriminadora e analítica, o juízodisciplinador e avaliador que avalia a si mesmo, a memória arquivada nas profundezas do inconsciente, o pensamento criador e dominador do espaço e do tempo, a intuição inata de Deus como o selo vivo e atuante do Criador na criatura.

Tereza Cristina D'Alessandro
Novembro / 2002

Bibliografia:
1. KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo:FEESP, 1989 - Cap. XIX e XXII 2. KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos: ed. especial São Paulo:EME, 1997 - Cap. XI q. 592 a 613 3. KARDEC, Allan – Revista Espírita: Sobradinho-DF: EDICEL, • Junho de 1860 – O Espírito e o Cãozinho • Julho de 1861 – Papel dos médiuns nas comunicações, Erasto e Timóteo • Agosto de 1861 – Os animais médiuns, Erasto • Setembro de 1861 – Carta do Sr Mathieu sobre mediunidade das aves •Maio de 1865 – Manifestação do Espírito dos animais 4. PIRES, J. Herculano - Mediunidade: 2. ed. São Paulo: PAIDÉIA, 1992 - Cap XI, Mediunidade Zoológica

Fonte:http://cebatuira.org.br/estudos_detalhes.asp?
estudoid=892
A mediunidade de animais em questão
Iso Jorge Teixeira


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Este cãozinho da raça Lhasa Apso, muito carinhoso, enternece os seus donos, geme e não se alimenta convenientemente com a ausência de 48 horas de um dos familiares a quem ele está mais ligado afetivamente; há casos, na literatura especializada, até de morte por inanição provocada pela saudade dos donos, o que demonstra que o instinto (alimentar) não é tão cego como se supunha, e KARDEC já afirmava isso em 1867.
Em artigo anterior desta nossa Coluna de A JORNADA questionamos a existência real das chamadas "colônias espirituais" e inúmeras vezes temos opinado contra o roustainguismo em nossa Coluna SAÚDE MENTAL do jornal espírita (Órgão da FEESP)... Para admitirmos que uma comunicação mediúnica seja real é preciso que seja sancionada pela crivo da razão e pelo critério da concordância universal dos ensinos dos Espíritos – não nos cansamos de repeti-lo, desta metodologia doutrinária não abrimos mão...
Pois bem, estudaremos aqui a difícil questão da mediunidade de animais e veremos como ALLAN KARDEC – o Codificador da Doutrina dos Espíritos – usou um método rigoroso em relação a esse tema; pois, um Espírito (ERASTO), cuja superioridade foi demonstrada inúmeras vezes, trouxe uma série de contribuições importantes sobre o assunto, no entanto, KARDEC preferiu esperar que a "psicologia experimental", no futuro, confirmasse ou não as suas assertivas, como veremos...
Médiuns e mediunidade.
Os médiuns são, como sabemos, os intermediários entre os Espíritos e os homens (cf. O Livro dos Espíritos. ALLAN KARDEC. Introdução, item IV, início do último parágrafo), isto é, são pessoas aptas a sentirem a influência dos Espíritos e a transmitirem os pensamentos destes (cf. Obras Póstumas de ALLAN KARDEC, FEB, Rio de Janeiro, 13 ed., p. 57).
Enfim, para afirmar-se a ocorrência da mediunidade é preciso que haja captação da mensagem de um Espírito e que ela seja transmitida (ou retransmitida) aos homens. Então, as perguntas que se impõem em nossa tema são:
1)- seriam os animais capazes de captar a mensagem de um Espírito ?
2)- seriam os animais capazes de retransmitir o pensamento dos Espíritos?...
Para que possamos afirmar que haja mediunidade de animais é preciso que respondamos sim a ambas as perguntas acima.
Captação (telepática) por um animal de mensagens de um Espírito.
Rigorosas pesquisas científicas, com a catalogação de inúmeros fatos, provam que inúmeros animais (pássaros, gatos, cavalos, cães, etc.) são capazes de captar a presença de um Espírito. Assim, em longa dissertação intitulada Os animais Médiuns, disse o Espírito ERASTO, em 1861, através da mediunidade do Sr. d 'AMBEL:
"(...) Certamente os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis para os animais, muitas vezes tomados de súbito por esse pavor, que vos parece infundado e é causado pela vista de um ou vários desses Espíritos mal intencionados para com os indivíduos presentes ou para os donos desses animais." (Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos. Direção de ALLAN KARDEC. Ano IV, n.º 8, agosto/1861, EDICEL, São Paulo, p. 264 e O Livro dos Médiuns de ALLAN KARDEC. Cap. XXII, FEB, Rio de Janeiro, 30 ed., 1972, p. 294 – 295).
Posteriormente, através de estudos de Metapsíquica foram reunidos grande número de fatos, provando a percepção de Espíritos por animais; assim, uma longa casuística é apresentada pelo ilustre pesquisador italiano ERNESTO BOZZANO (Os animais têm alma ? – Edit. Eco, Rio de Janeiro) e alguns casos pelo célebre astrônomo e pesquisador CAMILLE FLAMMARION (O Desconhecido e os Problemas Psíquicos. Vol. I. Edit. FEB, rio de Janeiro, 3 ed., 1979, p. 99, 109, 157 e 194).
Ora, para que os animais captem a presença de Espíritos (e isto é um fato) é necessário que eles possuam um perispírito e, conseqüentemente, uma alma. Haveria um psiquismo animal ? Tal psiquismo teria diferenciação para retransmitir o pensamento que percebem ?...
Inteligência – Inteligência humana e animal.
A melhor definição de inteligência foi dada pelo psicólogo W. STERN na segunda década do século XX, disse ele: "Inteligência é a capacidade de se adaptar a situações novas mediante o consciente emprego de meios ideativos". Neste sentido, várias pesquisas demonstraram a inteligênciaem animais, embora rudimentar e isto já fôra anunciado pelo espíritos à época de KARDEC.
Uma das mais importantes pesquisas científicas neste setor foi realizada por W. KÖEHLER, um dos fundamentadores da Psicologia da Gestalt (GestaltPsychologie)...
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W. KÖEHLER publicou o livro A Inteligência dos Símios Superiores, em 1917, no qual relata sua experiência em chimpanzés que aqui resumimos: os chimpanzés foram colocados, com fome, numa área em que se deixava pender cachos de banana, inalcançáveis para a estatura deles. Foram colocados no chão, espalhados, alguns caixotes e varas. Depois de algum tempo, mais ou menos longo, para cada experiência, após várias tentativas de insucesso, conseguiram os chimpanzés terem "idéias", isto é, vislumbravam a solução do novo problema a eles apresentado, empilhando caixotes para alcançarem as bananas e/ou utilizando as varas para derrubarem as bananas... Enfim, provou o pesquisador que houve ali atos inteligentes dos chimpanzés, no entanto, simplesmente para atender suas necessidades materiais, imediatas, sem abstração e generalização. A esse respeito, ensinava o nosso mestre da Psiquiatria brasileira NOBRE DE MELO:
"(...) Eis aí por que se pode dizer, sem exagero, que a vida psíquica do Homem é sempre e em tudo diferente da do animal. Este, incapaz de abstrair, terá limitada a sua inteligência aos imperativos das necessidades vitais imediatas. Por isso, seu raciocínio jamais poderá passar daquela inferência concreta e prática entre fatos particulares."(A. L. NOBRE DE MELO. Psiquiatria. Vol. I. Civilização Brasileira / MEC, Rio de Janeiro, 1979, p. 282 – 283).
Enfim, o psiquismo animal existe, mas de forma rudimentar; o animal é incapaz de evoluir por si mesmo, nem através da ajuda dos de sua espécie, embora sejam capazes de atos que nos tocam o coração, porém, instintivos. São exemplos disso os casos relatados no prefácio à edição brasileira do livro de BOZZANO (op. cit.) por FRANCISCO KLORS WERNECK, embora não indique a fonte... Diz ele:
"Existem casos surpreendentes com os animais, principalmente com os cães, que parecem ser os mais evoluídos na escala animal. um, por exemplo, daquele cão feroz que avançou resolutamente contra um de sua espécie, que quedava tranqüilamente na beira da calçada, e estacou, trêmulo e aterrado, ao aproximar-se do outro, que não percebeu o menor sinal de sua aproximação. Tratava-se de um animal cego. Outro, o do conhecido cirurgião que encontrou na rua um cão com a pata esmagada e tratou dele na sua própria casa. Doze meses se passaram até que estranhos arranhões na porta de sua residência o levaram a ver do que se tratava. Era o mesmo cão que levava um seu semelhante, nas mesmas condições em que se achara, para o médico o tratar.". Finalmente, conta KLORS WERNECK, um caso que teria ocorrido com ratos:
"(...) Um tropeiro passava por uma estrada quando os seus olhos descobriram dois ratos que caminhavam um ao lado do outro, levando ambos uma palhinha, segurando um uma ponta e o outro a outra. Teve a idéia de matá-los com o porrete que levava na mão. O primeiro, atingido pela pancada, fugiu, sem dar antes sinais de desespero, e o outro pára um tanto perplexo de que o outro se tenha posto em fuga. Verifica então ele que a sua imobilidade se devia ao fato de ser cego. O outro lhe servia de guia nas trevas da cegueira." (op. cit., p. 7 – 8).
É indubitável o psiquismo animal, contudo, esclarecia o Espírito ERASTO:
"(...) O cão que, pela sua inteligência superior entre os animais, se tornou o amigo e o comensal do homem, será perfectível por si mesmo, por sua iniciativa pessoal? Ninguém ousaria afirmá-lo, porquanto o cão não faz progredir o cão. O que, dentre eles, se mostra mais bem educado, sempre o foi pelo seu dono.". Argumenta, então, ERASTO:
"(...) Desde que o mundo é mundo, a lontra sempre construiu sua choça em cima d 'água, seguindo as mesmas proporções e uma regra invariável; os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram os respectivos ninhos senão do mesmo modo que seus pais o fizeram; um ninho de pardais dos tempos modernos é sempre um ninho de pardais, edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de entrelaçamento das palhinhas e dos fragmentos apanhados na época dos amores. As abelhas e as formigas, que formam pequeninas repúblicas bem administradas, jamais mudaram seus hábitos de abastecimento, sua maneira de proceder, seus costumes, suas produções. A aranha, finalmente, tece a sua teia sempre do mesmo modo." E arremata:
"(...) Por outro lado, se procurardes as cabanas de folhagens e as tendas das primeiras idades do mundo, encontrareis, em lugar de umas e outras, os palácios e os castelos da civilização moderna. Às vestes de pele brutas sucederam os tecidos de ouro e seda. Enfim, a cada passo, achais a prova da marcha incessante da humanidade pela senda do progresso." (O Livro dos Médiuns. ALLAN KARDEC, op. cit., p. 293. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, op. cit., p. 262-263).
Aí estão palavras sensatas, que o tempo não destruiu...
Mediunidade de animais ?
O Espírito ERASTO pronunciou-se sobre a questão da mediunidade de animais de forma peremptoriamente contra, disse ele:
"(...) Os homens estão sempre dispostos a exagerar tudo. Uns – e não falo aqui dos materialistas – recusam uma alma aos animais e outros querem lhes conceder uma, por assim dizer, semelhante à nossa. Por que querer assim confundir o perfectível com o imperfectível? Não, não, convencei-vos; o fogo que anima os animais, o sopro que os faz agir, mover-se e falar sua linguagem não têm, até o presente, nenhuma aptidão para se misturar, se unir, fundir-se com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito, numa palavra, que anima o ser essencialmente perfectível, o homem, esse rei da criação." ." (O Livro dos Médiuns. ALLAN KARDEC, op. cit., p. 292. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, op. cit., p. 262).
Além do argumento, acima, devemos estar atentos para o fato de que a evolução na escala animal provavelmente ocorra através do processo reencarnacionista, pois a individualidade do psiquismo animal é demonstrada em casos de suicídio de animais (cf. KARDEC. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, fevereiro/1867, op. cit., p. 52) e através da constatação de que não há animais na erraticidade (cf. KARDEC. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, 1865, p. 127), pois sua reencarnação é muita rápida (O Livro dos Médiuns. ALLAN KARDEC, op. cit.,p. 359-360).
CONCLUSÕES.
KARDEC foi prudente e não colocou como um dado doutrinário indubitável a questão do "espírito" dos animais. Em 1865, na Revue Spirite disse: "(...) Quando tivermos reunido documentos bastantes, resumi-lo-emos num corpo de doutrina metódica, que será submetida ao controle universal (o grifo é nosso). Até lá são apenas balizas postas no caminho para o esclarecer." (cf. KARDEC. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, maio/1865, op. cit., p. 127). Este comentário KARDEC o fez a propósito de uma mensagem recebida pelo médium E. VÉZY, em 21/04/1865, que dentre outras coisas dizia:
"(...) o animal, seja qual for, não pode traduzir seu pensamento pela linguagem humana, suas idéias são apenas rudimentares; para ter a possibilidade de exprimir-se, como o faria o Espírito de um homem, ele necessitaria de idéias, conhecimentos e um desenvolvimento que não tem, nem pode ter. Tende, pois como certo que nem o cão, o gato, o burro, o cavalo ou o elefante, podem manifestar-se por via mediúnica." (cf. KARDEC. Revista Espírita – Jornal de estudos psicológicos, maio/1865, op. cit., p. 129).
Hoje, após 137 anos, ante a comunicação acima, diante das pesquisas científicas acumuladas sobre o assunto, ante o ensino do Espírito ERASTO (em 1861) e considerando as idéias de KARDEC, acreditamos que podemos afirmar que NÃO HÁ MEDIUNIDADE NO ANIMAL, ou melhor, O ÚNICO ANIMAL QUE POSSUI MEDIUNIDADE É O HOMEM, MAS ESTE É O "REI DA CRIAÇÃO".
Epílogo.
 
JESUS
O Guia e modelo
O que diferencia radicalmente o Homem do animal não é a inteligência, a razão, como se pensava antigamente e sim, o livre-arbítrio do Homem daí a sua perfectibilidade . DEUS concedeu-nos a dádiva do livre-arbítrio, por isso somos os "reis da criação".
Os animais são os nossos fiéis auxiliares, que tantas vezes nos enternecem, a tal ponto que julgamo-los quase humanos; talvez, por isso, o atrapalhado ministro do Governo COLLOR tenha dito que ""o animal também é um ser humano" !... Entretanto, àquelas pessoas imaginosas, supersticiosas, que dizem evocar o espírito de um animal e obterem resposta, cabe aqui o pensamento dos Espíritos Superiores:
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KARDEC
O Codificador

Bom-senso e prudência
"Evoca um rochedo e ele te responderá. Há toda uma multidão de espíritos prontos a tomar a palavra sob qualquer pretexto." (O Livro dos Médiuns. ALLAN KARDEC. Cap. XXV, op. cit., p. 360).
Como "reis da Criação" é nosso dever usar corretamente o nosso livre-arbítrio para que não sejamos como o filho pródigo da parábola de JESUS, precisando voltar para a casa paterna pedindo perdão ao Pai Misericordioso pelo Bem que deixamos de fazer.
KARDEC codificou a Doutrina dos Espíritos com bom-senso e prudência. A Doutrina Espírita é forte, inexpugnável, porque baseia-se em fatos, constatáveis cientificamente, e não em fantasias e pieguices espirituais.

KARDEC
O Codificador

Bom-senso e prudência
Iso Jorge Teixeira
CREMERJ:52-14472-7
Psiquiatra. Livre-Docente de Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de
Ciências Médicas (FCM) da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Fonte:http://www.espirito.org.br/portal/artigos/iso-jorge/mediunidade-de-animais.html


A MEDIUNIDADE NOS ANIMAIS
Postado em Editora Vivência
Muitas vezes, os animais percebem a presença dos espíritos até mesmo antes dos sensitivos. Mas eles podem ser “médiuns” como o homem?

Irvênia Prada - Texto extraído do livro "A Questão Espiritual dos Animais"


No capítulo XXII, item 236, de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, encontramos um comentário do espírito Erasto no sentido de existirem evidências de que os espíritos podem se tornar visíveis e tangíveis para os animais, bem como estes compreendem certos pensamentos do homem. Ernesto Bozzano diz que certos animais percebem a presença de espíritos antes dos próprios sensitivos e que há aqueles que demonstram possuir certas faculdades psíquicas, como a telepatia.

Em seu livro Mediunidade: vida e comunicação, o prof. J. Herculano Pires comenta a respeito da ocorrência de casos impressionantes de materialização de animais em sessões experimentais, informando ainda sobre o relato de numerosos casos de manifestações animais na Inglaterra, que constam nos Anais das Sociedades de Pesquisas Psíquicas. Andrew Lang, em relato presente em outro livro de Pires, Espírito e o Tempo, conta que fantasmas de cães foram visualizados, além de seus ganidos serem ouvidos, por diversas pessoas, simultaneamente, na tribo de Queensland, na Austrália.

Frente a essas colocações, naturalmente surgem as perguntas. O que tudo isso significa? Esses fenômenos são mediúnicos? Os animais podem atuar como médiuns? Na época de Kardec, como indica Erasto em O Livro dos Médiuns, a questão da mediunidade dos animais era freqüentemente proposta sobretudo em razão de fatos que revelavam indícios de inteligência por parte de alguns pássaros educados pelo homem, que pareciam adivinhar pensamentos, chegando a retirar de um maço de cartas aquelas que correspondiam exatamente ao pedido feito. Dado o interesse que despertou, essa questão foi discutida na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, estando o correspondente artigo publicado na edição de setembro de 1861 da Revista Espírita.

Para analisarmos a possibilidade dos animais atuarem ou não como médiuns, vamos considerar as diferentes maneiras de atuação do médium nos diversos tipos de manifestações dos espíritos.
MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES

Embora, à primeira vista, pareçam ser simples as questões referentes ao conceito de fenômeno mediúnico e de médium, bem como à precisa definição de fenômenos de efeitos físicos e de manifestações inteligentes, na realidade, elas são complexas e envolvem muita reflexão e senso crítico. Por isso, é melhor definir de início o perfil desses fenômenos, a fim de que tenhamos condições de avaliar como os animais poderiam ou não participar de seu mecanismo.

Às vezes, para se referir às manifestações inteligentes, Kardec usa também o termo “intelectual”. Aliás, como afirma Hermínio C. Miranda em Diversidade dos Carismas, “fenômeno mediúnico, de fato, na plenitude de sua conotação semântica, é o de efeito intelectual, no qual o sensitivo funciona realmente como o canal de comunicação entre encarnados e desencarnados”. Ele lembra ainda que se lê o seguinte em O Livro dos Médiuns: “Os efeitos inteligentes são os que o espírito produz, servindo-se dos elementos existentes no cérebro do médium”. Segundo o autor, ter-se-ia o próprio cérebro como central nervosa, como ponto de comando do sistema. Portanto, neste tipo de manifestação, o médium age como intermediário, entendendo-se que a ligação é de mente para mente, com a irradiação do pensamento. “Para uma comunicação inteligente, há necessidade de um intermediário inteligente e esse é o espírito do médium”, diz O Livro dos Médiuns.

A psicofonia e a psicografia se caracterizam neste tipo de manifestação. Para que o fenômeno aconteça, é necessário que o fluido do perispírito do espírito comunicante se combine com o fluido do médium, criando-se a atmosfera mais apropriada para que o pensamento do primeiro alcance a mente e o cérebro do segundo. A respeito disso, André Luiz, no capítulo 8 de Nos Domínios da Mediunidade, descreve o mecanismo intrínseco do fenômeno de psicofonia consciente e inconsciente.

Em uma comunicação que se seguiu à discussão do assunto na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e que consta no capítulo XXII de O Livro dos Médiuns, Erasto comenta que não havendo afinidade entre o fluido do homem e do animal, não há possibilidade deste atuar como médium. Refere-se ainda ao fato de que os espíritos tiram do cérebro do médium os elementos necessários para dar ao pensamento deles a forma sensível para nós. Então, questiona que elementos seriam encontrados no cérebro de um animal. Ele admite que alguns animais, principalmente os adestrados, compreendem certos pensamentos do homem, mas, não os podendo reproduzir, não podem nos servir de intérpretes. Aqui temos um fato interessante, pois se a restrição apontada é a dos animais não poderem reproduzir o que eventualmente entendam, há, então, os que podem fazê-lo!

A ciência acaba de demonstrar que chipanzés e gorilas são capazes de se comunicar com os homens usando a linguagem de sinais para surdos-mudos. O casal Allen e Beatrix Garner, ambos cientistas do corpo docente da Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, e seu assistente Roger Fouts, autor do livro O Parente Mais Próximo, ensinara a linguagem para a gorila Washoe e outros chipanzés, através da qual ela é capaz de articular frases gramaticalmente corretas e expressar sentimentos como solidariedade, raiva, compaixão, ciúme, inveja e senso de humor.

Fouts ressalta que, além da habilidade de aprender demonstrada pelos animais, o mais importante foi a confirmação de que a capacidade de transmitir informações não é exclusiva dos seres humanos. Em sua relação com os filhotes e outros membros do grupo, a mãe ensina a linguagem humana aprendida, comprovando sua capacidade de reproduzir informações. O assistente afirma ainda que o caso de Washoe não é isolado, pois vários outros chimpanzés demonstraram a mesma aptidão.

Essas considerações ficam como uma porta aberta para reflexões e, um dia, quem sabe, à possibilidade de pesquisas sobre o assunto. Talvez, essa capacidade dos animais compreenderem determinados pensamentos do ser humano esteja relacionada à citação de Ernesto Bozzano a respeito da participação deles em fenômenos de telepatia. No livro Mediunidade: vida e comunicação, mais precisamente no capitulo intitulado “Mediunidade Zoológica”, o prof. J. Herculano Pires tece considerações sobre o desenrolar do processo evolutivo, desde o reino mineral até o hominal, asseverando que “o animal só terá condições para a mediunidade ao atingir a síntese dos poderes dispersos nas espécies de seu reino para se elevar ao plano humano, só que, então, não será mais animal, mas homem”.

É evidente que existe um abismo entre a mente de um chimpanzé e a do homem, mas certamente o julgávamos bem maior. Portanto, no caso do fenômeno mediúnico de efeitos intelectuais ou inteligentes, parece correto admitir, de forma coerente com o que encontramos nos livros básicos da codificação, que os animais em geral não possuem condições de participar do processo como médiuns ou intermediários.

Dessa forma, em que pese o respeito que devemos ter com a figura de Edgard Armond, não temos como aceitar, à luz da doutrina espírita, a descrição que encontramos sobre o assunto no capítulo 13 de seu livro Mediunidade: “Na Índia, homens-tigres, incorporação ou semi-incorporação de feiticeiros em tigres que funcionam como médiuns (...) Na África e outros lugares, mulheres e homens, encarnados e desencarnados, incorporam-se em animais domésticos, como cães ou gatos, e selvagens, como lobos, raposas, veados, entre outros”.

EFEITOS FÍSICOS

No caso de manifestações de efeitos físicos, o médium não atua como um intermediário, mas como um colaborador do fenômeno, fornecendo fluidos que, combinados com aqueles do espírito agente, saturam a matéria objeto do fenômeno. “O espírito precisa da matéria para agir sobre ela”, afirma O Livro dos Médiuns. Entendo que isso se trate da necessidade do espírito se valer da matéria mais sutil, ou seja, de fluidos, para agir sobre aquela mais grosseira. Esse também é o mecanismo dos processos de materialização de espíritos humanos e, quem sabe, venha a explicar “os casos impressionantes de materialização de animais”, como relata Herculano Pires. O espírito Erasto faz o seguinte alerta: “Costuma-se dizer que os espíritos mediunizam e fazem mover a matéria inerte, as cadeiras, as mesas, os pianos. Fazem mover, sim, mas mediunizar, não”. Aliás, o próprio Erasto esclarece que os espíritos agem sobre a matéria inerte com os elementos que o médium lhes fornece. “Assim, o envoltório fluídico mais sutil do espírito, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico mais animalizado do médium, permite ao espírito movimentar os objetos”, explicou. Lembremo-nos que a expressão “fluido animalizado” se refere ao fluido vital do ser que tem o “anima”, ou seja, que tem vida, que é encarnado.

Sabemos que os espíritos procuram em elementos da natureza, como determinadas ervas e outras plantas, substâncias de que necessitam para auxiliar encarnados ou desencarnados. André Luiz relata que espíritos ou perispíritos de enfermos encarnados, em desdobramento durante o sono, são levados para a beira do mar, uma fonte inesgotável de fluido vital. Ali, existe uma infinidade de seres vivos, animais e vegetais, e o fluido vital certamente vem deles, sendo adequadamente modificado para que possa ser devidamente utilizado. Trata-se do fenômeno de ectoplasmia, que conta com a participação de diversos tipos de seres vivos que se encontram na condição de doadores de fluidos vitais.

Em determinados fenômenos, discute-se se a ocorrência é de mediunidade mesmo ou de animismo. Assim, referindo-se aos médiuns videntes, Kardec comenta no livro Obras Póstumas: “Seria, porventura, demasiado considerar essas pessoas como médiuns, porquanto a mediunidade se caracteriza unicamente pela intervenção dos espíritos, não se podendo ter como ato mediúnico o que alguém faz por si mesmo. Aquele que possui a vista espiritual vê pelo seu próprio espírito, não sendo de necessidade, para o surto de sua faculdade, o concurso de um espírito estranho”.

A mesma observação pode ser feita em relação aos médiuns videntes, auditivos e sensitivos ou impressionáveis, sendo, portanto, nesses casos, um fenômeno anímico, não propriamente mediúnico.

Sabemos que o médium vê, ouve ou sente o que está na esfera de irradiação de seu perispírito, havendo, então, uma combinação de seus fluidos com os do plano espiritual. Dessa forma, podemos entender o mecanismo segundo o qual os espíritos humanos se tornam visíveis para os animais, como disse Erasto, exemplificando com o relato bíblico da “Mula de Balaão”. Entre os vários casos com a participação de animais que já ouvi, lembro-me de um muito interessante. Em uma certa família, era hábito de um idoso senhor chegar em casa à tarde, sentar-se em sua cadeira de balanço e tirar os sapatos. Como um ato contínuo, seu amigo e fiel cão ia ao quarto e lhe trazia os chinelos. O tempo passou e esse senhor desencarnou. Certo dia, essa família estava reunida na sala quando se percebeu uma repentina mudança de comportamento no cão, que demonstrava alegria. O impressionante é que o animal se dirigiu ao quarto do antigo dono e, trazendo os chinelos, depositou-os no lugar de costume, diante da cadeira de balanço. Surpresos e emocionados, os familiares se entreolharam e perguntaram: será que ele está lá? Analisando o que aconteceu, não podemos afirmar que sim ou não. Obedecendo aos rigores do método racional, podemos dizer apenas que o ocorrido sugere que, de fato, o espírito do senhor desencarnado esteve lá, tendo a sua presença percebida pelo cão.

SENTINDO INFLUÊNCIAS

Encontramos outra passagem interessante sobre esse item no relato bíblico da “cura do endemoniado geraseno”. Possesso de demônios, o homem recorreu a Jesus para curá-lo. Então, os seres rogaram a Jesus que não os mandasse sair para o abismo. Pastando no monte, uma grande manada de porcos andava por ali e eles pediram permissão para entrar naqueles animais. E Jesus permitiu. Os demônios saíram do homem e entraram nos porcos, que se precipitaram para dentro do lago e se afogaram.

Pelo texto, podemos entender que os demônios ou espíritos obsessores exerciam uma influência deletéria sobre o homem. Certamente o vampirizavam, pois esses espíritos se alimentavam do fluido vital de encarnados. Aliás, André Luiz relata como esses espíritos se amontoam nos matadouros para captar o fluido vital que emana dos animais sacrificados. Então, uma vez que tiveram de se afastar do homem, pois a autoridade de Jesus assim determinava, serviram-se dos porcos que por ali passavam para, com certeza, continuarem a se valer de alguma fonte do fluido vital de que necessitavam. É o sentido que vejo no texto, já que não podemos levar ao pé da letra a informação de que os demônios “entraram nos porcos”. Esses animais “sentiram” a influência ou a presença da legião de obsessores, tornando-se extremamente perturbados por ela.

Agora, se os porcos sentiram os espíritos, será que eles atuaram como médiuns? É uma questão complexa. Segundo O Livro dos Médiuns, “todo aquele que sente a influência dos espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium”. Esse é um conceito bastante amplo (“lato sensu”, como poderíamos dizer) e, nesse caso, abrangeria até os porcos do caso do “endemoniado geraseno” ou daquele cão que foi buscar os chinelos do senhor desencarnado. Entretanto, em uma visão mais focalizada e remontando à origem etimológica do termo, o vocábulo “médium” seria utilizado única e exclusivamente para manifestações de efeitos intelectuais, quando a atuação do indivíduo é a de intermediário.

Por fim, permitam-me uma reflexão. Imagino que os prezados confrades, a essa altura, estão entendendo bem a razão peta qual decidi tratar o assunto como questão, ou seja, como tema a ser discutido. E se estamos com a proposta de discutir, temos que estar abertos para as possíveis explicações, sem idéias preconcebidas nem preconceitos, valendo-nos, é claro, de informações contidas nas obras básicas da codificação espírita, assim como da lógica e da razão, como recomendou Kardec. No meu entender, a questão da mediunidade dos animais continua em aberto, pois ainda existem mais perguntas do que respostas, estando a própria discussão do conceito de “médium” implicada na discussão do assunto.

(Extraído da revista Cristã de Espiritismo 20, páginas 44-48)

Fonte:http://www.ippb.org.br/textos/especiais/editora-vivencia/a-mediunidade-nos-animais


Mediunidade nos animais

Fonte:http://www.guia.heu.nom.br/mediunidade_nos_animais.htm

Os irracionais não possuem faculdades mediúnicas propriamente ditas. Contudo, têm percepções psíquicas embrionárias, condizentes ao seu estado evolutivo, através das quais podem indiciar as entidades deliberadamente perturbadoras, com fins inferiores, para estabelecer a perplexidade naqueles que os acompanham, em determinadas circunstâncias.
[41a - página 217] - EMMANUEL - 1940 http://www.guia.heu.nom.br/images/LinhaHorizotalComSombra.gif
____Um papagaio tem a pineal, mas não vai receber um espírito, porque ele não tem uma área no cérebro que lhe permita fazer um julgamento. A mediunidade está ligada a uma questão de senso-percepção.
____Então, a ela não basta a existência da glândula_pineal, mas sim, todo o cone que vai até ocórtex_frontal, que é onde você faz a crítica daquilo que absorve. A mediunidade é uma função de senso (captar)-percepção (faz a crítica do que está acontecendo). Então, a mediunidade é uma função humana.
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Entrevista da revista Espiritismo & Ciência com o psiquiatra e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo, dr. Sérgio Felipe de Oliveira. Diretor-clínico do Instituto Pineal Mind, e diretorpresidente da AMESP (Associação Médico-Espírita de São Paulo), Sérgio Felipe de Oliveira é um dos maiores pesquisadores na área de Psicobiofísica da USP, e vem ganhando destaque nos meios de comunicação com suas pesquisas acerca do papel da glândula pineal em fenômenos ligados à mediunidade.
____A questão da mediunidade dos animais se acha completamente resolvida na dissertação seguinte, feita por um Espírito cuja profundeza e sagacidade os leitores hão podido apreciar nas citações, que temos tido ocasião de fazer, de instruções suas. Para bem se apreender o valor da sua demonstração, essencial é se tenha em vista a explicação por ele dada do papel do médium nas comunicações.
____Esta comunicação deu-a ele em seguida a uma discussão, que se travara, sobre o assunto, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas:
  • Explanarei hoje a questão da mediunidade dos animais, levantada e sustentada por um dos vossos mais fervorosos adeptos. Pretende ele, em virtude deste axioma: Quem pode o mais pode o menos, que podemos "mediunizar" os pássaros e os outros animais e servir-nos deles nas nossas comunicações com a espécie humana. E o que chamais, em filosofia, ou, antes, em lógica, pura e simplesmente um sofisma.
  • Podeis animar, diz ele, a matéria inerte, isto é, uma mesa, uma cadeira, um piano; a fortiori, deveis poder animar a matéria já animada e particularmente pássaros. Pois bem! no estado normal do Espiritismo, não é assim, não pode ser assim.
  • Primeiramente, entendamo-nos bem acerca dos fatos. Que é um médium? É o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza que seja.
  • Há um princípio que, estou certo, todos os espíritas admitem, é que os semelhantes atuam com seus semelhantes e como seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos, encarnados ou não? Será preciso que vo-lo repitamos incessantemente? Pois bem! repeti-lo-ei ainda: o vosso perispírito e o nosso procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, propriedadede magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos desencarnados e encamados, pormo-nos muito pronta e facilmente em comunicação. Enfim, o que é peculiar aos médiuns, o que é da essência mesma da individualidade deles, é uma afinidade especial e, ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que lhes suprimem toda refratariedade e estabelecem, entre eles e nós, uma espécie de corrente, uma espécie de fusão, que nos facilita as comunicações. E, em suma, essa refratariedade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns. (Ver:Ferromagnetismo e Mediunidade)
  • Os homens se mostram sempre propensos a tudo exagerar; uns, não falo aqui dos materialistas, negam alma_aos_animais, outros de boa mente lhes atribuem uma, igual, por assim dizer, à nossa. Por que hão de pretender deste modo confundir o perfectível com o imperfectível? Não, não, convencei-vos, o fogo que anima os irracionais, o sopro que os faz agir, mover e falar na linguagem que lhes é própria, não tem, quanto ao presente, nenhuma aptidão para se mesclar, unir, fundir com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito que anima o ser essencialmente perfectível: o homem, o rei da criação. Ora, não é essa condição fundamental de perfectibilidade o que constitui a superioridade da espécie humana sobre as outras espécies terrestres? Reconhecei, então, que não se pode assimilar ao homem, que só ele é perfectível em si mesmo e nas suas obras, nenhum indivíduo das outras raças que vivem na Terra.
  • O cão que, pela sua inteligência superior entre os animais, se tornou o amigo e o comensal do homem, será perfectível por si mesmo, por sua iniciativa pessoal? Ninguém ousaria afirmá-lo, porquanto o cão não faz progredir o cão. O que, dentre eles, se mostre mais bem educado, sempre o foi pelo seu dono. Desde que o mundo é mundo, a lontra sempre construiu sua choça em cima d'água, seguindo as mesmas proporções e uma regra invariável; os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram os respectivos ninhos senão do mesmo modo que seus pais o fizeram. Um ninho de pardais de antes do dilúvio, como um ninho de pardais dos tempos modernos, é sempre um ninho de pardais, edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de entrelaçamento das palhinhas e dos fragmentos apanhados na primavera, na época dos amores. As abelhas e formigas, que formam pequeninas repúblicas bem administradas, jamais mudaram seus hábitos de abastecimento, sua maneira de proceder, seus costumes, suas produções. A aranha, finalmente, tece a sua teia sempre do mesmo modo.
  • Por outro lado, se procurardes as cabanas de folhagens e as tendas das primeiras idades do mundo, encontrareis, em lugar de umas e outras, os palácios e os castelos da civilização moderna. As vestes de peles brutas sucederam os tecidos de ouro e seda. Enfim, a cada passo, achais a prova da marcha_incessante_da_Humanidade_pela_senda_do_progresso.
  •  Desse progredir constante, invencível, irrecusável, do Espírito humano e desse estacionamento indefinido das outras espécies animais, haveis de concluir comigo que, se é certo que existem princípios comuns a tudo o que vive e se move na Terra: o sopro e a matéria, não menos certo é que somente vós, Espíritos_encarnados, estais submetidos a inevitável lei_do_progresso, que vos impele fatalmente para diante e sempre para diante. Deus colocou os animais ao vosso lado como auxiliares, para vos alimentarem, para vos vestirem, para vos secundarem. Deu-lhes uma certa dose de inteligência, porque, para vos ajudarem, precisavam compreender, porém lhes outorgou inteligência apenas proporcionada aos serviços que são chamados a prestar. Mas, em sua sabedoria, não quis que estivessem sujeitos à mesma lei do progresso. Tais como foram criados se conservaram e se conservarão até à extinção de suas raças.
  •  Dizem: os Espíritos "mediunizam" a matéria inerte e fazem que se movam cadeiras, mesas, pianos. Fazem que se movam, sim, "mediunizam", não! porquanto, mais uma vez o digo, sem médium, nenhum desses fenômenos pode produzir-se. Que há de extraordinário em que, com o auxílio de um ou de muitos médiuns, façamos se mova a matéria inerte, passiva, que, precisamente em virtude da sua passividade, da sua inércia, é apropriada a executar os movimentos e as impulsões que lhe queiramos imprimir? Para isso, precisamos de médiuns, é positivo; mas, não é necessário que o médium esteja presente, ou seja consciente, pois que podemos atuar com os elementos que ele nos fornece, a seu mau grado e ausente, sobretudo para produzir os fatos de tangibilidade e o de transportes. O nosso envoltório_fluídico, mais imponderável e mais sutil do que o mais sutil e o mais imponderável dos vossos gases, com uma propriedade_de_expansão e de penetrabilidadeinapreciável para os vossos sentidos grosseiros e quase inexplicável para vós, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico, porém animalizado, do médium, nos permite imprimir movimento a móveis quaisquer e até quebrá-los em aposentos desabitados.
  • É certo que os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos animais e, muitas vezes, o terror súbito que eles denotam, sem que lhe percebais a causa, é determinado pela visão de um ou de muitos Espíritos, mal-intencionados com relação aos indivíduos presentes, ou com relação aos donos dos animais. Ainda com mais freqüência vedes cavalos que se negam a avançar ou a recuar, ou que empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! tende como certo que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em impedi-los de mover-se. Lembrai-vos da mula de Balaão que, vendo um anjo diante de si e temendo-lhe a, espada flamejante, se obstinava em não dar um passo. E que, antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quisera tornar-se visível somente para o animal. Mas, repito, não mediunizamos diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. É-nos sempre necessário o concurso consciente, ou inconsciente, de um médium humano, porque precisamos da união de fluidos similares, o que não achamos nem nos animais, nem na matéria bruta.
  • O Sr. T..., diz-se, magnetizou o seu cão. A que resultado chegou? Matou-o, porquanto o infeliz animal morreu, depois de haver caído numa espécie de atonia, de langor, conseqüentes à sua magnetização. Com efeito, saturando-o de um fluido haurido numa essência superior à essência especial da sua natureza de cão, ele o esmagou, agindo sobre o animal à semelhança do raio, ainda que mais lentamente. Assim, pois, como não há assimilação possível entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos animais, propriamente ditos, aniquila-los-íamos instantaneamente, se os mediunizássemos.
  • Isto posto, reconheço perfeitamente que há nos animais aptidões diversas; que certos sentimentos, certas paixões, idênticas às paixões e aos sentimentos humanos, se desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme se procede bem ou mal com eles. É que Deus, que nada fez incompleto, deu aos animais, companheiros ou servidores do homem, qualidades de sociabilidade, que faltam inteiramente aos animais selvagens, habitantes das solidões. Mas, daí a poderem servir de intermediários para a transmissão do pensamento dos Espíritos, há um abismo: a diferença das naturezas.
  • Sabeis que tomamos ao cérebro do médium os elementos necessários a dar ao nossopensamento uma forma que vos seja sensível e apreensível; é com o auxilio dos materiais que possui, que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Ora bem! que elementos encontraríamos no cérebro de um animal? Tem ele ali palavras, números, letras, sinais quaisquer, semelhantes aos que existem no homem, mesmo o menos inteligente? Entretanto, direis, os animais compreendem o pensamento do homem, adivinham-no até. Sim, os animais educados compreendem certos pensamentos, mas já os vistes alguma vez reproduzi-los? Não. Deveis então concluir que os animais não nos podem servir de intérpretes.
  • Resumindo: os fatos mediúnicos não podem dar-se sem o concurso consciente, ou inconsciente, dos médiuns; e somente entre os encarnados, Espíritos como nós, podemos encontrar os que nos sirvam de médiuns. Quanto a educar cães, pássaros, ou outros animais, para fazerem tais ou tais exercícios, é trabalho vosso e não nosso.
ERASTO.

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