ARQUITETA ZAHA HADID : A ÉTICA DO BELO A QUALQUER CUSTO

Análise: arquiteta Zaha Hadid levou a ética do belo a qualquer custo


Escrito em April 8th, 2016 por Raphael Vidigal

“O golpe de calcanhar categórico de minha pena escande como uma perna esquerda o zapateado mais altivo, o zapateado das mandíbulas de meu cérebro! Olé!” Salvador Dalí
Dois dos maiores poetas brasileiros divergem quanto à condição da poesia. O pantaneiro Manoel de Barros alude às “máquinas que servem para não funcionar” e que podem um dia “milagrar de flores”. E arremata: “Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!”. Mario Quintana, gaúcho, prefere outra imagem, diz que “um poema que não te ajuda a viver e não te prepara para a morte não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras!”. Como sempre a poesia, território por natureza do lúdico e do contraditório, em sua concisão e densidade, abrange interpretações, não raro, complexas e incompatíveis, que vão além do exposto. Interessante notar, portanto, que Manoel usa a metáfora da “máquina” para louvar o “imprestável”, e Quintana a do “chocalho”, um brinquedo, a fim de mencionar função e conferir sentido ante o mundo ao redor.
No ambiente da arquitetura tais considerações tornam-se mais complicadas pela ambígua natureza de um objeto de arte que se pretende exibir e utilizar ao mesmo tempo. Ou seja, antes de Hélio Oiticica criar o conceito de artes plásticas que se coadunam com o outro, a arquitetura já o fazia originalmente. A iraquiana Zaha Hadid pertence à estirpe de artistas como Gaudí, Niemeyer, e também Oscar Wilde e Salvador Dalí, para quem a estética e o aspecto formal, além de invólucro para o conteúdo, caracterizam parte fundamental do que pretendem dizer e de como almejam transformar o mundo. Nessa perspectiva os sentidos devem ser seduzidos e provocados para que, “à flor da pele”, se compreenda através do tato, da visão, do paladar, do olfato e da audição toda a expressividade da obra. Estamos no universo, por princípio, da exuberância.
Logo, a escultura se sobrepõe, em Zaha Hadid, à matemática. A arquitetura talvez seja uma das mais inebriantes formas de conhecimento justamente por sua condição hermafrodita, pois não se coloca francamente de pé sem um alicerce sólido, e não alça os ares sem a imaginação de seu criador. Se a música observa particularidade similar, ainda é mais pertinente levá-la por instintos, prática quase impossível em projetos arquitetônicos. Mas foi exatamente pelo espanto e assombro que suas construções provocaram que Zaha distinguiu-se de seus pares e adentrou ao panteão desejado. Embora também se imponha, freqüentemente, no ambiente da arquitetura, outra contradição, essa certamente mais grave. Se a estrutura que emerge aos olhos é a coqueluche desde princípio, muitas vezes estes se fecharam para a política dos mecenas. A ética do belo a qualquer custo compreende até seus horrores.
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Raphael Vidigal
Imagens: obras de Zaha Hadid.
Fonte:http://www.esquinamusical.com.br/analise-arquiteta-zaha-hadid-levou-a-etica-do-belo-a-qualquer-custo/



A arquitetura não linear de Zaha Hadid



No final da década de 80 surgia um movimento pós-moderno caracterizado pelo desenvolvimento de uma arquitetura não linear, funcional e extremamente inteligente. Uma linha de raciocínio focada na fragmentação de elementos e estruturas, distorcendo por completo a maior parte dos princípios dessa ciência. Um caos controlado, imprevisível, estimulante e inspirador. Neste ousado cenário está o trabalho de Zaha Hadid.

Nascida em Badgá, Zaha estudou matemática na AUB, em Beirute, e depois foi direto para a Architectural Association de Londres (onde mais tarde se tornaria professora). Vencedora de diversos concursos internacionais, alguns de seus notórios projetos nunca chegaram a ser construídos, como oThe Peak Club (Hong Kong, 1983) e a Cardiff Bay Opera House (Wales, 1994).

Grande parte da obra de Zaha é conceitual e nunca saiu do papel. O que não diminui sua influência no mundo: a arquiteta já foi eleita pela Forbes como a #69 do “The World’s 100 Most Powerful Women”; indicada pela Time como a “Influential Thinker” de 2010; apontada como #42 do “The World’s 50 Most Influential” pela The British.

Mas como sabemos, não dá pra viver exclusivamente de projetos no papel. E entre os projetos desenvolvidos (e construídos) pelo Zaha Hadid Architects (escritório da moça em Londres, com mais de 350 funcionários), estão alguns trabalhos impressionantes, como a Puente Pabellón (Zaragoza), a Pista de Ski Bergisel (Innsbruck), a Vitra (Weil am Rhein) e o Centro de Arte Contemporânea (Ohio).

Outras criações curiosas (algumas são até fáceis de encontrar para quem quiser comprar) são produtos do nosso cotidiano, como torneiras, sofás, luminárias, sandálias (sim, meninas, é da Melissa) ou mesmo uma mesa de jantar do tipo “Minority Report”. :)
Fonte:http://www.b9.com.br/26239/arquitetura/a-arquitetura-nao-linear-de-zaha-hadid/
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