Tempo e eternidade - Osho
Osho - Você é tempo e intemporalidade ao mesmo tempo, do contrário, não poderia alcançar o equilíbrio. Mas só conheceu parte do seu ser, somente a parte do tempo. Se conhecer todo seu ser, conhecerá também sua parte atemporal. Para o todo não existe tempo. É um conceito relativo, só existe para aqueles que não estão completos, inteiros. Isso é importante que se entenda, é um ponto delicado e muito complicado. O tempo é um dos problemas mais difíceis.
Santo Agostinho disse: "Sei o que é tempo quando não me perguntam, mas quando alguém me pergunta, já não sei." Todo mundo sabe o que é o tempo se ninguém pergunta, mas se alguém insiste em que você o defina, que explique o que é o tempo, estás perdido. Você o tem usado, tem estado falando dele a cada momento, e tem também um sentimento sutil sobre ele, sobre o que é; porém, quando se quer explicá-lo em palavras, se sente perdido.
O tempo é um dos problemas mais complicados. Tente compreender. O tempo, - e isso é o que primeiro tens que compreender - não é nada absoluto. Para o universo inteiro não existe tempo, porque não se pode mover de um ponto a outro, porque ambos estão nele. Tudo está contido nele, passado, presente e futuro. Se não contém já o futuro, como irá existir alguma vez o futuro? O todo não pode mover-se no tempo, porque também contém o tempo, o tempo é parte da existência. Por isso, dizemos que o todo vive na eternidade: eternidade significa intemporalidade, nela não há tempo. O passado, o futuro, o presente: a intemporalidade contém a todos.
O tempo existe para nós, porque vivemos como partes; o espaço existe para nós, porque vivemos como partes, são fenômenos relativos. Para o todo, o espaço não existe, porque está contido no todo, Não se pode ir a lugar algum, porque não há 'outro lugar' para se ir. Todo o espaço está no todo. Onde se pode ir então? Existe aqui e agora, sempre existe aqui e agora, nunca foi diferente disso. E você é isso. Se vive uma vida dividida, se vive uma vida superficial, se vive meio dormindo, quase dormindo, vives no tempo. Se vive uma vida completamente desperta, já vive na eternidade, na intemporalidade, se converteu no todo. Agora, não existe tempo para você.
O místico alemão Eckhart, estava em seu leito de morte. Um discípulo, um homem curioso, um estudante de filosofia, lhe perguntou: Mestre, sei que estás morrendo, mas gostaria que respondesse uma pergunta antes de abandonar o corpo, se não ela me perseguirá por toda minha vida; Eckhart abriu os olhos e disse: Qual é a pergunta? O homem disse: Quando se morre, se vai para onde?
Eckhart disse: Não há necessidade de ir a lugar algum.
Não sei se esta resposta satisfez ao discípulo, mas Eckhart lhe deu uma bela resposta. Requer uma profunda compreensão para responder a esta pergunta. Eckhart disse: Não há necessidade de se ir a lugar algum. Isto significa que agora estás em todas as partes. Onde está a necessidade de se ir a algum lugar?
Ao Buda fizeram a mesma pergunta, várias vezes. Quando um Buda morre, para onde ele vai? Buda sorria e não dizia nada. No seu último momento, a pergunta foi novamente formulada, e Buda disse: Traga uma pequena vela. Acenda-a. Tragam ela para perto de mim. Quando a vela estava acesa perto dele, de repente ele a soprou e a vela simplesmente apagou. Buda então perguntou: Para onde foi a luz da vela? Se tornou um com o todo. Agora não existe mais como uma chama individual, a individualidade foi abandonada.
Por isso a palavra Nirvana se tornou tão importante na terminologia budista. Significa extinção de uma chama, total extinção de uma chama. Permanece, porque tudo permanece, mas não se pode mais encontrá-la. Onde se encontra a chama que já não é? Se perde a individualidade, se perde a forma.
Onde encontrá-la? Podemos dizer que ela já não existe? Existe, pois como pode algo que existiu deixar de existir? Desapareceu, então, tornou-se uma com a não-forma; se tornou uma com o todo, então, ainda existe. Agora, existe como o todo.
Você tem duas possibilidades. Pode viver no tempo, então, vives com a mente. A mente é o tempo, mas a mente divide a vida em passado, presente e futuro. A mente é o fator divisor, é o grande analista, um grande dissecador. É o que disseca tudo.
Pode também viver a vida diretamente, pode viver a vida de forma imediata, sem mente. Pode por a mente de lado e assim viver a vida sem tempo, eternamente, e não há passado nem futuro, só presente, presente e presente.
Sempre estás aí. O passado é esse presente que já não pode ver e o futuro é este presente que ainda não podes ver. O passado é este presente que está além de ti, além da sua percepção, e o futuro, é este presente que ainda não entrou nos limites da sua percepção.
Pense em um pequeno exemplo. Você está esperando alguém embaixo de uma árvore muito alta. Podes ver o caminho, mas há limitações, podes ver uns duzentos metros de um lado, duzentos metros de outro lado, e logo o caminho desaparece. Mas há outro homem que está sentado no alto da árvore. Ele pode ver muito mais longe. Ele pode um quilômetro em uma direção e um quilômetro na outra.
Você está esperando seu amigo e o amigo aparece para você, mas não para o homem que está sentado na copa da árvore. No momento em que seu amigo aparece no caminho, ele se torna presente para o homem na copa da árvore, mas para você ainda é um futuro, porque ainda não apareceu para você. A não ser que ele entre nos seus limites de percepção, não será presente para você. É futuro. Assim que, passado, futuro e presente são relativos. Depende da altura e de onde estás.(...)
Em uma meditação profunda, a mente já não está se intrometendo. Segue funcionando a princípio, mas pouco a pouco, quando não a escuta, para de falar. Quando vê que não se interessa, por nada que ela diga, quando vê que
você não lhe dá atenção, ela então para.(...)
Quando a mente silencia, você passa a viver a vida diretamente. Neste ponto não existe mais meditador, nem nada que o defina; a percepção é clara, pura e estás na eternidade."
Osho em Los tres tesoros
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