10 MITOS SOBRE A CRIAÇÃO TÃO ESTRANHOS QUANTO O DA BÍBLIA

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10 mitos sobre a criação tão estranhos quanto o da bíblia

Por Jackie Fuchs
Quem somos e de onde viemos é uma questão tão antiga quanto a humanidade. Não é de se admirar que todo mundo tenha uma resposta. O surpreendente, no entanto, não é como nossas histórias sobre a criação são diferentes, mas o quanto elas têm em comum, mesmo quando se originam em lugares distantes. Confira:
10. Ovo cósmico chinês
Segundo esse mito, o primeiro ser vivo foi P’an Ku, que cresceu durante 18 mil anos dentro de um ovo cósmico. Quando se chocou, a casca acima dele tornou-se o céu, enquanto a casca debaixo tornou-se a terra. Os opostos na natureza foram separados, como masculino e feminino, úmido e seco, claro e escuro, yin e yang, etc. Depois de todo esse esforço, P’an Ku literalmente se despedaçou e suas feições se tornaram o mundo natural. Seus membros se transformaram em montanhas, seu sangue em rios, sua respiração no vento, sua voz nos trovões, seu cabelo na grama, seu suor na chuva, e assim por diante. Seu olho esquerdo se tornou o sol e seu direito se tornou a lua.
Algumas pessoas dizem que os parasitas no corpo de P’an Ku se tornaram a humanidade. Outros dizem que, muitos séculos depois da morte de P’an Ku, uma deusa solitária chamada Nu Wa viu seu reflexo em um lago e criou alguns seres como ela a partir da lama. Estes tornaram-se os aristocratas. A criação desses seres foi um trabalho árduo, e quando Nu Wa agitou uma videira enlameada através do ar, suas gotas se tornaram os plebeus. Anos mais tarde, o céu desabou, criando buracos na terra através do qual águas subiram para formar um grande dilúvio. Nu Wa remendou a terra, mas ficou esgotada por seu trabalho e morreu. Seu corpo, como o de P’an Ku, formou ainda mais recursos naturais no mundo.
9. Lenda das linguagens da tribo americana Blackfoot
Segundo a lenda dessa tribo indígena norte-americana, o Homem Velho veio do sul, criando a terra, plantas e animais enquanto se dirigia para o norte. As primeiras pessoas que ele criou foram uma mulher e seu filho a partir do barro. O Homem Velho mostrou-lhes como coletar plantas para se alimentar e disse que as ervas eram boas para tratamentos de doenças. Ele ensinou-lhes como fazer armas para matar animais e como fazer fogo para que pudessem cozinhá-los. Mais importante ainda, disse-lhes como obter poder espiritual, encontrando seu espírito animal em seus sonhos.
Como muitas outras histórias da origem da humanidade, as lendas dos Blackfoot falam de um grande dilúvio. Uma possível explicação para isso são as inundações em todo o mundo devido aos derretimentos de icebergs que podem ter ocorrido em torno de 5.000 aC, possivelmente o tempo de Noé. Depois do dilúvio, o Homem Velho reuniu as pessoas no topo de uma montanha e deu-lhes água de cores diferentes para beber. Cada cor representa uma linguagem diferente. Os Blackfoot, bem como outras tribos como os Piegan, beberam água negra, e é por isso que falam a mesma língua.
8. Criação sangrenta do povo Sanema
O povo Sanema faz parte do grupo ianomâmi de tribos que vivem na floresta amazônica. Cada tribo tem sua própria coleção de histórias, passadas oralmente de geração a geração. Devido a isso, seus mitos sobre a criação variam. Geralmente, no entanto, o povo Sanema acredita que todas as coisas vivas descendem de “ancestrais originais”, cujos espíritos ainda habitam a floresta.
Uma história conta que Peribo, a lua, comia as almas das crianças. Isto irritou Suharina, que atirou na barriga de Peribo com uma flecha. Seu sangue derramou sobre a terra, formando poças das quais os homens mortais surgiram. Os seres humanos mais beligerantes foram criados onde grandes quantidades de sangue caíram, e onde apenas algumas gotas caíram, homens menos violentos nasceram. Em outro mito, Naro (Gambá), que era feio e fedido, tinha ciúmes de seu irmão, Yamonamariwa (Abelha), que era bonito e tinha duas esposas. Naro o mata e um terceiro irmão, Reha (Lagarto), descobre a traição de Naro e o denuncia. Os antepassados destruíram Naro e transformaram-se em espíritos e animais ao se pintar com seu sangue. A preguiça foi criada com uma pequena quantidade de excrementos de Naro.
7. O Criador, o Preservador e o Destruidor indianos
Brahma começou do nada. Apenas com o pensamento, ele criou as águas em que depositou seu sêmen. Isso se transformou em um ovo de ouro, do qual ele nasceu. Por pensamento novamente, ele dividiu o ovo em dois, e as metades se tornaram o céu e a terra. Brahma cresceu sozinho e dividiu-se em dois para formar o homem e a mulher. Em uma variação da história, Brahma divide-se repetidamente em dois até que todos os seres vivos do mundo sejam criados a partir de seu corpo. Em outra versão, o primeiro homem e a primeira mulher se reproduzem em diferentes formas animais até que todas as formas de vida são criadas.
Juntos, Brahma (o Criador), Vishnu (o Preservador) e Shiva (o Destruidor) compõem o Supremo. Cada universo que Brahma cria é destruído por Shiva, depois do qual não há nada, a não ser um vasto oceano em que Vishnu flutua, repousando sobre uma grande cobra. Em algumas versões do mito, Brahma não vem de um ovo, mas a partir de uma flor de lótus que brota do umbigo de Vishnu. Eventualmente, o nosso mundo também será destruído por Shiva, e o ciclo vai começar de novo.
6. Os quatro mundos do povo Navajo
A tribo indígena norte-americana Navajo tem uma das histórias mais longas e complexas sobre a criação do mundo. Ela começa no primeiro mundo, chamado Mundo Negro. Esse mundo continha quatro nuvens, incluindo uma preta, que representa a substância do sexo feminino, e uma branca, que representa o sexo masculino. Juntas, elas criam o Primeiro Homem, que representa o amanhecer e a vida, e a Primeira Mulher, que representa a escuridão e a morte. Outros seres no Mundo Preto incluem o Grande Coiote (idealizado a partir de um ovo), o Primeiro Bravo, e vários insetos. O Mundo Negro tornou-se muito lotado, no entanto, então todos subiram para o Mundo Azul dos pássaros. Lá, eles viveram em harmonia por 23 dias, até que alguém tentou dormir com a esposa do chefe Andorinha.
Banidos para o Mundo Amarelo dos mamíferos, eles encontraram seis montanhas, onde as pessoas santas viviam. As pessoas santas eram imortais e viajavam seguindo o arco-íris. Lá, a Primeira Mulher deu à luz a duas hermafroditas. Quatro dias depois, ela deu à luz a um outro par de gêmeos, um homem e uma mulher. No final de 20 dias, cinco pares de gêmeos haviam nascido. Um dia, o Grande Coiote tomou para si o bebê do Monstro da Água. O Monstro ficou tão irritado que fez a chuva, até que as águas da inundação subiram mais alto do que as montanhas. No que deve ter sido o dilúvio mais lento de todos os tempos, o Primeiro Homem plantou várias árvores e um canavial em sequência, nenhum dos quais cresceu acima do nível das águas. Finalmente, um canavial cresceu para o céu. Todo mundo o escalou, onde encontraram o quarto mundo, o Mundo Branco, que é onde todos nós vivemos hoje.
5. O fogo e o gelo da Escandinávia
Segundo essa lenda escandinava, antes de existir o tempo, havia um lugar de nevoeiro e gelo chamado Niflheim. Do outro lado, havia Muspelheim, onde demônios e gigantes do fogo moravam. O fogo de Muspelheim eventualmente derreteu o gelo de Niflheim, que pingou e formou uma vaca gigante chamada Audhumla e um gigante gelado chamado Ymir. Mais gigantes cresceram a partir do suor da axila de Ymir e foram amamentados por Audhumla, que criou mais gigantes lambendo blocos de gelo salgado.
Estes gigantes acasalaram e deram à luz ao deus Odin e seus irmãos. Odin e seus irmãos mataram Ymir e a terra foi feita a partir de sua carne, o céu de seu crânio, o mar de seu sangue, as nuvens de seu cérebro, as montanhas de seus ossos e as árvores de seu cabelo. Odin construiu Asgard como uma morada para os deuses e a ligou a Midgard (Terra) por uma ponte de arco-íris chamada Bifrost. As larvas no cadáver de Ymir se tornaram anões que ficaram abaixo da superfície da terra, no que restou do corpo do gigante. Os deuses encontraram dois troncos de árvores em Midgard e deram vida a eles, criando Ask e Embla, o primeiro homem e a primeira mulher.
4. Lenda trágica japonesa
O mito de criação do Japão pode ser o mais longo e complicado de todos. Começa com o caos, do qual veio a matéria, separando ao longo de eras o céu e a terra. Várias divindades surgiram nesse processo, incluindo Izanagi e Izanami, o primeiro homem e a primeira mulher. Izanami acasalou com Izanagi e deu à luz as ilhas do Japão, bem como uma variedade de divindades. A última delas foi uma divindade do fogo, cujo nascimento queimou tanto os órgãos genitais de Izanami que ela morreu. Perturbado, Izanagi decapitou a divindade do fogo e foi para Yomi, a terra dos mortos, para procurar Izanami.
Izanami não podia retornar com Izanagi porque tinha comido em Yomi. Ela disse que iria pedir permissão para sair, mas fez Izanagi prometer que não iria segui-la. Depois de esperar um longo tempo, Izanagi quebrou sua promessa e foi procurar por Izanami, encontrando um cadáver em decomposição com vermes (as oito divindades do trovão) comendo seu corpo (se isso soa familiar, confira os mitos gregos de Hades e Perséfone e Orfeu e Eurídice). Izanagi se assustou e selou o corpo de Izanami em Yomi. Ela jurou que, como vingança, mataria mil pessoas por dia. Izanagi respondeu que faria com que mais 1.500 nascessem. É por isso que a cada dia, no Japão, 1.500 crianças nascem e mil pessoas morrem.
Eventualmente, o primeiro imperador da Terra desceu a Ponte Flutuante do Céu e casou com a Princesa das Flores Brilhantes, mas começou a suspeitar quando ela ficou grávida imediatamente. Para provar que os filhos eram dele, a princesa se trancou no palácio e ateou fogo a ele, uma vez que só os descendentes do imperador poderiam sobreviver às chamas. Com o palácio queimado, ela deu à luz aos seres que se tornaram os ancestrais da família imperial japonesa.
3. A serpente criadora dos aborígenes
Histórias da criação aborígenes começam com o Sonho, quando o mundo estava nu e frio. A Serpente Arco-Íris dormiu debaixo da terra com todas as tribos de origem animal em sua barriga. Quando o tempo melhorou, ela saiu e vomitou os animais, juntamente com as características do mundo natural. A Serpente Arco-Íris foi a criadora das leis, que todas as criaturas deviam obedecer. Em algumas variações do mito, ela engoliu os malfeitores e cuspiu seus ossos para formar rochas e morros. Em outros, ela recompensou aqueles que obedeceram a lei, dando-lhes a forma humana, e transformando os infratores em pedra.
A Serpente é às vezes chamada de Mulher Velha, e foi ela quem ensinou os seres humanos como conseguir comida. Em tribos que acreditam que são descendentes de animais, a Serpente deu a cada pessoa um totem e determinou que nenhum homem poderia comer o animal que representava. Desta forma, ela garantiu que houvesse comida suficiente para todos.
2. O sêmen divino egípcio
Antes do início dos tempos, havia Nu (ou Nun), o oceano primordial do caos. De um ovo na superfície de Nu surgiu uma divindade referida várias vezes como Atum, Amen, Re, Rá ou Amon-Rá. Rá criou um filho e uma filha divinos via masturbação, para produzir uma raça de deuses. As lágrimas de Rá se tornaram a humanidade. O neto de Rá, o deus Osíris, se casou com sua irmã Ísis. Ísis descobriu o nome secreto de Rá, o que permitiu que Osíris tomasse seu lugar como rei da terra. Osíris mostrou aos humanos como obter comida e vinho, enquanto Ísis ensinou-lhes a tecer e a fazer medicina.
Set, irmão de Osíris, que representava o mal, prendeu-o em um baú por ciúmes. O baú foi selado com chumbo derretido e lançado no Nilo. Osíris afogou. Depois de uma longa busca, Ísis encontrou seu corpo, mas Set conseguiu colocar as mãos sobre ele e rasgá-lo em 14 pedaços antes de atirá-los de volta para o rio. Ísis recuperou todas as peças de Osíris exceto seu pênis, que tinha sido comido por um peixe. Ela criou um pênis de barro e “soprou” a vida de volta para Osíris através dele. Osíris reviveu apenas tempo suficiente para engravidar Ísis com seu filho Hórus, em seguida morrendo de vez e tornando-se rei do submundo. Para manter o bebê Hórus a salvo de Set, Ísis o colocou em uma cesta para flutuar pelo Nilo, inspirando a história de Moisés. Quando Hórus cresceu, competiu com Set pelo direito de governar a terra, e ganhou.
1. A criação estelar dos Dogon
O povo Dogon é uma tribo indígena que vive em Mali, que se acredita ser descendente dos egípcios. Suas histórias da origem começam com Amma, o deus que existia antes do tempo. Amma estava sozinho, então criou a Terra, às vezes chamada de “ovo do mundo” ou “placenta original”. A Terra existe no espaço infinito e contém um modelo de toda a criação. Amma se casou com a Terra, que mais tarde deu à luz a Ogo e um par de gêmeos andróginos em forma de peixe chamado Nommo.
Como Ogo não tinha parceiro ou gêmeo, cometeu incesto com a Terra. Dessa união surgiu o primeiro sangue menstrual, juntamente com os espíritos do submundo. Amma desfez o transtorno causado por este ato, transformando Ogo em um chacal. O sangue que escorria da Terra tornou-se vários corpos celestes, plantas e animais. Amma então criou as estrelas jogando pelotas de terra para o espaço. Usando duas tigelas de barro com cobre vermelho e branco, ele criou o sol e a lua. Os negros supostamente nasceram sob o sol, e os brancos sob a lua.
Bônus: Os guaranis descentes diretos do criador do mundo
O povo indígena Guarani acredita que o processo de criação do mundo teve início com Ñane Ramõi Jusu Papa ou “Nosso Grande Avô Eterno”, que se constituiu a si próprio do Jasuka, uma substância originária, vital e com qualidades criadoras. Também foi ele quem criou outros seres divinos e sua esposa, Ñande Jari ou “Nossa Avó”.
Além disso, o Grande Avô criou também a Terra em formato de rodela, estendendo-a até a sua forma atual. Ele deixou o planeta antes que fosse ocupado pelos homens, por um desentendimento com sua mulher. Tomado pelo ciúmes, quase chegou a destruir sua própria criação, sendo impedido por ela com a entoação do primeiro canto sagrado usando como acompanhamento o takuapu, instrumento feminino feito de taquara.
O filho do Grande Avô, Ñande Ru Paven (“Nosso Pai de Todos”) e sua esposa Ñande Sy (“Nossa Mãe”) ficaram responsáveis pela divisão política da terra e o assentamento dos diferentes povos em seus respectivos territórios, criando montanhas para delimitar o território guarani. Reza a lenda que ele roubou o fogo dos corvos e o entregou aos homens, e criou a flauta sagrada e o tabaco usados nos rituais. Da mesma forma que seu pai, decidiu abandonar a terra em função de um desentendimento com sua esposa, grávida de gêmeos.
O mito dos gêmeos é um dos mais contados e difundidos pela América do Sul. Pa’i Kuara é neto de Ñane Ramõi. A ele, depois de muitas aventuras na terra, foi atribuída a responsabilidade de cuidar do sol, assim como de seu irmão, Jacy, a quem caberia o cuidado da lua. Os Paï se consideram descendentes diretos, como netos, de Pa’i Kuara, o ser divino a quem recorrem mais sistematicamente em momentos de penúria ou doença.
Tradução: Natasha Romanzoti (HypeScience)

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