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Nós Robôs?
Em nosso dia-a-dia muitas vezes nos perdemos em meio a um mar de rostos sem expressão...Nós robôs?
Até quando?
Vamos ao mercado, ao banco, aos Correios. Pegamos filas, olhamos para dentro de nós. Nas mãos as compras para mais tarde, as contas de hoje, as postagens dos acertos de ontem. O tempo não pára.
Quantas filas, quantas senhas de espera. Transmutamo-nos em números, dói ser só número, sem nenhuma vontade a não ser a da espera.
Algumas vezes alguém puxa papo, aquele genérico sobre o tempo. Ninguém fala dos bons segredos descobertos nas andanças da vida. As mesmas frases, as mesmas piadas que perderam a graça na previsibilidade. Sorrimos, um sorriso confortador, contudo não mostramos os dentes.
Nessas lacunas existe o impulso de querer sublimar-se. Queremos anular o presente monótono. Desejamos o passado do que devia ter sido ou o futuro que urgente grita aos nossos ouvidos. No entanto, podemos firmes fincar nossos pés no chão da realidade e observar. Esqueçamos dos nossos pequenos passatempos virtuais para embarcarmos no fantástico mundo da realidade robô.
Olhemos os rostos ao lado e atrás. Se antes os tivéssemos olhado teríamos notado que muitos nos são familiares. Que os vimos em outros dias, em outros lugares.
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Despertos, notaremos que várias pessoas, assim como nós há bem pouco, não estão realmente ali. Cumprem alguma tarefa imposta pela razão dos tempos modernos e trancam o sentimento em algum lugar inacessível.
Suas feições são caricaturais, pesarosas ou inexpressivas, contudo sem o real viço que apenas a vida humana repleta de sentimentos pode ter.
Todos estão seguindo por caminhos traçados, dentro de linhas vermelhas demarcadas. Cada qual com sua senha parece não se preocupar muito com o entorno. Até mesmo as edificações que nos recebem já não se importam conosco. Elas nos dizem sussurrantes através de paredes mal pintadas que não estão nem ai.
O painel chama nosso número. Olhamos o papel amassado para ter certeza de que nossa espera acabou. Damos passos à frente passando por tantos números (ou pessoas?) quanto nossas vistas podem tocar. Pedimos licença e em resposta apenas o silêncio nos embala.
A atendente carrega o nome em um crachá, reminiscências de sua humanidade, ela parece efetuar movimentos repetitivos e sincronizados. Ela não olha em nossos rostos. Ela executa sua função e termina de nos atender com um sorriso sem dentes. Ignora nosso sincero agradecimento pelo serviço executado e chama o próximo.
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Retornamos afoitos para nossa vida. Tentamos esquecer que quiseram que fôssemos apenas número. Voltamos para nossos trabalhos, sentamos apressados na mesa que nos delegaram.
Lutamos para nos manter despertos, contudo tudo ali parece nos anestesiar. Uma opinião sincera não é bem-vinda. Qualquer ímpeto criativo é decapitado antes mesmo de criar asas. Somos obrigados a encenar a peça robótica das obrigações diárias. Adormecemos.
O dia passa devagar. Muitas questões têm que ser resolvidas. Parece que somos máquinas de resolver problemas... para os outros.
Oh queridos, quanto tempo ainda desperdiçaremos até darmos basta a esse ciclo de obrigações?
Olhemos para dentro de nós e, despretensiosos, livremo-nos dos resquícios dessa assombrosa carapaça robótica.
Resgatemos em nós o amor, essa centelha mágica que nos torna sublimes e tão belamente empáticos.
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O amor despe nossas roupas, beija nossos pés, acaricia cada canto de nossa pele. Afaga nosso corpo, ouve nossas boas histórias. Ele não nos cobra, ele não quer que andemos em linha reta. Ele quer que sejamos nós mesmos.
O amor nos embala em dança, aceita nossas limitações e nos auxilia para que nunca esqueçamos quão humanos somos. Apenas ele, em nós e nos que nos cercam, pode manter acesa a centelha mágica que nos torna únicos.
O amor olha fundo em nossos olhos e vislumbra nossos mais profundos anseios. O amor enxuga delicado a lágrima que se cristalizou em nossa face durante o dia de obrigações.
Transbordemos amor. Que ele não seja apenas um veio de água em nós, mas sim mar profundo e sem fim.
Só o amor é capaz de ver beleza onde ninguém mais vê, só ele percebe que uma lágrima nasce para nos lembrar que máquinas não choram.
Por Vanelli Doratioto
Fonte:
© obvious: http://obviousmag.org/alcova_moderna/2015/04/nos-robos.html#ixzz3XoBKNPb2
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