A FACE FEMININA DE BUDA

A Face Feminina de Buda

Por Miguel Berredo
Como as mulheres contribuem para a formação do budismo contemporâneo? E de que forma contribuíram no passado? Poderíamos dizer que se não fosse uma simples menina camponesa indiana, não haveria Buda e nem o budismo?
O príncipe Sidarta, que mais tarde  ficou conhecido como o Buda, em alguma parte de seu caminho à iluminação, se tornou um asceta muito rigoroso, praticando jejum entre outras privações. Fala-se em 80 dias sem comer nem beber nada. Os relatos dão conta de que o jovem asceta era pele e osso e que seus olhos afundaram em suas órbitas. Já sem nenhuma força, por tanto tempo em jejum, caído ao chão, quase morrendo, Sidarta foi socorrido por uma menina camponesa, que ao vê-lo naquela situação, derramou leite com mel em sua boca. Talvez isso tenha acontecido por mais alguns dias e o homem quase morto ressurgiu para uma nova etapa da sua caminhada que o levou à iluminação, o caminho do meio, além dos extremos do prazer e da negligência com o corpo.
A menina camponesa que salvou o Buda não recebeu a devida importância nessa história muito rica. Muitas mulheres trilharam esse caminho sem serem notadas. A presença da mulher no budismo merece ser revista e resgatada. De Mahaprajapati, a tia de Sidarta, que o criou e se tornou a primeira monja, passando por Yeshe Tsogyal, Magig Labdron e Alexandra David Neel, até Pema Chödron e Tenzin Palmo, entre outras grandes mestras do passado e do presente, do Ocidente e do Oriente.
O budismo no Ocidente ainda é recente. O renomado historiador britânico Arnold Toynbee, falecido em 1975, afirmou que a chegada do budismo no ocidente foi o maior evento do século XX. Junto com esse fenômeno, acontece também uma maior inserção da mulher dentro de um novo contexto e paisagem. A presença da mulher é muito bem vinda, areja e amplia as perspectivas. Um fenômeno do budismo ocidental é a forte presença feminina, há monjas, mestras e alunas, em igual ou maior número que homens. Nos Estados Unidos muitas mestras.
No Brasil, estamos no tempo de Chagdud Khadro, das lamas Tsering, Sherab e Yeshe, das Monjas Coen, Isshin, Reverenda Yvonette Gonçalves, Ani Zamba, Tenzin, Namdrol, Jigme Choedzin e ainda de Tiffani Gyatso, com a sua arte tibetana, de Melissa Flores, cineasta que filmou “Yatra” nos locais sagrados de Buda, de Maria Theresa Barros, psicanalista, que da sua tese de doutorado fez o livro – O Despertar do Budismo no Ocidente, de Isabelas, Marianas, Marias e Anas que com um colo maternal cantam para despertar o Buda que está em cada ser.
Essa presença no budismo pode nos ajudar na construção de uma sociedade mais feminina, na medida que o budismo começa a dialogar com os diversos setores da sociedade, educação, ciência, medicina, psicologia, nos lembrando das qualidades de uma mãe que acolhe e protege sem impor condições.
A verdadeira presença feminina deve se dar tanto na construção ativa da sociedade como na manifestação das qualidades como compaixão, cuidado, acolhimento, proteção e amor. Embora essas qualidades não sejam restritas ao gênero feminino, as mulheres podem ajudar a construir um mundo mais justo e equânime.
Sua Santidade o Dalai Lama diz que de fato o que rege o mundo não é a economia e sim a compaixão. Se não houvesse alguém para nos acolher, alimentar e aquecer quando nascemos, ninguém estaria aqui. Para que os valores femininos tenham a devida importância precisamos olhar para eles, dar atenção, empoderá-los, se não eles passarão desapercebidos e não avançaremos enquanto civilização. Sua Santidade também afirmou em um encontro pela paz, em Vancouver, Canadá, em 2009: ”O mundo será salvo pela mulher ocidental”. Um novo paradigma passa pela valorização do princípio feminino.
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Texto: Miguel Berredo
Edição de texto: Liane Alves
Ações que apoiam e preservam a memória da mulher no budismo:
Michael Ash (foto do post) criou o Yogini Project que apoia as mulheres no Dharma e preserva a memória da presença feminina. Confira o bela fotografia de Michael em Oddiyan’s Gate e emDharma Eye, projeto de um grupo de fotógrafos budistas que beneficia e preserva a prática e memória do Dharma.
Michaela Haas, jornalista internacional, palestrante e consultora, escreveu Dakini Power, livro que conta a história de 12 mestras do budismo contemporâneo. Assista um breve vídeo sobre o livro.
Fonte:http://bodisatva.com.br/a-face-feminina-de-buda/

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