DETOX DA ALMA : COMUNIDADE DE PIRACANGA ATRAI QUEM QUER MUDAR DE VIDA


Joana nas pedras do Arpoador, em Ipanema, no pósdetox: meditação ao nascer do sol, curso de reiki, leitura de aura e dieta líquida (Foto: Pedro Loreto)

Joana nas pedras do Arpoador, em Ipanema, no pósdetox: meditação ao nascer do sol, curso de reiki, leitura de aura e dieta líquida (Foto: Pedro Loreto)


Detox da Alma: comunidade de Piracanga atrai quem quer mudar de vida

A empresária carioca Joana Almeida Braga conta como a temporada de dez dias em Piracanga, ecovila e centro holístico de cursos e terapias em Itacaré, na Bahia, deu novo sentido a sua vida – a cabeça raspada é só o detalhe mais aparente


29/03/2015 

Ano passado minha vida deu uma reviravolta. Terminei um casamento de dez anos e estava num momento de transformação profunda, repensando minha profissão e minha vida. Esse processo começou há pelo menos seis meses. E tudo se encaixou quando resolvi passar pela experiência de Piracanga. Fundada no início dos anos 2000, a ecovila perto de Itacaré, na Bahia, tem cerca de 120 moradores de 23 nacionalidades e também oferece cursos, vivências e terapias holísticas. Meus filhos tinham viagem marcada com o pai (o ex-marido de Joana, Arnon Affonso de Mello Neto, filho de Fernando Collor e Lilibeth Monteiro de Carvalho) e, na mesma época, uma grande amiga havia acabado de chegar de lá com ótimas referências.

Fui fazer cursos de reiki e leitura de aura, e minha vida ganhou um novo sentido a partir dali – a mudança de visual foi consequência natural. Logo ao chegar, percebi que algumas mulheres que moram na comunidade tinham a cabeça raspada por acreditarem que o cabelo segura muitas memórias e energias do passado; é comum em muitas culturas cortar o cabelo quando se está vivendo um recomeço, e é assim que me sinto hoje.

O lugar é um paraíso, a comida vegana é deliciosa, as pessoas transmitem uma paz contagiante, que continua com a gente mesmo depois de ir embora. Sou fascinada por tarô, astrologia, reiki, leitura de aura e agora quero usar o que aprendi lá para retomar minha carreira de psicóloga. Foi a primeira vez na vida que passei dez dias sozinha numa viagem para um lugar como esse. Já fui sem ninguém para Nova York ou Paris, onde tenho amigos morando, mas nunca me vi tão longe de tudo e sem as referências de sempre.

A empresária antes de Piracanga: “Sentia falta de ter fé” (Foto: Divulgação)
 
Sou muito urbana, então me surpreendeu ficar num ambiente tão rústico, com o quarto cheio de insetos, a janela sem cortina. Em Piracanga não tem ventilador, muito menos ar-condicionado. Gosto de conforto, mas lá não me fez falta nenhuma. Acordava às 5h30 da manhã, meditava de frente para o rio e ia dormir às 22h, exausta. Os coordenadores dos cursos pedem para não ficarmos carregando o celular, então desliguei o meu, me desliguei da vida. A experiência de me desconectar foi maravilhosa e, além disso, aprendi a meditar, duas lições que levarei para o resto da vida.


Logo no início do curso, uma professora avisou que iríamos nos sentir um pouco fantasiadas com o passar dos dias por causa dos brincos, pulseiras, anéis e colares que estávamos acostumadas a usar e que teríamos vontade de tirar tudo porque passaríamos a enxergar esses objetos como supérfluos. Eu, que sempre andei cheia de acessórios, não me senti fantasiada nem por um minuto, mas outras alunas já começavam a se “limpar” enquanto eu continuava com meus balangandãs, achando tudo aquilo muito parte da minha identidade ainda!

Depois de acordar e meditar, tomávamos um pequeno café da manhã antes de começar as aulas, que duravam o dia todo. Por conta de uma dieta líquida, de sucos e sopas, muita gente passa mal e sente um cansaço absurdo – mas é parte do processo de desintoxicação, afinal a ideia é limparmente, corpo e espírito. Nunca estive com a pele tão boa e com tanta energia!

A ecovila, que funciona à base de energia solar. (Foto: Arquivo Pessoal)
 
Também me surpreendi com a velocidade com a qual me aproximei do grupo. A gente se tornou realmente uma família; é intenso demais dormir e acordar dez dias com as mesmas pessoas, gente que você nunca viu, cada um de um canto do Brasil e do mundo. É evidente a evolução, a gente vê a cara da pessoa no primeiro dia e depois percebe todo mundo transformado, iluminado. Só mesmo vivendo a experiência para entender.

À noite, participava de vivências que, se alguém tivesse me contado antes, eu diria que jamais tomaria parte. Uma delas consistia em tapar os olhos com uma venda e dançar com um monte de gente dentro de uma oca! Não curto esse tipo de dinâmica de grupo, mas foi incrível. Fizemos reikiuns nos outros, abraçamos pessoas que sequer conhecíamos. Quando eliminamos as distrações, os egos e as vaidades do dia a dia, abrimos espaço para uma conexão verdadeira, algo raro atualmente. Senti amor por pessoas que havia conhecido três dias antes. Pela intensidade da experiência, passamos a enxergar o outro como irmão. Tenho medo de soar muito clichê, mas somos todos iguais e não precisamos nos conectar apenas com quem temos mil coisas em comum. Eu mesma, sem saber, tinha uma lista de pré-requisitos para ser amiga de alguém: a pessoa tinha que ter mais ou menos a minha idade, ter filhos, porque a maternidade é importante para mim,e uma profissão interessante.

Com o passar do tempo, meu cabelo passou a me incomodar. Eu me olhava no espelho e me sentia de peruca. Era como se aquilo não pertencesse mais a mim. A sensação era de desconforto total e, no último dia, resolvi dar um basta. Até porque os fios já estavam com uma aparência horrível – em Piracanga é proibido entrar com qualquer produto químico e só podemos usar o que é produzido lá. Por isso, uma espécie de chá biodegradável serve de xampu. Um cara do meu curso apareceu de cabeça raspada e perguntei como ele estava se sentindo. A resposta foi um sorriso e olhos brilhantes. Pedi a ele para fazer o mesmo em mim. Uma plateia se formou em volta, e eu sorria o tempo inteiro. Não tive nenhum momento de arrependimento, exceto na hora que reencontrei meus filhos, que enlouqueceram. O Manuel arrancou o lenço da minha cabeça e a Alice chorava e gritava: “Mamãe, você está horrorosa!”

Joana na nova fase: “Me sentia de peruca” (Foto: Arquivo Pessoal)
 
Precisava muito de um recomeço, estava presa a certos padrões, era preciso buscar algum tipo de espiritualidade. Sempre fui ateia, mas sentia falta de algum tipo de fé. Agora percebo como é importante ter uma ligação com assuntos que não são de ordem material. Minha espiritualidade está florescendo através dos chakras, da meditação, da leitura de aura. Me sinto livre, leve, feliz. Meus amigos e minha família (Joana é filha do ex-banqueiro Antonio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, e da historiadora Luiza Konder) torcem por mim, mas sei que existe muito preconceito. Tem gente que acha que eu entrei para uma seita e voltei convertida, mas paciência.

Vai ser um desafio reproduzir um pouco da rotina de Piracanga no Rio, na vida real. Criamos um grupo de apoio mútuo no Facebook para quando dermos “defeito”. Estou tentando ser uma pessoa melhor dia após dia, o processo é drástico. Foi engraçado porque saí de lá, cheguei no Rio, tive algumas horas para trocar de mala, pegar um avião e ir a Miami buscar os meus filhos. Cheguei e não consegui entrar em nenhum shopping. Não que eu seja uma consumista louca, mas gosto de moda, trabalho com isso, tenho uma loja, a Q-Guai, mas não tive vontade de comprar nada. Cada vez tenho mais vontade de viver apenas com o essencial. Sou de uma geração que foi criada para fazer business school e ganhar dinheiro. Nós nos formamos, arrumamos profissões legais, nos casamos e agora estamos questionando tudo. Tenho 37 anos e digo que a crise dos 40 da minha geração vai ser a de consciência. (HERMÉS GALVÃO)


Fonte:http://vogue.globo.com/beleza/saude/noticia/2015/03/detox-da-alma-comunidade-de-piracanga-atrai-quem-quer-mudar-de-vida.html

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