Meditação é ação do silencio - J.Krishnamurti
conhecimento, ou com fins especulativos.
Daí resulta inevitavelmente, na ação, a contradição entre o que é e o que "deveria ser" ou "foi". Tal ação, baseada no passado, no conhecimento, é mecânica; pode ser susceptível de ajustamento ou modificação, mas suas raízes estão no passado. E, assim, sobre o presente paira sempre a sombra do passado. Nas relações, essa ação provém da imagem, do símbolo, da conclusão; as relações são, conseqüentemente, um produto do passado, são memória, e não uma coisa viva. Do meio desse barulho, dessa desordem e confusão, procedem atividades que se fragmentam em padrões de cultura, comunidades,
instituições sociais e dogmas religiosos.
A revolução que institui uma nova ordem social pode-se dar a aparência de uma
coisa verdadeiramente nova, mas, uma vez que vai do conhecido para o conhecido, tal revolução não representa uma verdadeira mudança. Só se torna possível a mudança com a negação do conhecido; a ação não obedece então a nenhum padrão, já que se origina de uma inteligência que constantemente se renova.
Inteligência não é discernimento e julgamento ou avaliação crítica. Inteligência é ver o que é. O que é está constantemente a mudar e, se o ver está ancorado no passado, cessa a inteligência do "ver". É então o peso morto da memória que dita a ação, e não a inteligência da percepção. Meditação é ver tudo isso num
relance. E, para ver, é necessário silêncio. Desse silêncio procede uma ação completamente diferente das atividades do pensamento.
A mente humana está fortemente condicionada pela cultura em que vive - suas tradições, suas condições econômicas, e principalmente sua propaganda religiosa.
Essa mente, que com tanta energia se recusa a tornar-se escrava de um ditador ou da tirania do Estado, sujeita-se à tirania da Igreja ou da Mesquita, ou de
dogmas psiquiátricos, os mais novos e mais em moda. Com muito engenho — vendo por este mundo tantos males irremediáveis - inventa um novo Espírito Santo ou um novo Atman, que logo se torna a imagem destinada a ser adorada.
A mente, que tantas devastações já causou pelo mundo, tem, no fundo, medo de si própria. Percebendo claramente o caráter materialista da ciência, suas conquistas e seu crescente domínio do espírito, trata de criar uma nova filosofia; as filosofias de ontem cedem o terreno a novas teorias, mas os problemas básicos do homem continuam sem solução.
Em meio à enorme confusão causada pela guerra, a discórdia, o extremo egoísmo, avulta o momentoso problema da morte. As religiões, tanto as mais velhas como as mais novas, condicionaram o homem a certos dogmas, esperanças e crenças que lhe oferecem uma "solução pronta" desse problema; mas a morte não é um problema solucionável pelo pensamento, pelo intelecto; ela é um fato — um fato incontornável.
E necessário morrer, para se descobrir o que é a morte, e disso o homem parece incapaz, porque teme morrer para tudo o que conhece, para suas mais íntimas e arraigadas esperanças e visões.
Não existe realmente amanhã, mas há muitos amanhãs entre o presente da vida e o futuro da morte. Nesse intervalo vive o homem, medroso e ansioso, mas sempre com os olhos postos naquilo que é inevitável.
Não deseja, sequer, falar a seu respeito e adorna o túmulo com as coisas que conhece.
Largar tudo o que se sabe - não apenas determinadas formas de conhecimento, mas todo o saber — é morrer. Chamar o futuro — a morte — para estendê-lo sobre o dia de hoje, é o morrer total; já não há, então, intervalo entre a vida e a morte. Então a morte é o viver, e o viver é morte.
Ninguém se mostra disposto a tanto.
Todavia, o homem está sempre a buscar o novo — segurando numa das mãos o velho e com a outra a tatear no desconhecido, em busca do novo. Por isso se torna inevitável o conflito da dualidade — "eu" e "não-eu", observador e coisa observada, o fato e o que "deveria ser".
Cessa de todo essa confusão no momento em que termina o conhecido. Esse terminar é morte. A morte não é uma ideia, um símbolo, porém urna realidade terrível, e não podemos evitá-la agarrando-nos às coisas de hoje, que são coisas de ontem, nem adorando o símbolo da esperança.
Temos de morrer para a morte; só então nasce a inocência, só então surge o eterno novo.
O amor é sempre novo, e a lembrança do amor é a morte do amor."
J.Krishnamurti em A Outra Margem do Caminho
Essa mente, que com tanta energia se recusa a tornar-se escrava de um ditador ou da tirania do Estado, sujeita-se à tirania da Igreja ou da Mesquita, ou de
dogmas psiquiátricos, os mais novos e mais em moda. Com muito engenho — vendo por este mundo tantos males irremediáveis - inventa um novo Espírito Santo ou um novo Atman, que logo se torna a imagem destinada a ser adorada.
A mente, que tantas devastações já causou pelo mundo, tem, no fundo, medo de si própria. Percebendo claramente o caráter materialista da ciência, suas conquistas e seu crescente domínio do espírito, trata de criar uma nova filosofia; as filosofias de ontem cedem o terreno a novas teorias, mas os problemas básicos do homem continuam sem solução.
Em meio à enorme confusão causada pela guerra, a discórdia, o extremo egoísmo, avulta o momentoso problema da morte. As religiões, tanto as mais velhas como as mais novas, condicionaram o homem a certos dogmas, esperanças e crenças que lhe oferecem uma "solução pronta" desse problema; mas a morte não é um problema solucionável pelo pensamento, pelo intelecto; ela é um fato — um fato incontornável.
E necessário morrer, para se descobrir o que é a morte, e disso o homem parece incapaz, porque teme morrer para tudo o que conhece, para suas mais íntimas e arraigadas esperanças e visões.
Não existe realmente amanhã, mas há muitos amanhãs entre o presente da vida e o futuro da morte. Nesse intervalo vive o homem, medroso e ansioso, mas sempre com os olhos postos naquilo que é inevitável.
Não deseja, sequer, falar a seu respeito e adorna o túmulo com as coisas que conhece.
Largar tudo o que se sabe - não apenas determinadas formas de conhecimento, mas todo o saber — é morrer. Chamar o futuro — a morte — para estendê-lo sobre o dia de hoje, é o morrer total; já não há, então, intervalo entre a vida e a morte. Então a morte é o viver, e o viver é morte.
Ninguém se mostra disposto a tanto.
Todavia, o homem está sempre a buscar o novo — segurando numa das mãos o velho e com a outra a tatear no desconhecido, em busca do novo. Por isso se torna inevitável o conflito da dualidade — "eu" e "não-eu", observador e coisa observada, o fato e o que "deveria ser".
Cessa de todo essa confusão no momento em que termina o conhecido. Esse terminar é morte. A morte não é uma ideia, um símbolo, porém urna realidade terrível, e não podemos evitá-la agarrando-nos às coisas de hoje, que são coisas de ontem, nem adorando o símbolo da esperança.
Temos de morrer para a morte; só então nasce a inocência, só então surge o eterno novo.
O amor é sempre novo, e a lembrança do amor é a morte do amor."
J.Krishnamurti em A Outra Margem do Caminho
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