50 TONS DE CINZA - A SUBMISSÃO FEMININA QUE GIRA EM TORNO DO LIVRO É MOSTRADA NO FILME

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50 tons de mais do mesmo – A submissão feminina que gira em torno de 50 tons de cinza

50 tons de cinza causou reações adversas e euforia feminina. Ficar duas horas na fila do cinema ouvindo conversas de garotas entusiasmadas com o comportamento agressivo do protagonista e ouvir tantas menininhas se lamentando pela pouca idade que as impediam de ver o seu "homem ideal" nas telonas, me despertou para a necessidade de escrever sobre o assunto.
O que faz algumas mulheres tão ansiosas em abrir mão de seu poder de decisão e vivência como ser humano por algumas migalhas de amor e muito dinheiro? O amor próprio está em baixa. E o sucesso de 50 tons, o pornô para boas moças, é um exemplo disso.

O livro da aspirante a escritora E.L. James trouxe conflitos extremos, como todos os conflitos tem sido ultimamente, em territórios de internet. Mulheres que liam 50 tons e gostavam se sentiam liberais, mente aberta, atrevidas. As que criticavam recebiam dedos apontados contra o rosto e vozes esbravejando que eram puritanas de mentes fechadas. Mas a realidade é bem diferente. Mulheres que são acostumadas a exercer sua liberdade sexual e são leitoras de literatura pornográfica não têm se impressionado pela obra. Vou alimentar a discussão com minha opinião sobre o livro.
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Como alguém que defende tão assiduamente a liberdade feminina de experimentar e testar seus limites, inicialmente, cheguei a me sentir constrangida por não cultivar o menor interesse pela obra. Busquei ler e o desinteresse se transformou em escárnio, desprezo e até mesmo uma pontada forte de decepção com meu próprio sexo.
“50 tons” vai contra tudo o que nós, mulheres, lutamos através dos anos. Favorece a ideia da incapacidade feminina. Vemos Anastácia Steele, a mocinha fraca, sem personalidade marcante, sem graça e pouco promissora, ter uma reviravolta na vida graças ao “mocinho” milionário que conhece. Reforça que as mulheres precisam de um homem para salvá-las do tédio de suas vidas e dar sentido às mesmas, além de ressaltar a premissa de que “mulher gosta é de dinheiro”. E não venha me dizer que, no final da saga o amor dele é renovador, porque isso não é desculpa. Desde o primeiro livro, que acontece muito antes de toda essa perseguição insana se tornar “amor”, o Sr. Agressivo tem despertado desesperadamente o desejo de muitas mulheres. Isso é alarmante e triste. É triste ver tantas mulheres seguindo aquela linha que foi delimitada para nós no passado. De que o papel de uma mulher é ser doce e cordata até um homem vir para libertá-la da sua vida ruim e a salvar de sua própria incapacidade.
Christian Grey é um personagem sem qualquer desenvolvimento profundo. Na verdade toda a obra é composta por uma escrita pobre e péssimo desenvolvimento dos personagens. A personalidade do galã é tratada superficialmente e o leitor tem de acreditar em todos os seus talentos simplesmente pelo que diz a mocinha, que o vê com uma admiração infantil e livre de amor próprio. Ele é rico, bonito e controlador. E há mulheres que se apaixonam por ele de maneira inacreditável. Sim, aparentemente ainda existem mulheres que gostariam de um homem que controlasse cada passo seu e lhe dissesse o que fazer o tempo todo, desde que uma grande soma de dinheiro estivesse envolvida. Que sonham com essa dependência. Lamentável.
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Sim, ele se apaixona pela protagonista e “muda por amor” no final, mas isso não é pretexto para justificar a elaboração pobre da trama e do comportamento de ambos. Isso sem falar nos tombos frequentes da protagonista. Sexo é o máximo e entre quatro paredes vale tudo, desde que ambos estejam confortáveis com a situação. Mas o mesmo não se aplica fora dela. Nada justifica alguém ser tão abusivo com o parceiro, ou que seja ressaltado como algo normal tanta submissão estúpida e problemas psicológicos graves que esta mulher tem. Se você é como Anastácia, busque se tratar antes de entrar em um relacionamento. Ou vai acabar se destruindo cada vez mais.
Esse “mudar por amor” do homem trata-se de parar de tratar a mulher como um lixo, um corpo qualquer, como se fosse um favor. Gente, amor não é bacana, mas não é uma fórmula mágica do esquecimento. Amor não torna tudo aceitável. E não é desculpa para comportamento abusivo. Sério, se você se sente mal a ponto de não encontrar uma qualidade sequer em você e pensa que qualquer pessoa é areia demais para o seu caminhãozinho, procure ajuda psicológica e não um bonitão rico e sombrio que supostamente vai te amar, mesmo que você não se ame. Sério, isso não vai acontecer. Se nem você, que é a pessoa que te conhece mais intimamente do que qualquer outra, vê algo interessante em si mesma, ninguém verá. Personalidades apagadas e com problemas de amor próprio não geram interesse de pessoas legais e sim atraem abusivos. Cuidado!
Tantas mulheres desejarem ser submissas em troca de migalhas superficiais é desanimador. A “desculpa” criada para o comportamento obsessivo e estranho do Grey “traumas do passado” é clichê, mal fundamentada e enfurece qualquer um que conheça algo da realidade BDSM, ao ouvir pessoas que justificam o comportamento do mesmo pela prática. A prática é sexual, moça, não vital. Não influencia no modo de vida da pessoa e não significa que ela um dia foi traumatizada. É gosto, mesmo.
Ver mulheres instigando os homens a agir como o protagonista é repugnante. Não lutamos tanto para conseguir ser tratadas como seres pensantes, com vontade própria, para voltar para o início. Ser dominada não é sonho feminino, e “tomar atitude” não significa anular o poder de decisão feminino. Não, obrigada, não preciso de um ricaço que faz “o favor” de me amar para dar sentido a minha existência. Posso perseguir minhas metas por conta própria, sem precisar ser carregada pela vida. 50 Tons é um “pornô” para mulheres “certinhas”. As que não ousam, que sonham com algo além de sua vidinha comum. As que não abandonaram a esperança de conhecer seu príncipe encantado.
Por Jannine Dias

Fonte:
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INDAGAÇÕES CINZAS

Quais elementos antecedem o sucesso de "50 Tons de Cinza"? O que teria tocado o feminino?

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Depois da afirmação “reprimidas e pouco criativas” que usei para me referir as entusiasmadas leitoras de "50 Tons de Cinza", fui forçado a conversar com algumas amigas, colegas de trabalho, desconhecidas e algumas tediosas pessoas que simplesmente sou obrigado a conviver. Percebi que fui deveras apressado no julgamento; se as mulheres sonham e deliram com essa obra é por certo por algo que elas não possuem.
Em uma de suas variáveis Nelson Rodrigues afirmou que “toda mulher gosta de apanhar, os homens é que não têm coragem de bater”, me dei conta de que a afirmativa “reprimidas e pouco criativas” não externavam os fatos devidamente. O dolo é sobretudo dos homens, da sociedade machista, da culpa cristã.
Historicamente negamos a mulher o prazer, a liderança e os impulsos sexuais, sempre restritos aos homens, uma mulher deveria ser casta antes e depois do casamento e essa máxima não está longe do comportamento que se espera delas atualmente. A desclitorização vai além dos rituais de mutilação, ela é cultural, ainda impera uma cultura de submissão, de negação de prazer e de castração para as mulheres. Infligimos a elas uma exaustão pela conquista do mínimo. Mesmo a medicina só se preocupou com o orgasmo feminino, não por iniciativa do homem, nas últimas duas décadas. Impetramos a violência sobre a doçura feminina.
O ser masculino se encontra profundamente inadequado a urgência que o feminino impulsiona, ainda permeia o óbvio e o trivial, não mudam o cenário do sexo, não atentam para o prazer das mulheres, como bufões apenas gozam e dormem ou se despedem, ignoram o olhar, as caricias. Encontro muita informação nas mídias sobre as preliminares, mas muito raramente sobre o depois, o compartilhar da exaustão, as outras caricias, uma coisinha leve para comer e beber, a conversa apimentada sobre as marcas na pele, os gritos e gemidos ou apenas o olhar.
Espero que tenhamos muito mais zelo pelo feminino, que nos empenhemos ao oficio de satisfazer e que a ditadura do dinheiro não mingue, nem assassine as relações.
Por Carlos Feitosa Tesch

Fonte:

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