UM TEMPLO PARA KRISHNA NAS MONTANHAS DE PARATY

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Um Templo para Krishna nas Montanhas de Paraty

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 O que é um templo? Quais as características de um templo Hare Krsna?
Purushatraya Swami: Templo é um local público destinado exclusivamente à adoração de Deus. Não tem cabimento ter alguma outra atividade paralela. A adoração a Deus é feita através de recitação das escrituras, discursos sobre os temas da doutrina, cantos, oferendas e rituais religiosos. A execução desses rituais tem que ser rigorosamente dentro dos procedimentos prescritos pela tradição. Horário e limpeza são condições imperativas. A estrita constância e seriedade nos rituais, somada ao ambiente de reverência e a própria característica arquitetônica do templo, criam no local um foco poderoso de energia espiritual, que naturalmente eleva a consciência das pessoas ao plano espiritual. A atmosfera torna-se espiritual. Qualquer pessoa que entra no recinto do templo tem uma tangível sensação do contato com um poder superior à realidade material na qual estamos inseridos. A relação com Deus torna-se assim muito natural.
No caso de um templo Hare Krishna, a tradição seguida é a milenar religião vaishnava, a religião monoteísta baseada nas escrituras védicas. A religião e filosofia vaishnava tem várias ramos. A linha Hare Krishna é parte da tradição Gaudiya inaugurada por Sri Caitanya (1486-1534). Na linha Gaudiya, a adoração no templo é normalmente dirigida às seguintes deidades: Sri Sri Radha-Krishna, Jagannatha-Baladeva-Subhadra e Goura-Nitai (Sri Caitanya e Sri Nityananda).
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Foto: Movimentação de obras dentro e fora do altar principal.
 Quais as diferenças mais significativas entre um templo urbano e um templo inserido em uma comunidade rural, como Goura Vrndavana?
Purushatraya Swami: Quanto aos procedimentos internos do templo, não existe nenhuma diferença. A diferença está na facilidade de afluência de público. No templo de cidade, as portas estão sempre abertas à visitação do público. Num templo em zona rural, numa fazenda, o público restringe-se normalmente aos residentes no projeto. Um templo fora das grandes cidades deve estar construído e preparado para se promover grandes retiros, encontro de devotos e festivais. 
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Foto: Sólida escadaria de pedra conduz até o templo em construção.
 De onde surgiu a inspiração para a construção do templo na comunidade de Goura Vrndavana?
Purushatraya Swami: Ao longo desses anos, nosso pequenino templo tem funcionado no mesmo prédio do ashrama masculino, uma construção bem rústica e simples. Embora aconchegante e agradável, a pequena sala do templo não comporta nenhum tipo de expansão, o que dizer instalar deidades. Portanto, um novo templo tornou-se uma necessidade para a comunidade. Em minhas viagens pela Índia e mesmo em países onde se encontram muitos indianos, quando surgia uma oportunidade de mostrar nosso projeto, me defrontei várias vezes com a indagação: “Qual é a deidade instalada”? Ao informar que ainda não tínhamos um templo adequado para receber deidades, percebia claramente o desapontamento por parte desses devotos indianos, pois geralmente, na Índia, a primeira coisa que acontece ao se estabelecer um projeto é instalar as deidades. Não adiantava explicar as dificuldades e a escassez de nossos recursos. A desculpa de que em nosso país não existe uma comunidade indiana forte, que, em todo o mundo, sempre apoia esse tipo de projetos, era uma mera explicação, mas que não justificava a ausência de um templo com deidades. Compreendi então que teria que assumir essa responsabilidade. Ao transmitir a ideia aos devotos da comunidade, a reação deles foi de um realismo nu e cru que me surpreendeu. “Maharaj”, disseram eles, “estamos lutando arduamente para pagar as contas e nos manter, como vamos pensar em construir um templo nessa circunstância?” Por inspiração no humor e na coragem de Prabhupada, que aproveitou todas as oportunidades que surgiram para construir maravilhosos templos na Índia a despeito de muitas dificuldades, eu garanti a eles que não iria utilizar um centavo da apertada economia da comunidade. E assim tem sido. Sinto a mão de Krishna por trás dessa iniciativa. Muitos devotos e simpatizantes estão ajudando e apoiando e um belo templo está se manifestando.
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Foto: A exótica pedra “Golden River”, já aplicada nas paredes internas do altar.
 Como se deu sua escolha arquitetônica? Quais as características marcantes de sua arquitetura?
Purushatraya Swami: Quando começamos a pensar neste projeto, constatamos um tremendo potencial que esse templo oferecia. Explico-me. Paraty é um lugar super turístico. Turistas de todo o país e de todo o mundo circulam durante todo o ano por aqui. Definitivamente não teria sentido um templo “doméstico” restrito aos membros da comunidade. Chegamos, então, à conclusão de que um templo de Krishna, nas montanhas de Paraty, rodeado pela exuberante Mata Atlântica, com um estilo arquitetônico atraente, certamente seria uma atração na região e atrairia visitação de muitas pessoas. Estamos apostando nisso. Isso abrirá uma avenida de pregação, tirando-nos do semi-isolamento das condições atuais.
As ideias arquitetônicas foram então surgindo sem que tivéssemos um projeto total final. Primeiro, foi definido o formato octogonal com robustas colunas de pedra, pedras estas que foram cortadas dos grandes blocos de granito existentes no local. A seguir, veio a ideia de um telhado rústico com inspiração nos pagodes chineses ou nepaleses. A cúpula da torre em cima do altar foi inspirada nos templos de Orissa, na área de Jagannatha Puri. A partir daí, todos esses elementos arquitetônicos se combinaram e o templo adquiriu seu estilo próprio. Daí para frente, o cuidado maior é ter sensibilidade para não introduzir outros elementos arquitetônicos e decorações que possam provocar um tipo de “rasa-abhasa”, uma mistura não resolvida de estilos que pode comprometer o resultado obtido até aqui. Estamos tendo esse cuidado.
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Foto: Lado esquerdo do painel da varanda de entrada do templo com motivos da natureza da Mata Atlântica.
Como acontece a capitação de recursos para a construção do templo?
Purushatraya Swami: Recebemos, ao princípio, algumas boas doações de devotos que acreditaram em nossa proposta. Isso alavancou a obra. A partir daí, temos recebido doações mensais regulares de vários devotos e devotas. Isso tem permitido manter um ritmo de construção sem interrupções durante esses anos todos. A fim de reforçar a receita, estamos promovendo seminários nos templos, centros culturais e academias de yoga. Complementando, temos feito importação de alguns produtos. Primeiramente, montamos um bazar com produtos indianos; depois, nos concentramos nos harmônios e mrdangas; e presentemente, estamos comercializando as luminárias de cristal de sal dos Himalaias, vindas diretamente da mina na fronteira da Índia com o Paquistão, que, além da beleza natural, têm propriedades terapêuticas, pois ioniza e purifica o ar. Esse trabalho está exposto no site www.luzdesal.com.br e o resultado é destinado integralmente para a construção do templo.
Qual o maior desafio enfrentado até o momento presente?
Purushatraya Swami: O templo está sendo construído numa montanha. As subidas são muito íngremes. Recentemente, a situação melhorou substancialmente, pois conseguimos concretar e pavimentar as subidas mais acentuadas. Mas até então, trazer o material de construção até o canteiro de obra sempre foi uma “novela”. Primeiro de tudo, vários comerciantes de material de construção negaram-se utilizar seus caminhões para entregar o material. Os que se dispuseram trazer o material cobram um ágio, pois um caminhão que tem a capacidade de carregar 7 metros cúbicos de areia, só consegue subir com quatro. O material só consegue chegar quando o tempo está completamente seco, com três dias de Sol. Todos os dias, temos que consultar o site “Clima Tempo” para saber se chove ou não. Aqui nas montanhas de Paraty, em plena Mata Atlântica, o índice pluviométrico é bem elevado. Teve casos em que o material encomendado demorou mais de um mês para ser entregue!
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Foto: Purushatraya Swami banha o disco Sudarshana no ponto mais alto do templo com água do Ganges.
 O que o senhor considera o maior aprendizado que o senhor recebeu ao longo deste empenho de estabelecimento de um novo templo?
Purushatraya Swami: Essa tem sido uma experiência muito importante em minha vida. Agradeço a Krishna por ter me permitido fazer esse serviço. É o tipo de atividade que nos força a sermos conscientes de Krishna. Muitas vezes saímos à procura de materiais, principalmente nessa fase de acabamentos. Temos que viajar para conseguir bons materiais com bom preço, como, por exemplo, os granitos do templo, ou fazer contatos com artesãos. Tudo isso é complicado e requer esforço e tempo. Depois voltamos com a picape superlotada, cansados da viagem, mas a sensação é que queremos fazer o melhor para, depois de pronto o templo, convidar Krishna para morar conosco em nossa comunidade. Apesar do cansaço e do esgotamento que essas operações causam no corpo, a alma se vê jubilosa. Sentimos que Krishna está nos apoiando, pois tudo tem fluído sem problemas maiores, dívidas, má administração e desperdícios.
Volta ao Supremo: Prabhupada, quando construiu o templo de Mayapur, construiu grandes instalações para poder acomodar os devotos. Goura Vrndavana também está tendo de se estruturar em questões além do templo em consequência de sua construção?
Purushatraya Swami: Na medida do possível. Temos já uma pousada (Dharmashala) funcionando, que está, inclusive, dobrando sua capacidade de acomodação. Estamos também melhorando as condições de nossos rústicos ashramas. Se tivermos condições financeiras para investir em novas acomodações, certamente faremos.
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Foto: Pousada Dharmashala à noite.
Quais Deidades serão instaladas no interior do templo? Desde já são planejadas estratégias para a manutenção da adoração às Deidades?
Purushatraya Swami: Já temos as belas murtis de Sri Sri Goura-Nitai prontas para serem instaladas. No altar que está sendo montado, reservamos já um lugar para acomodar as deidades de Sri Sri Radha-Vrindávana-candra, que ainda não se manifestaram. A ideia é instalar Sri Sri Goura-Nitai em 2014 e Radha-Krishna um ano depois. Estamos pensando em estabelecer um grupo de “trustees” (curadores) vitalícios, isto é, um grupo de devotos que, não necessariamente morem na comunidade, mas que possam assumir como serviço devocional vitalício a preocupação de manter o padrão da adoração dessas deidades. Essa responsabilidade não irá recair em cima de um ou dois que, de uma hora para outra, mudam os planos e abandonam o projeto, como tantas vezes temos visto acontecer. Esse grupo vai ser o responsável em “convidar” Krishna para vir morar nesse templo e, por isso, terão que zelar para que a Sua adoração e serviço nunca diminua do padrão estabelecido.
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Foto: Painel esculpido pelo devoto Puspavan, na varanda de entrada do templo.
 O senhor acredita que o templo atrairá mais pessoas para morar na comunidade Goura Vrndavana? Quais são as outras expectativas para depois da inauguração do templo?
Purushatraya Swami: Hoje em dia, está cada vez mais raro encontrar devotos e devotas que se disponham a sair da cidade e virem para o campo, a despeito de todos os inconvenientes que são experimentados nas concentrações urbanas, como horas no trânsito, dificuldade para estacionar, violência urbana, poluição, alto custo de vida, degradação moral e um estilo de vida completamente artificial. Mesmo assim, muitos devotos e devotas ficam condicionados às “facilidades” que a cidade oferece: universidades, empregos públicos, shoppings, supermercados, entretenimento, etc. Mas acreditamos que uns poucos se sentirão atraídos a se unir ao nosso pequeno grupo. Esse projeto de Goura Vrindávana é muito grande. Não se resume na construção do templo. Temos muita coisa pela frente, como estabelecer um gurukula, desenvolver as atividades rurais de autossustentabilidade, estabelecer um instituto de filosofia e outros projetos. É um projeto que se desenvolverá por gerações à frente.
 A inauguração do templo possui alguma data prevista? Como será esse evento tão aguardado?
Purushatraya Swami: Faremos a abertura do templo na Semana Santa, que cai na última semana de março de 2013. Nessa ocasião, não teremos a instalação das deidades. Isso ocorrerá no ano seguinte. Teremos um grande festival, com várias atrações e convidados especiais. Todos estão devidamente convidados. Até lá.
Site oficial de Goura Vrindávana: www.goura.com.br. Site oficial da pousada Dharmashala: www.dharmashala.com.br. Curta no Facebook: www.facebook.com/dharmashala, www.facebook.com/gouravrindavanadhama.

Vídeo sobre o templo gravado em fevereiro de 2011: 

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