Como nos diz a Bhagavad Gita, uma escritura essencial do
Yoga, os piores inimigos que temos na Terra podem ser encontrados em nossa
própria mente: desejo e raiva. Um não está separado do outro.
Quando um desejo é frustrado, ele se transforma em raiva.
E junto de um desejo existe outro desejo, e desse modo continuamos
alimentando a raiva nesta cadeia infindável de desejos.
A raiva surge de nossos desejos insatisfeitos, de nossas
mágoas, frustrações, decepções e gera infelicidade.
O ódio e a raiva são considerados as maiores emoções
negativas ou aflitivas por serem os maiores obstáculos da bondade, da compaixão
e do altruísmo e também por destruírem nossas virtudes e nossa tranquilidade
mental. Com a raiva perdemos os méritos de nossos bons pensamentos e de
nossas boas ações.
No grande poema épico indiano, Mahabharata
é dito:
"Seis tipos de pessoas são tristes:
- Aquelas que têm inveja dos outros
- Aquelas que odeiam os outros
- Aquelas que estão descontentes
- Aquelas que vivem da fortuna dos outros
- Aquelas que são desconfiadas
- Aquelas que têm raiva"
Verdadeiramente, é a raiva que produz as outras cinco
condições que causam a tristeza.
E esta raiva assume muitas formas, muitas facetas como:
aflição, ressentimento, contrariedade, mau humor, aspereza, animosidade,
explosões de raiva, ira, rancor, crises de choro e soluço. Muitas vezes, as
lágrimas não são sinais de fraqueza, mas a força da raiva.
A raiva envenena corpo e mente
Ataques de raiva e de mau humor produzem danos sérios nas
células do cérebro, envenenam o sangue, causam insônia, depressão e pânico;
suprimem a secreção dos sucos gástricos e da bílis nos canais digestivos,
criando gastrites e úlceras, esgotam a energia e vitalidade, causam problemas
cardíacos, provocam velhice prematura e encurtam a vida.
Quando você se zanga sua mente fica perturbada e isto
reflete em seu corpo que sente distúrbios. Todo o sistema nervoso se agita e
você se enerva, perdendo a harmonia, a eficiência de agir, o vigor e o
entusiasmo.
A raiva é uma energia poderosa que precisa ser dissolvida
para que você possa ser mais livre e saudável.
É muito importante saber que ninguém provoca raiva em
você, ela é criada por você. Já existe em você acumulada desde a infância...
De repente, isto é acionado por alguma palavra ou por alguma ação de alguém e
você experimenta uma raiva, às vezes inapropriada, sem motivo.
Se não temos controle sobre nossa mente que vagueia a todo
instante, perdemos o controle e, a raiva brota muito forte de nosso interior,
nos destruindo e magoando.
Geralmente esta raiva começa quando somos crianças. Quando
não conseguíamos o que desejávamos, ficávamos zangados e nossos pais faziam o
que queríamos. Assim aprendemos que podíamos ficar zangados porque isto
funcionava para alcançar nossos desejos.
Muitas vezes, as pessoas falam o que não querem, são
dominadas pela raiva e explodem causando inimizades, mágoas e conflitos. E
depois dizem: "Perdi a cabeça! Não tenho controle sobre minha mente ou
emoções! Mas o que posso fazer? Eu sou assim mesmo. Não vou mudar!"
Porém, elas precisam entender que estão prisioneiras de
camadas densas e sólidas de raiva e de desejos insatisfeitos. Se não
despertarem para a necessidade urgente de começar a fazer algo a respeito,
elas vão viver em total infelicidade, no meio de suas próprias negatividades.
Isto é viver em um verdadeiro inferno interior.
Colocar a raiva para fora apenas agrava esta emoção
negativa e a faz crescer ainda mais. Se deixarmos isto sem controle,
expressando nossa raiva cada vez mais, ela não vai se reduzir e sim aumentar,
gerando mais dor e inquietude para nós.
Pare o ciclo da raiva
Na Bhagavad Gita, o Senhor Krishna diz: "Ó Arjuna,
deixe de pensar em seus inimigos externos. Em vez disto, conquiste seus
inimigos internos".
O Yoga diz que precisamos observar a raiva, analisá-la;
aprender a lidar com ela e a dissolvê-la através da contemplação e da
meditação.
Pratique a meditação e perceba seus efeitos. Sinta o
apaziguamento. Perceba como sua mente se torna pacífica e serena e como isto
lhe apóia durante o seu dia.
Contemple, sem julgamento e culpa, os fatores que deram
origem à manifestação da raiva, aprendendo a se conhecer melhor.
É importante reconhecer os erros para corrigi-los e agir
melhor no futuro. Peça desculpas, treinando a humildade, que é a virtude das
pessoas fortes e corajosas.
Compreenda que ninguém é perfeito. Cada um de nós fez algo
de errado. É da condição humana. O importante é aprender com nossos erros sem
a atitude de censura ou crítica excessiva por nós mesmos, pois esta
autopunição é fonte de sofrimento para nós. E quando vamos entendendo isto,
nos tornamos mais tolerantes com as falhas das outras pessoas e sentimos
menos raiva.
Liberte-se do sentimento de culpa, porque se você se culpa
você alimenta ainda mais a sua raiva e se torna prisioneiro deste ciclo
vicioso. A culpa gera mais baixa-estima e você cai na armadilha do ego e,
como consequência passa a ser mais limitado, amargurado, infeliz. Este é o
estado de escravidão do ego que nos faz sentir pequenos, inferiores.
Baba Muktananda, em seu livro Encontrei a vida, nos conta
que certa vez perguntaram à grande santa Rabi'a:
"- Você alguma vez sente raiva?
-Sim -replicou ela-, mas só quando me esqueço de Deus."
Contemple essas palavras e compreenda que ao lembrar-se de
Deus, ao desenvolver virtudes divinas, não haverá espaço para a raiva em seu
interior e assim, você poderá ser mais livre e feliz. Fique em paz!
Emilce Shrividya Starling
Referências bibliográficas:
Meu Senhor ama um coração puro-Chidvilasananda, Swami-Ed.
Siddha Yoga Dham Brasil.
Encontrei a vida- Muktananda, Swami- Ed. Siddha Yoga Dham Brasil.
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