O autoengano que nos afasta de nossa essência
Cada ser vivo é dotado de um Eu Superior ou Centelha Divina. Ele é o mais delicado e o mais radiante dos corpos sutis, com a mais alta frequência de vibração, pois quanto mais elevado o desenvolvimento espiritual, mais veloz é a vibração.
O Eu Superior cercou-se, lenta e gradualmente, de várias camadas de matéria mais densa, não tanto quanto o corpo físico, mas ainda assim infinitamente mais densa que ele próprio. Assim, passou a existir o Eu Inferior.
O objetivo do desenvolvimento espiritual é eliminar o Eu Inferior de forma que o Eu Superior fique novamente livre de todas as camadas externas que adquiriu. Você será capaz de sentir com facilidade na sua própria vida, com relação a si mesmo ou a outros, que certas partes do Eu Superior já estão livres, enquanto outras permanecem encobertas. O quanto está livre ou escondido e, no último caso, o quão profundamente, depende do desenvolvimento geral da pessoa.
O Eu Inferior consiste não apenas dos defeitos comuns e fraquezas individuais que variam com cada pessoa, mas também, de ignorância e preguiça. Ele odeia mudar e superar-se. Possui uma vontade muito forte que nem sempre pode manifestar-se externamente e quer as coisas à sua maneira sem pagar o preço. É muito egoísta e orgulhoso e sempre tem uma grande quantidade de vaidade pessoal.
Todas essas características são, geralmente, parte do Eu Inferior, independente de outras falhas individuais.
Podemos determinar muito bem quais formas-pensamentos provém do Eu Superior e quais vêm do Eu Inferior. Podemos também determinar que tendências, desejos e esforços originários do Eu Superior podem estar misturados com tendências do Eu Inferior.
Quando mensagens do Eu Superior são contaminadas pelos motivos do Eu Inferior, cria-se uma desordem na alma que faz o seu portador emocionalmente doente. Por exemplo, uma pessoa pode querer algo egoísta, mas como ela não quer admitir internamente que isso é egoísmo, começa a racionalizar esse desejo egoísta e a enganar-se com relação a ele. Nós podemos ver esse tipo comum de autoengano em seres humanos, porque as formas do Eu Superior têm um caráter totalmente diferente daquelas do Eu Inferior.
Existe uma outra camada que infelizmente não é ainda suficientemente reconhecida entre os seres humanos em todo o seu significado; ela é o que chamo de Máscara.
A Máscara é criada da seguinte maneira: quando um indivíduo reconhece que pode entrar em conflito com o mundo que o cerca ao ceder ao Eu Inferior ele pode, não obstante, não estar pronto para pagar o preço de eliminá-lo. Isso significa em primeiro lugar, ter que encará-lo como ele realmente é, com todos os seus motivos e impulsos uma vez que só se pode superar aquilo de que se tem plena consciência. Isso quer dizer tomar o caminho estreito, o caminho espiritual.
Muitas pessoas não querem pensar nisso profundamente, preferindo reagir emocionalmente sem pensar em como o seu Eu Inferior pode estar envolvido nessa reação. A mente subconsciente sente que é necessário apresentar ao mundo uma imagem diferente do Eu para evitar certas dificuldades, desconfortos e desvantagens de todos os tipos. Dessa forma as pessoas criam uma outra capa do Eu que não tem nada a ver com a realidade, nem com a do Eu Superior, nem com a realidade temporária do Eu Inferior.
Essa Máscara superposta é o que se poderia chamar de falsidade; ela é irreal.
Retornarei ao exemplo acima. O Eu Inferior ordena à pessoa que seja totalmente impiedosa a respeito de um desejo egoísta. Não é difícil, mesmo para alguém da mais limitada inteligência, perceber que, caso se deixem levar por esse desejo, ele ou ela será relegado ao ostracismo ou poderá perder a estima dos outras, o que ninguém pode querer.
Ao invés de superar o seu egoísmo por meio de um lento processo do desenvolvimento, uma tal pessoa frequentemente age como se ele ou ela, já naquele momento não fosse mais egoísta. Mas ela o é na verdade e sente o egoísmo. O seu recuo diante da opinião pública e a sua generosidade são apenas uma farsa, de modo algum em concordância com os seus verdadeiros sentimentos. Em outras palavras, a atitude correta neste caso não é absolutamente sustentada pelos sentimentos interiores não purificados e portanto a pessoa está em uma guerra interna.
O ato em si torna-se uma compulsão necessária e não de livre escolha. Uma tal bondade imposta não vale a pena, no verdadeiro sentido. Enquanto uma pessoa pode dar algo, ela pode detestar a ideia. Tal pessoa não é apenas egoísta por dentro, por convicção interior, como também é falsa à sua natureza, violando a sua realidade e vivendo uma mentira.
Não estou de forma alguma sugerindo que é aconselhável ceder à natureza inferior; deve-se lutar pela iluminação e pelo desenvolvimento para que os sentimentos e desejos sejam purificados. Mas isso não é alcançado, pelo menos não deveria haver autoengano. A pessoa deveria no mínimo ter uma visão clara e verdadeira acerca da discrepância entre os sentimentos e ações. Dessa forma nenhuma máscara pode se formar.
Eva Pierrakos
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