RELAÇÕES EM REDE,EXÍLIO DA ALMA

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Relações em rede, exílio da alma


A partir do final dos anos noventa houve uma migração em massa para esse mundo novo e ainda pouco explorado, empresas e pessoas, percebendo o potencial da novidade fizeram da “internet” o que o rádio e a televisão tinham sido em outras épocas. Hoje é praticamente impossível, até em áreas mais carentes, encontrar alguém que nunca a tenha utilizado.
A comoção foi geral, sites de vendas que não possuíam nem estoque, nenhum produto físico, passaram a valer bilhões da noite para o dia, empresas estabelecidas dos mercados fonográficos e cinematográficos tiveram que reinventar sua forma de fazer publicidade, distribuição e vender. Tudo aparentemente teve de se reinventar, o mundo se tornou mais rápido, instantâneo, automático e despersonalizado.
A quantidade de informação encontrada é estrondosa, tanto da útil como da inútil, milhares de ferramentas surgiram em igual proporção pra tornar, em tese, nossa vida mais fácil, mais cômoda e, de fato, tornaram, tornaram fácil demais.
Assim as redes sociais imergiram, com a brilhante proposta de conectar as pessoas, encontrar velhos amigos e fazer novos. O processo de amizade passou a ser muito prático, resumido basicamente em duas etapas; basta haver um solicitador, caso o solicitado aceite então são amigos, se não; nada feito. Sem espaço para meios-termos, para olhares, ou mesmo para pensar. O que aconteceu, e vem acontecendo, foi a banalização dos sentimentos antes tidos como pilar para o relacionamento entre as pessoas, se há alguma chateação basta “excluir” ou “bloquear”, o diálogo tornou-se obsoleto, ninguém mais deseja passar por discussões, desequilíbrios emocionais ou ter de sair da sua zona de conforto. Em poucas palavras; surgiu assim o "miojo" social.
A comunicação digital se popularizou em detrimento da real, a futilidade tomou forma e é comum vermos milhões de compartilhamentos completamente descartáveis, tornando possível saber se falta ou não sabão na casa de fulano ou o que ciclano comeu no almoço. O amor e o namoro limitaram-se a publicações e status. É extremamente comum ouvirmos comentários do tipo; “ele não atualizou o status, acho que não me ama” ou “ela me deu parabéns pessoalmente, mas não postou nada no meu perfil”, como se tais atitudes resumissem a confusão e conflito que são os relacionamentos humanos.
Com isso nos deprimimos, e cada vez mais pensamos ser realmente insignificantes, julgando que nossa vida talvez não seja tão interessante quanto a de nossos contatos, queremos participar e tomar voz em meio ao mar virtual, assim dando continuidade ao ciclo de irrelevância sem fim. Tornando-nos parte da velha máxima, passamos a interagir com os outros apenas pela “capa”, não sabendo ao certo a substancia do conteúdo em si; acabamos, muitas vezes, por nos decepcionar, em medida e em grau, com a farsa alheia.
Com esse cenário o vazio existencial e interpessoal alarga-se como um abismo, há a sensação de que algo nos foi tirado, roubado em algum lugar no passado, porém já muito longe para distinguirmos exatamente o que era, não sabemos mais ao certo o que é real e o que é inventado, talvez esse um dos pontos mais fortes das redes sociais. As redes deram às pessoas a chance de ser quem quiserem e como quiserem, dando a oportunidade de moldar a aparência de suas vidas, dramas e felicidades reais.
Por fim o que sobra é a ligeira sensação de mecanização, não mais do trabalho e sim das emoções.

Por Matheus Martins

Fonte:
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/choque_sinaptico/2014/10/

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