- Gerar link
- Outros aplicativos
A psicanalista Alice Beatriz Barreto Izique Bastos explicou o Estádio do Espelho. Segundo ela, essa teoria foi criada entre os anos de 1938 e 1940, quando Lacan concluiu que o olhar do outro é base da constituição do sujeito. O bebê, portanto, projeta a imagem que o outro deu a ele – normalmente familiares ou pessoas próximas. Para a criação desse princípio, Lacan se subsidiou no médico e psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962), para quem o reconhecimento da imagem da criança já representa a existência de um eu.
Se em Wallon o espelho possui um papel concreto, Lacan prefere seguir por um caminho mais subjetivo. Considera que a imagem especular do bebê tem um caráter ilusório e falso, contornado por desejos e ideais alheios. Mesmo assim, por ainda não conseguir se distinguir do outro, a criança assume a imagem como se fosse sua. O sujeito se torna uma unidade, porém virtual e alienada. Sobre isso, Lacan afirmou: “o corpo despedaçado encontra sua unidade na imagem do outro, que é a sua própria imagem antecipada”. Ocorre, então, uma confusão entre o eu e o outro, um conflito que constituíra uma etapa fundamental para a identificação primordial do sujeito.
É exatamente por essa dimensão imaginária, por essa influência do olhar do outro, que a conquista da identidade se processa. É esse momento que define a organização estrutural do sujeito e toda sua subjetividade. A singularidade de cada um se constrói a partir desse olhar do outro, que formata o sujeito e o desloca de uma posição imaginária para uma posição simbólica. Em Lacan, essa passagem de representação de si também passa pela linguagem, decisiva para a concretização identificatória.
Complexo de Édipo
De acordo com Alice, a criança se identifica com o objeto do desejo da mãe, para em seguida perceber que essa mãe possui outro objeto de desejo, que seria o pai. Dessa forma, a criança entra no registro de castração e ocorre uma interdição de seu impulso: uma frustração. A renúncia ao objeto perdido resulta no fim da completude com a mãe. A castração simbólica separa a criança de uma relação dual e imaginária com o outro, tendo acesso ao registro simbólico da linguagem. É exatamente a resolução do Édipo que confere uma singularidade ao sujeito. Ao interiorizar a lei, o sujeito se insere na cultura e na linguagem.
A psicóloga e psicanalista Alice Beatriz Barreto Izique Bastos iniciou esta semana na Sociedade Paulista de Psicanálise um ciclo de três aulas sobre Lacan. Com mestrado pela PUC e doutorado pela USP, Alice se especializou na teoria lacaniana e, inclusive, lançou um livro chamado “A Construção da Pessoa em Wallon e a Constituição do Sujeito em Lacan”, pela editora Vozes. Nesta primeira aula, a psicanalista falou um pouco da trajetória de Lacan, do manejo clínico do francês e derrubou alguns mitos construídos em torno de um pensador que se tornou um verdadeiro mito.
A influência de Lacan na cultura francesa, segundo Alice, ocorreu principalmente durante a década de 1970, uma fase em que o mundo borbulhava pela liberdade sexual, a explosão do consumo de drogas e as revoluções da contracultura. Diante disso, Lacan se relacionou com filósofos, artistas surrealistas, músicos e intelectuais. Essa troca influenciou sobremaneira sua visão psicanalítica. Por ser psiquiatra, psicanalista e filósofo, Lacan cumpriu um papel de amplo pensador.
Seu grande objetivo era um retorno e uma releitura da obra de Freud para trazer de novo seu pensamento para o centro das discussões da intelectualidade francesa. Após duas guerras mundiais, o pensamento freudiano perdera força e o psicanalista francês percebeu que era urgente revisitar a obra do mestre. Seu retorno a Freud, porém, ganhou o reforço de sua visão da linguística, da obra de Levi-Strauss e da filosofia de Heidegger.
Foi então que algumas de suas teorias causaram polêmica na International Psycoanalytical Association (IPA). Entre elas, o estádio do espelho, em que Lacan diz que a matriz constitutiva do ego é ilusória. Ao afirmar que o ego é uma instância ilusória e não o centro da personalidade psíquica do homem, Lacan se confrontou com a psicologia do ego norte-americana, que naquele período ganhava força. Além disso, em seu famoso Discurso de Roma, o psicanalista afirmou que o inconsciente está estruturado em uma linguagem própria de significantes. Lacan, em 1964, saiu da vice-presidência da IPA e fundou a Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP).
Essa peregrinação por diferentes instituições marcaria a vida de Lacan. Sua proposta era de total rompimento com o establishment e com as regras rígidas da IPA. Para Lacan, o analista não se autoriza senão por ele mesmo. Segundo o pensador francês, o psicanalista deve ter o compromisso de saber quando está preparado. Com seu conceito de Sujeito Suposto Saber, o papel do analista e do analisando se equivalem, sem que o psicanalista precise ser um mestre que imponha os caminhos. O analisando é o único que pode se conhecer e mudar sua realidade.
Sua segunda excomunhão, como ele mesmo chamava, ocorreu em 1980, quando saiu da SFP e fundou a Escola da Causa Freudiana. Mais uma vez, Lacan se desligava das amarras institucionais e impunha como primordial seu próprio pensamento, independente de seguidores. Os lacanianos, que começavam a aparecer, não o fascinavam: Lacan continuava se dizendo freudiano, com a intenção de não criar um movimento de fiéis seguidores. Ele buscava a verdade em sua teoria, sem institucionalizá-la ou engessá-la. Para ele, a análise confronta o sujeito com a sua verdade, pela qual ele é constituído.
Fonte:https://sppsic.wordpress.com/tag/estadio-do-espelho/
“
Existe na relação do toxicômano com os demais uma palavra e um afeto
interditos. De todo os sofrimentos, somente o seu é proibido por uma conotação
moralizante. Somente a passagem ao ato – recidiva ou suicídio – pode permitir
ao sobrevivente uma comunicação rompida, o sinal-sintoma da perseguição que o
sujeito sofre. “
Em “ O Sofrimento do Sujeito Desintoxicado” Olieve ( como era carinhosamente chamado por
“seus toxicômanos”) tenta explicar, pela palavra, toda a complexidade do
fenômeno da Dependência.
“O principal obstáculo é o conceito de
normalidade, que rejeita o sujeito em seu isolamento.”Diz ele.
A normalidade é o paradigma da psiquiatria e a neurose o da
psicanálise. Para a psiquiatria, o oposto da normalidade considerada como
padrão adaptativo de comportamento é o do transtorno mental, com seus sinais e
sintomas minuciosamente descritos, o que caracterizaria a Síndrome de
Dependência de Substâncias.
Para a psicanálise, a ortodoxia de suas três estruturas, a
neurose, a psicose e a perversão, não dão conta do que se denomina toxicomania
ou drogadicção.
Embora a teoria psicanalítica seja extremamente rica em produção
de teses, a necessidade de enquadrar a toxicomania em uma dessas três
estruturas é o que faz com que hajam inevitáveis obstáculos teóricos.
Uma das
questões fundamentais da Toxicomania, “ a desmesurada intolerância à passagem do
tempo” de que
fala Olievenstein, não tem sido foco de muitos estudos ou pesquisas pelos
especialistas, muito embora seja conteúdo constante e comum nas falas dos Dependentes
Químicos.
E talvez tenha sido a monumental capacidade de Escuta analítica
que tenha dado a Olievenstein seu grande diferencial.
Ainda estudante de medicina, sua desmedida curiosidade em relação
ao “estilo de vida” dos toxicômanos de então, na passagem da década de 60 para
a de 70, com Maio de 68 marcando intensamente sua vida, e o seu desprezo pela
maneira como o establishment psiquiátrico francês tratava em suas instituições
os toxicômanos, o levou a acolher vários deles em sua casa. Com eles, participando
de seus modo de vida, vivendo como se, plantou as bases de sua forma original
de, primeiro tratar, e depois, teorizar.
Muito embora tenha participado das famosas apresentações de casos
de Jaques Lacan, e de alguns de seus Seminários, e tenha dado interpretação
própria e original ao estágio do espelho lacaniano, Olievenstein não se tornou
seguidor de Lacan. Para ele, a psicanálise estava atenta à especificidade da
dependência humana.
Dependência humana. Tal expressão não é ao acaso – nenhuma palavra
é ao acaso nas que Olievenstein apõe em seus escritos. A dependência é humana
para marcar a diferença em face do enxame das inúmeras tentativas de
conceituação com base nas pesquisas feitas com animais que a “produção
científica” elabora.
Não há critério que possa servir para definir a “dependência
humana” com base no aspecto comportamental e adaptativo dos ratos e macacos que
são objeto fetiche da pesquisa contemporânea.
Quanto à definição da OMS para Dependência de Substâncias –
existente há época e não muito diferente da atual- diz ele:
“Tudo é dito e nada o é, nesta descrição quase
fenomenológica, nem o porquê, nem o como e quando a divisão é mais psíquica do
que física e como se diferencia a dependência humana da dependência animal. “
Para marcar a Dependência Humana, e talvez inspirado pelas
fórmulas lógico matemáticas de Lacan, Olievenstein inicia seu ensino com uma
Equação composta por quatro Variáveis:
1) A droga existe sem o Toxicômano. O objeto
droga, matéria inerte, existe, sempre existiu, em todos os tempos e lugares.
Essa primeira variável colide com o discurso contemporâneo
inspirado em sociólogos de renome – que rotulam com o selo de
“contemporaneidade”, “pós modernidade” e quejandos os fenômenos sociais de
meados do século vinte para cá. Assim, para os que se inspiram nestes autores,
haveria uma forma moderna de usar drogas, inserida em uma sociedade Consumista
e Perversa que concorreria para a formação do drogado atual.
Para
Olievenstein(Foto), é no conteúdo dos delírios dos toxicômanos, na
comparação entre o conteúdo dos delírios de 50 anos atrás e os de hoje, por
exemplo, é que se pode distinguir o que é arcaico do que é atual, é nesse tempo histórico subjetivo que vai
fundar o que se chama modernismo psíquico, o qual nada tem necessariamente a
ver com o modernismo social.
Conceitos sociológicos não explicam nada de toxicomania, embora
façam muito sucesso, com a serventia de preencher as lacunas das teses
universitárias.
Essa variável colide também com o discurso terrorista de certa
corrente psiquiátrica, que saca logo do bolso, assim que os números variam, o
argumento da epidemia das drogas, a justificar o derrame de Verbas Públicas
para a Universidade / Terceiro Setor.
2) Diante desse objeto, a atitude do homem é
variável, conforme o espaço, a ideologia, o lugar e o momento sócio-cultural.
Essa variabilidade de espaços, lugares e momentos é que torna o
debate rico e o problema complexo, fundada na pluralidade de idéias e opiniões,
de métodos diversos de tratamento e das inúmeras teorias que tentam explicar o
que acontece com o homem que usa drogas. Essa complexidade em que a palavra
esbarra, e, por ser limitada, corresponde uma das inúmeras definições
lacanianas para o Real, aquilo que é inassimilável, indizível, ponto de basta
da Razão e da racionalidade, e que ao mesmo tempo não cessa de tentar se
escrever.
Nessa variável cabe a interpretação de que há variabilidade
social. De fato há, mas essa relação do social com a droga se dá em uma camada,
um plano de proximidade mais distante. Ou seja, existe mais semelhança entre um
general romano que se vê deserdado por alcoolismo e um executivo atual que se
encontra interditado por cocaína do que entre a sociedade romana e a atual.
Privilegiar a relação social com a droga em detrimento da relação subjetiva com
ela é, no mínimo, caminho para grandes equívocos.
Idealizar uma sociedade mais justa ou vociferar contra a política
não resolve o problema teórico nem trata o toxicômano.
A variabilidade social explica, por outro lado, a prevalência de
uso em uma sociedade de uma droga específica em detrimento de outra. O crack no
Brasil, as meta – anfetaminas nos Estados Unidos, obedecem à lógicas
econômicos-sociais específicas. A decisão de liberar, legalizar ou criminalizar
produtos também são, em última ratio, decisões ideológicas.
3) Em um mesmo momento sócio cultural, a atitude
dos indivíduos é variável, conforme a vulnerabilidade pessoal ligada à história
do sujeito diante da falta.
Aqui Olievenstein oferece uma sutil porém extremamente relevante
diferença entre sua Clínica e a da Psiquiatria ortodoxa.
O modo como maneja o conceito de Vulnerabilidade Pessoal. A
Psiquiatria o considera fundamental como índice preditivo de risco para desenvolver,
a posteriori, Dependência Química, o que faz com que seja fundamental para a
área de Prevenção.
Por Vulnerabilidade Pessoal entende-se o conjunto de fatores
individuais que predispõem um indivíduo ao uso de drogas. Exemplos clássicos
são o indivíduo ter sofrido abuso físico ou sexual, grau de escolaridade,
presença ou ausência de liames sociais com a família, escola, a religião,
atividades de lazer e esportivas, grau de acesso a Saúde e Educação, e a
existência de outros Transtornos Mentais.
A sutileza
e a importância de Olievenstein está em que ele vincula, liga, a
Vulnerabilidade Pessoal ao que ele denomina “a história do sujeito ligada à falta”. Ou seja, não importa tanto o que acontece com
o Sujeito em termos de presença ou ausência de experiências positivas ou
negativas, maior ou menor grau de proteção social, e quaisquer outros índices
possíveis de serem estipulados, mas a maneira como o indivíduo subjetiva sua
história, como ele lida com aquilo que acontece em sua vida, com o que lhe falta,
com as frustrações e as dores de viver.
Uma Leitura apressada poderia levar a interpretação de que ele tão
somente confirma a libertação das mães e dos pais de qualquer responsabilidade quanto
ao destino de seu filho, ao deslocar a questão não tanto para o que o ambiente
e o entorno da criança promovem ou não de devastação no infante (uma espécie de
exorcismo ao fantasma da “mãe suficientemente boa” de Winiccott) mas á
responsabilidade deste em subjetivar o que lhe aconteceu.
Não parece que seja isto, mas, sim, que não há qualquer
responsabilidade definida, e mais, qualquer relação causal que explique o
porquê de algumas pessoas responderem de maneira tão específica ( usando
drogas) ás frustrações que a vida lhes comete.
4) Toda falta no ser humano remete a uma outra
falta arcaica, e é nisso que se situa a especificidade da dependência humana.
Essa diferença sutil, mas extremamente importante, fica clara
quando se interpreta esta quarta e última variável.
O que marca a dependência é esta especificidade, a de usar drogas,
para fazer face à uma falta também específica, a originada pela imagem
especular constituída e partida no mesmo momento, o espelho quebrado. A droga
tampona essa falta e exorciza e anula a falta arcaica, originária, comum a
todos os seres humanos.
Para Olievenstein, o cerne do tratamento consiste em fazer o
sujeito entrar em contato com essa falta, a que lhe constitui e mantém em
relação de dependência, a que lhe faz usar a droga, para que, com a
continuidade do processo terapêutico, possa o sujeito perceber que essa falta
específica está a serviço de impedi-lo de perceber e sentir a falta arcaica. E
é com essa última que ele, no final de seus dias, e a cada momento de sua vida
sem drogas, vai ter que se haver.
Para
tanto, a abstinência é fundamental. Necessário portanto “ o sofrimento do sujeito desintoxicado”.
“ Ele vai dar um novo passo que, se formos
honestos, nos interroga muito mais ainda: nós o levamos aonde ele nos levou:
até a desintoxicação. Nosso sujeito tenta reintegrar-se á miserável condição
humana, a querer se tornar um homem qualquer. É aí que se situa uma trágica
ilusão, que começa uma outra aventura, dramaticamente censurada por todos os
protagonistas em causa. Esta aventura é a do sofrimento, se reconhecendo no
sujeito desintoxicado. Ousa-se dizer, o toxicômano é então o mais nu dos
homens, arrastando sua existência sem outro recurso do que a renúncia. Seu
corpo e seu psiquismo gritando por socorro em um desespero sem fim. Eles gritam
igualmente de fome e de uma lembrança inexorável. “
Sofrimento e renúncia. Passado o período crítico da
desintoxicação, abre-se para o toxicômano o risco de ser traído por sua
memória. É quando a lembrança do prazer e do inferno convivem lado a lado e a
vontade de voltar a tomar o produto pode se manter presente por um tempo que
parece sem fim.
“Alternadamente a memória do prazer cede lugar
à memória da falta, e vice-versa. Este é o espaço tempo do sujeito
desintoxicado; esta expectativa magoada, ferida, esfolada viva. O fim desta
expectativa é vivido como o único Nirvana possível. Porém, com esta enorme
restrição mental de uma falta irredutível que se torna uma conotação moral do
erro – seu erro. No que seu destino corre o risco de tornar-se irredutível ao
do homem qualquer.”
E se de
um lado o que resta é a renúncia – não só à droga, mas à todo o estilo de vida
que ele se impunha até então ( o que vai revolucionar sua vida sexual,
profissional, social, familiar) – para que “ como diz o pequenos Hans: ter vontade não é fazer e fazer não é
ter vontade.” – de outro lado o cuidado é com “ todas as repetições do estado de dependência estão ái inscritas –
a repetição da necessidade e a necessidade de repetição – na tentativa sempre
enganosa, mas sempre um pouco satisfatória, de verificação de anular o tempo
vivido do sofrimento e de reencontrar o tempo vivido do prazer. Estar no mais
baixo para achar o mais alto: o paraíso perdido. Construindo assim seu
espaço-tempo em volta da repetição, ele não pode nem organizá-lo em volta de um
futuro.”
A recaída é uma possibilidade constante e concreta, a dependência
uma recordação em ação, e o suicídio uma solução para uma impossibilidade de
suportar a separação.
“Restabelecer também, pouco a pouco, a função
do tempo torna-se uma das tarefas do terapeuta; mas não se deve subestimar a
dificuldade porque, ao instalar a ritmicidade de uma maneira arbitrária que não
leve em consideração o descomedimento e a intensidade da recordação vivida, corre-se
o risco mínimo de uma nova fuga para a frente (a
recaída),
ou, no máximo, de um suicídio como solução para uma impossibilidade de suportar
uma separação, por mínima que ela seja.”
A dependência é uma alucinação perversa em ação. Cumpre uma função
de reserva e de recarga, sem a qual o sujeito encontrar-se-ia completamente nu
em sua miséria primeira. Mas é um instrumento ativo que pouco a pouco exaure
seus benefícios.
“ Se é a negação de seu estatuto social que o
impele a transformar-se, sua identidade mais do que nunca o faz esquartejar-se
entre uma lacuna mais presente do que nunca, que tem sua origem no estágio do
espelho rachado, a memória do prazer e da fusão e o saber ansioso de que não é
mais possível ir mais longe. É a noite ( precedida de um entardecer que é a
hora habitual onde se realiza o ritual compulsivo da busca do produto e da
relação sado-masoquista com o traficante) que melhor marca este estatuto; a
noite do desintoxicado é um pesadelo acordado e um combate vígil, mesmo quando
está sob calmantes”
Por outro
lado, quanto ao discurso dos Grupos Anônimos, prossegue ele: “ A noite é o exemplo da derrota de todos os mecanismos
pseudo-adaptativos que tentam ocupar o lugar e o discurso do sujeito, quando
não censurado, é patético, clamando tanto por um desejo de normalidade como
pela impossibilidade desta normalidade. “
Ainda
assim, os Grupos possuem um caráter instrumental eficaz, e não deveriam ser
desprezados a priori. Se existem pessoas que alcançam a abstinência estável e
satisfatória prescindindo de frequência ao Grupos anônimos ou da prática dos
Doze Passos, outras “se adaptam bem” à eles.
Ainda que
o sofrimento possa “conduzi-lo
a aceitações masoquistas e alienantes, que substituem uma dependência por outra
dependência, principalmente a um personagem carismático que saiba explorar este
indizível vergonhoso e culpado do sujeito”, Grupos ou igrejas fazem laço social, o que é
importantíssimo para quem precisa refazer os mais variados vínculos, quase
todos destruídos pelo processo de isolamento em que vivia o toxicômano.
Fonte:http://www.perolasjuridicas.com/2014/05/tratamento-de-dependencia-quimica-na-visao-de-claude-olievenstein.html
- Gerar link
- Outros aplicativos
Comentários
Postar um comentário