Declínio da Função Paterna Relacionada à Dependência Química
Resumo: O objetivo da
função paterna é estabelecer a lei, sendo, portanto, reconhecida como um
símbolo. Este artigo visa compreender como ocorre o declínio da função paterna
envolvido na dependência química. Para isso foi necessário identificar como se
constitui este declínio e como se desenvolve a dependência química, segundo a
psicanálise. O método utilizado nesta pesquisa foi análise qualitativa das
informações. Quanto ao procedimento de coleta de dados foi realizado através de
entrevistas semi-estruturadas, que segundo sua intenção é fornecer informações
de pacientes em recuperação devido ao uso abusivo de drogas. Conclui-se que a
maioria dos participantes desta pesquisa não teve a participação da figura
paterna na infância, ou a função paterna não foi exercida de uma forma
adequada, como representante da lei. Visto que é através do pai que ocupa o
lugar da lei que vai determinar os limites necessários para o seu filho. No
entanto, se isso não ocorrer por quaisquer que seja as razões, futuramente esse
filho poderá se tornar um adulto problemático no seu meio social, com grande
dificuldade para lidar com normas, regras e consequentemente chegar ao uso e
abuso de álcool e drogas. Observamos que a cada dia o pai vem perdendo o seu
poder, não conseguindo desempenhar sua função de uma forma eficaz, surgindo
assim o declínio da função paterna. O resultado disso é devido às
transformações que estamos passando na atualidade, entre elas as novas
estruturas familiares que vem se formando, principalmente mães chefes de famílias.
É importante destacar que mesmo com todas essas transformações, a função
paterna é indispensável para constituição psíquica do sujeito.
Palavras-chave: Função
Paterna, Dependência Química, Psicanálise.
1. Introdução
De acordo com Wilheim (2006), a psicanálise é um
método que estuda os processos psíquicos inconsciente. Surgiu a partir da
prática clínica do médico neurologista austríaco Sigmund Freud. São várias as
obras publicadas, entre eles alguns apresentados neste trabalho como: “Em Mal
Estar na Civilização, publicado em 1930, Freud lança os conceitos de culturas
neuróticas, mais os conceitos de projeção, sublimação, regressão e
Transferência. Em "Totem e Tabu (1913/14) que aborda sobre a origem da
civilização, o mito da horda primitiva e a morte do pai totêmico.
Freud (1914), através de uma de suas grandiosas
obras Totem e Tabu, baseada em Charles Darwin, desenvolveu seu mito do pai na
horda primitiva. Na era primitiva no início dos tempos existia um pai muito
poderoso e tirano, dono de todas as mulheres do grupo, à medida que seus filhos
cresciam este pai os expulsava do grupo e estes por sua vez deveriam formar
novos grupos em outro lugar.
Num determinado momento esses filhos inconformados
com este pai que possuía todas as mulheres para si, retornaram revoltados e o
mataram. Neste período reinava o canibalismo, assim logo após matarem o próprio
pai, estes filhos o devoraram num banquete totêmico. Esses filhos, através
desse ato, desejavam obter o mesmo poder que o pai possuía. Mas após devorarem
o pai, surgi o sentimento de culpa, devido a ambivalência de amor e ódio por
ele. Assim este pai se torna muito mais poderoso morto que anteriormente
(FREUD, 1914).
Este artigo visa compreender como ocorre o declínio
da função paterna envolvido na dependência química. Para isso foi necessário
identificar como se constitui o declínio da função paterna e como se desenvolve
a dependência química segundo a psicanálise.
O interesse em realizar este trabalho com
dependentes químicos deve-se à prática clínica realizada numa Instituição de
Tratamento e Recuperação do Estado de Santa Catarina, onde surgiram várias
questões e dúvidas a respeito da problemática da dependência química. Um dos
fatores relatados através de pacientes relaciona-se com questões e conflitos
com o pai do sujeito em análise.
Para esse trabalho foi realizado uma pesquisa de
campo, que de acordo com Lakatos (2001) é aquela utilizada com a finalidade de
obter informações e conhecimentos a respeito de um determinado problema, no
qual se pretende encontrar uma resposta ou hipótese, que se deseja comprovar,
também chegar a descobrir novos fenômenos ou relações entre eles.
Segundo Lakatos (2001) consiste na observação de
fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles
relacionados assim como no registro de variáveis que se considerem importantes,
para analisá-los.
Para isso é necessário antes de mais nada a
elaboração de uma pesquisa bibliográfica relacionado ao tema proposto. Esta por
sua vez tem como objetivo saber em que estado se encontra o problema, ou seja,
que trabalhos já foram realizados sobre o tema e quais informações sobre o
assunto (LAKATOS, 2001).
O método que deverá ser utilizado nesta pesquisa
será a análise qualitativa das informações. Quanto ao procedimento de coleta de
dados deverá ser através de entrevistas semi-estruturadas, que segundo sua
intenção é fornecer informações de pacientes em recuperação devido ao uso
abusivo de drogas.
Para Lakatos (2001) entrevista é o encontro entre
duas pessoas, com o objetivo de obter informações relacionadas a um determinado
assunto, por meio de uma conversa de natureza profissional. É um processo
utilizado na investigação social, com a finalidade de coletar dados.
Para a realização desta pesquisa foi necessário
entrar em contato com a responsável da Instituição escolhida para obter a
autorização da pesquisa. A autorização foi concedida pela responsável da
Instituição através da assinatura em duas vias do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, uma via para a responsável da Instituição e outra via para a
pesquisadora. A pesquisa envolveu 6 participantes do sexo masculino na idade
entre 23 a 37 anos que fazem parte de um tratamento de recuperação para
dependentes químicos em regime de internação numa Instituição do Estado de
Santa Catarina no período de 2010.
A instituição utiliza-se para reabilitação de
métodos Comunidade Terapêutica, tendo como abordagens terapêuticas:
aconselhamento espiritual, psicoterapia individual e em grupo, prevenção de
recaída. O programa de tratamento inclui também o envolvimento da família e o
acompanhamento pós- tratamento dos recuperados através de grupos de apoio.
A intenção deste artigo está relacionada a esses
dois fatores que influenciam no desenvolvimento e na vida de todo ser humano. O
foco principal do trabalho é discutir como o declínio da função paterna pode
levar o sujeito a procurar algo externo para preencher seu vazio, ou seja, a
falta do exercício da autoridade da função paterna que não foi registrada. Sua
base teórica está voltada para psicanálise onde serão utilizadas várias obras
de Sigmund Freud.
2. Fundamentação Teórica
2.1 A Visão de Freud
Conforme Freud (1914) com o surgimento do
sentimento de culpa os filhos resolveram renunciar da liberação sexual
conquistada, originando a lei do incesto, o que antes era proibido pelo pai
vivo, agora se torna proibido também pelos filhos identificado com ele e
desistindo dos objetivos de sua eliminação. Agora a lei do pai se tornou muito
mais poderosa após a sua morte, dessa forma a sua lei não precisa ser mantida
pela força, pois esta força existe internamente em cada um dos membros da horda
primitiva. Esse pai se tornou símbolo, representante simbólico de uma
interdição ao gozo, este é a lei do pai na psicanálise.
A função paterna é simbólica, através desse mito
descrito em Totem e Tabu, explica que não necessariamente precisa de um pai
presente para que sua lei seja eficaz. A partir disso nasce a consciência
moral, regras, leis de convivências entre as pessoas, família, a religião e
também os mandamentos, como “não matarás”.
Conforme Freud (1914) assim foi aparecendo na
história da humanidade a proibição sobre as relações sexuais, que deram a base
para a origem do chamado Complexo de Édipo, no qual a interdição do sexo também
surge a partir da presença de uma figura mais forte, o pai. Mais tarde, o
complexo passa a ser manifestado de um modo inconsciente pelas crianças. O ódio
sentido em relação ao pai que origina no menino pelo ciúme que este tem da mãe,
a criança por sua vez luta contra o afeto e admiração de longo tempo pela
pessoa. Ela se torna livre desse conflito que nasce dessa atitude emocional ambivalente,
de amor e ódio em relação ao pai transmitindo seus sentimentos agressivos para
um substituto daquele. Essa transferência, portanto, não pode dar conta do
conflito, não podendo ocorrer assim a separação existente entre os sentimentos
de afeto e agressivos.
Segundo Meira (2003) o objetivo da função paterna é
estabelecer a lei simbólica, assim o pai interdita o gozo, tornando possível o
surgimento da falta e por conseqüência o desejo. Esta ação da castração torna
possível ao sujeito o acesso ao mundo simbólico substituindo o desejo da mãe,
desse modo estabelecendo a metáfora paterna. O pai não é o autor da lei, mas o
resultado desta e faz parte como representante. O autor pontua, quando nos
referimos à função paterna e materna, que estas por sua vez não podem ser
confundidas com o pai e a mãe biológicos. Para a psicanálise a função paterna e
materna vai muito mais além da pessoa que as exerce, tornando possível tais
funções e que possam ser executadas por outros não necessariamente os pais
biológicos.
2.2 Dependência
Química e Psicanálise
Segundo a psicanálise a dependência química surge
quando o sujeito está em conflito com a lei, uma forte relação com o mau
estabelecimento da função paterna.
É importante destacar também a diferença existente
entre dependências química e usuário de drogas, Conforme Vianna (2009) o
primeiro se refere ao relacionamento com as drogas, quanto ao usuário de drogas
tem um caráter mais recreativo não chegando às drogas ocupar um lugar central
na vida da pessoa. O seu uso limita-se mais a certas ocasiões e não
prejudicando suas atividade ou mesmo suas relações em função das drogas. O
dependente químico este por sua vez, sua relação com as drogas não está ligada
somente aos efeitos oferecidos pelo seu uso, vai muito mais além que este
propósito.
Neste caso, a droga aparece como uma forma de
proteção contra o insuportável da existência onde se mantêm refém de sua
condição de sujeito alienado ao desejo do Outro. Logo a dependência química
oculta à dificuldade do sujeito de se apossar de seu desejo a partir do desejo
do Outro e assim assumir um lugar para si. Este vazio que o dependente se
encontra auxilia em uma relação com a droga, ou melhor, concede uma identidade.
Em seus discursos a droga é responsável por tudo que ocorre em sua vida, e toda
sua infelicidade é colocada na sua condição de dependente de uma substância que
o domine. Neste sentido o dependente químico se situa em uma posição de
submissão ao comando de um objeto, que obriga à escravidão e ao sacrifício de
seu corpo (VIANNA, 2009).
Segundo Vianna (2009) o objetivo do sujeito com a
droga está relacionada na recusa do encontro com o desejo e do mal-estar que
venha ocorrer do encontro do outro. Assim surge um rompimento com o laço social
por meio do ato transgressor. Aqui a transgressão tem significado para o
dependente químico como uma forma de apelo a interdição de sua relação com a
droga. Neste sentido o dependente usa as substâncias como forma de atrair
atenção para seu sofrimento, pois não consegue verbalizar este apelo. O sujeito
para fugir da angustia clama com a droga, esta por sua vez se apresenta como
uma forma eficiente para o distanciamento do sofrimento, além de uma
manifestação de apelo ao pai.
Conforme Vianna (2009) em sua obra Mal- Estar na
civilização (1930) Sigmund Freud explana a principal função das drogas na vida
psíquica do sujeito, que é oferecer um distanciamento frente ao mal-estar. O
objetivo do homem é sempre buscar a felicidade e o prazer. Deseja sempre ficar
longe de tudo que o faz sofrer e qualquer coisa que traga infelicidade, e assim
conseguir somente sentimentos de prazer. Entretanto, esse sentimento regido
pelo princípio do prazer sofre uma pressão pela própria constituição do
sujeito, que obriga à limitação da satisfação pulsional, ou melhor, restrição
ao prazer.
Para Vianna (2009) ainda em sua obra
"Mal-Estar na Civilização", Freud coloca que a função da civilização
é o controle sobre as pessoas através de regras, leis e normas morais com a
imediata internalização dessas regras e leis pelo sujeito. Entretanto o que
obrigado a submissão às regras imposta pela cultura é o sentimento de culpa,
este por sua vez leva o sujeito a satisfazer as exigências do supereu. Então, a
submissão relacionada à cultura é uma consequência da incidência da lei paterna.
A cultura é o principal responsável pelas origens
das regras e normas, que controlam a satisfação pulsional do sujeito através de
sua internalização pela incidência da lei paterna. E como conseqüência da
interdição à conquista do prazer imediato, vem do mal-estar. Em compensação, a
cultura por sua vez oferece formas de suprir a provação de prazer. Entre elas
encontramos recursos encontrados no social que sejam ilícitos que vão dar conta
do descontentamento do sujeito. Como é o caso das drogas, que é utilizado como
um dos métodos mais eficiente para evitar o sofrimento, pois oferece ao sujeito
uma paralisação contra a dor. Aqui a droga garante uma sensação rápida de
prazer oferecendo a este uma liberdade das normas que a cultura impõe, mesmo
que seja por pouco tempo (VIANNA, 2009).
De acordo com Birman (2007) nos dependentes
químicos a figura paterna não está presente. Estes por sua vez são figuras
vazias em seu poder simbólico, nesse território psíquico quem possui o poder é
a mãe, esta tanto no imaginário como também na realidade, promovendo este vazio
paterno. A reprodução da relação incestuosa com a mãe, ligado ao impedimento do
desmame e da castração simbólica, leva o sujeito a uma situação psíquica que o
conduz a uma perseguição, ou seja, procura do pai e o delírio eróticomaníaco
com a mulher, do qual se torna impossível a experiência da castração levando
neste sentido o sujeito em direção a uma situação incestuosa. Entretanto ocorre
uma difícil relação com o pai, que produziria uma angústia de castração, se
limitando apenas a uma relação afetuosa.
Conforme Palatik (2000, apud PRADO, 2004, pag.332)
através da análise dos vínculos relacionados a dependência, o sujeito se tornar
dependente de drogas como forma inconsciente de denunciar que algo não vai bem,
ou seja existe um conflito na estrutura familiar. Quando isso ocorre tem-se
constatado que o pai como representante da lei se encontra, sem nenhuma
participação em relação aos assuntos da família. Na maioria das vezes é o
último a ter conhecimento dos assuntos do seu filho principalmente relacionado
a uso de drogas.
Em relação à mãe esta se apresenta como
superprotetora, faz tudo para o filho e seu o marido. Ela geralmente já sabe
tudo que se passa com ele, principalmente sobre o uso de drogas, apresenta uma
dependência muito grande em relação ao seu filho. O autor ainda relata que se
tratando de dependência química é algo que não inicia da noite para o dia, ou
mesmo algo que vem de fora, na realidade são vínculos de dependências, e não se
limita apenas a dependências de drogas. A dependência às drogas é um meio de
comunicação que o sujeito utiliza sobre os vínculos de dependência que
originaram bem antes do uso de drogas (PRADO, 2004).
Ainda de acordo com o autor acima, essa mãe frágil
acompanhada de um pai que não exerce sua função como deveria ser, não saiu da
preocupação materna primária e o pai por sua vez não desempenhou sua função
como delimitador. A mãe não foi suficientemente boa, e o pai sempre ausente.
Então surge o filho usuário de drogas para informar que algo não vai bem ao
âmbito familiar.
O dependente químico representa a ausência da
figura paterna, entretanto como explicar essa mãe que protege demasiadamente
seu filho, uma mãe que geralmente se queixa de seu filho usuário de drogas e ao
mesmo tempo não consegue se dar conta do quanto ela é dependente deste filho, o
quanto ela deseja inconscientemente que este seu filho não cresça, que não
“desmame”.Caso isso ocorra, ela será obrigada a olhar para si e assim lidar com
suas angústias e carências pessoais (PRADO, 2004).
Segundo Prado (2004) a droga representa na vida do
sujeito um espaço que deveria permanecer vazio, sem objetos materiais, mas é
usada como forma de objeto diferenciador que possui a função de individuação e
no momento que este sujeito depende dela se torna, no entanto um meio de
liberdade. Porém, uma liberdade que não passa de uma ilusão conquistada através
de um modo patológico e regressivo.
Para Lemos (2004), a droga impede a falta que se
tornou impossível de suportar é a busca de completude a constatação real do
fracasso simbólico, como da fantasia, entre as relações sociais, quando o
comportamento do sujeito ocupa o lugar do simbólico. Ele atua no real para
conseguir apresentar alguma coisa que não foi permitido ser realizada através
do simbólico. Com a ausência de um significante que o ampare, não existe um
sujeito no real. O toxicômano é visto como um não castrado, como alguém que não
foi apresentado as regras através da função paterna.
As experiências sentidas pelo toxicômano em relação
ao vazio estabelecem uma indiferença dos seus ideais, prevalecendo em seu ego
um conflito psíquico relacionado à perda do objeto, a mãe. A sensação do vazio
se origina de uma frustração fracassada, sente a falta de algo que o complete,
o toxicômano por sua vez vai à procura dos sentimentos que estão perdidos,
deseja intensamente alcançar a satisfação imediata, agindo precipitadamente
quando vai à procura da droga (BRANDÃO, 2010)
Conforme Araujo (2005) com a constituição da Lei, a
Função Paterna auxilia na construção do Superego fornecendo para o sujeito a
capacidade de internalização de regras morais que são importantes para
convivência no social. O pai é o representante da lei, ele é o responsável em
apresentar à criança, não é a lei, não faz, mas sim o representante dessa lei.
No entanto quando ocorre a falta ou privação das
referencias, surge o fracasso do sujeito, do mesmo modo o fracasso social, não
conseguindo realizar a internalização da imagem e metáfora paterna, conduzindo
ao impedimento da internalização coletiva da lei. Se as referencias são
representadas por um pai ausente ou fraco, esse filho abandonado possui grande
chance de se direcionar para o caminho da violência e drogadição. (ARAUJO,
2005).
Segundo Brandão (2010) a droga se instala no
psiquismo do toxicômano com um único objetivo de escravizá-lo. O sujeito
permanece fixado pela droga como se estivesse num relacionamento amoroso, e
sempre se refere a ela como poderosa, da qual não consegue se livrar,
impossível rejeitá-la, a droga é quem causou grande sofrimento em sua vida.
A droga é usada como forma de bloqueio da angústia
e aponderar-se do objeto perdido através da promessa de prazer como meio de
impedir o sofrimento relacionado ao mal estar do processo adolescente, que se
intensifica com o declínio da Lei que reflete no sujeito com o aparecimento do
sintoma, surgindo assim à toxicomania como uma forma de solução do mal-estar
(ROCHA, 2008).
Segundo Lemos (2004) o êxito da droga na pós
modernidade pode-se compreendido através do contexto do declínio da função paterna,
um fracasso acentuado do pai simbólico. A impossibilidade do toxicômano com o
gozo fálico, refere-se a metáfora paterna. A droga impede a falta que se tornou
impossível de suportar é a busca de completude é a constatação real do fracasso
simbólico, como da fantasia, entre as relações sociais, quando o comportamento
do sujeito ocupa o lugar do simbólico. Ele atua no real para conseguir
apresentar alguma coisa que não foi permitido ser realizada através do
simbólico. Com a ausência de um significante que o ampare, não existe um
sujeito no real. O toxicômano é visto como um não castrado, como alguém que não
foi apresentado as regras através da função paterna.
3. Apresentação e discussão dos Resultados
A coleta de dados foi realizada no período de
setembro de 2010, sendo que o instrumento utilizado foi entrevista
semi-estruturada. A coleta teve a duração de aproximadamente 1 hora, através de
questionário elaborado, num ambiente privado, com total preocupação de
anonimato por parte dos entrevistados.
3.1 Resultados
Gráfico 1: Caracterização dos Dependentes Químicos
quanto a idade que iniciaram às drogas.
Gráfico 2: Caracterização dos Dependentes Químicos
quanto ao tipo de drogas usadas.
Gráfico 3: Caracterização dos Dependentes Químicos
quanto a ausência e presença do pai na família.
Gráfico 4: Caracterização dos Dependentes Químicos
quanto à presença e ausência da mãe.
3.2 Discussão dos Resultados
Os participantes desse estudo fazem parte de um
tratamento de recuperação para dependentes químicos em regime de internação do
Estado de Santa Catarina. Através dos relatos dos entrevistados constatou-se na
questão sobre o início do uso das drogas, entre as mais citadas cigarro, álcool
e maconha, surgiu bem cedo em suas vidas.
De acordo com Torres (2005) principalmente o uso do
cigarro é uma hábito que começa entre 14 e 19 anos, sendo muito difícil isso
acontecer após os 20 anos, isso acorre por que os jovens neste período se
encontram vulneráveis a propagandas, como também seguir modelos de
comportamentos de ídolos, familiares próximos como os pais que fumam. Uma fase
onde pertence a grupos e as amizades são importantes, período da adolescência.
Em relação à questão sobre a família dos
entrevistados, como a presença do pai na infância, a maioria relata que não
teve a presença do pai, ou seja, pais ausentes, em que não existiu o exercício
da função paterna, ou foram criados pela mãe ou avó.
Conforme Birmann (2007), a figura paterna não se
encontra presente nos dependentes químicos. São figuras que se encontram vazias
em seu poder simbólico. Nesse território psíquico quem possui o poder é a mãe,
que está presente tanto no imaginário como também na realidade promovendo este
vazio paterno.
Observa-se que a relação dos entreviados com suas
mães está relacionada a uma superproteção desses filhos. De acordo com Hackmann
(1999), não existindo a lei do pai que determina a função paterna, o filho se
mantém ligado a esta mãe sobre um poder absoluto materno, da qual o desejo
nunca é destinado ao pai.
Prado (2004) este autor também confirma que esta
mãe se apresenta como super protetora, faz tudo para o filho e seu marido. Ela
geralmente já sabe tudo que se passa com ele, principalmente sobre o uso de
drogas e apresenta uma dependência muito grande em relação ao seu filho.
4. Conclusão
Segundo a análise dos dados desse estudo,
verifica-se que a maioria dos entrevistados não teve participação da figura
paterna na infância ou a função paterna não foi exercida de uma forma adequada,
como representante da lei.
Devemos salientar que tanto a função paterna como
materna nem sempre precisa ser desempenhada pelos pais biológicos, mas
geralmente isso ocorre. Tais funções podem ser assumidas por qualquer outra
pessoa que possa cumprir esse papel. É através do pai, o representante da lei,
que vai determinar os limites necessários ao seu filho.
Logo, entendemos se isso não ocorrer, futuramente
esse filho poderá se tornar um adulto problemático no seu meio social, com
grande dificuldade para lidar com normas, regras e consequentemente chegar ao
uso e abuso de álcool e drogas.
Vivemos em um mundo onde estamos passando por
muitas transformações, entre elas encontramos a família. Há um bom tempo, esta
era composta pelo pai, mãe e seus filhos, a chamada família nuclear, mas este
modelo de família, ao passar dos anos, vem se modificando e dando lugar a novas
estruturas familiares, principalmente mães como chefes de família.
Observamos que a cada dia o pai vem perdendo o seu
poder, não conseguindo desempenhar sua função de uma forma eficaz, surgindo
assim o declínio da função paterna.
É importante destacar que mesmo com todas essas
transformações que estamos passando na atualidade, a função paterna é
indispensável para constituição psíquica do sujeito.
Sobre o Texto:
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Programa de pós-graduação
em Dependência Química, orientado pela professora Esp. Marlene Bozza - Instituto Eficaz
de Maringá/PR.
Comentários
Postar um comentário