O QUE É O SURREALISMO ?



Nas duas primeiras décadas do século XX, os estudos psicanalíticos de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável para o desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo. Surgem movimentos estéticos que interferem de maneira fantasiosa na realidade.
O surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente. Suas origens devem ser buscadas no dadaísmo e na pintura metafísica de Giorgio De Chirico. Este movimento artístico surge todas às vezes que a imaginação se manifesta livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso psíquico. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal, pois a emoção mais profunda do ser tem todas as possibilidades de se expressar apenas com a aproximação do fantástico, no ponto onde a razão humana perde o controle.
A publicação do Manifesto do Surrealismo, assinado por André Breton em outubro de 1924, marcou historicamente o nascimento do movimento. Nele se propunha a restauração dos sentimentos humanos e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística. Para isso era preciso que o Iníciom tivesse uma visão totalmente introspectiva de si mesmo e encontrasse esse ponto do espírito no qual a realidade interna e externa são percebidas totalmente isentas de contradições.
A livre associação e a análise dos sonhos, ambos métodos da psicanálise freudiana, transformaram-se nos procedimentos básicos do surrealismo, embora aplicados a seu modo. Por meio do automatismo, ou seja, qualquer forma de expressão em que a mente não exercesse nenhum tipo de controle, os surrealistas tentavam plasmar, seja por meio de formas abstratas ou figurativas simbólicas, as imagens da realidade mais profunda do ser humano: o subconsciente.
O Surrealismo apresenta relações com o Futurismo e o Dadaísmo. No entanto, se os dadaístas propunham apenas a destruição, os surrealistas pregavam a destruição da sociedade em que viviam e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases. Os surrealistas pretendiam, dessa forma, atingir uma outra realidade, situada no plano do subconsciente e do inconsciente. A fantasia, os estados de tristeza e melancolia exerceram grande atração sobre os surrealistas, e nesse aspecto eles se aproximam dos românticos, embora sejam muito mais radicais.

Principais artistas

Salvador Dali
- é, sem dúvida, o mais conhecido dos artistas surrealistas. Estudou em Barcelona e depois em Madri, na Academia de San Fernando. Nessa época teve oportunidade de conhecer Lorca e Buñuel. Suas primeiras obras são influenciadas pelo cubismo de Gris e pela pintura metafísica de Giorgio De Chirico. Finalmente aderiu ao surrealismo, junto com seu amigo Luis Buñuel, cineasta. Em 1924 o pintor foi expulso da Academia e começou a se interessar pela psicanálise de Freud, de grande importância ao longo de toda a sua obra. Sua primeira viagem a Paris em 1927 foi fundamental para sua carreira. Fez amizade com Picasso e Breton e se entusiasmou com a obra de Tanguy e o maneirista Arcimboldo. O filme O Cão Andaluz, que fez com Buñuel, data de 1929. Ele criou o conceito de “paranóia critica“ para referir-se à atitude de quem recusa a lógica que rege a vida comum das pessoas .Segundo ele, é preciso “contribuir para o total descrédito da realidade”. No final dos anos 30 foi várias vezes para a Itália a fim de estudar os grandes mestres. Instalou seu ateliê em Roma, embora continuasse viajando. Depois de conhecer em Londres Sigmund Freud, fez uma viagem para a América, onde publicou sua biografia A Vida Secreta de Salvador Dali (1942). Ao voltar, se estabeleceu definitivamente em Port Lligat com Gala, sua mulher, ex-mulher do poeta e amigo Paul Éluard. Desde 1970 até sua morte dedicou-se ao desenho e à construção de seu museu. Além da pintura ele desenvolveu esculturas e desenho de jóias e móveis.
             

Joan Miró
- iniciou sua formação como pintor na escola de La Lonja, em Barcelona. Em 1912 entrou para a escola de arte de Francisco Gali, onde conheceu a obra dos impressionistas e fauvistas franceses. Nessa época, fez amizade com Picabia e pouco depois com Picasso e seus amigos cubistas, em cujo grupo militou durante algum tempo. Em 1920 Miró instalou-se em Paris (embora no verão voltasse para Montroig), onde se formara um grupo de amigos pintores, entre os quais estavam Masson, Leiris, Artaud e Lial. Dois anos depois adquiriu forma La masía, obra fundamental em seu desenvolvimento estilístico posterior e na qual Miró demonstrou uma grande precisão gráfica. A partir daí sua pintura mudou radicalmente. Breton falava dela como o máximo do surrealismo e se permitiu destacar o artista como um dos grandes gênios solitários do século XX e da história da arte. A famosa magia de Miró se manifesta nessas telas de traços nítidos e formas sinceras na aparência, mas difíceis de serem elucidadas, embora se apresentem de forma amistosa ao observador. Miró também se dedicou à cerâmica e à escultura, nas quais extravasou suas inquietações pictóricas. 
           
Para seu conhecimento:
“O sonho não pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida?” (fragmento do Manifesto do Surrealismo de André Breton, francês que lançou o movimento).
No mesmo manifesto, Breton define Surrealismo: “Automatismo psíquico pelo qual alguém se propõe a exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento”.
Fonte:http://www.historiadaarte.com.br/linha/surrealismo.html


Surrealismo na veia


Movimento fundado em Zurique, na Suiça, por um grupo de artistas e intelectuais, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). Suas inquietações eram derivadas da desconfiança na ciência, na religião e na moral. O espetáculo hediondo da guerra e o irracionalismo tomaram conta da Europa e de todos os valores tradicionais que sustentavam essa civilização. 

Vale lembrar que nesse momento, o pensamento do psicanalista Sigmund Freud trazia inovações ao revelar que muitos dos atos humanos não estão ligados ao encadeamento lógico. A ausência de controle exercido pela razão e o "automatismo psíquico puro" indicavam os novos rumos da arte. 


O Manifesto Surrealista foi lançado em Paris, em 1924, por André Breton (1896-1970), um ex-participante do Dadaísmo, que rompera com Tristan Tzara. É importante salientar que o Surrealismo é um movimento de vanguarda iniciado no período entre guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da Primeira Guerra e sobre a experiência acumulada de todos os outros movimentos. 

Entretanto, suas origens estão mais próximas do Expressionismo e da sondagem do mundo interior, em busca do homem primitivo, da liberação do inconsciente e da valorização do sonho.. Este movimento foi significativamente influenciado pelas teses psicanalíticas de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano. 

De acordo com Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela sociedade e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente. 

O pai da psicanálise, não segue os valores sociais da burguesia como, por exemplo, o status, a família e a pátria. Entre os principais precursores do surrealismo temos: Willian Blakem Odilon Redon, Hieronymos Bosch e até mesmo Goya. Os inspiradores diretos do movimento foram: Hegel, Apollinaire e principalmente Sigmund Freud. Isso mesmo, aquele da psicanálise. Entre os pintores são citados: Chagal, Max Ernest, Ives Tanguy, André Masson, René Magritte, Picasso, Joan Miró e a grande estrela desse movimento: Salvador Dali. 

Pintores Surrealistas Raymond Georges Yves Tanguy (5 de janeiro de 1900 - 15 de janeiro de 1955) foi um pintor surrealista. Ele nasceu em Paris, França, filho de um capitão da marinha aposentado. Seus pais eram ambos de origem Breton. 


René François Ghislain Magritte ou simplesmente Magritte, foi um dos surrealistas mais impressionantes que o planeta Terra teve o prazer de dar moradia. Novamente, tal qual fiz como Dalí, Ernst e Miró não farei um biografia, já o fizeram (salvo engando, Marcel Paquet no livro René Magritte - 1898/1967) . “Nenhum objeto é cristalizado com seu nome assim irrevogavelmente que se não pode encontrar outro que o serve para melhorar”. 

Paul Delvaux foi um pintor nascido em Antheit, na Bélgica, em 1897 e falecido em Knokke no ano de 1994. 

Guillaume Apollinaire (1880 - 1918) nasceu em Roma, Itália. Mas seria em Paris, França, que faria carreira como grande poeta e agitador cultural. Escreveu artigos, poemas, contos, romances eróticos e interessava-se bastante por pintura moderna. O interessante da arte surrealista é que, apesar de ter “nascido” na França, têm seus maiores expoentes espalhados pela Europa. 

Joan Miró i Ferrà é um desses, nascido na Espanha, sua arte integra um seleto rol de artistas consagrados por ela. Suas obras, num primeiro olhar, são as que melhor se encaixam na idéia do total desapego aos pré-conceitos estéticos produzidos e consagrados até então. 

Max Ernst Pode-se dizer que Ernst foi um dos primeiros pintores surrealistas propriamente dito. 

Salvador Dalí Dalí, ele se intitulava a própria manifestação do surrealismo na Terra, dizia (tal qual o Rei Sol): “O surrealismo sou eu”. Dalí foi, salvo engano, o único surrealista que se propagandeava, ou seja, fazia um rebuliço para ser conhecido. 

A vanguarda surrealista não era muito fã de Dalí, mas tinham que admitir sua genialidade. 

Características do Surrealismo: 

valoriza a intervenção fantasiosa na realidade; 
ressalta o automatismo contra o domínio da consciência; 
as formas da realidade são completamente abandonadas. 
Explorar o inconsciente, o sonho, a loucura; aproximar-se de tudo que fosse antagônico à lógica e estivesse fora do controle da consciência. 



Fonte:http://thalescorreamangaka.blogspot.com.br/2014/04/










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Surrealismo foi um movimento artístico e literário nascido em Paris na década de 1920, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo no período entre as duas Grandes Guerras Mundiais. Reúne artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo ganhando dimensão mundial. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas do psicólogo Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Um dos seus objetivos foi produzir uma arte que, segundo o movimento, estava sendo destruída pelo racionalismo. O poeta e crítico André Breton (1896-1966) era o principal líder e mentor deste movimento.
A palavra surrealismo supõe-se ter sido criada em 1917 pelo poeta Guillaume Apollinaire (1886-1918), jovem artista ligado ao Cubismo, e autor da peça teatral As Mamas de Tirésias (1917), considerada uma precursora do movimento.
Um dos principais manifestos do movimento é o Manifesto Surrealista de (1924). Além de Breton, seus representantes mais conhecidos são Antonin Artaud no teatro, Luis Buñuel no cinema e Max ErnstRené Magritte eSalvador Dalí no campo das artes plásticas.

Visão surrealista

As características deste estilo: uma combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente. Entre muitas das suas metodologias estão a colagem e a escrita automática. Segundo os surrealistas, a arte deve libertar-se das exigências da lógica e da razãoe ir além da consciência cotidiana, procurando expressar o mundo do inconsciente e dos sonhos.
No manifesto e nos textos escritos posteriores, os surrealistas rejeitam a chamada ditadura da razão e valores burgueses como pátriafamíliareligiãotrabalho e honra. Humor, sonho e a contralógica são recursos a serem utilizados para libertar o homem da existência utilitária. Segundo esta nova ordem, as ideias de bom gosto e decoro devem ser subvertidas.
Mais do que um movimento estético, o surrealismo é uma maneira de enxergar o mundo, uma vanguarda artística que transcende a arte. Busca restaurar os poderes da imaginação, castrados pelos limites do utilitarismo da sociedade burguesa, e superar a contradição entre objetividade e subjetividade, tentando consagrar uma poética da alucinação, de ampliação da consciência. Breton declara no Primeiro Manifesto sua crença na possibilidade de reduzir dois estados aparentemente tão contraditórios, sonho e realidade, “a uma espécie de realidade absoluta, de sobre-realidade [surrealité]”.
escrita automática procura buscar o impulso criativo artístico através do acaso e do fluxo de consciência despejado sobre a obra. Procura-se escrever no momento, sem planejamento, de preferência como uma atividade coletiva que vai se completando. Uma pessoa escreve algo num papel e outro completa, mas não de maneira lógica, passando a outro que dá sequência. O filme Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel, por exemplo, é formado por partes de um sonho de Salvador Dalí e outra parte do próprio diretor, sem necessariamente objetivar-se uma lógica consciente e de entendimento, mas um discurso inconsciente que procura dialogar com outras leituras da realidade.
Esse e outros métodos, no entanto, não eram exercícios gratuitos de caráter estético, mas, como disse Octavio Paz, seu propósito era subversivo: abolir esta realidade que uma sociedade vacilante nos impôs como a única verdadeira. Para além de criar uma arte nova, criar um homem novo.

Imagens poéticas e significado

Grande parte da estética surrealista apoia-se na concepção de imagem poética de Pierre Reverdy, segundo a qual a imagem nasce não da comparação, mas da aproximação entre duas realidades afastadas. E quanto mais distantes forem as realidades aproximadas, mais forte será a imagem poética. Reverdy distancia mais ainda o mundo captado pelos sentidos e o mundo criado pela poesia. Além disso, a linguagem surrealista faz grande uso de descontextualizações, esvazia-se um significante de seu significado para atingir novos e inusitados significados. Herança de Arthur Rimbaud, procuram o desregramento também das relações de significação para a emersão de uma nova linguagem. Há uma busca da expressão por meio de uma linguagem não-instrumental e uma associação de liberdade à ruptura do discursiva.

Trajetória

Em 1929, os surrealistas publicam um segundo manifesto e editam a revista A Revolução Surrealista. Entre os artistas ligados ao grupo em épocas variadas estão os escritores franceses, Antonin Artaud (1896-1948), também dramaturgo, Paul Éluard (1895-1952), Louis Aragon (1897-1982), Jacques Prévert (1900-1977) e Benjamin Péret (1899-1959,) que viveu no Brasil. Entre os escultores encontram-se os italianos Alberto Giacometti (1901-1960), o pintor italiano Vito Campanella (1932), assim como os pintores espanhóis Salvador Dali (1904-1989), Juan Miró (1893-1983) e Pablo Picasso, o pintor belga René Magritte (1898-1967), o pintor alemão Max Ernst (1891-1976) e o cineasta espanhol Luis Buñuel (1900-1983).
Nos anos 30, o movimento internacionaliza-se e influencia muitas outras tendências, conquistando adeptos em países da Europa e nas Américas, tendo Breton assinado um manifesto com Leon Trotski na tentativa de criar um movimento internacional que lutava pela total liberdade na arte - FIARI: o Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente.
No Brasil, o surrealismo é uma das muitas influências assimiladas pelo modernismo.

Surrealismo na arte

O Surrealismo destacou-se nas artes, principalmente por quadros, esculturas ou produções literárias que procuravam expressar o inconsciente dos artistas, tentando driblar as amarras do pensamento racional. Entre seus métodos de composição estão a escrita automática.

Curiosidades

Como muitos dos primeiros participantes do Surrealismo foram originados do Dadaísmo, uma separação enfática entre Surrealismo e Dadaísmo na teoria e prática pode ser difícil de ser estabelecida, apesar das declarações de Andre Breton sobre o assunto não deixarem dúvidas sobre sua própria claridade sobre suas diferenças. No círculo académico, esta linha imaginária é diferente entre diferentes historiadores.
As raízes do Surrealismo nas artes visuais tomam características do Dadaísmo e do Cubismo, assim como da abstração de Wassily Kandinsky e do Expressionismo, assim também como do Pós-Impressionismo.

Anos 30

Salvador Dalí e René Magritte criaram as mais reconhecidas obras pictórias do movimento. Dalí entrou para o grupo em 1929, e participou do rápido estabelecimento do estilo visual entre 1930 e 1935.
O Surrealismo como movimento visual, tinha encontrado um método: expor a verdade psicológica ao despir objectos ordinários de sua significância normal, a fim de criar uma imagem que ia além da organização formal ordinária.
Em 1932 vários pintores Surrealistas produziram obras que foram marcos da evolução da estética do movimento: La Voix des Airs, de Magritte, é um exemplo deste processo, onde são vistas três grandes esferas representando sinos pendurados sobre uma paisagem. Outra paisagem Surrealista deste mesmo ano é Palais Promontoire, de Tanguy, com suas formas líquidas. Formas como estas se tornaram a marca registrada de Dali, particularmente com sua obra A Persistência da Memória, na qual relógios de bolso derretem.

A Segunda Guerra Mundial

Segunda Guerra Mundial provou ser disruptiva para o Surrealismo. Os artistas continuaram com as suas obras, incluindo Magritte. Muitos membros do movimento continuaram a corresponder-se e a encontrar-se. Em 1960, Magritte, Duchamp, Ernst e Man Ray encontraram-se em Paris. Apesar de Dali não se relacionar mais com Breton, ele não abandonou os seus motivos dos anos 30, incluindo referências à sua obra "Persistência do Tempo" numa obra posterior.
O trabalho de Magritte tornou-se mais realista na sua representação de objetos reais, enquanto mantinha o elemento de justaposição, como na sua obra Valores Pessoais (1951) e Império da Luz (1954). Magritte continuou a produzir obras que entraram para o vocabulário artístico, como Castelo nos Pireneus, que faz uma referência a Voix de 1931, na sua suspensão sobre a paisagem. Algumas personalidades do movimento Surrealista foram expulsas e vários destes artistas, como Roberto Mattam continuaram próximos ao Surrealismo como ele mesmo se definiu.

Surrealismo em Portugal


António Domingues, Fernando Azevedo, António Pedro, Vespeira, Moniz Pereira – Cadavre Exquis, 1948, óleo sobre tela, 150 x 180 cm

Capa proibida pela censura – 1ª Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa, 1949

1ª Exposição dos Surrealistas, 1949

Primeiras manifestações

O surrealismo surge nos horizontes culturais portugueses a partir de 1936, "em experiências literárias «automáticas» realizadas por António Pedro e alguns amigos"1 . Em 1940 o mesmo António Pedro expõe com António Dacosta (e Pamela Boden): " A exposição reunia dezasseis pinturas de Pedro, dez de Dacosta e seis esculturas abstratas de Pamela Boden [...]. O surrealismo de que se falara até então vagamente, desde 1924, [...] irrompia nesta exposição, abrindo a pintura nacional para outros horizontes que ali polemicamente se definiam"2 .

Grupo Surrealista de Lisboa / Os Surrealistas

Em 1947 Cândido Costa Pinto, que desde 1942 seguia uma linha estética surrealista, contacta, em Paris, com o recém-organizado Grupo Surrealista; André Breton sugere-lhe a organização de um grupo idêntico em Portugal. É deste desafio que irá nascer o Grupo Surrealista de Lisboa.
"VespeiraFernando AzevedoAntónio Domingues e João Moniz Pereira, [...] os poetas Mário Cesariny de Vasconcelos, [...] Alexandre O'Neill e José Augusto França [...] constituiram o núcleo inicial do movimento aglutinado em Outubro de 1947 e que logo contou com a colaboração e animação de António Pedro. [...] O primeiro ato do grupo ainda em formação foi romper com Cândido Costa Pinto"3 , por ter exposto uma pintura nas salas do SNI.
A primeira e única exposição do grupo teve lugar em 1949. Participaram António Pedro, António Dacosta, Fernando Azevedo, Moniz Pereira, Vespeira, Alexandre O'Neill, e José Augusto França, além de dois Cadavre Exquis de Vespeira e Fernando Azevedo e outro, de grandes dimensões, de António Domingues, Fernando Azevedo, António Pedro, Vespeira, Moniz Pereira. A exposição foi motivo de escândalo e alvo de ameaças policiais. A primeira proposta de capa do catálogo, que pretendia inserir-se na campanha eleitoral de Norton de Matos (de oposição ao regime de Salazar), foi proibída pela censura. A iniciativa agitou o meio artístico lisboeta que, no mesmo ano e no seguinte, teve mais duas exposições da índole semelhante, realizadas por um grupo dissidente, Os Surrealistas, composto por Mário Cesariny, Cruzeiro SeixasMário-Henrique LeiriaAntónio Maria Lisboa, H. Risques Pereira, Fernando José Francisco, Pedro Oom, João Artur da Silva, Carlos Eurico da Costa, Fernando Alves dos Santos, António Paulo Tomaz, "com menor interesse plástico embora notável proposição poética"4 .
A exposição do Grupo Surrealista de Lisboa e as restantes, de Os Surrealistas, marcaram o fim do movimento, "ficando apenas os seus componentes em ações pessoais e isoladas"5 .
Vespeira e Azevedo prosseguiram, ao longo de 1950 e 1951, uma obra pictórica de qualidade, expondo em 1952 na Casa Jalco, ao Chiado: "uma exposição de «óleo, fotografia, guache, desenho, ocultação, colagem, linóleo» constituída por três «Primeiras exposições Individuais» de Fernando de Azevedo, Fernando de Lemos e Vespeira", e que os artistas dedicaram ao precursor do movimento, António Pedro6 .

Referências

  1. Ir para cima A.A.V.V. – Os anos 40 na arte portuguesa, tomo 1. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 88.
  2. Ir para cima França, José Augusto – A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 336.
  3. Ir para cima França, José Augusto – A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961 [1974]. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p. 382.
  4. Ir para cima A.A.V.V. – Os anos 40 na arte portuguesa, tomo 1. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 88, 89.
  5. Ir para cima A.A.V.V. – Os anos 40 na arte portuguesa, tomo 1. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 89.
  6. Ir para cima A.A.V.V. – Os anos 40 na arte portuguesa, tomo 1. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 102.

Fontes

  • DUROZOI e LECHERNERBONNIER. El Surrealismo. Guadarrama, Madri, 1974.
  • ADES, Dawn. O Dada e o Surrealismo. Labor do Brasil, Barcelona, 1976?.
  • SENA, Jorge. Manifestos do Surrealismo. Moraes, SP, 1979.
  • GIMENEZ-FRONTIN, J. El Surrealismo. Montesino, Barcelona, 1983.
  • FARIAS, José Niraldo. O Surrealismo na Poesia de Jorge de Lima. PUC/RGS, Porto Alegre, 2003.

Bibliografia

  • BRETON, André, Manifestos do Surrealismo. Rio de Janeiro, Editora Nau, 2001
  • PERET, Benjamin, Amor sublime, São Paulo: Brasiliense, 1985.
  • ARGAN, Giulio Carlo, Arte moderna, São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • PONGE, Robert (org.), Surrealismo e nuovo mundo, Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio do Sul. 1999.
  • Artigo surrealismo França-Brasil
  • Notas sobre o movimento surrealista no Brasil
Em espanhol
  • BÉHAR, Henry. Sobre Teatro Dada y Surrealista. Barcelona: Barral, 1971.
  • Bréton, André. El Surrealismo: Puntos de Vista y Manifestaciones. Barcelona: Barral, 1977.
  • PAZ, Octavio. Las Peras del Olmo. Barcelona, Seix Barral, 1990
DUROZOI e LECHERNERBONNIER. El Surrealismo. Guadarrama, Madri, 1974.
ADES, Dawn. O Dada e o Surrealismo. Labor do Brasil, Barcelona, 1976?.
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FARIAS, José Niraldo. O Surrealismo na Poesia de Jorge de Lima. PUC/RGS, Porto Alegre, 2003.

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrealismo

Surrealismo


O movimento surrealista nasceu no início do século XX, em Paris, fruto das teses de Sigmund Freud, criador da Psicanálise, e do contexto político indefinido que marcou este período, especialmente a década de 20. O Surrealismo questionava as crenças culturais então vigentes na Europa, bem como a postura humana, vulnerável frente a uma realidade cada vez mais difícil de compreender e dominar.
Pintura de Vladimir Kush
Pintura de Vladimir Kush
Esta escola artística e literária se insinua no interior dos movimentos de vanguarda modernistas, englobando antigos adeptos do Dadaísmo – linhagem cultural nascida em Zurique, em 1916, que primava pela irracionalidade, pela censura a toda atitude moderada e era marcada por uma descrença total e um negativismo radical.
A teoria freudiana tem um grande peso na constituição do ideário surrealista, que valoriza acima de tudo o desempenho da esfera do inconsciente no processo da criação. O surrealismo procura expressar a ausência de racionalidade humana e as manifestações do subconsciente. Além dos dadaístas, ele se inspira também na arte metafísica de Giorgio de Chirico.
Os surrealistas deslizam pelas águas mágicas da irrealidade, desprezando a realidade concreta e mergulhando na esfera da absoluta liberdade de expressão, movida pela energia que emana da psique. Eles almejam alcançar justamente o espaço no qual o Homem se libera de toda a repressão exercida pela Razão, escapando assim do controle constante do Ego.
Os adeptos do Surrealismo se valem dos mesmos instrumentos que a Psicanálise, o método da livre associação e a investigação profunda dos impulsos oníricos, embora se esforcem para adaptar este manancial de recursos aos seus próprios fins. Desta forma eles objetivavam retratar o espaço descoberto por Freud no interior da mente humana, o inconsciente, através da abstração ou de imagens simbólicas.
O marco oficial da instituição deste movimento é o lançamento do Manifesto do Surrealismo, em outubro de 1924, porAndré Breton, que também o subscreveu. Este documento tinha o propósito de criar uma nova expressão artística acessível através do resgate das emoções e do impulso humano.
A persistência da Memória (Salvador Dali - 1931)
A persistência da Memória (Salvador Dali - 1931)
Isto só seria viável a partir do momento em que cada ser conquistasse o conhecimento de si mesmo, para então atingir o momento crítico no qual o interior e o exterior se revelam completamente coerentes diante da percepção humana. Ao mesmo tempo em que o Surrealismo pregava, como os dadaístas, a demolição do corpo social, ele propunha a gestação de uma nova sociedade, sustentada sobre outros alicerces.
O Surrealismo – expressão que foi apresentada inicialmente pelo poeta cubista Guillaume Apolinaire, em 1917 – contava em suas fileiras com nomes famosos como os de Max Ernst, René Magritte e Salvador Dalí, nas artes plásticas; André Breton, no campo da literatura; e Buñuel, no cinema. Eles lançam, em 1929, o Segundo Manifesto Surrealista, publicando ao mesmo tempo o periódico O Surrealismo a Serviço da Revolução. Na década de 30 esta escola se expande e inspira vários outros movimentos, tanto no continente europeu quanto no americano. No Brasil ela se torna uma das várias vertentes absorvidas pelo Modernismo.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrealismo
http://www.historiadaarte.com.br/surrealismo.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dadaísmo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vanguarda



Escritores do Surrealismo




Esta corrente cultural e literária surgiu na cidade de Paris, no ano de 1919, em meio aos movimentos vanguardistas, na pausa que se estabeleceu entre as duas Guerras Mundiais. Esta vertente artística iria conferir os contornos definitivos à escola modernista. Ela englobou antigos adeptos do Dadaísmo e acabou conquistando o Planeta. Suas características estão fortemente ligadas às teses da Psicanálise, recém-criada pelo pai desta disciplina, Sigmund Freud. Assim, o Surrealismodestaca mais que tudo o desempenho da esfera inconsciente no processo da criação. Uma de suas metas era gerar um movimento artístico ameaçado pelo avanço da razão. O poeta e crítico francês André Breton praticamente fundou esta escola, batizada com um termo emprestado por Guillaume Apollinaire, um de seus antecessores. No Brasil seus precursores foram Durval Marcondes e Mennotti Del Pichia. Teve forte influência sobre a Semana de Arte Moderna, em 1922. Mas, depois de vinte anos, a postura dos brasileiros em relação a essa vanguarda ainda era hesitante, e ela era considerada por muitos como ‘coisa de franceses’.

Autores e Obras do Surrealismo

  • André BretonMontepio; Os Campos Magnéticos; Manifesto do Surrealismo; Por uma Arte Revolucionária Independente; Clair de Terre; Nadja; Os Passos Perdidos; O Amor Louco.
  • Guillaume Apollinaire: As Mamas de TirésiasO Bestiário ou o Cortejo de Orfeu; O Espírito Novo e os Poetas; Calligrammes; Álcoois; Os Pintores Cubistas.
  • Paul Éluard: No defeito do silêncio; Imaculada Concepção; Capital da dor; Amor e Poesia; A Vitória de Guernica; Liberté; Do horizonte de um homem ao horizonte de todos; Poemas Políticos; O Phoenix.
  • Louis Aragon: Le Paysan de Paris; Feu de Joie; Le Panorama; Le Libertinage; Le Mouvement Perpétuel; Le Front Rouge; Le Crève-cöur.
  • Jacques Prévert: Paroles; Histoires et autres histoires; Fatras; Grand Bal du printemps.
  • Murilo Mendes: Poesia em Pânico; O Visionário; As Metamorfoses; Mundo Enigma; Contemplação de Ouro Preto;Poesias; A Idade do Serrote.
  • Jorge de LimaO Mundo do Menino ImpossívelO acendedor de lampiõesTempo e Eternidade; Invenção de Orfeu; Os anjos da noite Bizo; A mulher obscura; Guerra dentro do beco.
  • Roberto Piva: Paranóia; Praça da República dos meus Sonhos; Antologia Poética; Um Estrangeiro na Legião: obras reunidas, volume 1; Mala na Mão & Asas Pretas: obras reunidas, volume 2; Estranhos Sinais de Saturno: obras reunidas, volume 3.

Fonte:http://www.infoescola.com/literatura/escritores-do-surrealismo/

Quadro Arqueólogos, Giorgio de Chirico
Arqueólogos, Giorgio de Chirico

O Surrealismo foi um movimento multidisciplinar, ocorrido principalmente nas artes plásticas, literatura e cinema. Segundo historiadores da arte, o período surrealista é delimitado entre os anos de 1924 e 1945.
Em 1924, o poeta e ensaísta francês André Breton escreve o primeiro Manifesto Surrealista, fundando as bases do movimento e definindo-o em termos filosóficos e psicológicos. (Não custa lembrar que André Breton tinha formação em psiquiatria; não é à toa que as ideias de Freud vão exercer grande influência no movimento).
O Surrealismo caracteriza-se principalmente pela negação da lógica e do racional. O objetivo é a expressão do inconsciente (olha aí as ideias de Freud!); deve-se transcender o pensamento "normal" a fim de revelar níveis mais profundos de significado e de associações. O sonho é tão ou mais real do que a vigília.
Durante os anos 20 e 30, o Surrealismo se espalhou de seu centro - Paris - para outros países, inclusive fora da Europa, ganhando novos adeptos.
No início dos anos 30 o grupo surrealista publicou a revista Surrealismo a Serviço da Revolução, o que demonstra o flerte que houve entre os surrealistas e os ideais marxistas de revolução. Em verdade, o movimento tentava uma síntese entre a teoria política de Marx e o método psicanalítico de Freud. Considerava a expressão das fantasias reprimidas a base da revolução política: através delas seria possível derrotar o capitalismo.
Mas foi apenas um flerte. Moscou exigia total fidelidade e subordinação da arte aos propósitos do Estado, o que não combinava nem um pouco com o ideal de liberdade desejado pelos surrealistas. Liberdade para criar e se expressar sem qualquer tipo de repressão ou censura, seja ela interna ou externa. O objetivo era uma profunda revolução psicológica, e não apenas (apenas?!) uma tentativa de mudar a sociedade nos aspectos políticos e econômicos.
Embora grande parte dos artistas simpatizasse com o comunismo, isso não foi uma regra. Salvador Dalí, por exemplo, declarou abertamente seu apoio ao Franquismo, e também não fez questão de esconder sua admiração por Hitler.
Oficialmente, o Surrealismo acabou em 1945. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o expressionismo abstrato ganhou força. André Breton, contudo, continuou fiel aos ideais surrealistas até sua morte, em 1966. Muitos outros artistas também continuaram - e continuam - a produzir trabalhos com o espírito surrealista até os dias de hoje.


Principais Nomes


André Breton (1896- 1966)


Considerado pai e fundador do movimento surrealista, foi autor dos Manifestos Surrealistas (1924 e 1929), alguns pequenos volumes de poesia e um romance, entre outros livros. Buscou inspiração no pintor Georgio de Chirico e no escritor Lautréamont para idealizar o programa surrealista.
A "alucinada" abordagem de Breton para a poesia surgiu como uma reação contra as acomodadas convenções literárias da Paris nos anos 20. Em 1922 abandonou o Dadaismo para experimentar novas formas de expressão escrevendo, com Philippe Soupault, o livro de poesia "Campos Magnéticos", em em que testava a escrita automática. Em 1924, auxiliado por outros dadaístas dissidentes, escreveu o Manifesto Surrealista. Breton e seus colegas pretendiam transformar o caos e a desordem em formas de expressão.
Seu objetivo poético consistia no "puro automatismo psíquico", como foi evidenciado pela obra "Por uma arte revolucionária independente" ("Pour un art revolutionnaire independent"), que escreveu em 1938 em coautoria com Leon Trotsky. Do ponto de vista de Breton, arte e política eram indissociáveis.
Tudo nos leva a acreditar que existe um certo estado da mente em que vida e morte, o real e o imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, altura e profundidade não são mais percebidos como contraditórios
André Breton, Segundo Manifesto do Surrealismo (1929)

Giorgio de Chirico (1888 -1978)


Por volta dos 20 anos de idade, sob a influência do pintor simbolista Arnold Böcklin, de Chirico começou a pintar paisagens de cidades estranhas e oníricas. Quando vistas em Paris, em 1911, as telas foram aclamadas, fazendo de de Chirico um dos grandes nomes e heróis do Surrealismo (André Breton, por exemplo, foi dos que nele se inspirou na concepção do movimento surrealista.). Esta fase de seu trabalho, que durou até 1918, ficou conhecida como Pittura Metafisica. A partir de então, seu trabalho mudou, pois de Chirico desejava tornar-se um classicista. Rejeitou toda a vanguarda francesa, e passou inclusive a assinar suas obras como "Pictor Optimus" ("O Melhor Pintor").
Durante a fase da Pittura Metafisica, as cidades de de Chirico povoaram a imaginação modernista. Muitas das características das cidades pintadas por de Chirico foram retiradas de lugares reais em que ele viveu. Italiano, passou parte da vida na Grécia, lugar em que seu pai, engenheiro, planejou e construiu estradas de ferro. Suas cidades eram um sanatório, no qual habitavam frustração, tensão e memória. Giorgio de Chirico também foi um grande poeta, condensando sentimentos em metáforas e associações, e não é de se admirar que os surrealistas tenham se deixado influenciar por ele.

Isidore Ducasse (1846-1870)

Isidore Ducasse, o Conde de Lautréamont, foi o primeiro surrealista na literatura. Usando justaposições como "o encontro fatal entre um guarda-chuva e uma máquina de costura em uma mesa de operações", este uruguaio filho de franceses inspirou muitos outros escritores, inclusive André Breton.

Luis Buñuel (1900 - 1983)

Dirigiu, ao lado de Salvador Dalí, os clássicos surrealistas Um Cão Andaluz e A Idade do Ouro. Sozinho, dirigiu O Anjo Exterminador, A Bela da Tarde, O Discreto Charme da Burguesia, entre outros. A crítica à sociedade sempre foi o tema mais explorado em seus filmes.
Seu trabalho era sacudir o público no cinema, tirando-os do torpor a que os filmes de cinema induziam. "sentar confortavelmente em uma sala escura, cegos pela luz e movimento que exercem um poder quase hipnótico...uma tranquilidade individual permite aceitar os temas mais aterradores."
Certa vez, quando foi pedido para que produzisse um comercial para uma companhia de bebidas, Buñuel sugeriu uma cena na qual um soldado romano oferecia uma garrafa da água mineral anunciada a um sedento Cristo pregado na cruz. Sutileza, certamente, não era sua maior virtude.

Man Ray (1890 - 1976)


Filho de judeus-russos que imigraram para a Filadélfia, Man Ray nasceu Emmanuel Radnistky. Desde a infância seu talento era evidente, destacando-se em invenções e desenhos. Recusou uma bolsa para estudar arquitetura, indo viver como artista e desenhista comercial enquanto tinha aulas noturnas de arte em várias escolas de Nova York. Aos 25 anos, teve a primeira exposição individual.
Após conhecer Marcel Duchamp, Ray comprou sua primeira câmera. Começou a fotografar suas pinturas para fins de gravação, mas logo passou a explorar a fotografia por si mesma e, sob a influência do amigo Duchamp, mudou-se para Paris em 1921. Tornou-se um dos mais significativos "fotógrafos sem câmera" (maker of cameraless photographs) nas décadas de 20 e 30. Foi um experimentador de técnicas fotográficas, tendo participado do Cubismo, Dadaismo e Surrealismo. Suas obras de fotografia enfatizavam efeitos do acaso e justaposições surpreendentes.
Como fotógrafo, pintor, escultor e cineasta, Man Ray tentou uma junção de técnicas a fim de criar objetos perturbadores.
Ray deixou Paris antes da ocupação Nazista em 1940 e foi para Hollywood, onde continuou a trabalhar e ensinar durante os 10 anos seguintes.

Marcel Duchamp (1887-1968)


Exerceu grande influência na arte moderna e de vanguarda. Circulou não só pelo Surrealismo, mas também pelo Futurismo, Dadaismo e Cubismo. Pintor, escritor e exímio jogador de xadrez, foi o fundador do movimento Dadaísta em Nova York em 1913, e membro do grupo surrealista a partir de 1924.
Duchamp estava acima da simples experimentação. Através de suas pinturas, trouxe as formas humanas de volta para o Cubismo. Mas esta re-introdução foi bastante "perversa". As figuras humanas de Duchamp pareciam máquinas, com fantáticas e distorcidas anatomias sexuais.
Tais obras fizeram com que sua carreira de pintor terminasse. Duchamp deve ter percebido que sua ironia não estava completa, pois a ironia deveria jogar fora suas aspirações de beleza. E, não importa o quão perversas, as pinturas de Duchamp tornaram-se muito formais para realizar seu objetivo último: zombar da concepção humanista de arte.
Desse modo, surgiram as obras do tipo "ready-made" (que podemos tentar traduzir como obras "prontas", feitas a partir do cotidiano), da qual foi precursor. Em 1913, juntou uma roda de bicicleta a um banco de cozinha, e chamou o objeto de arte. Espírito da coisa: tudo aquilo que havia sido previamente qualificado com arte, ele rejeitava.
Em 1917, a apoteose: enviou para a New York Society of Independent Artists um mictório entitulado "A Fonte". O mictório em si não tinha nada de interessante, mas sim o gesto irreverente. Seu objetivo maior era tirar a ênfase do produto final e colocá-la nas intenções do artista, transformando "arte" em "ideias sobre arte".

Max Ernst (1891 - 1976)

Um dos fundadores do movimento Dada e, posteriormente, um dos grandes nomes do Surrealismo, dizia que sua arte tinha a intenção de "gerar uma tensão elétrica ou erótica", através da junção de elementos inesperados (característica geral de vários trabalhos surrealistas).
Em notas autobiográficas, Ernst afirma que "Max Ernst teve seu primeiro contato com o mundo dos sentidos no dia 2 de abril de 1891, às 9:45, quando emergiu de um ovo que sua mãe havia posto num ninho de águia e que a ave chocou durante sete anos."
Desenvolveu a técnica de frotagem. a qual consiste em colocar uma folha de papel sobre o chão, friccioná-la com um pincel macio, e assim produzir um padrão. Começou então a usar estes padrões em composições ou utilizava-os para dar textura às pinturas à óleo.
Em 1954, foi expulso do grupo surrealista por ter participado da Bienal de Veneza, onde recebeu o Grande Prêmio. Sua participação na Bienal significou uma traição ao movimento, que rejeitava todas as formas institucionalizadas de arte.

René Magritte (1898-1967)


Juntamente com Salvador Dalí, René Magritte é um dos surealistas mais conhecidos no mundo. Sua obra pode ser considerada de uma simplicidade enganadora. Era igualmente metódico em seus escritos e nos títulos que dava a suas obras. Pede para que abandonemos, ao menos temporariamente, nossas expectativas "comuns" com relação à arte.
Para ele, o mundo visível é uma fonte inesgotável de revelações lúcidas. Por isso, ele não precisava de sonhos, alucinações ou fenômenos ocultos. Escolhia coisas comums para construir sua obra: cadeiras, árvores, mesas, portas, janelas, sapatos, luvas, cachimbo, pessoas. Queria ser entendido através das coisas cotidianas, e assim não parecer obscuro.
Magritte não escondia sua irritação com a ideia de relacionar símbolos ao seu trabalho, bem como seu desgosto com a psicanálise e a descrença em interpretações. Mas tinha seus motivos. Com esta atitude, Magritte estava defendendo a essência de seu trabalho. Para ele, "ver" é o que importa."Ver" basta. Mas não uma visão qualquer. Uma visão além da explicação verbal que, se utilizada, deve ser validada por uma forma de "ver".
Contudo, para uma grande parcela do público, ver apenas não é suficiente. As pessoas veem e pensam sobre o que veem cuidadosamente. Estão acostumadas a uma tradição em que palavras representam ideias e têm um papel dominante.
Todo este cuidado se deve à consciência que Magritte tinha do poder das palavras. Lidar com elas é um jogo perigoso, e ele sabia disso, como fica evidente em seus escritos (artigos gerais, trechos literários, artigos sobre temas específicos) e em suas pinturas.

Salvador Dalí (1904 - 1989)


Pintor mais famoso (e também extravagante, excêntrico e exibicionista) do movimento, o espanhol Salvador Dalí também escreveu um romance, Faces Ocultas (1945), um artigo, " A Conquista do Irracional" (1935), e foi ainda escultor, ilustrador, designer de joias, cenógrafo, estilista de moda e diretor de cinema, juntamente com Luis Buñuel. Com este dirigiu dois clássicos surrealistas: Um cão andaluz (1929) e Idade do Ouro (1930).
Considerado um louco por muitos, afirmava que "a única diferença entre mim e um louco é que eu não sou louco".
Estudou na Academia de Belas-Artes de Madri, onde aprendeu técnicas acadêmicas, mas foi expluso por indisciplina em 1923.
Desenvolveu um método próprio, o "método crítico-paranoico", um "método espontâneo de conhecimento irracional baseado na objetivação crítica e sistemática de associações e interpretações delirantes". Recusava a lógica que rege a vida cotidiana, e utilizava a técnica acadêmica para fazer contraste com um mundo de sonhos representado realisticamente. Suas visões fantásticas eram pintadas com incrível precisão e realismo. Assim, buscava representar não objetos visíveis, mas as imagens associadas a eles e seus significados subconscientes.
Afirmou certa vez que seu objetivo ao pintar era "materializar as imagens da irracionalidade concreta com a fúria de precisão mais imperial...a fim de que o mundo da imaginação e da irracionalidade concreta possa ser tão objetivamente evidente ... quanto o mundo da realidade exterior".
Aos poucos, contudo, foi ficando aparente a contradição entre o que Dalí descrevia como "paranoia crítica" - que levava à interpretação sistemática - e o elemento de automatismo de que seu método dependia. Os monstros de Dalí permitiam uma leitura limitada e única. Além disso, as afirmações extremas sobre política, em especial sua fascinação por Hitler, soavam estranhas no contexto da ética surrealista, e suas relações com o resto do grupo estremeceram após 1934. O rompimento aconteceu quando Dalí declarou seu apoio a Franco em 1939. Aos olhos do público, contudo, Dalí continuou e continua sendo surrealista por excelência.
De 1939 a 1948, Dalí morou nos Estados Unidos, cultivando a imagem de gênio excêntrico, e recebendo de Breton o apelido de "Avida Dollars", um anagrama de seu nome.
Em 1965, se voltou para a escultura, repetindo os temas de suas pinturas: uma Vênus equipada com gavetas, elefantes com pernas de aranha etc.
Assim contou Dalí sobre seu encontro com Gala, "a mulher de sua vida" - sua musa, modelo e agente:
"Ela me apareceu em Cadaques acompanhando o marido, Paul Éluard. Na segunda manhã depois da chegada de meus amigos, louco de desejo por ela e a fim de atrair seu olhar, eu raspei as axilas e pintei-as de azul, cortei a camisa, lambuzei-me de cola de peixe e excremento de cabra, enfeitei o pescoço com um colar de pérolas e as orelhas com um jasmim. Quando a encontrei, não lhe pude falar, sacudido por um riso, demente, cataclismo, fanatismo, abismo, terror. No dia seguinte, ela tomou-me a mão e disse-me gravemente: "Querido, não vamos mais nos deixar.""
(Trecho retirado do livro "As Paixões segundo Dalí")

 Abaporu, Tarsila do Amaral, (1928)
Abaporu, Tarsila do Amaral, (1928)



No Brasil, o movimento chegou de forma tênue, mas nem por isso passou despercebido. Vivíamos um período de valorização da racionalidade, exaltando o sentimento nacionalista e formando nossa identidade - o período Modernista. Nas artes, vigorava a antropofagia de Mario e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral... Mas é claro que a influência surreal chegou. Antropofagicamente, foi devorada e cuspida em obras como a Cuca, de Tarsila do Amaral. Também influenciados foram Cícero Dias, Guignard, Ismael Nery.
O grande destaque brasileiro - não só nesta exposição, mas também em todo o movimento - é Maria Martins. Considerada uma das principais escultoras surrealistas, foi amante de Marcel Duchamp. André Breton encantou-se com seu trabalho, quando se encontraram em Nova York. Suas peças têm caráter fantástico. Na escultura em bronze Impossível, bustos humanos têm lanças em vez de cabeças. Mais conhecida na Europa que no Brasil, Maria Martins pode ter seu trabalho devidamente reconhecido na exposição organizada pelo CCBB no ano de 2000.

Cícero Dias (1907)


Pernambucano, montou, em 1927, no Recife, sua primeira exposição individual.
Em 1937 foi para Paris onde tornou-se amigo de vários integrantes do movimento surrealista. Naquela que pode ser considerada sua primeira fase (1927-1937), o pintor pernambucano...
"mergulhou fundo em busca da realidade interior do homem transitando entre o real e o imaginário à procura de um estilo próprio, adotando certas preocupações comuns ao surrealismo. Suas figuras flutuam no espaço, enquanto as casas e a linha do horizonte assumem inesperadas posições. Nesses desenhos as imagens fundem-se. Existe uma ruptura com o ponto de fuga e o espaço está fragmentado em segmentos visuais." 
(retirado da página oficial de Cícero Dias)

Ismael Nery (1900 - 1934)


Nascido em Belém do Pará, Ismael Nery pode ser considerado um dos precursores do surrealismo no Brasil.
Foi pintor, desenhista e poeta. Em 1915, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes.
Estudou em Paris, onde entrou em contato artistas do grupo surrealista. Sua obra plástica sofreu, principalmente, influência de de Chirico e do cubismo de Picasso.
A figura humana é um tema recorrente em seu trabalho - retratos, autorretratos e nus.
Saiba mais sobre Ismael Nery.

Maria Martins (1900 -1973)


Passou grande parte da vida entre França e Estados Unidos. Além de brilhante escultora, também foi escritora e jornalista.
Em Paris, conheceu Andre Breton, Marcel Duchamp, integrando-se ao movimento surrealista.
Em 1941, realizou sua primeira exposição individual, nos Estados Unidos. Lá, conviveu intensamente com Duchamp, Dalí e Max Ernst, entre outros.
Assim escreveu André Breton sobre a exposição de Maria, em Nova York, em 1947:
"[. . .] não era nada menos que o Amazonas, que cantava nas suas obras, que tive a felicidade de tanto admirar, em Nova York, em 1943. Cantava com todas as suas vozes imemoriais a paixão do homem, do nascimento até a morte, tal como souberam condensá-la em símbolos mais envolventes que todos os outros [. . .] Maria soube captar, como ninguém, na fonte primitiva, de onde ela emana, asas e flores, sem nada dever à escultura do passado ou do presente [. . .]"

Tarsila do Amaral (1886 - 1973)


Em 1922 , quando vivia na Europa, Tarsila teve uma tela sua admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses.
Em 1923 tomou contato com os modernistas que viviam na Europa. Neste mesmo período, deu início à pintura "pau-brasil", de cores fortes e temas brasileiros.
Em 1928 pintou o "Abaporu", que deu de presente para Oswald de Andrade. Foi a partir deste presente que surgiu o Movimento Antropofágico.


Fonte:http://www.educacaopublica.rj.gov.br/cultura/artes/0015_01.html


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