CARMAS IMAGINÁRIOS - ERMANCE DUFAUX/WANDERLEY S.OLIVEIRA

Carmas Imaginários

 Carma = ação.
                Tomou a conotação cultural-religiosa de destino traçado e imutável, servindo para designar as coisas ruins que podem acontecer a alguém em ração de erros perpetrados em outras existências carnais.
                Costuma estar associado ao sofrimento ou algo que não aceitamos e somos obrigados a tolerar, por tratar-se de um débito que assumimos antes de renascer fisicamente.
                Assinala-se que o sentido existencial da reencarnação é pagar dívidas, resgatar crimes, construindo assim um enfoque pessimista e aterrorizante para a filosofia espírita em função de interpretações errôneas ao sabor do desamor e da punição. A pior conseqüência dessa forma de entendimento é o cultivo da dor como mecanismo de evolução e crescimento, gerando um clima de tristeza regado pela cultura do não merecimento. Diz-se que é necessário tolerar com resignação todas as provas e adota-se uma postura de incondicional passividade ante as lutas, usando de tolerância orgulhosa ante as infelicidades da vida.
                Entre pessoas que vivem nesse regime, a dor assume a feição de um troféu importante de se exibir, e passa a ser heróico falar da quantidade de dificuldades para dar a impressão do tamanho do carma. É um fenômeno comportamental sui generis, porque, em verdade, é mais uma faceta da vaidade que teima em se manifestar ostentando a elevação espiritual que logrará essa criatura tão logo ao desencarnar, já que se convencionou a idéia de que quanto mais sofre, mais espiritualizado estará.
                Essa postura de resignação passiva é atavismo religiosista proveniente da formação dos últimos milênios, na qual estipulou-se o conceito do eu pecador na desvalorização do homem perante Deus e o mundo, inserindo a culpa e a ausência de méritos como os valores a serem cultuados.
                Os reflexos desse estado psicológico fazem-se sentir através do perfeccionismo, da autopunição, das cobranças exacerbadas e da inaceitação de si mesmo.
                Existem muitos corações respirando nesse regime de dor como fonte de salvação que se encontram revoltados, inconformados, odientos e prestes a cometer um mau ato, alimentando a infeliz concepção de que estão queimando seus débitos esforçando-se para manterem a resignação dentro dessa perspectiva de passividade plena na espera de que Deus e os bons espíritos venham mudar as coisas.
                São carmas imaginários, a representação mental distorcida de realidade. Uma situação que amplia o sofrimento do homem por ausência de sensatez e de amor a si mesmo. São imaginários, porque nem sempre correspondem aos verdadeiros lances de aprendizado projetados antes das reencarnações, acumulando dores voluntárias para seus cultores por imaginar que todos os problemas pelos quais passam têm origem em desluzes cometidos em outras existências corporais.
                Em uma análise feita daqui para o mundo físico, constatamos que pelo menos 2/3 dos sofrimentos humanos provém da imprudência e de escolhas mal feitas, não sendo real atribuir a outras existências esse uso do livre-arbítrio. O discernimento poderá comprovar essa realidade.
                Além da improbabilidade real de muitos fatos estarem submetidos à Lei de Causa e Efeito, devemos considerar que a finalidade do sofrimento é aprender, e se mantivermos uma resignação de fachada sem atingir o homem no seu orgulho, e nos seus interesses materiais, de nada nos valerá a dor, causando ainda muitos problemas na vida imortal.
                Se continuarmos ao lado dessa ou daquela pessoa em nome de carmas originados de um passado suspeito e não confirmado, estaremos trabalhando pela nossa infelicidade, apenas suportando – tolerância estática - , quando o propósito Divino das provações é o aprendizado – resignação ativa.
                Se nos mantivemos nessa ou naquela posição social por carma, em decidida preguiça de melhorar, estaremos adiando uma provável opção de Deus em nosso favor por não agirmos para sair das situações incômodas.
                Isso não nos deverá em hipótese alguma incentivar as decisões de fuga e abandono dos compromissos, porque, em verdade, estaremos assim fugindo de nós próprios, transferindo para os novos relacionamentos ou lugares as mesmas mazelas anteriores.
                Resignação sim, mas ativa e otimista. Tolerância construtiva nos relacionamentos para que haja crescimento. Esforço pessoal no campo social para que nos credenciemos a maiores responsabilidades e benefícios.
                Agüentar por agüentar, sofrer por sofrer é ausência de consciência nas provas e adiamento de soluções.
                Suportar por suportar é perda incalculável. Suportar trabalhando para vencer e aprender é solução a caminho.
                Se estamos na dor, precisamos entender seus alvitres, suas indicativas em favor de nosso aprendizado, a fim de sairmos da lamentável condição de vítimas cármicas de dores que poderíamos superar.
Do livro: MEREÇA SER FELIZ – Superando as ilusões do orgulho

Wanderley S. de Oliveira – Espírito Ermance Dufaux

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