O REI E O MENDIGO ( RIQUEZA X POBREZA )


O REI E O MENDIGO  ( RIQUEZA X POBREZA )

Pobreza não é sinônimo de humildade ou riqueza de perversidade. Riqueza e pobreza são estágios da evolução redundantes das necessidades cármicas do ser humano. A rigor, essas duas provas não devem ser priorizadas, manifestando-se em função do desejo, da lei dos ciclos e das desigualdades entre os seres humanos que os levam a percorrer situações características.

Havia num reino distante um rei generoso e um mendigo revoltado, que o imaginava privilegiado. O rei, porém, tinha formação humanista e cuidava zelosamente para que todos vivessem bem. Semanalmente, fazia dfistribuir por intermédio de um servo fiel generosas esmolas, que tirava de seu próprio bolso, para os mais infelizes, beneficiando inclusive o mendigo.  
O monarca instituiu vários programas sociais, através dos quais a maioria das pessoas carentes do reino encontrou oportunidade de trabalho. Mas o mendigo resmungão preferiu manter-se onde estava, acreditando que não precisava fazer esforços.
Passou-se o tempo e quis a Providência Divina que o rei e o mendigo deixassem a vida física no mesmo dia e, por um momento, se atraissem antes de partirem para as suas respectivas regiões de consciência.
Surpreso, o mendigo verificou que o rei estava iluminado e assistido por um Anjo. Dando asas à sua revolta, resolveu interpelar o mensageiro divino, assim falando:
- Por que encontro-me nesta situação, eu que fui carente de tudo, enquanto este (apontando para o rei) foi um privilegiado.
Atencioso, o Anjo ouviu as suas queixas e respondeu:  
- Caro amigo, desconheces o teu passado e, por isso, te julgas injustiçado. Certamente não é invejável viver como mendigo, mas, o que ignoras é que a situação contra a qual te revoltastes foi consequência da tua falta ao compromisso do dever. 
- Não há nenhum privilégio. Explicou o Anjo. A Lei determina que recebamos conforme dermos. Cada um tem um dever a cumprir. E do ponto de vista espiritual, uma coroa de rei pode pesar mais na consciência do que o barrete de um mendigo.
- Não disse o nosso Divino Mestre que devemos procurar em primeiro lugar o reino de Deus com toda a sua justiça, que tudo o mais nos seria acrescentado?...  Então verifica onde tropeçastes?
O Espírito do mendigo ficou curioso e dispôs-se a escutar mais. 
- Fica sabendo que não foi só tu tiveste problemas. O rei, também, os teve, vivendo atribulado por inúmeras preocupações, de tal monta queele varava noites insones pensando na solução das mesmas enquanto dormias tranquilamente nos abrigos que ele mandou construir.
- Acresce também que, de certa forma, fostes mendigo por opção, pois desprezastes todas as oportunidades que Deus colocou em teu caminho.
O Espírito do ex-mendigo surpreendeu-se com essa constatação. E o Anjo prosseguiu:
- Colheste o que plantaste. Fostes sovina e não destes apoio a ninguém. Quanto ao rei, sempre se mostrou generoso. Em uma existência anterior, relegaste tua família ao infortúnio, dedicando-te a uma vida de dissipação, enquanto o rei foi um trabalhador incansável e bom chefe de família.
- Fostes privado de constituir família, mas, para servir melhor ao seu povo, o monarca foi forçado a um casamento de estado, sem qualquer consideração pelos seus próprios sentimentos.
- Dispunhas de liberdade para ir aonde querias, mas o rei tinha de submeter-se a um rígido protocolo, que mal lhe dava um pouco de privacidade. De tal forma viveu o rei prisioneiro de seus compromissos que mal não tinha tempo de se distrair, vivendo cercado de áulicos e bajuladores, ávidos de tirarem vantagem de qualquer situação. 
- Nunca te dispuseste ao perdão de coração, mas o rei, dando provas de compaixão, comutou todas as penas de morte que podia. 
- No final da existência, apesar de ter feito tudo o que dele se esperava, o rei lamentou não ter podido fazer mais pelo seu povo, pedindo perdão a Deus por isso. Quanto a ti, meu amigo, consentistes que o ódio e a inveja avassalassem teu coração, esquecido de que nem todos podem ser reis, mas todos podem ser bons.
Calou-se o Anjo por um instante e perguntou ao já descoroçoado mendigo:
- Que fizestes para ter vivido em deplorável carência e te arrojado à tão funesta revolta?...  
Voltou a calar-se o Anjo. Aturdido, o ex-mendigo, agora arrependido, interrogou aflito ao Anjo:
- E agora, poderoso Anjo, o que faço? Não me abandones à minha miséria moral. Em resposta, o emissário divino elevou seu coração em prece e falou:
- Vem conosco. Serás rei!
Consta que o ex-mendigo, consciente de suas fraquezas, ficou apavorado diante da tremenda responsabilidade que teria de assumir

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