A PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS - CAMILLE FLAMMARION



A Pluralidade dos Mundos Habitados


Camille Flammarion 


Da Antiguidade à Idade Média 
 
A história da pluralidade dos mundos começa com a história da 
inteligência humana ascendeu a esta crença em primeiro lugar? - Os árias. - Os celto-gauleses e os druidas. - Opiniões da antiguidade histórica. - egípcios -. Seitas gregas. - A Lua, segundo Orfeu. - Escola jônica; Anaxágoras. - Os pitagóricos; harmonia do mundo. - Xenófanes e os  eleatas. - Os cento e oitenta e três mundos de Pétron de Hímera. - Os platônicos. - A escola de Epicuro; Lucrécio. - Primeiros séculos do 
cristianismo. 
 
"Todo esse universo visível", dizia Lucrécio, há dois mil anos atrás, 
"não é o único na natureza, e devemos crer que haja, em outras regiões do espaço, outras terras, outros seres e outros homens." Abrindo, com estas judiciosas palavras do antigo poeta da natureza, considerações que só devem ter por base dados positivos da ciência moderna, temos menos a intenção de nos apoiar no testemunho da antiguidade, para fundar nossa doutrina, do que de resumir numa epígrafe o assentimento da maioria dos filósofos quanto a este assunto. Todavia, antes de demonstrar pelo ensinamento da astronomia a habitabilidade real e manifesta dos mundos 
planetários, achamos que não será inútil acompanhar, ao longo de umas tantas páginas, a história da pluralidade dos mundos, e mostrar assim que os heróis do saber e da filosofia se alinharam com entusiasmo sob o estandarte  que vamos defender. - Nosso sábio mestre Babinet escreveu, precisamente sobre o tema que nos ocupa, que não é grande recomendação para uma  teoria ter sua origem na antiguidade, porque a opinião contrária poderia pretender à mesma vantagem. Não compartilhamos desta opinião; pois se é 
verdade, como veremos, que nossa doutrina foi ensinada pela maioria dos grandes filósofos conhecidos, é pouco provável que estes mesmos filósofos, não sabendo o que diziam, tenham avançado o pró e o contra das idéias que  seus historiadores transmitiram à posteridade. Se alguns autores antigos não ascenderam a esta intuição, são aqueles cujas obras não tiveram por objeto 
o estudo do céu. - Portanto, achamos bem pertinente esperar que ao 
reconhecer que, longe de contar com raros campeões espalhados por todas as eras, esta causa teve como defensores gênios eminentes na história das ciências, constataremos; que uma tal doutrina não é devida ao espírito de sistema nem a opiniões efêmeras de seitas e de partidos, mas é inata na alma humana, que, em todas as eras e em todos os povos, o estudo da  natureza a desenvolveu na mente humana. Será possível então, sem o receio de perder tempo com uma ocupação pueril, indigna dos trabalhos do pensamento, dedicar-se às contemplações grandiosas que mostrarão o homem relativamente a toda a natureza, e que farão conhecer o verdadeiro lugar que ocupa na ordem das coisas criadas. É este o objetivo eminente de nossos trabalhos sobre a pluralidade dos mundos". 



CAMILLE FLAMMARION
A PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

OBRA RARA TRADUZIDA

Título Original em Francês
Camille Flammarion - La pluralité des mondes habités
Éditeurs Librairie Académique
Paris (1868)

Tradutores do Francês para o Português
Emilie, Picard, Henzo
Centre D'Études Spirites Léon Denis

Trechos da obra:

Eis aí o último refúgio dos que ainda não desejariam a Pluralidade dos Mundos.
Que aquele que se acredita grande o bastante para se colocar diante da obra divina e afirmar esta monstruosa interpretação, e que é insensato o bastante para atirar tal sacrilégio à face do Ser supremo, se levante e aceite a responsabilidade de seu ato. Mas que aquele que compreendeu a verdade da criação e lhe admira a grandeza se incline diante dela e proclame conosco a doutrina da Pluralidade dos Mundos.
Esta verdade nos precipitou num abatimento profundo e nos cobriu de obscuridade, nós que nos acreditávamos tão grandes na cena do mundo; nosso pedestal faustuoso dissipou-se como um sonho, e nós nos vemos bem pequenos e bem miseravelmente perdidos dentro do turbilhão das coisas.
Mas se a doutrina da Pluralidade dos Mundos, com uma mão, mostrou a verdade de nossa presunção ridícula e nos abriu os olhos nas trevas, é para elevar-nos magnificamente com a outra, libertando nossas almas dos liames grosseiros que as prendiam à Terra.
E eis que o brilho das regiões imortais as ilumina, essas almas até então tão cheias de inquietudes; eis que elas vão tomar seu impulso rumo às esferas amadas. Elas reconheceram sua inferioridade de agora na Ordem geral; mas entreviram a grandeza de seu destino.
Elas se viram bem baixo; mas ao mesmo tempo, sentindo suas almas fremirem, elas contemplaram com amor as regiões superiores; pois, ao infinito de suas aspirações, a Pluralidade dos Mundos abriu o infinito do Universo.
Que mais desejam além disso? Elas estão seguras em suas doces e muito tímidas esperanças; elas são saciadas em seus mais ardentes desejos; elas são satisfeitas em seus votos mais caros. Oh! Elas compreenderam toda a grandeza da doutrina, e a ela sentem-se instintivamente ligadas.
Retornaremos agora à sombra onde dormíamos ontem, e nos deixaremos cair de novo nos abismos da dúvida? E lá no alto que a luz brilha: fecharemos os olhos para não vê-la? Os astros falam, e sua palavra eloqüente desce até nós permaneceremos surdos a sua voz?
Sejamos humildes para merecer compreender o ensinamento da natureza, mas sejamos sinceros quando o tivermos compreendido. Reconheçamos quem nós somos, e o proclamemos bem alto.
Se foram necessários sessenta séculos e mais, antes que as ciências exatas pudessem aportar os elementos de nossa certeza, esclarecer-nos quanto à nossa posição e nos permitir chegar ao conhecimento de nosso destino; se foi necessária essa longa e santa incubação dos anos para animar com o sopro de vida nossa bela doutrina e afirmar sua verdadeira grandeza; oh! guardemos preciosamente essa doutrina, como uma riqueza da alma; consagremo-la ao Deus das Estrelas — e quando, nas noites sublimes, nos envolvendo de magnificências, luzirem no oriente suas constelações diamantinas e, no céu sem limites, mostrarem seus misteriosos brilhos... através da imensidão dos mundos, em meio aos céus estelíferos, sob o véu argênteo das nebulosas longínquas, nas profundezas incomensuráveis do infinito, e até para além das regiões desconhecidas onde se desenvolve o eterno esplendor... saudemos, meus irmãos, saudemos todos: são as Humanidades nossas irmãs que passam!
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"Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar"
( S. João, cap. XIV, vv. 1 a 3.)

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