O QUE É UM BOM CORAÇÃO E COMO CULTIVAR O SEU PRÓPIO - JETSUNMA TENZIN PALMO

O que é um bom coração e como cultivar o seu próprio (bom coração), por Jetsunma Tenzin Palmo

Uma das primeiras mulheres a ser ordenada monja na tradição do Budismo Tibetano, Jetsunma Tenzin Palmo, que virá ao Brasil (Recife) em maio próximo, tem três grandes registros gravados que falam sobre o bom coração – o vídeo “The Good Heart” (Australia, 2000), o DVD “Opening of the Heart” (India, 2000), o CD duplo “Practicing the Good Heart” (Australia, 2000) e o livro “Into The Heart of Life” (Australia, 2011). É deste último que vem o trecho traduzido abaixo, que fala sobre a capacidade de cultivar um bom coração e de guardar bem a mente – um tema que às vezes confunde as pessoas, mas o que é o coração, o que é a mente, e o que seria um bom ou mau coração, afinal?
A metáfora da mente como uma companheira de viagem (que nem é tão metáfora assim) é ótima; e não qualquer companheira, mas uma companheira problemática. Com nosso “distúrbio obsessivo-compulsivo delusório” de pensar, como cunhou Alan Wallace, muitos de nós vivemos nossos dias como longas viagens com essas companheiras descontroladas. Lembro de um texto onde o autor (não encontrei a referência, se encontrar volto aqui e atualizo) contava que não conseguimos dar uma simples volta num parque sem sermos acompanhados por 80 ou 100 mil pensamentos (ou talvez até 150 mil, não lembro o número exato, mas também qual a diferença, se é desse tamanho?). Não é uma questão de negar o pensar, mas de perceber e se desidentificar, para então entronar o bom coração.
Para mais informações sobre a vinda de Tenzin Palmo ao Brasil, de 9 a 13 de maio em Recife, visite a página especial do evento na Drukpa Brasil.

Segue o trecho de “Into The Heart of Life“:

“Quaisquer que sejam nossas circunstâncias externas, no fim das contas a felicidade ou infelicidade depende da nossa mente. Considere que uma companhia com quem nós ficamos, continuamente, dia e noite, é nossa mente. Você realmente gostaria de viajar com alguém que ficasse reclamando o tempo todo e ficasse dizendo quão inútil você é, quão sem jeito você é, alguém que lhe lembre de todas as coisas horrorosas que você já fez? Ainda assim, para muitos de nós, esse é o jeito que vivemos – com esse crítico incansável, difícil de agradar e sempre nos rebaixando que é nossa mente. Ela ignora totalmente nossas qualidades e é genuinamente uma companhia muito triste.

A questão é que quando nossa mente está cheia de generosidade e pensamentos de bondade, compaixão e contentamento, a mente se sente bem. Quando nossa mente está cheia de raiva, irritação, auto-piedade, ganância e apego, a mente se sente doente. E se nós realmente investigarmos isso, podemos ver que temos a escolha: podemos decidir amplamente que tipo de pensamentos e sentimentos irão ocupar nossa mente. Quando pensamentos negativos aparecem, podemos reconhecê-los, aceitá-los e deixá-los ir. Podemos escolher não segui-los, o que só colocaria mais lenha na fogueira. E quando pensamentos bons vêm à mente – pensamentos de bondade, cuidado, generosidade e contentamento, e um senso de não segurar mais as coisas tão fortemente, podemos aceitar e encorajar isso, mais e mais. Podemos fazer isso. Somos o guardião do precioso tesouro que é nossa própria mente.

Um coração genuinamente bom é fundamentado no entendimento da situação como ela realmente é. Não é uma questão de sentimentalismo. E um bom coração também não é uma questão de sair por aí num tipo de euforia de falso amor, negando o sofrimento e dizendo que tudo é benção e alegria. Não é assim. Um coração genuinamente bom é um coração que é aberto e é ávido por compreensão. Ele ouve as tristezas do mundo. Nossa sociedade está errada ao pensar que a felicidade depende da satisfação dos nossos próprios desejos e vontades. Por isso nossa sociedade está tão miserável. Somos uma sociedade de indivíduos, todos obsessivos com o esforço por nossa própria felicidade. Estamos desconectados de nosso sentido de interconexão com os outros, estamos desligados da realidade. Porque na realidade estamos todos interconectados.”
~ Jetsunma Tenzin Palmo, trecho do livro “Practicing The Good Heart”,  cap.9

          Por Nando Pereira 

Fonte:http://dharmalog.com/2014/04/08/bom-coracao-jetsunma-tenzin-palmo/

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