Destino não existe. Querem mudar suas vidas? Mudem suas mentes.
A Energia do Hábito
Suponha que temos o hábito de caminhar muito rapidamente, muito rápido. De repente, quando chegamos a Plum Village, somos convidados a desacelerar. Achamos que não é agradável. Uma vez que todos estão andando devagar, você tem que diminuir o ritmo e não se sente feliz. Portanto, sua prática é o motivo de seu sofrimento. Caminhe lentamente, sim, mas ande de tal maneira que te faça feliz, relaxado e calmo, este é o ponto. Temos que perguntar como caminhar lentamente e ainda assim não sofrer, desfrutando da caminhada. Portanto, isto requer algum conhecimento, alguma ideia, alguma prática para poder desfrutar da meditação andando.
Você está diante de uma espécie de hábito, o hábito de caminhar muito rapidamente, correndo. Esse hábito está enraizado profundamente em nossa vida diária. Talvez nossos ancestrais costumassem caminhar muito rapidamente e nos transmitiram essa maneira de caminhar.
Talvez muitas gerações acreditassem que a felicidade está em algum lugar lá no futuro. Temos que ir para esse lugar a fim de sermos felizes. A felicidade não é possível agora, aqui. Esse tipo de crença, consciente ou inconsciente, tornou-se muito forte em nós. Acreditamos que a felicidade é impossível aqui e agora. É por isso que existe um tipo de energia nos empurrando para correr, correr por toda a nossa vida, em busca de um tempo, um lugar, quando a felicidade será possível.
Assim, como entendemos que fomos pegos nesse tipo de hábito, sempre correndo, estamos determinados a parar, para transformar esse hábito e aprendermos como dar passos que possam nos permitir tocar a vida profundamente em cada momento. Com esse tipo de aprendizado e prática, seremos capaz de andar mais devagar e vamos começar a desfrutar do toque da terra com nossos pés, combinando os nossos passos com a nossa inspiração e expiração. Nós apenas nos sentimos maravilhosos ao andar assim, andando sem qualquer intenção de chegar. Isso é novo para nós. Temos que aprender a desenvolver o novo hábito. E à medida adquirimos a energia do novo hábito, vamos passar a desfrutar de um passeio.
Assim, a prática é reconhecer o velho hábito, o hábito negativo, o mau hábito, reconhecer a energia de nossos hábitos e sorrir para eles. E também cultivar o hábito novo, o bom hábito, até que o novo hábito começe a produzir energia. Quando temos um novo tipo de energia, não temos que fazer qualquer esforço, apenas desfrutaremos ouvir o sino, apenas desfrutamos o caminhar lentamente, apenas desfrutamos o comer em silêncio, porque gostamos disso. De repente, a prática torna-se agradável, alegre, nutritiva.
Seria absurdo se nós seguíssemos uma prática que nos faz sofrer. O Buda sempre nos lembra de seu Dharma, sua prática deve ser agradável no começo, no meio, no final. Assim, a prática deve ser linda, deve ser agradável, deve ser alegre, se você está sentado ou em pé, comendo ou bebendo. se você está cozinhando ou limpando. Cozinhar e limpar devem ser feitos de tal forma que possam lhe proporcionar paz, alegria e nutrição.
Nós sabemos o quão forte, quão poderosa é a energia de hábito. Notamos que há momentos em que não somos nós mesmos, não podemos ser nós mesmos. Somos levados pela nossa energia de hábito. Não queríamos dizer o que dissemos, sabíamos que fazendo isso iríamos criar danos em nosso relacionamento com a outra pessoa. Mas, finalmente, dissemos. Nós sabíamos que não deveríamos fazê-lo. Sabíamos que se fôssemos em frente criaríamos danos em nosso relacionamento. Mas, finalmente, fizemos. Dissemos que era mais forte do que nós. O que era mais forte? A energia de hábito. Por isso sentimo-nos impotentes. Nós nos sentimos muito fracos de forma que não podemos lidar com a força do hábito que é muito forte.
E depois de ter dito aquilo, depois de ter feito aquilo, lamentamos. Nós sentimos muito, nos condenamos. Às vezes, fazemos uma forte promessa que da próxima vez não vamos fazer novamente. Não vamos dizer outra vez. Mas na vez seguinte, fazemos de novo, dizemos outra vez. A energia de hábito é muito forte. É por isso que temos de ser capazes de praticar para aprender formas de lidar com essa energia de hábito, a fim de transformá-la.
O Buda não recomenda lutar contra sua energia de hábito. Ele recomendou a prática de reconhecer esses hábitos. A prática de reconhecer, se a incluirmos em nossa prática diária, irá tornar-se um outro tipo de hábito, um bom hábito. Você é capaz de reconhecer tudo o que está acontecendo dentro de si mesmo, incluindo a energia de hábito que você considera ser mais forte do que você. Reconhecendo assim, não significa que você tem que sofrer porque tem esse hábito, pois esse hábito pode não ter sido aprendido durante a sua vida. Pode ser um tipo de energia de hábito transmitida por várias gerações de seus antepassados e você só a recebeu. Você tem que reconhecer que ela está presente e tentar transformá-la para si mesmo, para seus pais e para seus antepassados.
Cerca de dez anos atrás, visitei vários estados da Índia para oferecer retiros e palestras de Dharma para as comunidades da sociedade Ambedkar, composta pelos ex-intocáveis. Um amigo dessa comunidade me ajudou a organizar a minha turnê. Um dia eu estava sentado com ele em um ônibus e estava curtindo muito a paisagem do lado de fora. Estava muito feliz por estar na Índia, oferecer retiros e palestras de Dharma e poder desfrutar das pessoas e da paisagem. Quando eu olhei para ele, que estava sentado à minha direita, percebi que não estava relaxado. Ele estava muito tenso. Ele tinha a energia de hábito de se preocupar muito.
Eu sabia que ele estava tentando o máximo para fazer a minha viagem agradável, então eu lhe disse: “Meu querido amigo, eu sei que você está tentando muito fazer minha visita agradável, mas eu gostaria de dizer-lhe que estou muito feliz agora, é muito agradável sentar-me aqui, eu estou desfrutando muito disso, por que você não se senta e se diverte também? Não há nada para se preocupar agora. ” Ele disse, “OK” e se sentou novamente. Eu continuei a apreciar as palmeiras e outras coisas e poucos minutos mais tarde, eu me virei e olhei e ele estava exatamente como antes, muito tenso, muito rígido.
Eu sei que não é fácil. Quando se pertence a uma casta discriminadas por quatro mil, cinco mil anos, você tem que lutar dia e noite. O hábito de lutar dia e noite estava lá no fundo dele. Ele havia sido transmitido por várias gerações de antepassados.
Lá está ele com sua forte energia de hábito, lutando dia e noite, não sendo capaz de relaxar por um segundo, por um minuto. Claro que podemos ajudá-lo a relaxar, e entender que não há nada para se preocupar, que é possível aproveitar a vida no momento presente.
Ele é perfeitamente capaz de entender isso e praticar, mas não dura. Em apenas alguns segundos ele se permite ser pego novamente por essa forte energia hábito. Portanto, não faz sentido culpar a si mesmo porque você tem essa energia hábito. Você sabe que essa energia hábito não é algo que você criou para si mesmo, ela tem sido transmitida. Você reconhece seus antepassados que sofreram. Você sabe que agora tem uma oportunidade de transformar essa energia para si, para os seus antepassados e para os seus filhos.
Também cerca de dez anos atrás, havia um jovem que veio da América do Norte para Upper Hamlet para praticar e ficou duas, três semanas conosco muito feliz. Ele estava cercado por irmãos e irmãs que sempre praticaram a meditação andando, meditação sentada, trabalho na cozinha com atenção plena, e assim por diante. Um dia, ele foi convidado por amigos para ir ao mercado em St. Foy La Grande para fazer algumas compras, porque era Dia de Ação de Graças e todo mundo foi convidado a fazer um prato, cozinhar algo especial do seu país, para oferecer aos nossos antepassados. Os chineses iriam cozinhar um prato chinês, os holandeses iriam oferecer um prato holandês, e assim por diante. Ele estava fazendo algo com os outros americanos então ele foi para St. Foy La Grande fazer compras.
Enquanto comprava percebeu que ficou agitado, que estava ficando apressado. Ele ficou surpreso, porque durante a sua estada de três semanas em Plum Village nunca havia se comportado assim. Ele estava cercado pela Sangha, e sempre foi consciente e pacífico. A energia da sanga o ajudou a se manter consciente e pacífico, mas nesse momento ele estava sozinho. De repente, sem a Sangha a sua volta a velha energia hábito surgiu. Como ele tinha praticado por três semanas, tinha também um outro tipo de energia, a energia de plena consciência. Ele era capaz de reconhecer a vinda do velho hábito. Ele também viu que tinha herdado o hábito de sua mãe, porque ela sempre foi assim, sempre estava com pressa.
Então ele respirou e disse: “Olá, mamãe”. De repente, a energia de hábito não estava mais presente. Ao reconhecê-la, a energia vai perder o seu poder sobre você. Ele vai voltar para a profundidade de sua consciência, em seu corpo, à espera de circunstâncias adequadas para se manifestar novamente. Ele apenas respirou e disse: “Olá, mamãe”, reconhecendo o hábito como era. “Minha mãe é sempre assim.” Então, ele ficou livre do hábito durante a prática de inspirar e expirar. Ele sabia que sem a Sangha em volta, ainda estava fraco e tentou seguir sua respiração conscientemente. Ele terminou suas compras e vei nos contar a história.
Você pode reconhecer a sua energia de hábito, porque tem a energia de plena consciência, um tipo de energia dentro de você que faz o trabalho de reconhecimento. Plena consciência é a energia que é capaz de reconhecer o que está acontecendo no momento presente. Quando você bebe, sabe que você está bebendo. Quando você respira e sabe que está respirando, a energia da consciência está presente. Nós chamamos isso de plena consciência da respiração – Anapanasati. Quando você anda, e sabe que está andando, a plena atenção está lá. É a chamada atenção ao andar.
Quando você come e sabe que está comendo, que está mastigando, então a plena atenção está presente, chamamos isso de plena consciência de comer. Tentamos estar conscientes em cada ato que fazemos, em cada momento da nossa vida diária e essa é a melhor maneira de cultivar o segundo tipo de energia, a energia de plena consciência, de plena atenção.
(Do livro de Thich Nhat Hanh – “Good Citzens” – Tradução Leonardo Dobbin)
Destino?
Monge Genshô – Então eu tenho um papel e esse papel eu não posso mudar? Se eu tiver um papel que diz o que vai acontecer e eu não possa mudar, então não adianta eu fazer nada, está tudo escrito, tanto faz olhar para os lados ao atravessar a rua, se meu destino for ser atropelado serei, se não for não serei… Esse é um fatalismo inaceitável. Eu posso mudar minha vida a qualquer instante, se eu quiser. Pode custar muito esforço, mas eu posso. Então tudo é possível. Aceitar que alguém tenha um papel que lhe foi atribuído e que não possa escapar dele, é acreditar em destino e ser fatalista. Isso é abrir mão da liberdade do homem. Nós temos, mesmo que limitada, uma certa liberdade. Quem impede qualquer um de vocês de levantar e sair agora? Quem impede ao monge Jushin de pegar seu rakusu entregar e dizer – “Eu não sou mais monge”? Ninguém.
As prisões são criadas por aquilo em que você acredita. Você crê numa determinada idéia, fica prisioneiro dela. Mas você pode mudar de idéia e não estará mais prisioneiro. Nós acreditamos na infelicidade. Você pode falar para uma pessoa que está deprimida, que é infeliz: “Você é infeliz mesmo, de verdade”? Eu tinha uma amiga que estava ficando cega, tinha um tumor na hipófise que estava comprimindo o nervo ótico. Ela é uma artista plástica, dependente dos olhos. Ela contou que chegou em casa, fechou os olhos e andou pela casa para sentir como seria ser cego. E achou aquilo terrível. Então numa operação, conseguiram tirar o tumor e o risco de cegueira desapareceu. Nesse momento a pessoa sente o que? Imensa felicidade, porque teve a perspectiva do que seria ficar cega, para uma pessoa para quem a visão era muito importante.
Então as pessoas muitas vezes são infelizes porque não percebem o quanto são felizes. O Michel pensou que tinha um câncer, mas, recebeu a notícia que era benigno. Depois da operação ficou esperando dez dias pelo resultado. Quando saiu o resultado ele escreveu – “Esse é o dia mais feliz da minha vida”. Certamente essa felicidade já se esvaiu, foi absorvida. Não existe mais a ameaça da morte. Então em vez de morrer em alguns poucos anos, tinha de repente a perspectiva de viver mais uns quarenta anos.
Texto publicado em http://opicodamontanha.blogspot.com.br por Monge Gensho
Estava escrito?
Pergunta: A pessoa deseja mudar seu destino através de sua vontade, mas às vezes a gente ouve falar que nascemos com um destino e assim será até morrer. A simples vontade é suficiente para mudar isso? Não falo só da iluminação, mas de tudo. Como fazer para que essa vontade modifique verdadeiramente sua situação?
Monge Genshô – Primeiro temos que compreender que destino não existe. Essa coisa de que “está escrito e assim será”, não existe. É frequente ouvir as pessoas dizerem quando alguém morre, que quando chega a hora não tem jeito ou então “foi Deus quem quis”, todas essas idéias são profundamente erradas. Se algo estivesse escrito e houvesse destino, não haveria responsabilidade alguma por parte das pessoas. Por exemplo, um criminoso poria a culpa no destino pelo seu crime e diria não ser possível evitar o ato cometido, pois já estava escrito. Não haveria culpa. Por outro lado também não haveria o mérito, por exemplo, alguém que faça algo muito bom, também estava escrito que ele faria isso, mérito zero. Não existiria nada de bom ou ruim, seríamos como autômatos seguindo uma peça já escrita por alguém, na verdade escrita muito mal, não é verdade? Pois este mundo está cheio de sofrimentos.
O que existe nas pessoas é carma, mas o que é carma? Carma são as energias de hábito e o acúmulo das consequências dos nossos atos pregressos, ou seja, aquilo que causamos. Eu tendo a agir em uma determinada situação de acordo com meu carma. Uma pessoa que seja muito brigona e que nada possa ser dito que ela já começa a se exaltar, o que é isso, destino? Não, é carma. Ela tem esse impulso e acredita que essa seja a maneira de resolver seus problemas, é possível mudar? Essa é tua pergunta. Claro, basta que mude sua mente. É fácil mudar a mente? Não, para mudar a mente precisa um treinamento, por exemplo, meditação. Para que praticamos meditação? Para perceber o que surge em nossa mente. Por isso não desperdicem todo o sofrimento de ficar sentados durante quarenta minutos de frente para a parede. Percebam o que surge em suas mentes, isso que surge é o retrato de seus condicionamentos mentais. Querem mudar suas vidas? Mudem suas mentes. Mudando suas mentes, seus sentimentos e ações mudarão, até mesmo o mundo muda, pois interpretamos o mundo de acordo com nossa mente. Como no exemplo do ciúme, porque uma pessoa sente ciúme e sofre? Por um condicionamento mental, porque dentro de sua mente existe a crença num “eu”, existe a crença de posse e desejos. É muito trabalhoso e difícil, mas toda mente pode ser mudada. Se alguém transformar totalmente sua mente e passar a ter sentimentos de alegria, compaixão, paciência e equanimidade, será um Buda. Terá condições e comportamento de um Buda.
A primeira idéia então, é que destino não existe, tudo é causa e consequência. Tudo tem um motivo ou uma causa anterior. Vocês estão bebendo chá porque alguém colocou água no fogo e fez chá, chás não surgem do nada. Na minha vida aconteceram grandes sofrimentos, mas quando olho para trás não enxergo culpados, eu fiz por onde me meter em situações das quais surgiram aqueles sofrimentos. Ninguém, além de mim, tem culpa. Temos que ter vontade de mudar nossas vidas e somos capazes de fazê-lo. Esse é o ensinamento do budismo, não existem Deuses lá fora ajudando os homens, se houvesse um Deus ajudando os homens na Terra seria necessário pedir? Se ele fosse um onipotente e se fosse bom, não haveria miséria ou sofrimento. Então mesmo que exista um Deus uma coisa é certa: ele não interfere no mundo. Só quem pode mudar nossas vidas somos nós mesmos. O budismo está baseado nesse tipo de raciocínios e não em crenças.
Texto publicado em http://opicodamontanha.blogspot.com.br por Monge Gensho
Mitos, metáforas, realidades
Muitas coisas que são crenças ou que são expressas através de mitologia são na verdade metáforas. Os mitos não são afirmações, mas sim metáforas e têm que ser entendidos desta forma. Se você conseguir ver os mitos como metáforas, irá aprender muita coisa. O Livro de Gênesis, por exemplo, tem a história do paraíso onde Adão e Eva viviam uma vida perfeita e Deus lhes disse para nunca comerem do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Mas, como sabemos, Adão e Eva comem da árvore e se descobrem nus, sentem-se envergonhados. Antes, eles eram inocentes e não tinham consciência do bem e do mal. Existem duas formas de ver essa história. Uma, é quando você vai a uma igreja e alguém lhe diz que isso realmente aconteceu, está escrito na Bíblia e se fizermos a contagem regressiva alcançaremos seis mil anos, portanto se alguém disser que a Terra tem mais que seis mil anos está mentindo. Isso é olhar o mito não como uma metáfora, mas sim como uma verdade incontestável. Mas o mito é belíssimo e diz que o homem era puro, não tinha consciência do bem e do mal assim como o pássaro sobre que o Léo perguntou. Quando ele come da árvore do conhecimento, descobre uma mente dual, o bem e mal, descobre a nudez e a malícia e, neste momento, ele perde o paraíso, é expulso. Na porta do paraíso é colocado um anjo para que ele não retorne. Mas ele não poderá voltar de qualquer forma, pois agora tem uma mente dual. E para o Budismo? Eu falei anteriormente: “os pássaros são verdadeiramente pássaros, os peixes são verdadeiramente peixes, só o homem não é verdadeiramente homem”. Por que não? Porque ele pensa e pensa em bem e mal, certo e errado, gosto não gosto, minha mente e outra mente e assim por diante. Por passar a pensar e pensar desta forma, perde o paraíso e a felicidade. Não consegue mais viver o momento presente como os peixes e pássaros, passando a pensar na morte, na finitude das coisas, nas coisas que possui e por essa razão ele se perde.
Por isso a instrução do Zazen é não pensar no passado ou futuro, certo e errado, bom ou ruim e culpa ou mérito. Apenas fique no momento presente, treinem isso agora porque essa é a mente que retorna ao paraíso. Isso é muito bonito, mas temos que entender as metáforas pode ser uma belíssima metáfora, mas se você ler como uma verdade explicita, estará cometendo a mesma ignorância dos fundamentalistas que interpretam os mitos como se fossem realidades.
Texto publicado em http://opicodamontanha.blogspot.com.br por Monge Gensho
Alimentando o lobo certo
Trecho do livro, “O Salto”, por Pema Chödrön.
Como seres humanos, temos o potencial de nos desemaranhar dos velhos hábitos e o potencial de amar e cuidar dos outros. Temos a capacidade de acordar e viver conscientemente, mas, como vocês já devem ter notado, também temos uma forte inclinação para ficarmos adormecidos. É como se estivéssemos numa encruzilhada continuamente escolhendo qual caminho tomar. De um momento para o outro podemos escolher ir para a claridade e a felicidade ou para a confusão e a dor.
A fim de fazer esta escolha habilidosamente, muitos de nós saímos em busca de vários tipos de práticas espirituais desejando que nossas vidas vão melhorar e encontrar a força para lidar com nossas dificuldades. Mesmo nessas horas parece crucial que tenhamos em mente o contexto mais sábio no qual fazemos escolhas de como viver: este é o contexto no qual está nosso querido planeta e a condição de pedra e rocha em que ele se encontra.
Para muitos, a prática espiritual representa uma forma de relaxar e de alcançar paz de espírito. Queremos ficar mais calmos, mais focados; e, com esta vida frenética e estressante, quem pode nos culpar? No entanto, temos a responsabilidade de pensar mais intensamente do que nesses tempos. Se a prática espiritual é relaxante, nos dá paz de espírito, isso é ótimo – mas será que esta satisfação pessoal está nos ajudando a nos dirigir ao que está acontecendo no mundo? A pergunta é: estamos vivendo de uma maneira que aumenta a agressão e o que nos faz auto centrados ou estamos contribuindo com uma sanidade mais do que necessária?
Muitos de nós nos sentimos muito preocupados com o que está acontecendo no mundo. Eu sei quão sinceramente as pessoas desejam que as coisas mudem e que os seres de todos os lugares fiquem livres do sofrimento. Mas, se formos honestos, temos alguma ideia de como colocar esta aspiração em prática quando acontece nas nossas próprias vidas? Temos alguma clareza de como nossas palavras e ações podem estar causando sofrimento? Estas sempre foram questões importantes, mas elas são muito mais nos dias de hoje. Esta é uma época em que nos desenredarmos tem muito mais a ver do que nossa própria felicidade.
Trabalhar em nós mesmos e nos tornarmos mais conscientes sobre nossas mentes e emoções pode ser a única maneira para encontrarmos soluções para o bem-estar de todos os seres e a sobrevivência da própria Terra.
Tem uma estória que foi muito divulgada alguns dias depois do 11de setembro de 2001 que ilustra bem o nosso dilema. Um avô nativo americano falava com seu neto sobre a violência e a crueldade no mundo e como elas surgiam. Ele contava que, dentro do seu coração, havia dois lobos lutando. Um lobo era vingativo e feroz e o outro era compreensivo e manso. O jovem perguntou ao avô qual lobo ganhou a luta dentro do coração dele. O avô respondeu, “Aquele que vencer será o que eu escolher alimentar.”
Assim, este é o nosso desafio, o desafio para a prática espiritual e o desafio para o mundo – como podemos treinar agora, não depois, como alimentar o lobo correto? Como podemos buscar a nossa inteligência inata para ver o que ajuda e o que fere, o que leva á agressão e o que oculta a nossa bondade de coração? Com a economia global caótica e o meio-ambiente do planeta em risco, com a guerra assolando e o sofrimento aumentando é hora de cada um de nós em nossas próprias vidas dar um salto e fazer qualquer coisa que pudermos para ajudar a mudar as coisas à nossa volta. Mesmo o menor gesto para alimentar o lobo certo ajudará. Agora, mais do que nunca, estamos nisso juntos.
Dar o salto é fazer um compromisso conosco e com a terra – fazer um compromisso de deixar para trás os rancores, não abandonar pessoas, situações e emoções que nos deixam desconfortáveis, não nos agarrarmos aos nossos medos, às nossas mentes fechadas, nossa dureza de coração, nossa hesitação. Agora é a hora de desenvolver confiança na nossa bondade básica e na bondade básica de nossos irmãos e irmãs desta Terra; hora de desenvolver a fé na nossa habilidade de abandonar nossas velhas maneiras de ficarmos parados e escolher sabiamente. Nós podemos fazer isso aqui e agora.
Entrevista com Monge Genshô
Fonte:http://www.budavirtual.com.br/destino-nao-existe-querem-mudar-suas-vidas-mudem-suas-mentes/
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