Leonardo Da Vinci: do gênio ao mito
Suas pinturas são icônicas, seus projetos e desenhos referências em diversas áreas, foi adorado por príncipes e reis. Pintor e escultor, Leonardo Da Vinci, realizou trabalhos e pesquisas nas áreas de arquitetura, ciências, matemática, engenharia, anatomia e botânica, além de música e poesia. Atividades que o transformaram no símbolo do homem renascentista. Quinhentos e sessenta anos depois de seu nascimento, sua imagem nunca foi tão cultuada e contemporânea.
Leonardo da Vinci, "Dama com Arminho".
Leonardo da Vinci (Anchiano, 15 de abril de 1452 – Amboise, 2 de maio de 1519), foi um elemento essencial do alto renascimento, aliando arte e ciência em cada obra. Aos vinte e oito anos, já recebia encomendas, nas quais demonstrava de maneira promissora suas habilidades e capacidade inventiva. Suas pinturas apresentavam uma criativa composição do espaço, assim como um refinamento nas cenas, até mesmo as mais simples – e inacabadas. Como Freud coloca: “Ele foi um homem que acordou cedo demais na escuridão, enquanto os outros continuavam a dormir.”
Leonardo da Vinci, "A Adoração dos Magos".
Leonardo da Vinci - estudo de embriões.
Sua fama e importância nunca declinaram ou se perderam pela história. Da Vinci sempre foi referência para os artistas que o sucederam, tanto na Itália quanto em toda a Europa. Menos de cem anos após a sua morte, Da Vinci já era reverenciado na obra de Giorgio Vasari - a primeira obra biográfica sobre artistas - As Vidas dos mais Excelentes Pintores, Escultores e Arquitetos (1550):
“No curso natural dos acontecimentos, muitos homens e mulheres nascem com talentos notáveis, mas, ocasionalmente, de uma maneira que transcende a natureza, uma única pessoa é maravilhosamente dotada pelo céu com a beleza, graça e talento em abundância tal que ele deixa os outros homens para trás, todas as suas ações parecem inspiradas e, na verdade tudo o que faz claramente vem de Deus e não da habilidade humana. Todos reconhecem que isso era verdade em Leonardo da Vinci, um artista de beleza física excepcional, que mostrou infinita graça em tudo que ele fez e que cultivou um gênio tão brilhante que todos os problemas que estudou, ele resolveu facilmente.”
Leonardo da Vinci - estudos do braço mostrando o movimento efectuado pelos biceps (imagem da esquerda) e "Homem de Vitrúvio" (imagem da direita).
Sua genialidade ganhava ainda mais espaço devido a sua personalidade carismática, que o auxiliava a estabelecer contato com pessoas importantes, como Lourenço de Médici, Ludovico Sforza, a família Bórgia e Francisco I, o rei de França. Com apoio de príncipes e mecenas, Da Vinci realizou projetos de fortificações, armas de guerras, cenários para teatros e projetos arquitetônicos para uma nova Florença.
Leonardo da Vinci - estudos de um cavalo.
Leonardo da Vinci, "A Virgem o Menino Sant'Ana e São João Batista".
Seus cadernos de desenhos tornaram-se obras de arte a parte – não apenas pelos aspectos estéticos, mas também pelos projetos ali apresentados, como a máquina de voar. Nem todos os seus estudos são originais. Da Vinci sabia retomar questões importantes e estudos inacabados de mestres – ou desconhecidos – do passado e atualizá-los de acordo com a necessidade de seu tempo. Em seu período de vida, apenas Michelangelo foi capaz de rivalizar com a fama de Da Vinci. O artista criador da Mona Lisa defendia a superioridade da pintura em relação ao trabalho escultórico do pai da Pietá.
Leonardo da Vinci, "A Anunciação".
Apesar de suas obras inacabadas e muitos de seus escritos estarem incompletos, isso nunca impediu que suas ideias ganhassem o mundo. O próprio Leonardo convidava contemporâneos seus para discutir ideias e projetos. Uma maneira de o artista se manter em voga, mesmo quando não tinha nenhuma obra nova. Mais do que um artista, Da Vinci era um homem que sabia como conquistar o público e conseguir críticas positivas em relação ao seu trabalho.
Leonardo da Vinci, "A Última Ceia".
Leonardo da Vinci - estudo do Vale do Arno.
Suas pinturas são icônicas e cada uma capaz de gerar uma série interminável de discussões. A Última Ceia (c.1495-1498) é uma das obras mais admiradas do artista. O afresco do refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie é um marco na história da arte e influenciou diversos artistas. Nessa obra, Da Vinci, foi capaz de imprimir personalidade a cada um dos apóstolos de Cristo; e, em um período em que a perspectiva e a espacialidade ainda estavam sendo estudado, o artista foi capaz de demonstrar sua capacidade de organização espacial e grande domínio da técnica. Da Vinci também revelou seu espirito para a experimentação, com a criação dum método novo para pintar afresco, que levou à deterioração da obra.
Leonardo da Vinci, "São João Batista".
Já Adoração dos magos é um dos quadros mais importantes da história da arte ocidental e, no entanto, encontra-se inacabado. É apenas o estudo preparatório, sem nenhum trabalho em cor. Pouco antes de abandonar o projeto – para trocar Florença por Milão - Da Vinci o expôs ao público. Nessa obra, o artista já antecipava a técnica de tratamento da cor, da luz e da sombra que desenvolveria em outras obras. Sem contar a identificação dos personagens através da psicologia de cada um e a variedade de gestos e atitudes retratados na cena. Por fim, as inovações propostas por Da Vinci se tornaram cânones da arte do alto renascimento.
Leonardo da Vinci - pintura inacabada de São Jerónimo no deserto.
Leonardo da Vinci - estudo para um retrato de Isabella d'Este.
Após sua morte, seus escritos se espalharam por entre os artistas – e nem sempre de maneira lícita – influenciando gerações. De Rafael a Botero, passando por Duchamp, e chegando a Vik Muniz, as obras do artista foram inspiração ou base para a produção de novos trabalhos. Da Vinci, mais que um gênio que soube aliar arte e ciência, entendeu a importância da autopromoção e soube construir sua imagem, transformando-se, mais que um símbolo do renascimento, em um mito.
Leonardo da Vinci, "Mona Lisa".
Leonardo da Vinci - desenho.
Fonte:
©obvious: http://obviousmag.org/archives/2012/09/da_vinci_do_genio_ao_mito.html?
As máquinas de guerra de Leonardo da Vinci
Carros de assalto, helicópteros, canhões, metralhadoras... parecem-nos armas modernas. Porém, o seu inventor viveu há muito tempo, na Renascença italiana, e algumas armas tiveram de esperar séculos para que a tecnologia evoluísse e permitisse a sua construção, daí julgarmos que são modernas. Chamava-se Leonardo da Vinci.
O grande Leonardo da Vinci, talvez o maior artista do Renascimento, era um personagem multifacetado: pintor, arquitecto, cientista, matemático, poeta, músico e, não menos importante, inventor. Da sua imaginação delirante saíram inventos incríveis e máquinas fabulosas, a maioria delas impossíveis de concretizar com a tecnologia da época. É o caso do helicóptero, que teve de esperar anos para poder ser construído. Mas o que à primeira vista parece chocante num tal génio é que grande parte das suas invenções eram terríveis máquinas de guerra. Como pôde a mente mais brilhante de todos os tempos desperdiçar o seu talento na criação de engenhos de destruição e morte?
Uma boa parte da vida de Leonardo da Vinci foi passada numa época de instabilidade e conflitos. Habilmente, talvez por instinto de sobrevivência, soube colocar o seu engenho ao serviço de senhores poderosos, salientando que não sabia apenas pintar mas também criar toda a espécie de coisas que os pudesse benificiar. E assim começou a exercer a profissão de engenheiro militar (o que quer que isso significasse naquela época), actividade que o ocupou durante vários anos, primeiro para o Duque de Milão e depois para os Doges de Veneza. Eis algumas das diversas máquinas e engenhos que desenhou para os senhores da guerra:
A metralhadora talvez tenha sido uma das primeiras armas que concebeu, cerca de 1480, quando ainda trabalhava em Florença. Pensa-se que terá sido uma primeira aproximação ao Poder, que haveria de o levar pouco tempo depois ao serviço do Duque de Milão. É constituída por um conjunto de 12 bocas de fogo dispostas em leque montadas sobre um carro. Esta disposição permite-lhe não só uma frente de tiro muito larga como também torna o carregamento fácil, uma vez que as culatras se juntam num único ponto. Além disso as rodas permitiam-lhe uma grande mobilidade no campo de batalha. Não se sabe se chegou alguma vez a ser construída.
O carro de assalto é a mais conhecidas das máquinas bélicas de Leonardo da Vinci, concebido já para o Duque de Milão. Tal como a metralhadora, nunca foi construído, pois a tecnologia envolvida era demasiado complexa e os planos pouco detalhados. Sobre uma plataforma com rodas coberta com uma carapaça metálica, inspirada numa tartaruga, estavam montados radialmente vários canhões que podiam disparar em todas as direcções. A semelhança com os modernos tanques, com a sua torre giratória, é por demais evidente.
Para tornar os canhões mais eficazes, da Vinci idealizou aquilo que foram as primeiras bombas de fragmentação. Eram esferas de ferro ocas que, uma vez disparadas, explodiam libertando os múltiplos fragmentos contidos no seu interior e ampliando o efeito de um simples projéctil.
Outro engenho surpreendente é o couraçado. É um pequeno navio armado com um poderoso canhão que tem o equivalente actual numa lancha rápida. O canhão encontrava-se dissimulado debaixo de uma armadura que podia ser aberta muito rapidamente para tirar partido do efeito surpresa. Uma vez baixados na água, os dois elementos da coberta forneciam estabilidade para o tiro. Não se sabe muito bem qual seria o sistema de propulsão desta embarcação.
Mas a mais arrepiante máquina de guerra projectada pelo génio do Renascimento é o carro-ceifeira (à falta de melhor designação). Paradoxalmente, é um dos mais bonitos esquemas de Leonardo da Vinci, onde se pode ver um tradicional carro puxado por cavalos com mecanismos de lâminas rotativas. O objectivo seria deslocar-se através de um campo de batalha ceifando literalmente as pernas dos soldados e cavalos inimigos. Em escritos posteriores, o inventor reconheceu a crueldade deste seu engenho e, sobretudo, a sua ineficácia: tanto ceifava inimigos como as suas próprias tropas indiscriminadamente. Um perfeito horror.
Fonte:
© obvious: http://obviousmag.org/archives/2009/09/maquinas_guerra_leonardo_vinci.html#ixzz2sCsv24Rw
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