Muitas vezes, as perdas causam um sofrimento não proporcional ao seu tamanho
Ilustração: Carlo Giovani
Ilustração: Carlo Giovani
Como superar a dor da perda
A dor da perda atinge a todos nós, mas há diferentes maneiras de reagir e de se recuperar. Conheça algumas delas.
Seja a perda de um amor, de um trabalho, da saúde ou da autoestima, o fato é que às vezes nos encontramos diante da dor inexorável de quem perdeu. E esse sentimento pode nos afetar profundamente. A sabedoria, porém, está em saber que há diferentes maneiras de viver e reagir diante da perda, e ao doloroso período que a segue.
Reação à perda
Muitas vezes as perdas causam um sofrimento não proporcional a seu tamanho: uma perda boba pode nos chacoalhar sem dó nem piedade, enquanto podemos passar batidos por algo que deveria nos derrubar no chão. Isto é, elas também dependem de nós. "A reação àquilo que perdemos está sujeita ao histórico anterior da cada um", diz o neuropsiquiatra francês Boris Cyrulnik ao analisar o sofrimento gerado por traumas e choques.
Ele também diz que as pessoas que reagem bem às pequenas perdas (com um alto índice de resiliência, ou capacidade de voltar a seu estado normal) são as que mais bem se recuperam diante de um caso mais grave. Portanto, procurar elaborar as perdas menores do cotidiano pode nos preparar para acontecimentos mais difíceis.
Colocando para fora
Falar sobre a própria dor, desabafar, é muito importante. "É o começo da recuperação", afirma Cyrulnik. "Verbalizar torna a pessoa mais consciente do que aconteceu. Nesse processo, ela pode compreender melhor a situação e ultrapassá-la".
Nesse momento, porém, podemos entrar em contato com uma raiva que escondemos até de nós mesmos. "Quando uma pessoa perde um companheiro de muitos anos, por exemplo, ela pode se sentir abandonada - e com raiva de quem partiu". afirma a psicóloga junguiana Mônica Giacomini. Essa raiva, não manifestada, passa então para o inconsciente. "Enquanto não a elaborarmos, torna-se difícil iniciar um processo de recuperação", diz Mônica.
E o período de luto não acontece só por uma pessoa que morreu, mas também por uma relação amorosa que acabou, por uma demissão que gerou uma sensação de incapacidade e outras situações. "A perda da autoimagem e do amor, por exemplo, é capaz de gerar um luto tão intenso quanto a morte", diz Mônica. "Enquanto rejeitar a si mesmo e o que aconteceu, a pessoa vai projetar essa mesma rejeição nos outros. Para ela, ninguém será capaz de aceitar algo que ela mesma tem dificuldade de assimilar", diz Mônica. A recuperação inclui utilizar recursos criativos que permitam assimilar a dor e desenvolver maneiras de superá-la.
A libertação
"As perdas mais comuns pertencem ao universo do ter, àquilo que eu penso que é meu: pessoas, inclusive", diz o médico homeopata Adair Zan. Esse sentimento pode se tornar muito possessivo e gerar um enorme sofrimento. "Não é sábio marcar a vida, ou o amor, em territórios delimitados. É uma ilusão pensar que somos capazes de mantê-los a qualquer custo".
Ele também lembra que a noção de que o destino foi injusto pode agravar a sensação de dor. É o caso, digamos, da traição ou de uma demissão arbitrária. "A diferença é que, no exemplo corporativo, a assimilação é mais fácil. O funcionário é que foi demitido, não a pessoa. Já na traição, a dor é pessoal, carregada de peso cultural", afirma Zan.
O médico acredita que, por meio de uma reflexão verdadeira, é possível chegar a um novo equilíbrio. Enxergar sua responsabilidade num processo de separação também é curativo. "O ideal é que o namorado ou o cônjuge pudesse um dia sentar e conversar com o ex-parceiro sobre isso, para chegar às verdadeiras causas do rompimento. Como é bem difícil isso acontecer, podemos traçar esse caminho com a ajuda de um terapeuta", avalia.
Pausa para o recomeço
Quando uma situação ou um ciclo acaba, é preciso reconhecer que algo mudou e que a vida não será a mesma. "Precisamos de um tempo para voltar a pulsar de maneira plena, com energia suficiente para fazer frutificar novas ideias ou formas de se relacionar. Quando deixamos um ciclo de fato se encerrar, sem pressa, conseguimos voltar à vida mais íntegros", afirma a psicoterapeuta Sandra Taiar.
Ao conseguir empreender essa tarefa, estaremos prontos para superar a dor e juntar forças a fim de encarar as inevitáveis mudanças geradas pela perda. Nesse ponto de reconciliação com a vida, os danos gerados por ela já serão mais administráveis. E a compreensão de que há uma maneira mais sábia de passar pelo sofrimento pode nos ajudar muito.
LIVROS
O Ano do Pensamento Mágico, Joan Didion, Nova Fronteira
Falar sobre a própria dor, desabafar, é muito importante. "É o começo da recuperação", afirma Cyrulnik. "Verbalizar torna a pessoa mais consciente do que aconteceu. Nesse processo, ela pode compreender melhor a situação e ultrapassá-la".
Nesse momento, porém, podemos entrar em contato com uma raiva que escondemos até de nós mesmos. "Quando uma pessoa perde um companheiro de muitos anos, por exemplo, ela pode se sentir abandonada - e com raiva de quem partiu". afirma a psicóloga junguiana Mônica Giacomini. Essa raiva, não manifestada, passa então para o inconsciente. "Enquanto não a elaborarmos, torna-se difícil iniciar um processo de recuperação", diz Mônica.
E o período de luto não acontece só por uma pessoa que morreu, mas também por uma relação amorosa que acabou, por uma demissão que gerou uma sensação de incapacidade e outras situações. "A perda da autoimagem e do amor, por exemplo, é capaz de gerar um luto tão intenso quanto a morte", diz Mônica. "Enquanto rejeitar a si mesmo e o que aconteceu, a pessoa vai projetar essa mesma rejeição nos outros. Para ela, ninguém será capaz de aceitar algo que ela mesma tem dificuldade de assimilar", diz Mônica. A recuperação inclui utilizar recursos criativos que permitam assimilar a dor e desenvolver maneiras de superá-la.
A libertação
"As perdas mais comuns pertencem ao universo do ter, àquilo que eu penso que é meu: pessoas, inclusive", diz o médico homeopata Adair Zan. Esse sentimento pode se tornar muito possessivo e gerar um enorme sofrimento. "Não é sábio marcar a vida, ou o amor, em territórios delimitados. É uma ilusão pensar que somos capazes de mantê-los a qualquer custo".
Ele também lembra que a noção de que o destino foi injusto pode agravar a sensação de dor. É o caso, digamos, da traição ou de uma demissão arbitrária. "A diferença é que, no exemplo corporativo, a assimilação é mais fácil. O funcionário é que foi demitido, não a pessoa. Já na traição, a dor é pessoal, carregada de peso cultural", afirma Zan.
O médico acredita que, por meio de uma reflexão verdadeira, é possível chegar a um novo equilíbrio. Enxergar sua responsabilidade num processo de separação também é curativo. "O ideal é que o namorado ou o cônjuge pudesse um dia sentar e conversar com o ex-parceiro sobre isso, para chegar às verdadeiras causas do rompimento. Como é bem difícil isso acontecer, podemos traçar esse caminho com a ajuda de um terapeuta", avalia.
Pausa para o recomeço
Quando uma situação ou um ciclo acaba, é preciso reconhecer que algo mudou e que a vida não será a mesma. "Precisamos de um tempo para voltar a pulsar de maneira plena, com energia suficiente para fazer frutificar novas ideias ou formas de se relacionar. Quando deixamos um ciclo de fato se encerrar, sem pressa, conseguimos voltar à vida mais íntegros", afirma a psicoterapeuta Sandra Taiar.
Ao conseguir empreender essa tarefa, estaremos prontos para superar a dor e juntar forças a fim de encarar as inevitáveis mudanças geradas pela perda. Nesse ponto de reconciliação com a vida, os danos gerados por ela já serão mais administráveis. E a compreensão de que há uma maneira mais sábia de passar pelo sofrimento pode nos ajudar muito.
LIVROS
O Ano do Pensamento Mágico, Joan Didion, Nova Fronteira
Fonte:http://vidasimples.abril.com.br/temas/como-superar-dor-perda-604118.shtml?
A dor da perda
Maria Helena Pereira Franco
´A dor é suportável quando conseguimos
acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos
que ela não existe.´
Allá Bozarth-Campbell
´Às vezes, quando sentimos a falta de alguém, parece que
o mundo inteiro está vazio de gente.´
Lamartine
acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos
que ela não existe.´
Allá Bozarth-Campbell
´Às vezes, quando sentimos a falta de alguém, parece que
o mundo inteiro está vazio de gente.´
Lamartine
Primeiramente, quero abordar alguns mitos sobre o luto, que dificultam uma compreensão clara a respeito dessa experiência tão humana e universal.
. Luto e pesar são uma mesma experiência.
A vivência da perda e do luto progride de acordo com fases previsíveis e seqüenciadas.
Devemos sair do luto, em lugar de encará-lo.
A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível.
A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza
Luto e pesar são a mesma experiência?
Há diferenças fundamentais entre as duas experiências e entender essa diferença é fundamental.
Pesar : é um complexo de pensamentos e sentimentos sobre a perda, que são vivenciados internamente. Em outras palavras, é o significado interno dado à experiência do luto.
Luto: é o pesar tornado público, quando você se apodera desses sentimentos e pensamentos e os expressa e compartilha com os que o cercam. Chorar, falar sobre a pessoa que morreu ou celebrar datas especiais são apenas alguns exemplos. Mesmo que esta expressão se dê sem a presença de outras pessoas, também pode ser entendida como uma forma saudável de luto.
Há uma seqüência previsível de fases na vivência do pesar e do luto?
Não é possível falar com precisão sobre essa seqüência, embora exista a necessidade de compreender o processo e, por que não dizer? - tentar controlá-lo. A noção de fases pode até mesmo ajudar as pessoas a encontrar sentido para sua experiência de luto, mas não é possível substituir o medo e a sensação de falta de sentido, naturais em uma experiência de luto, pelas falsas certezas de que as pessoas viveriam essa experiência seguindo pelas mesmas fases.
O conceito de fases foi popularizado com a primeira publicação, em 1969, do livro ´Sobre a Morte e o Morrer´, de Elizabeth Kubler-Ross, sem dúvida um marco na literatura sobre o assunto. No entanto, ela jamais desejou que as pessoas passassem a interpretar literalmente sua descrição de fases do morrer, como foi feito, com conseqüências desastrosas para a compreensão do processo.
A pessoa enlutada com freqüência encontra outras, na mesma situação, que adotaram um sistema de crenças rígido sobre o que deve ser experimentado nessa jornada ao longo do luto. Essas crenças podem afetar profundamente o processo individual natural. Podemos encontrar respostas de desorganização, medo, culpa, mas também podemos não encontrá-las. Ou a regressão pode ou não acontecer ou se sobrepor a qualquer outra das respostas. As emoções podem seguir-se umas às outras com intervalos curtos ou até mesmo duas ou mais emoções podem estar presentes ao mesmo tempo.
Cada pessoa fica enlutada de sua maneira, não existindo, portanto, maneiras melhores ou piores, nem a imposição de uma seqüência rígida, que normatiza o processo. O luto é uma experiência pessoal e única, para cada pessoa.
Devemos evitar o luto, em lugar de enfrentá-lo?
Talvez como resultado dos valores prevalentes na sociedade ocidental moderna, as pessoas enlutadas são encorajadas pela sua comunidade a prematuramente deixar para trás a experiência do luto. Como resultado, temos duas situações: ou o enlutado vive seu processo isoladamente ou força-se a abandona-lo, antes de te-lo completado. Amigos e familiares, bem-intencionados mas desinformados, tentam fazer com que o enlutado desenvolva auto-controle, entendendo que essa é a resposta adequada, tornando muito difícil para o enlutado enfrentar essa mensagem poderosa, que encoraja a repressão emocional.
Com freqüência, as pessoas me perguntam quanto tempo dura o luto. Entendo que esta é uma pergunta diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Um exemplo disso é a pressão que o enlutado sofre, logo após a perda, para voltar à atividade normal. Aqueles que permanecem expressando tristeza por um tempo prolongado são considerados fracos, loucos. A mensagem sutil é ´seja forte, não se deixe abater´. Ou seja: o luto passa a ser visto como alguma coisa a ser evitada e não, que precisa ser vivida. E o enlutado passa a apresentar um comportamento socialmente aceitável, que, porém, contraria sua necessidade psicológica. Mascarar ou fugir do luto causa ansiedade, confusão e depressão. Se a pessoa enlutada receber pouco ou nenhum reconhecimento social para sua dor, poderá temer que seus pensamentos e sentimentos sejam anormais, o que nem sempre ocorre.
A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível?
O enlutado pode ouvir alguém lhe perguntar: Você já superou sua dor? Ou, o que é pior: ´Já está na hora de você sair dessa.´ Em termos clínicos, a dimensão final do pesar é com freqüência entendida como resolução, recuperação, restabelecimento ou reorganização. Por que não pensar em reconciliação? Esta palavra pode ter um significado mais apropriado acerca do processo vivido. Não significa passar pelo luto, significa crescer por meio dele. Reconciliação é mais expressiva daquilo que ocorre, à medida que o enlutado integra essa nova realidade de se mover ao longo da vida sem a presença física da pessoa que morreu.
A reconciliação permitirá que o enlutado tenha um senso de confiança e energia renovado, uma habilidade para reconhecer totalmente a realidade da morte, e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O mais importante: o enlutado poderá reconhecer que, embora difícil, a dor e o pesar são partes necessárias do viver. À medida que for ocorrendo a reconciliação, o enlutado poderá se dar conta que a vida será diferente sem a presença da pessoa que morreu. Mas para isso será necessário perceber que a reconciliação é um processo, não um evento. Além da compreensão intelectual, existe a compreensão emocional e espiritual. Ou seja: além de entender na mente, vai entender no coração: a pessoa amada morreu. A dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda, para se transformar em um sentimento de perda que pode ser reconhecido e dá vez a um significado e um propósito renovados. O sentimento de perda não desaparece completamente, ele é atenuadoe as crises de pesar, antes intensas, tornam-se menos freqüentes e mais suaves. À medida que o enlutado começa a fazer novos envolvimentos, emerge a esperança de continuar a viver. É possível perceber que, embora a pessoa que morreu jamais virá a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. Não se trata de ´superar´ o pesar. Quando o enlutado começa a mergulhar no trabalho do luto, ele irá se reconciliar com ele.
A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza?
Muitas vezes, as lágrimas devidas a uma perda são associadas a fraqueza e inadequação pessoal. O pior que o enlutado pode fazer é permitir que este julgamento o impeça de se expressar dessa maneira. Enquanto suas lágrimas podem ocasionar um sentimento de impotência nos amigos, família e cuidadores, é preciso que ele cuide para não se deixar inibir por eles. É possível que a pessoa que está preocupada com o enlutado tente, mesmo que de maneira sutil, por desejo de protegê-lo, evitar que ele chore, para protege-lo e a si mesma, da dor da perda. Ouvem-se frases como: ´As lágrimas não o trarão de volta´ ou ´Ele não gostaria de vê-lo chorar´ . No entanto, chorar é uma maneira natural de aliviar a tensão interna e permite que seja comunicada a necessidade de ser confortado.
Mesmo com dados ainda limitados, há evidências de pesquisa que apontam que a supressão das lágrimas aumenta a suscetibilidade a distúrbios relacionados ao stress.
Por que cada perda é única?
O que há de muito especial nos seres humanos? Cada um é único, não há dois iguais e isso se reflete nos vínculos que estabelecemos, bem como nas condições da dor pela perda daqueles que amamos.
Há alguns fatores que contribuem para a compreensão dessa experiência incomparável que é o luto.
Fator 1) A natureza da relação com a pessoa que morreu
Fator 2) Circunstâncias da morte
Fator 3) Circunstâncias do sistema de apoio do enlutado
Fator 4) A personalidade - incomparável - do enlutado
Fator 5) A personalidade - incomparável - da pessoa que morreu
Fator 6) O contexto cultural do enlutado
Fator 7) O contexto religioso e espiritual do enlutado
Fator 8) Outras crises ou situações de stress na vida do enlutado
Fator 9) Questões de gênero
Fator 10) A experiência com os rituais de luto
Quando falo na dor da perda, assim entendida, preciso citar aqui um poeta brasileiro contemporâneo, que todos vocês conhecem, Caetano Veloso, que disse:
´Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.´
. Luto e pesar são uma mesma experiência.
A vivência da perda e do luto progride de acordo com fases previsíveis e seqüenciadas.
Devemos sair do luto, em lugar de encará-lo.
A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível.
A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza
Luto e pesar são a mesma experiência?
Há diferenças fundamentais entre as duas experiências e entender essa diferença é fundamental.
Pesar : é um complexo de pensamentos e sentimentos sobre a perda, que são vivenciados internamente. Em outras palavras, é o significado interno dado à experiência do luto.
Luto: é o pesar tornado público, quando você se apodera desses sentimentos e pensamentos e os expressa e compartilha com os que o cercam. Chorar, falar sobre a pessoa que morreu ou celebrar datas especiais são apenas alguns exemplos. Mesmo que esta expressão se dê sem a presença de outras pessoas, também pode ser entendida como uma forma saudável de luto.
Há uma seqüência previsível de fases na vivência do pesar e do luto?
Não é possível falar com precisão sobre essa seqüência, embora exista a necessidade de compreender o processo e, por que não dizer? - tentar controlá-lo. A noção de fases pode até mesmo ajudar as pessoas a encontrar sentido para sua experiência de luto, mas não é possível substituir o medo e a sensação de falta de sentido, naturais em uma experiência de luto, pelas falsas certezas de que as pessoas viveriam essa experiência seguindo pelas mesmas fases.
O conceito de fases foi popularizado com a primeira publicação, em 1969, do livro ´Sobre a Morte e o Morrer´, de Elizabeth Kubler-Ross, sem dúvida um marco na literatura sobre o assunto. No entanto, ela jamais desejou que as pessoas passassem a interpretar literalmente sua descrição de fases do morrer, como foi feito, com conseqüências desastrosas para a compreensão do processo.
A pessoa enlutada com freqüência encontra outras, na mesma situação, que adotaram um sistema de crenças rígido sobre o que deve ser experimentado nessa jornada ao longo do luto. Essas crenças podem afetar profundamente o processo individual natural. Podemos encontrar respostas de desorganização, medo, culpa, mas também podemos não encontrá-las. Ou a regressão pode ou não acontecer ou se sobrepor a qualquer outra das respostas. As emoções podem seguir-se umas às outras com intervalos curtos ou até mesmo duas ou mais emoções podem estar presentes ao mesmo tempo.
Cada pessoa fica enlutada de sua maneira, não existindo, portanto, maneiras melhores ou piores, nem a imposição de uma seqüência rígida, que normatiza o processo. O luto é uma experiência pessoal e única, para cada pessoa.
Devemos evitar o luto, em lugar de enfrentá-lo?
Talvez como resultado dos valores prevalentes na sociedade ocidental moderna, as pessoas enlutadas são encorajadas pela sua comunidade a prematuramente deixar para trás a experiência do luto. Como resultado, temos duas situações: ou o enlutado vive seu processo isoladamente ou força-se a abandona-lo, antes de te-lo completado. Amigos e familiares, bem-intencionados mas desinformados, tentam fazer com que o enlutado desenvolva auto-controle, entendendo que essa é a resposta adequada, tornando muito difícil para o enlutado enfrentar essa mensagem poderosa, que encoraja a repressão emocional.
Com freqüência, as pessoas me perguntam quanto tempo dura o luto. Entendo que esta é uma pergunta diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Um exemplo disso é a pressão que o enlutado sofre, logo após a perda, para voltar à atividade normal. Aqueles que permanecem expressando tristeza por um tempo prolongado são considerados fracos, loucos. A mensagem sutil é ´seja forte, não se deixe abater´. Ou seja: o luto passa a ser visto como alguma coisa a ser evitada e não, que precisa ser vivida. E o enlutado passa a apresentar um comportamento socialmente aceitável, que, porém, contraria sua necessidade psicológica. Mascarar ou fugir do luto causa ansiedade, confusão e depressão. Se a pessoa enlutada receber pouco ou nenhum reconhecimento social para sua dor, poderá temer que seus pensamentos e sentimentos sejam anormais, o que nem sempre ocorre.
A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível?
O enlutado pode ouvir alguém lhe perguntar: Você já superou sua dor? Ou, o que é pior: ´Já está na hora de você sair dessa.´ Em termos clínicos, a dimensão final do pesar é com freqüência entendida como resolução, recuperação, restabelecimento ou reorganização. Por que não pensar em reconciliação? Esta palavra pode ter um significado mais apropriado acerca do processo vivido. Não significa passar pelo luto, significa crescer por meio dele. Reconciliação é mais expressiva daquilo que ocorre, à medida que o enlutado integra essa nova realidade de se mover ao longo da vida sem a presença física da pessoa que morreu.
A reconciliação permitirá que o enlutado tenha um senso de confiança e energia renovado, uma habilidade para reconhecer totalmente a realidade da morte, e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O mais importante: o enlutado poderá reconhecer que, embora difícil, a dor e o pesar são partes necessárias do viver. À medida que for ocorrendo a reconciliação, o enlutado poderá se dar conta que a vida será diferente sem a presença da pessoa que morreu. Mas para isso será necessário perceber que a reconciliação é um processo, não um evento. Além da compreensão intelectual, existe a compreensão emocional e espiritual. Ou seja: além de entender na mente, vai entender no coração: a pessoa amada morreu. A dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda, para se transformar em um sentimento de perda que pode ser reconhecido e dá vez a um significado e um propósito renovados. O sentimento de perda não desaparece completamente, ele é atenuadoe as crises de pesar, antes intensas, tornam-se menos freqüentes e mais suaves. À medida que o enlutado começa a fazer novos envolvimentos, emerge a esperança de continuar a viver. É possível perceber que, embora a pessoa que morreu jamais virá a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. Não se trata de ´superar´ o pesar. Quando o enlutado começa a mergulhar no trabalho do luto, ele irá se reconciliar com ele.
A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza?
Muitas vezes, as lágrimas devidas a uma perda são associadas a fraqueza e inadequação pessoal. O pior que o enlutado pode fazer é permitir que este julgamento o impeça de se expressar dessa maneira. Enquanto suas lágrimas podem ocasionar um sentimento de impotência nos amigos, família e cuidadores, é preciso que ele cuide para não se deixar inibir por eles. É possível que a pessoa que está preocupada com o enlutado tente, mesmo que de maneira sutil, por desejo de protegê-lo, evitar que ele chore, para protege-lo e a si mesma, da dor da perda. Ouvem-se frases como: ´As lágrimas não o trarão de volta´ ou ´Ele não gostaria de vê-lo chorar´ . No entanto, chorar é uma maneira natural de aliviar a tensão interna e permite que seja comunicada a necessidade de ser confortado.
Mesmo com dados ainda limitados, há evidências de pesquisa que apontam que a supressão das lágrimas aumenta a suscetibilidade a distúrbios relacionados ao stress.
Por que cada perda é única?
O que há de muito especial nos seres humanos? Cada um é único, não há dois iguais e isso se reflete nos vínculos que estabelecemos, bem como nas condições da dor pela perda daqueles que amamos.
Há alguns fatores que contribuem para a compreensão dessa experiência incomparável que é o luto.
Fator 1) A natureza da relação com a pessoa que morreu
Fator 2) Circunstâncias da morte
Fator 3) Circunstâncias do sistema de apoio do enlutado
Fator 4) A personalidade - incomparável - do enlutado
Fator 5) A personalidade - incomparável - da pessoa que morreu
Fator 6) O contexto cultural do enlutado
Fator 7) O contexto religioso e espiritual do enlutado
Fator 8) Outras crises ou situações de stress na vida do enlutado
Fator 9) Questões de gênero
Fator 10) A experiência com os rituais de luto
Quando falo na dor da perda, assim entendida, preciso citar aqui um poeta brasileiro contemporâneo, que todos vocês conhecem, Caetano Veloso, que disse:
´Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.´
Fonte:http://www.psicologiaesaude.com.br/artigo16.htm
COMO SUPERAR A DOR DE UMA PERDA?
Como superar a perda de uma pessoa querida? Existe uma forma melhor de enfrentar a morte? Como continuar a [...]
Como superar a perda de uma pessoa querida? Existe uma forma melhor de enfrentar a morte? Como continuar a viver sem a pessoa que era o motivo do nosso viver? A dor que sentimos quando perdemos alguém é a maior que podemos passar na vida. Não há nada mais doloroso do que isso. Uma briga com o filho, uma discussão com a esposa ou um desentendimento com o amigo são problemas superáveis, dependem apenas de tempo ou coragem suficiente de todos para reverem seus pontos de vista.
Já a morte não espera e nem quer negociar. Não obedece ao tempo e muito menos à consciência. Aparece quando menos esperamos e derrota toda a nossa esperança e fé na vida.
A morte entra de uma forma brutal na vida. Corrói o coração de uma pessoa e estraçalha seus sonhos. Aniquila sua força para viver e parece que vai quebrá-la por inteiro e destruí-la. É uma dor que não some, pelo contrário, consome cada momento bom da vida sem a menor piedade e muito menos sem pedir licença. É uma dor gigantesca, indescritível em palavras.
A impossibilidade de se conversar com a pessoa que faleceu, ouvir sua voz, saber sua opinião ou tocá-la é devastadora para aquele que ficou. Uma foto, uma música, um aroma ou um objeto bastam para lembrar o ente querido. A dor de sua ausência reaparece a cada instante e cada vez mais forte. É impossível parar essa dor. Ela faz sangrar incessantemente a pessoa.
Questionamentos acerca do sentido da vida aparecem e desolam familiares e amigos. A culpa também surge, pois é muito comum alguém pensar que poderia ter sido feito mais para a pessoa que faleceu viver. Portanto, é uma fase repleta de emoções tremendamente dolorosas sentidas cotidianamente. Em resumo, é o próprio inferno vivido na terra. É uma dor maior que a própria pessoa e que parece que vai matá-la, o que, de certa forma, seria um alívio para esta nesse momento terrivelmente doloroso.
Mas isso não é possível de acontecer sem ser de forma trágica. A vida continua e só há uma forma de salvação que eu acredito que possa diminuir tamanha dor. É preciso lutar para que o coração não se empedre para receber o amor daqueles que ficaram. A amargura provocada pela morte precisa ser superada na medida do possível, e aos poucos, pela alegria e doçura da vida.
De nada adianta negar, fugir ou sufocar a dor. Só existe um caminho para superá-la: enfrentá-la com muita perseverança e força! Caso contrário, o pior pode acontecer: morrer em vida, tornar-se uma pessoa extremamente amarga, dura, sem brilho nos olhos e sem a capacidade de aproveitar verdadeiramente os bons momentos que a vida ainda pode lhe proporcionar.
Com boas intenções, é comum que familiares e amigos evitem ouvir a dor daquele que ficou, pois não suportam a sua própria dor da perda, ou acreditam ingenuamente que, ao conseguirem evitar a lembrança dessa perda, também evitarão o impacto da dor. Assim, preferem não tocar no assunto ou, pior, forçar uma alegria falsa. Nesse contexto, a solidão assola o coração daquele que ficou e torna cada vez mais insuportável e dolorosa a sua vida.
Com boas intenções, é comum que familiares e amigos evitem ouvir a dor daquele que ficou, pois não suportam a sua própria dor da perda, ou acreditam ingenuamente que, ao conseguirem evitar a lembrança dessa perda, também evitarão o impacto da dor. Assim, preferem não tocar no assunto ou, pior, forçar uma alegria falsa. Nesse contexto, a solidão assola o coração daquele que ficou e torna cada vez mais insuportável e dolorosa a sua vida.
É nesse momento que a psicoterapia se torna fundamental, pois facilita o processo de elaboração do luto, torna a perda menos dolorosa e não deixa que a dor provocada pela morte comprometa a vida inteira da pessoa.
Ao superar a dor da perda, a pessoa vive melhor e mais livre. Passa a perceber como é precioso cada momento que desfruta com as pessoas que são importantes em sua vida. Passa a não gastar mais energia com discussões irrelevantes. Desenvolve plena e total consciência de que a vida é valiosa demais para dar atenção para esses pormenores. Portanto, não esperem que alguém querido morra para conseguirem dar valor para sua vida ou às pessoas que você ama. Viva bem a sua vida! Agora! Coragem! Mostre o seu amor a quem ama. Beije-o e abrace-o! Nada é mais prazeroso na vida do que isso. Quanto à dor do enlutado, incentive-o a procurar um suporte terapêutico o mais rápido possível. Hoje, a psicologia já evoluiu muito nesse trabalho. Essa é a melhor ajuda que um amigo ou familiar pode dar para quem vive o drama da perda.
Viviane Sampaio. Psicóloga e Coach. Trabalha na Vila Mariana em São Paulo –SP com a Psicologia Positiva e a Terapia Cognitiva. Autora do site www.vivianesampaio.com.br e dos blogs www.coachingvs.blogspot.com e www.vivisampaio.blogspot.com Tel.: (11) 9808-3718, e-mail: vs@vivianesampaio.com.br ou Skype clinicavivianesampaio
Fonte:http://vivianesampaio.com.br/luto-como-superar-a-dor-da-morte-e-da-perda/
17 passos para enfrentar uma grande perdaMaria José G. S Nery - Psicóloga Clínica| Colaboradores | |
Muitas situações na vida nos trazem a sensação de um mal irreparável, geralmente envolvendo perdas ou grandes mudanças: doenças, morte de alguém, mudança de cidade, de emprego, condição social, separação, perda de um sonho ou ideal e outras. As situações mais dolorosas referem-se à perda de um ente querido.
As pessoas ficam com a sensação de terem sido roubadas em algo a que tinham direito. Passam por um processo doloroso que envolve sofrimento, medo, revolta, raiva, culpa, depressão, isolamento, desinteresse pelas atividades costumeiras ou excesso de atividades (fuga); apresentam sintomas físicos e psicológicos de estresse, podendo até vir a adoecer.
O tempo requerido para o “luto” (fase de maior sofrimento) e a maneira de vivê-lo depende muito das circunstâncias da perda, o significado desta para a pessoa, seu modo particular de lidar com situações de crise, apoio disponível no seu meio familiar e social, como a comunidade onde vive encara esta perda, suas próprias crenças e outros aspectos.
A recuperação de uma perda significativa leva de alguns meses a dois anos e, mesmo aí, alguns aspectos podem continuar não muito bem resolvidos.
Mas, além da tristeza, as situações dolorosas podem fazer com que descubramos em nós mesmos forças antes desconhecidas, faz com que repensemos nossas vidas e nossos valores, passando a perceber o que realmente é importante e o que é supérfluo, e podem nos transformar em pessoas mais ricas espiritual e emocionalmente.
Apesar das pessoas sentirem e reagirem diferentemente, existem pontos em comum nas situações de perda, quando geralmente passam por fases semelhantes. Quando descobrem que estão com uma doença grave ou isto acontece com uma pessoa muito próxima, a morte inesperada de alguém que amam, ou com quase todos os outros tipos de perda, primeiro passam pelo estágio de choque e negação, não querendo acreditar na realidade. Depois vem a fase da raiva, revolta (contra tudo, todos e até contra Deus) e muita mágoa. Mais tarde passam a negociar com Deus e com a vida, tentando fazer trocas e promessas; depois ficam deprimidos, perguntando-se “por que eu?”, “por que ele(ou ela)?”ou “por que comigo(ou conosco)?”.
A seguir a tendência é retrairem-se por algum tempo, afastando-se dos outros, enquanto buscam alcançar um estado de entendimento, paz, aceitação; de aceitar aquilo que não pode ser mudado.(E. Kubler-Ross). Muitos param em determinada fase e não vão adiante na superação da perda que já aconteceu ou, no caso de doença, vai ocorrer; alguns pulam de uma fase para outra, podendo retornar à fases anteriores; outros caminham para a superação. Isto vai depender muito do suporte que recebem do meio, dos amigos, de terapeutas ou orientadores; do entendimento que têm sobre a vida e sua finalidade, de suas crenças filosóficas e/ ou religiosas e outros aspectos.
A Dra Ross estudou também 20 mil casos de pessoas de várias culturas que passaram por experiências de quase morte(EQM), e notou muita semelhança no que percebem naqueles momentos de “morte”, as vivências e sensações são agradáveis e os pacientes percebem que na realidade a morte não existe, é uma passagem para um plano de vida diferente, como a borboleta que deixa o casulo.Se começarmos a ver a vida de maneira diferente, com maior entendimento, veremos que a morte jamais deve representar sofrimento, mas uma continuação da vida e da evolução.
Seguem-se algumas sugestões que podem ajudar nesta fase difícil :-
1-Fale sobre sua perda e sua dor
Nos primeiros meses muitos têm esta necessidade, deixe que os outros saibam que este assunto não deve ser evitado e que lhe faz bem falar sobre isto, abrir-se com alguém de confiança, ajuda no entendimento e na aceitação. Quando os amigos entendem o processo, percebem que ouvindo e compartilhando o sofrimento, estão ajudando; e você vai se sentir melhor desabafando. Entretanto, em algumas situações, ou com algumas pessoas, quando não quiser falar sobre o assunto, também diga isto claramente.
2-Enfrente o sentimento de culpa
Quando se perde alguém importante é difícil sentir que se fez o bastante. Discutir este sentimento com alguém compreensivo e de confiança vai ajudar a distinguir a culpa real e irreal e, aos poucos, esta começa a diminuir. Não pode se sentir responsável por não prever os acontecimentos, ou culpa como se tivesse tido a intenção de prejudicar alguém. Além do mais, temos que aceitar a realidade de que ninguém é perfeito, fazemos o possível de acordo com nossa capacidade.
3-Trabalhe os sentimentos de raiva e revolta
Estes sentimentos existem em face de uma grande perda; é importante percebê-los e expressar os sentimentos de raiva e amargura. Não adianta negá-los ou envergonhar-se deles, são normais e irão desaparecendo com o tempo e a aceitação do fato.
4-Idealização
Há uma fase em que a pessoa pensa em suas falhas como pai, mãe, filho, cônjuge, irmão, namorado ou amigo... e vê a pessoa que se foi como um ser perfeito. Com o tempo, começará a vê-la como um ser humano real, com suas qualidades e defeitos, assim como todos nós.
5-Não se isole
Mesmo que não se sinta à vontade para compartilhar seu sofrimento e prefira ficar sozinho, precisa buscar a companhia de outras pessoas. Amigos e familiares que o estimem podem ajudar muito. Não se esqueça que não está só; muitos o estimam, querem lhe dar amor e conforto, assim como precisam do seu amor e atenção. Isto consola , renova suas forças e ajuda na construção de novos objetivos e, com o tempo, a recuperar a alegria de viver. Estas pessoas podem fazer muito por você e você por elas.
6-Mudança de valores
Diante da morte ou de uma grande perda, a pessoa tende a repensar seus valores, a reavaliar seus objetivos de vida; deixar de lado coisas que anteriormente valorizava e que agora percebe que são insignificantes e/ou fúteis, e a valorizar aspectos que percebe serem realmente mais importantes. Muitas vezes implementa mudanças positivas na sua maneira de ser e de viver, tornando-se menos preocupada com o ter e mais com o SER, evoluindo moral, emocional e Espiritualmente.
7-“Nunca mais serei o mesmo”...
É freqüente haver um grande sofrimento neste pensamento que pode ser real, mas isto não significa que nunca mais possa ser feliz. Embora esta idéia possa parecer inaceitável no período do sofrimento, as transformações podem nos enriquecer. Geralmente é isto que acontece, quando a pessoa aceita trabalhar e superar a fase de mágoa e revolta, decidindo que pode e deve viver o melhor possível.
8-Evite decisões importantes ou grandes mudanças
O primeiro ano após a perda, geralmente não é um período adequado para tomar decisões importantes ou fazer grandes mudanças, a menos que as circunstâncias o exijam. Uma pessoa amargurada tem a capacidade de julgamento diminuída. Se algumas mudanças forem necessárias e inadiáveis, peça a ajuda de alguém competente e não envolvido emocionalmente com os problemas.
9-Reserve períodos e local para lembranças
Não fique o tempo todo pensando e vendo objetos da pessoa que se foi. Coloque alguns pertences dela numa caixa ou armário, não os deixe espalhados.Tente reservar algum período específico do dia (no início), da semana ou do mês, para pensar na pessoa e no seu luto, quando também poderá rever os objetos. Evite fazer isto o resto do tempo, pois nada de bom e útil se consegue com a tristeza contínua. Para algumas pessoas isto não é fácil de conseguir, mas é necessário à sobrevivência e recuperação.
10-Prevendo dias e datas difíceis
É útil saber que vai sentir-se mais triste, solitário e infeliz em certos dias e datas do que em outros, isto mesmo após já ter-se passado algum tempo e com a vida mais estabilizada. Estes dias especiais geralmente envolvem datas de aniversário, Natal, passagem de ano, Páscoa e outros, onde a falta da pessoa se faz mais presente. Planeje passá-los com amigos ou familiares, pois é provável que fique mais triste, choroso e deprimido que em outras ocasiões. Não se isole, é bom que esteja em companhia de pessoas que o estimem.
11-A crença de que a vida transcende nossa estada na terra e num Ser Superior
Desde a antiguidade, a maioria dos povos de todas as regiões do globo,com culturas e religiões diferentes, acredita na imortalidade da alma ou espírito e na existência de um Deus ou “Algo Superior”. Isto é quase que uma intuição que nascemos com ela. Um Ser com Amor Incondicional e Sabedoria, perfeito e justo, não castiga as pessoas, mas sempre quer o seu bem, sua evolução, mesmo que muitos de nós ainda não tenhamos a capacidade para entender o porquê de muitos acontecimentos. Hoje, mais do que nunca, temos tido provas da imortalidade do espírito e de que tudo na vida tem um propósito positivo, que nada acontece por acaso. Mesmo que não seja religioso, esta crença traz consolo. Pensar que a pessoa não acabou, mas apenas deixou seu corpo e transferiu-se para um tipo de vida diferente, em outro plano, faz com que as pessoas sintam-se melhor diante da perda; e significará que a separação é temporária, não definitiva.
É importante saber que pudemos desfrutar da companhia de algumas pessoas especiais, mesmo que por breve tempo, que nos deixam muita saudade...Só se tem saudade daquilo que foi muito bom..
12-Culpa por sentir-se bem
É comum as pessoas não se permitirem alegria após uma grande perda, não aceitando convites de amigos, ou evitando atividades agradáveis. Não lute para continuar sendo ou parecendo infeliz. Perceba que sentir-se contente, ter novos objetivos, não é deslealdade nem significa que não ama ou está esquecendo o ente querido. Conseguir prazer em algo significa que está trazendo um pouco de alívio ao seu sofrimento; retomando ou recomeçando a construir sua vida. Além disso, se a pessoa que se foi o estima, com certeza gostaria de vê-lo bem e não sofrendo, preferiria vê-lo contente e isto lhe daria mais tranquilidade. Procure investir em seu bem estar, engajando-se em atividades produtivas e que lhe são agradáveis, e poderá tornar sua vida melhor ainda do que antes, se aprendeu algo com o acontecido, se cresceu com o sofrimento e compreensão do que é realmente mais importante na vida.
13-Reajuste-se à vida e ao trabalho
Tirar alguns dias ou semanas para reequilibrar-se e, depois, uma folga ocasional, quando necessário, é perfeitamente normal. Mas as atividades devem ser retomadas assim que for possível, pois são importantes no processo de recuperação. Seja paciente consigo mesmo, porque nos primeiros meses sua capacidade física e mental podem não ser as mesmas. Deve diminuir sua carga horária ou o número de atividades, se sentir que é excessiva; mas a inatividade prolongada faz as pessoas repetirem ou prolongarem a fase depressiva sem nenhum benefício. Com o tempo poderá também perceber que é importante utilizar um pouco da sua energia em uma atividade que possa ajudar outras pessoas e/ou instituições, saindo um pouco de seu pequeno mundo e percebendo a importância e bem estar que traz ajudar ao próximo, de conseguir tornar outros um pouco mais felizes e menos carentes física e psicologicamente.
14-Liberte-se de expectativas irreais
Acreditar que a vida deveria ser diferente, não envolvendo escolhas dolorosas, sofrimentos e perdas é irreal e só traz revolta, o que só prejudica. Tornando nossas expectativas quanto a nós mesmos, aos outros e à vida mais realistas, fica mais difícil nos frustrarmos e mais fácil nos adaptarmos. Ninguém passa por situações que não mereça, por puro acaso; nem enfrenta uma carga maior do que a que tenha capacidade para carregar. Saber que não vivemos num mundo desorganizado e que existem leis universais, “nada acontece por acaso”; tudo tem uma razão de ser justa e produtiva, nos leva a encarar os acontecimentos (com relação a nós e aos outros envolvidos), mesmo os mais difíceis, como oportunidades de aprendizagem e crescimento.
15-Integrando a perda
As pessoas não “têm” que ser “vítimas”, qualquer que seja a perda, por pior que tenha sido. Situações de muito sofrimento podem ser transformadas em aprendizado. É preciso deixar de lado as perguntas centradas no passado (que é imutável) e no sofrimento (“Por que isso aconteceu comigo”?) e começar a fazer perguntas que abrem as portas para o futuro:- “Agora que isto aconteceu o que posso e devo fazer? O que posso aprender com isto? O que posso fazer para Ser e sentir-me melhor?” Geralmente quando chegamos à fase da aceitação, atingimos a compreensão e crescemos com a experiência, a dor se vai. Fica a saudade de uma pessoa com a qual convivemos e que nos proporcionou bons momentos e ensinamentos, tanto com suas qualidades, como com seus defeitos; com a qual compartilhamos uma parte de nossa vida. Só se tem saudade de algo que foi bom ou nos trouxe algo de positivo. Deve ser mais triste não ter de quem sentir saudade, seja de uma pessoa deste ou de outro plano.
16-Pesar excessivamente longo
Quando um sofrimento excessivo consome alguém por mais de um ano, geralmente o problema principal não é a perda em si, mas algum outro aspecto que precisa ser entendido. Muitas vezes isto ocorre quando havia uma dependência excessiva em relação à pessoa que se foi, quando a culpa por algum motivo é um componente muito forte na situação, problemas emocionais pessoais ativados ou reforçados pela perda ou outras razões significativas. Amigos, conselheiros ou um psicólogo podem ser necessários neste caso.
17-Procure ajuda profissional, se necessário.
A maioria dos que procuram ajuda de psicoterapeuta não são doentes mentais, são pessoas comuns enfrentando problemas, passando por uma crise e muitas delas sofrendo uma perda. Um profissional da área é alguém com quem você pode dividir seu sofrimento, sua revolta, seu medo, suas lembranças dolorosas, sua culpa e seus conflitos; que pode compreendê-lo e ajudá-lo. As sessões de terapia podem ajudá-lo também a tomar decisões práticas que o farão sentir-se melhor. Você pode precisar de apenas algumas sessões, muitos meses para superar a fase mais difícil, ou mais tempo; tudo vai depender do significado individual da perda, da maneira como reage às crises e à terapia.
No início do pesar, uma das formas mais comuns de manifestar o sofrimento é resistir a crescer com ele. A vida pode ser prejudicada ou fortalecida por uma perda. Ninguém permanece o mesmo. Cada situação é única e só a própria pessoa pode buscar e encontrar respostas relativas ao “outro eu” e à outra vida que vão emergir.
Cada pessoa decide se vai ou não crescer com essa experiência dolorosa , e quando.
Maria José G. S Nery- Psicóloga Clínica
E mail:-majonery@yahoo.com.br, zezegomes@hotmail.com
Campinas- SP -Brasil
Fonte:http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=233
Terapia do luto ajuda a superar a morte
A terapia do luto é uma boa alternativa para superar a morte de uma pessoa querida. Descubra melhor como ela funciona e veja como seguir em frente.
A morte de alguém querido é como uma ferida. No início sangra, arde, dói de maneira quase insuportável. Com o tempo, vai fechando. O processo para curar essa ferida é longo e doloroso. Cissa Guimarães, por exemplo, recorreu à ajuda da terapia do luto após a morte de seu filho Rafael, de 18 anos, atropelado em um túnel no Rio de Janeiro, no ano passado. "Não é um dia após o outro, e sim um minuto após o outro", contou ela.
A terapia do luto ajuda quem sofre essa perda a buscar dentro de si o que ainda dá sentido à sua vida, para reconstruí-la. "Procura-se enfatizar que o sofrimento é único e que ninguém o sentirá da mesma maneira. Cada um manifesta sua dor de um jeito para encontrar um alívio", explica Adriana Thomaz, psicóloga que deu apoio para Cissa. "Com ela [Adriana], entendi melhor a morte, como fazer a conexão com o amor do meu filho e reaprender a viver", revelou Cissa Guimarães em entrevista .
Parar a vida por causa de tanto sofrimento pode destruir até a saúde de uma pessoa. Para sair dessa é preciso lutar. "A qualquer tempo pode-se procurar ajuda especializada. Acredito que a terapia do luto se iniciada logo após a morte, tem muitos benefícios, não pela 'terapia' em si, mas pelo aconselhamento. O tratamento consiste nesse reaprendizado, descobrindo e reconhecendo a maneira particular de aquela pessoa viver seu luto e encontrar suas próprias ferramentas para aliviar a sua dor", completa Adriana.
A terapia do luto ajuda quem sofre essa perda a buscar dentro de si o que ainda dá sentido à sua vida, para reconstruí-la. "Procura-se enfatizar que o sofrimento é único e que ninguém o sentirá da mesma maneira. Cada um manifesta sua dor de um jeito para encontrar um alívio", explica Adriana Thomaz, psicóloga que deu apoio para Cissa. "Com ela [Adriana], entendi melhor a morte, como fazer a conexão com o amor do meu filho e reaprender a viver", revelou Cissa Guimarães em entrevista .
Parar a vida por causa de tanto sofrimento pode destruir até a saúde de uma pessoa. Para sair dessa é preciso lutar. "A qualquer tempo pode-se procurar ajuda especializada. Acredito que a terapia do luto se iniciada logo após a morte, tem muitos benefícios, não pela 'terapia' em si, mas pelo aconselhamento. O tratamento consiste nesse reaprendizado, descobrindo e reconhecendo a maneira particular de aquela pessoa viver seu luto e encontrar suas próprias ferramentas para aliviar a sua dor", completa Adriana.
Fases do luto
1. Entorpecimento
É preciso aceitar a realidade da morte.
2. Busca e saudade
Viver a dor tentando entender o que está passando.
3. Desorganização e desespero
"É a fase mais difícil, quando 'cai a ficha'. A terapia do luto iniciada no início do processo ajuda a dar ferramentas de suporte para esses momentos mais difíceis, como a elaboração de uma forte rede de apoio, ajuda espiritual (não necessariamente religiosa) e a busca do sentido da vida", explica Adriana Thomaz.
4. Reorganização e aceitação
É a hora de se adaptar ao meio em que vive no qual o falecido não está mais. Fazer a redistribuição dos papéis por ele desempenhados e tirar a sua energia emocional dessa relação com a morte dele.
É preciso aceitar a realidade da morte.
2. Busca e saudade
Viver a dor tentando entender o que está passando.
3. Desorganização e desespero
"É a fase mais difícil, quando 'cai a ficha'. A terapia do luto iniciada no início do processo ajuda a dar ferramentas de suporte para esses momentos mais difíceis, como a elaboração de uma forte rede de apoio, ajuda espiritual (não necessariamente religiosa) e a busca do sentido da vida", explica Adriana Thomaz.
4. Reorganização e aceitação
É a hora de se adaptar ao meio em que vive no qual o falecido não está mais. Fazer a redistribuição dos papéis por ele desempenhados e tirar a sua energia emocional dessa relação com a morte dele.
As perguntas mais frequentes
O que fazer com o quarto e pertences de um filho (desmanchar tudo fará a dor diminuir mais depressa)?
Não. Desmanchar tudo não fará a dor diminuir depressa. Quem deve decidir quando e como desmanchar o quarto daquele filho são os pais. Não há regra. O aconselhamento é que esses pais conversem muito. Se há dúvida, é importante esperar até o momento certo. O quarto pode ficar montado por um tempo, de 3 a 6 meses.
Quanto tempo leva para que as coisas voltem ao "normal"?
As coisas nunca voltarão ao normal, se você acha que isso significa ser tudo igual ao que era antes. A pessoa não voltará mais e é preciso se acostumar com essa ausência nos ambientes que vocês costumavam dividir. Se o normal, para você, é a rotina, isso depende muito de cada um que está de luto. Mas, geralmente, em seis meses já se começa a encontrar mais "normalidade".
O que fazer nas datas comemorativas?
Adriana afirma que os rituais são extremamente importantes, sobretudo nas datas comemorativas. Podem ser religiosos ou não. Mas devem fazer sentido para quem ficou. Por exemplo, se a pessoa que morreu gostava de fazer festas de aniversário, reunir seus amigos no dia pode ser uma boa, se isso fizer bem para você.
Não. Desmanchar tudo não fará a dor diminuir depressa. Quem deve decidir quando e como desmanchar o quarto daquele filho são os pais. Não há regra. O aconselhamento é que esses pais conversem muito. Se há dúvida, é importante esperar até o momento certo. O quarto pode ficar montado por um tempo, de 3 a 6 meses.
Quanto tempo leva para que as coisas voltem ao "normal"?
As coisas nunca voltarão ao normal, se você acha que isso significa ser tudo igual ao que era antes. A pessoa não voltará mais e é preciso se acostumar com essa ausência nos ambientes que vocês costumavam dividir. Se o normal, para você, é a rotina, isso depende muito de cada um que está de luto. Mas, geralmente, em seis meses já se começa a encontrar mais "normalidade".
O que fazer nas datas comemorativas?
Adriana afirma que os rituais são extremamente importantes, sobretudo nas datas comemorativas. Podem ser religiosos ou não. Mas devem fazer sentido para quem ficou. Por exemplo, se a pessoa que morreu gostava de fazer festas de aniversário, reunir seus amigos no dia pode ser uma boa, se isso fizer bem para você.
Como apoiar quem está sofrendo
A revolta também é um sentimento normal para quem está de luto. "Nada consola. O que se deve fazer é oferecer acolhimento e apoio", diz Adriana. Quem quer ajudar deve manter os braços abertos para que a pessoa manifeste qualquer tipo de sofrimento, sem conselhos, críticas ou cobranças. "A primeira coisa é garantir ao enlutado que a dor da perda é para sempre, sim, mas a intensidade da dor, a característica do sofrimento, deve mudar", assegura Adriana.
· Frases que podem atrapalhar: "Seja forte." "Não chore, seu filho não ia querer te ver triste." "O tempo cura tudo." "Confio na sua força."
· Frases que podem atrapalhar: "Seja forte." "Não chore, seu filho não ia querer te ver triste." "O tempo cura tudo." "Confio na sua força."
Fonte:http://mdemulher.abril.com.br/bem-estar/reportagem/auto-ajuda/terapia-luto-ajuda-superar-morte-644895.shtml
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