FILME "A GRANDE BELEZA" : ROMA EM SEU ESPLENDOR,LEMBRANDO FELLINI,A PARTIR DO OLHAR DE UM HOMEM ESNOBE DESCRENTE

Vencedor de filme em língua estrangeira no 

Globo de Ouro 2014 estreia nesta sexta

'A Grande Beleza' revela a crueza da realidade a partir do olhar de um homem esnobe e descrente

Em Roma, durante o verão, o escritor Jap Gambardella reflete sobre sua vida. Ele tem 65 anos de idade, e desde o grande sucesso do romance "O Aparelho Humano", escrito décadas atrás, ele não concluiu nenhum outro livro. Desde então, a vida de Jep se passa entre as festas da alta sociedade, os luxos e privilégios de sua fama. Quando se lembra de um amor inocente da sua juventude, Jep cria forças para mudar sua vida, e talvez voltar a escrever.

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O ator Toni Servillo e coadjuvante como prostituta em cena do filme 'A Grande Beleza', do diretor Paolo Sorrentino
O ator Toni Servillo e coadjuvante como prostituta em cena do filme 'A Grande Beleza', do diretor Paolo Sorrentino.Autor de apenas um romance, Jep Gambardella (Toni Servillo) observa a decadência da vida contemporânea

O que não falta ao novo longa do italiano Paolo Sorrentino, A grande beleza, é ironia. O problema é entender todas elas. São refinadíssimas e com crítica afiada para o modo de vida contemporâneo, o que se entende como arte, sucesso, riqueza, felicidade, enfim, conceitos carregados de subjetividade que rondam o dia a dia do mundo pasteurizado. E prepare-se: não há nenhuma mensagem direta, nada mastigado para o espectador neste longa vencedor do Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira. Inevitavelmente, é uma obra que força buscar interpretação para cenas que beiram o absurdo.

A trama se passa em Roma e durante os 142 minutos acompanhamos o modo de vida particular de Jep Gambardella (Toni Servillo). Mais que isso: aprendemos a entender o mundo sob a ótica descrente dele. Autor de apenas um romance na vida – e que lhe garantiu fama –, é um homem que tem olhar esnobe para tudo, vive em festas de gente rica. Não há dúvidas do quanto Gambardella sabe como ninguém vestir as máscaras sociais. Também é mestre em descartá-las.

Ao mesmo tempo em que se recusa abertamente a ser mais um mundano entre nós, o protagonista desfruta das futilidades para destilar um olhar cruel para o que o cerca. Chega a ser impiedoso, mas sem jamais perder o humor. É como se ele escancarasse a decadência que há em tudo, seja na arquitetura romana, nos vícios da modernidade, no encontro entre amigos, nos relacionamentos amorosos, nos bastidores do poder, nas tramóias políticas e até na doutrina da igreja.

O roteiro assinado por Paolo e Umberto Contarello envolve o espectador de tal modo que, pouco a pouco, nos damos conta de que nem tudo é o que parece. O estranho tem seu lugar. Apesar de diálogos mordazes, o não dito vale mais do que é falado. O discurso, na verdade, está nas entrelinhas. Nesse sentido, elementos como fotografia do filme e a direção de arte contribuem para a construção da mensagem.

Graças ao talento do ator Toni Servillo, a empatia com Jep é quase imediata. Assim, é como se o protagonista compartilhasse com o espectador algo que é essencial para o longa: mesmo tendo teoricamente uma “boa” vida, não há como escapar de certo vazio. Ninguém é imune a isso. Não adianta ter dinheiro, estar cercado de amigos ou obras de arte. A despeito do título, 'A grande beleza fala', na verdade, da feiura da realidade. E o melhor: à italiana, samba na cara da sociedade.

Assista o trailer de 'A Grande Beleza':




Fonte:
http://divirtase.uai.com.br/app/noticia/cinema/2014/01/24/noticia_cinema,150789/


Crítica: 'A Grande Beleza', de Paolo Sorrentino, vale segunda ida ao cinema


Em um final de ano magro nos cinemas, o italiano "A Grande Beleza" é, ao lado do "Blue Jasmine" de Woody Allen, o programa irresistível para o cinéfilo sitiado na cidade.
São filmes que podem ser vistos com prazer mais de uma vez –o que não é o caso do muito bom "Azul É a Cor Mais Quente", apesar das francesinhas graciosas.
Mas não é grande a frequência nas salas que exibem "A Grande Beleza". Há tempo de corrigir isso, no clima persistente de feriado no primeiro fim de semana do ano.
p.
É apropriada a comparação com o Antonioni de "A Noite" e, principalmente, o Fellini de "A Doce Vida". A jornada hedonista de Jep Gambardella, escritor de um único e elogiado livro e repórter cínico de revista esnobe, poderia ser protagonizada por um Marcello Mastroianni (1924-1996).
Mas Toni Servillo, ator de 54 anos interpretando alguém de 65, é uma das razões do sucesso do longa. Acompanhá-lo em seu balanço da vida mundana fascina, mas a empatia do público com ele pode ofuscar uma segunda e importante leitura do filme.
É possível isolar os episódios em que Gambardella assiste a performances de artistas "modernos" e os entrevista. O que se vê é uma sucessão de embates entre a ironia inteligente do escritor e o vazio de simulacros de arte.
Entre uma atriz nua que bate a cabeça violentamente num muro e a menina de dez anos que "pinta" quadros com jorros de tinta, Sorrentino investe com fúria bem-humorada contra o beco sem saída de uma significativa parcela da arte contemporânea.
O que surpreende é ver esse ataque subversivo surgir em um filme belíssimo e —ainda bem— um tanto "antiquado".
A GRANDE BELEZA
DIREÇÃO Paolo Sorrentino
PRODUÇÃO Itália/França, 2013
ONDE Frei Caneca e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo 



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