No processo de formação das primeiras civilizações, a região do Crescente Fértil foi um importante espaço, na qual a relação de dependência do homem em relação à natureza diminuía e vários grupos se sedentarizavam. A domesticação de animais, a invenção dos primeiros arados, a construção de canais de irrigação eram exemplos de que a agricultura viria a ocupar um novo lugar no cotidiano do homem. Mais do que isso, todo esse conhecimento foi responsável pela formação de amplas comunidades.
Entre todas essas civilizações, o Egito destacou-se pela organização de um forte Estado que comandou milhares de pessoas. Situada no nordeste da África, a civilização egípcia teve seu crescimento fortemente vinculado aos recursos hídricos fornecidos pelo Rio Nilo. Tomando conhecimento do sistema de cheias desse grande rio, os egípcios organizaram uma avançada atividade agrícola que garantiu o sustento de um grande número de pessoas.
Além dos fatores de ordem natural, devemos salientar que a presença de um Estado centralizado, comandado pela figura do Faraó, teve relevante importância na organização de um grande número de trabalhadores subordinados ao mando do governo. Funcionários eram utilizados na demarcação de terras e cada camponês era obrigado a reservar parte da produção para o Estado. Legumes, cevada, trigo, uva e papiro estavam entre as culturas mais comuns neste território.
Observando as grandes construções e o legado do povo egípcio, abrimos caminho para um interessante debate de cunho histórico. Tomando como referência as várias descobertas empreendidas no campo da Astronomia, Matemática, Arquitetura e Medicina, vemos que os egípcios não constituíram simplesmente um tipo de civilização “menos avançado” que o atual. Afinal de contas, contando com recursos tecnológicos bem menos avançados, eles promoveram feitos, no mínimo, surpreendentes.
Por Rainer Sousa Mestre em História
A Civilização Egípcia
Uma das maiores e mais antigas civilizações do mundo antigo foi oEgito.
ACivilização Egípciase desenvolveu as margens do Rio Nilo, situado no nordeste da África.
ORio Nilofoi essencial para a existência do Egito. As águas do Nilo fertilizavam uma grande extensão de terras destinadas a agricultura.Os egípcios eram um povo de grande conhecimento. Foram eles os primeiros a realizarem obras de drenagem e irrigação.
Os historiadores dividem a história do Egito antigo em 4 períodos, são eles:
O Período Arcaico
Iniciou-se por volta do quarto milênio a.C.. A região egípcia era formada por vários comunidades conhecidas comoNomos, que por sua vez uniram-se em reinos, um no Norte e outro no Sul. Os dois reinos se fundiram em apenas um sob a liderança doFaraó Menés.
Antigo Império (3200a.C - 2200 a.C)
Foi o período de esplendor dos egípcios, grandes construções e realizações foram feitos nesta época. O controle das enchentes das águas do rio Nilo foram alcançadas graças aos intelectuais egípcios que não eram poucos. Estes intelectuais aprenderam na pratica as soluções de problemas matemáticos, astronômicos e médicos. Foi no Antigo Império que foram construídas as grandesPirâmides do Egito.
Médio Império (2200 a.C - 1580 a.C)
OImpério Egípciofoi invadido por povos oriundos da Ásia, eram os "Hicsos". Nesta apóca, a capital do Egito foi transferido para Tebas. Os Hicsos conseguiram impor sua superioridade aos egípcios valendo-se de cavalos e carros de guerra.
Novo Império (1580 a.C - 1085 a.C)
Os egípcios conseguiram expulsar os Hicsos, no entanto, o Império passou a ser invadido constantemente por outros povos estrangeiros. Primeiramente foram os Assírios, depois foi a vez dos Persas, os Gregos e os Romanos.
A Sociedade Egpícia
A religião egípcia enfluênciava profundamente as relações sociais no Egito. Ela tinha impacto sobre a literatura, a arquitectura e pintura. Antes da unificação do território por Menés, cada Nomo (Província), tinha seu próprio Deus protetor. Com a criação do estado nacional pelos Faraós, foi colocado em pratica a adoração dos principais deuses do Egito.
Osirisera o Deus do Rio Nilo e protetor dos mortos.Amom-Ráera o personificação do Sol, o principal Deus do Egito. Ele simbolizava a justiça e a verdade. Os Faraós eram muitas vezes adorados por serem considerados deuses na forma humana.
Por viverem num clima quente e seco, os egípcios usavam roupas leves. Usavam um pano amarrado na cintura em forma de saia e alguns poucos usavam sandálias.
A sociedade era dividida em classes. O Faraó ocupava o cargo de maior prestígio, em seguida vinham os nobres com suascasasgrandiosas, os sarcedotes e militares de cargos importantes. Trabalhadores e camponeses formavam a classe mais numerosa e menos favorecida da sociedade.
Também existia estrangeiros noEgipto, eram pessoas compradas ou capturadas para trabalharem como escravos. Entre esses escravos estavam os judeus que foram escravizados em grande número. O Egito é mencionado varias vezes no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada.
O comércio era bastante praticado entre o alto e o baixo Egito. A agricultura era a propulsora da economia na região.
A Civilização Egípcia foi uma das primeiras a usarem a invenção da escrita. A escrita egpícia foi dividida em três segmentos: o Hieroglífico, Hierático e Demotico.
Um dos primeiros a decifrar a escrita egípcia foi o francêsFrançôis Champollionem 1822.
O povo egípcio acreditava em vida após a morte, e que o espírito retornaria ao corpo. Para que a alma voltasse, o corpo tinha que estar bem conservado. Objetivando isto eles criaram a técnica de mumificação. A mais famosa dasmúmiasegpícias é a do Faraó Tutancâmon.
Na tentativa de reconstruir o passado, os estudiosos se deparam com inúmeros problemas.
Existem diversas hipóteses a considerar, é preciso encontrar as soluções, provas são necessárias para comprovar teorias.
O importante para a arqueologia são os fatos e hoje sabemos consideravelmente mais do que no passado. Atualmente, tesouro maior do que ouro, prata, pedras preciosas, é tudo aquilo que possa ajudar a escrever a história de um povo.
A história segue em ciclos e muitas evidências se perdem ao longo do tempo, por isso é importante, nesse caso, uma abordagem distanciada, pois somos leigos e esse pequeno livro passa apenas uma vista d´olhos sobre um assunto extenso e complexo.
A civilização egípcia deixou um legado riquíssimo em todas as atividades humanas. E é um pouco dessa história que vamos escrever, a história de um povo que continua a nos surpreender.
Com os recursos tecnológicos atuais, as pesquisas se tornam mais e mais acuradas, as escavações trazem à tona não só as lembranças dos altos dignitários mas também dos trabalhadores. O rico solo do Egito já contou muito de sua história e com toda a certeza ainda tem muito a revelar.
OAntigo Egitofoi umacivilizaçãodaAntiguidade orientaldoNorte de África, concentrada ao longo ao curso inferior dorio Nilo, no que é hoje o país moderno doEgito. Era parte de um complexo de civilizações, as "Civilizações do Vale do Nilo", do qual também faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente noSudão,Eritreia,EtiópiaeSomália. Tinha como fronteiras oMar Mediterrâneo, a norte, oDeserto da Líbia, a oeste, oDeserto Oriental Africanoa leste, e a primeira catarata do Nilo a sul.1O Antigo Egito foi umas das primeiras grandes civilizações daAntiguidadee manteve durante a sua existência uma continuidade nas suas formas políticas,artísticas,literáriasereligiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contactos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.2
A civilização egípcia se aglutinou em torno de3 150 a.C.3com a unificação política doAltoeBaixo Egito, sob o primeirofaraó(Narmer), e se desenvolveu ao longo dos três milênios seguintes.4Sua história desenvolveu-se ao longo de três grandes reinos marcados pela estabilidade política, prosperidade económica e florescimento artístico, separados por períodos de relativa instabilidade conhecidos comoPeríodos Intermediários. O Antigo Egito atingiu o seu auge durante oImpério Novo(ca.1 550–1 070 a.C.), uma era cosmopolita durante a qual, graças às campanhas militares do faraóTutmés III, o Egito dominou, uma área que se estendia desde aNúbia, entre a quarta e quinta cataratas do rio Nilo, até aorio Eufrates,5tendo após esta fase entrado em um período de lento declínio. O Egito foi conquistado por uma sucessão de potências estrangeiras neste período final. O governo dos faraós terminou oficialmente em31 a.C., quando o Egito caiu sob o domínio doImpério Romanoe se tornou umaprovíncia romana, após a derrota da rainhaCleópatra VIInaBatalha de Áccio.6
O sucesso da antiga civilização egípcia deve-se em parte à sua capacidade de se adaptar às condições do Vale do Nilo. A inundação previsível e airrigaçãocontrolada do vale fértil produziam colheitas excedentárias, o que alimentou odesenvolvimento sociale cultural. Com recursos excedentários, o governo patrocinou a exploração mineral do vale e nas regiões do deserto ao redor, o desenvolvimento inicial de um sistema deescrita independente, a organização de construções coletivas e projetos deagricultura, ocomérciocom regiões vizinhas, e campanhas militares para derrotar os inimigos estrangeiros e afirmar o domínio egípcio. Motivar e organizar estas atividades foi uma tarefaburocráticadosescribasde elite, dos líderes religiosos, e dos administradores sob o controle de um faraó que garantiu a cooperação e a unidade do povo egípcio, no âmbito de um elaborado sistema decrenças religiosas.78
As muitas realizações dos antigos egípcios incluem o desenvolvimento de técnicas deextração mineira, topografia e construção que permitiram a edificação de monumentaispirâmides, templos eobeliscos; um sistema dematemática, um sistema prático e eficaz demedicina, sistemas de irrigação e técnicas de produção agrícola, os primeirosnaviosconhecidos,9faiançae tecnologia comvidro, novas formas deliteraturae o mais antigotratado de pazconhecido, o chamadoTratado de Kadesh.10O Egito deixou um legado duradouro. Suaarteearquiteturaforam amplamente copiadas e suas antiguidades levadas para os mais diversos cantos do mundo. Suas ruínas monumentais inspiraram a imaginação dos viajantes e escritores ao longo de séculos. O fascínio por antiguidades e escavações no início doIdade Contemporâneaesteve na origem dainvestigação científicada civilização egípcia e levou a uma maior valorização do seu legado cultural.11
Necrópole de Gizé(ou Guiza), um dos monumentos mais emblemáticos do Antigo Egito.
Mapa do Antigo Egito, mostrando grandes cidades e sítios(c.3 150-30 a.C.).
Etimologia
Os egípcios usaram vários nomes para se referirem à sua terra. O mais comum eraKemet, "a Terra Negra" ou "Terra Fértil", que se aplicava especificamente ao território nas margens do Nilo e que aludia à terra negra trazida pelo rio todos os anos.1213Decheret, "Terra Vermelha", referia-se aos desertos que circundavam o Nilo, onde os egípcios só penetravam para enterrar os seus mortos ou para explorarem pedras e metais preciosos. Também poderiam chamá-laTaui( "as Duas Terras", ou seja, o Alto e o Baixo Egito),Ta-meri("Terra Amada") ouTa-netjeru("A Terra dos Deuses"). NaBíbliao Egito é denominadoMisraim. A actual palavra Egito deriva do gregoAigyptos(pronunciadoAiguptos), que se acredita derivar por sua vez do egípcioHet-Ka-Ptah, "a mansão da alma dePtah".1415
Os habitantes atuais do Egito dão o nomeMisrao seu país, uma palavra que em árabe pode também significar "país", "fortaleza" ou "acastelado". Segundo a tradição,Misré o nome usado noAlcorãopara designar o Egito, e o termo pode evocar as defesas naturais de que o país sempre dispôs. Outra teoria é queMisrderiva da antiga palavraMizraim, que por sua vez deriva demd-roumdr, usada pelos locais para designar o seu país.16
História
No final do períodopaleolítico, o clima árido doNorte da Áfricatornou-se cada vez mais quente e seco, forçando as populações da área a se concentrarem ao longo doVale do Nilo, cuja fertilidade assegura o sustento do Egito desde os tempos doscaçadores e coletoresnômadesdoPleistoceno Médio(ca. 780-120 mil anos atrás) até à atualidade.17A planície fértil do Nilo deu aos homens a oportunidade de desenvolver umaeconomia agrícolasedentáriae uma sociedade mais sofisticada e centralizada que se tornou um marco na história da civilização humana.18
Período pré-dinástico
Estatuário feminino naqadano.
Paleta cosmética naqadana.
Nos períodos pré-dinástico e dinástico, o clima do Egito, assim como doSaaracomo um todo, sofreu repentinas variações climáticas que provocaram períodos de extremasecaedesertificação, assim como períodos de clima favorável e úmido: em fases úmidas o Saara era dominado por umasavanarica emfauna(avesemamíferos) eflora.1920Acaçateria sido muito importante entre os egípcios, pois fornecia carne.21As primeiras evidências dedomesticaçãoanimal são provenientes doDeserto Ocidentaltendo sido datadas de8 800-6 800 a.C.: os animais domésticos eram criados com base no modelo depastoreioafricano, no qual os animais fornecem leite e sangue, e não carne.22Por volta de5 500 a.C., pequenas comunidades que habitavam o vale do Nilo evoluíram para aglomerados culturais complexos caracterizados pelo amplo domínio da agricultura (os vestígios mais antigos de tal prática foram encontrados emFaium23)pecuáriae pormanufaturade objetos ecerâmica, assim como de um comércio primitivo: acultura Faiumiana(5 400-4 400 a.C.) desenvolveu pleno domínio emtecelagem;2425acultura Merimde(5 000-4 100 a.C.) construiu os primeiros túmulos egípciosneolíticosconhecidos (localizados no interior do assentamento), tendo possivelmente desenvolvido práticas rituais;262728a culturaOmariana(4 600-4 400 a.C.) produziu os mais antigos artefatos emcobredo Egito;29e aBadariana(4 400-4 000 a.C.) produziu os primeiros exemplos defaiançaevidroà base deesteatita.303132
Nacultura Maadiana(3 800-3 200 a.C.) se verificou o surgimento dos primeiros cemitérios bem definidos33assim como de um intenso comércio: importavam produtos doOriente Médio(madeira decedro,34nódulos desílex, cerâmica, ferramentas de pedra,resinas, óleos,vinho, cobre,basalto), Alto Egito (pentes, cerâmica,marfim, paletas cosméticasnt 1, cabeças declava) eDeserto Oriental(malaquita,manganês,cornalina,conchas,pérolas); exportavam cerâmica, conchas e cereais para o Oriente, cobre, basalto e sílex para o Alto Egito.35Sítios comoSaíseButotornaram-se centros de propagação cultural.36ACultura Naqada(4 000-3 000 a.C.) foi caracterizada pelo surgimento de elites regionais mercantis centradas em grandes centros de poder (Naqada,Hieracômpolis,Gebelein,Abadiya,Abidos). Tais centros evoluíram para estados regionais belicosos que disputaram entre si o poder, terras mais férteis e controle dasrotas comerciais.373839Possivelmente estes estados regionais delinearam a divisão administrativa egípcia conhecida comonomos.404142Durante os1 000anos de existência da cultura Naqada os centros regionais variaram em tamanho e poder: emNaqada Io maior centro era Naqada; emNaqada II(3 500-3 200 a.C.) era Hierakonpolis; emNaqada III(3 200-3 000 a.C.) era Abidos/Tinis.434445463147Esses centros tiveram cemitérios relacionados onde as elites eram sepultadas com rico espólio tumular.484950No final de Naqada II e durante Naqada III surgem as primeiras evidências de líderes regionais e, posteriormente, dos primeirosfaraós.5123
A cultura Naqada fabricou uma gama diversificada de bens materiais, reflexo do crescente poder e riqueza da elite: vasos (em basalto,marfim, cobre, osso e cerâmica), adereços pessoais (em osso,lápis-lazúli, conchas,faiança, madeira,ouro,pratae cobre),paletascosméticas zoomórficas e antropomórficas (emgrauvaqueeardósia), esteatita vítrea, figuras antropomórficas e zoomórficas (em marfim eterracota), cabeças de clava discoides e depois em forma de pera;4852esferas deferrometeoríticosão os mais antigos exemplos do uso de ferro no mundo.5354555657Durante Naqada I os primeiros exemplos de habitações construídas comtijolossão evidentes.58596061
As duas faces daPaleta de Narmer. Nela é representada a suposta unificação do Alto e Baixo Egito.71
No séculoIII a.C., o sacerdoteManetãoestabeleceu umacronologiados faraós desdeMenésaos seus contemporâneos, agrupando-os em 30 dinastias, um sistema ainda em uso atualmente.72Ele escolheu para começar a sua história oficial o rei chamadoMeni(emgrego:Menés) que se acredita ter sido o unificador dos reinos doAltoeBaixo Egito(ca.3 100 a.C.).73Na realidade, a transição para um estado unificado aconteceu de forma mais gradual do que os escritores egípcios relatam, e não há registro contemporâneo de Menés. Alguns académicos acreditam, no entanto, que o mítico faraó Menés pode realmente ter sido o faraóNarmer, que é retratado vestindotrajes reaissobre a cerimonialPaleta de Narmerem um ato simbólico de unificação,74ou então o faraóHórus Aha.75
Durante operíodo tinita(ca. 3 150 a.C.), a primeira dinastia de faraós consolidou seu controle sobre oAlto Egitomudando a capital deTinispara a recém-fundadaMênfis,76a partir da qual eles poderiam controlar aforça de trabalhoe a agricultura do fértilDelta, bem como as rotas do lucrativo e fundamental comércio com oLevante(especialmente com o corredorsírio-palestinode onde obtinham a madeira decedro). Os faraós realizaram ataques contranúbios,líbiosebeduínos, assim como realizaram incursões noSinaiem busca decobreeturquesae noMar Vermelhopara exploração das minas locais.75O crescente poder e riqueza dos faraós durante o período dinástico se refletiu em suasmastabaselaboradas e em estruturas de culto mortuário emAbidos, que foram utilizadas para celebrar o faraó endeusado após sua morte.77A forte instituição da realeza desenvolvida pelos faraós serviu para legitimar o controle estatal sobre a terra, trabalho e recursos que foram essencialmente para a sobrevivência e o crescimento da antiga civilização egípcia.78
No Império Antigo ocorreram diversas expedições para exploração mineral nas minas do Sinai e Mar Vermelho assim como campanhas militares contra núbios e líbios. Concomitantemente, o comércio com oOriente Próximo(Líbano, Palestina,Mesopotâmia) e oPuntintensificou-se e, juntamente com os sucessos militares, possibilitou ao Egito fundar acampamentos estratégicos e umafrotamarítima, assim como adquirir ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro,mirra,malaquitaeelectrum.79
Durante o Império Antigo, uma administração central bastante desenvolvida tornou possível o aumento da produtividade agrícola, o que serviria de motor para impressionantes avanços nos campos da arquitetura, arte e tecnologia.80Sob a direção dotjati(vizir), funcionários do Estado arrecadavam impostos, coordenavam projetos de irrigação para melhorar o rendimento das culturas, recrutavam camponeses para trabalhar em projetos de construção e estabeleceram um sistema de justiça que assegurava a manutenção da ordem e da paz.81Com os excedentes dos recursos disponibilizados por uma economia produtiva e estável, o Estado foi capaz de patrocinar a construção de monumentos colossais e a excepcional comissão de obras de arte para as oficinas reais.82
A par da crescente importância da administração central, surgiu uma nova classe deescribase oficiais letrados que receberam propriedades do faraó como pagamento pelos seus serviços.79Os faraós também fizeram concessões de terras para seus cultos funerários e templos locais, de forma a garantir que estas instituições teriam recursos necessários para a adoração do faraó após a sua morte. Acredita-se que cinco séculos de práticas feudais corroeram lentamente o poder econômico do faraó, e que a economia deixou de conseguir sustentar uma grande administração central.83Com a diminuição do poder do faraó, governantes regionais designadosnomarcascomeçaram a desafiar a supremacia do faraó.79Isso, em conjunto com um período de secas extremas entre2 200-2 150 a.C.,84é apontado como causa da transição para um período de 140 anos de fome e conflitos conhecido porPrimeiro Período Intermediário.85
Depois do colapso do governo central do Egito no final do Império Antigo, o governo não conseguiu sustentar ou estabilizar a economia do país. Os governadores regionais não podiam contar com o faraó para apoio em épocas de crise, e a consequente escassez de bens e disputas políticas agravaram-se para situações de fome e guerras civis de pequena escala. No entanto, apesar dos problemas, os líderes locais que já não deviam o tributo ao faraó, usaram esta independência para estabelecer uma cultura próspera nas províncias. Uma vez que dominavam os seus próprios recursos, as províncias desenvolveram-se economicamente, fato demonstrado por maiores e melhores atos fúnebres entre todas as classes sociais.86Verificaram-se surtos de criatividade, com os artesãos das províncias a adotarem e adaptarem motivos culturais antes restritos à realeza do Império Antigo, e os escribas desenvolveram estilos literários que expressam o otimismo e a originalidade do período.87
Livres da fidelidade ao faraó, os governantes locais começaram a competir entre si pelo controle territorial e poder político. Por volta de2 160 a.C., os governantes deHeracleópoliscontrolavam oBaixo Egito, enquanto um clã rival, baseado emTebas, a famíliaIntef, assumiu a posse doAlto Egito. À medida que os Intefs cresceram em poder e se expandiram para norte, um confronto entre as duas dinastias rivais tornou-se inevitável. Cerca de2 055 a.C., as forças de Tebas sob o comando deMentuhotep IIderrotaram finalmente os governantes de Heracleópolis, reunindo as Duas Terras e dando origem a um período de renascimento econômico e cultural conhecido como oImpério Médio.88
Império Médio
Estátua de Mentuhotep II.
Os faraós do Império Médio restituíram a prosperidade e estabilidade do país, situação que estimulou um renascimento da arte, literatura e projetos de construção monumental.89Mentuhotep II e seus sucessores daXI dinastiagovernaram a partir de Tebas, mas ovizirAmenemés I, ao assumir o trono que deu início início àXII dinastiapor volta de1 985 a.C., mudou a capital do país para a cidade deItjtawy, localizada emFaium.90De Itjtawy, os faraós da XII dinastia comprometeram-se a realizar uma recuperação de áreas degradadas e melhorar o sistema de irrigação para aumentar a produção agrícola no país. Além disso, deu-se a reconquista militar de toda aNúbia, rica em pedreiras e minas de ouro, enquanto trabalhadores construíram uma estrutura defensiva no Delta Oriental, chamada "Muros-do-Rei", para defesa do Egito contra ataques exteriores.91
Tendo sido garantida a segurança militar e política, e na presença de uma vasta riqueza agrícola e mineira, a população, a arte e a religião prosperaram significativamente. Em contraste com a atitude elitista do Império Antigo para com os deuses, no Império Médio assistiu-se a um aumento nas manifestações de devoção pessoal, e àquilo que pode ser designado por democratização da vida no além, na qual todas as pessoas possuem uma alma e podem ser recebidas na companhia dos deuses.92A literatura do Império Médio abordava temas eruditos e personagens complexos, narrados num estilo confiante e eloquente.87A escultura capturou detalhes subtis e distintos que atingiram um novo patamar de perfeição técnica;93os líderes retomam o costume de erigirem pirâmides.94
No Império Médio, como forma de garantir a sucessão, os faraós ainda em vida dividiram o trono com seu sucessores, mantendo-os como co-faraós.95O último grande governante do Império Médio,Amenemés III, permitiu que colonos asiáticos se instalassem na região doDeltade modo a ter disponível força de trabalho suficiente para as suas particularmente ativas campanhas de construção e mineração. Estas ambiciosas campanhas, porém, em conjunto com cheias inadequadas do Nilo no seu reinado, fragilizaram a economia e precipitaram um lento declínio noSegundo Período Intermediáriodurante as posterioresXIIIeXIVdinastias. Durante esse declínio, os colonos asiáticos começaram a assumir o controle da região do Delta, acabando por alcançar o poder no Egito, como foi o caso doshicsos.96
Segundo Período Intermediário
Por volta de1 785 a.C., com o poder dos faraós do Império Médio enfraquecido, os imigrantes asiáticos residentes na cidade deAvárisassumiram o controle da região e forçaram o governo central a se retirar paraTebas, onde o faraó era tratado como um vassalo e era obrigado a pagar tributo.97Oshicsos(Heka-khasut, governantes estrangeiros) imitaram o modelo de governo egípcio e se apresentaram como faraós, integrando elementos egípcios na sua cultura daIdade do Bronze Médio.98Introduziram também elementos novos na civilização egípcia como ocavalo, oscarros de guerra, novos métodos de fiação etecelageme novos instrumentos musicais.95
Mapa da extensão territorial máxima do Antigo Egito (século XV a.C.).
Depois da retirada, os reis de Tebas se viram presos entre os hicsos no norte e os aliados núbios dos hicsos, oscuchitas, no sul. Após anos de inatividade, Tebas reuniu força suficiente para desafiar os hicsos em um conflito que duraria mais de 30 anos, até1 555 a.C.97Os faraósTaá IIeKamésacabaram por derrotar os núbios, mas foi o sucessor de Kamés,Amósis, que empreendeu com sucesso uma série de campanhas que permanentemente erradicaram os hicsos no Egito. NoImpério Novoque se seguiu, o poder militar se tornou uma prioridade central para os faraós, que procuraram expandir as fronteiras do Egito e garantir o domínio completo doOriente Próximo.99
Império Novo
Os faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem precedentes, ao assegurar as fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com seus vizinhos. Campanhas militares levadas a cabo sob o comando deTutmés Ie seu netoTutmés III, alargaram a influência dos faraós para o maior império que o Egito já havia visto.100Quando Tutmés morreu em1 425 a.C., o Egito prolongava-se desdeNiyano norte daSíriaaté à quarta catarata do Nilo, naNúbia, cimentando fidelidades e abrindo caminho para importações essenciais comobronzee madeira.101Os faraós do Império Novo iniciaram uma campanha de construção em grande escala para promover o deusAmon, com culto assente emKarnak.95Também construíram monumentos para glorificar suas próprias realizações, tanto reais como imaginárias. A faraóHatchepsutusou tais meios como propaganda para legitimar sua pretensão ao trono.102Seu reinado bem sucedido foi marcado por expedições comerciais aPunt, um elegantetemplo mortuário, um par deobeliscoscolossais e umacapela em Karnak. Apesar de suas realizações, o sobrinho e enteado de Hatchepsut,Tutmés IIItentou fazer desaparecer o seu legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália pela usurpação do seu trono.103
SobTutmés IV(1 397-1 388 a.C.) o Egito realizou uma aliança comMitannipara empreender ataques contra oshititas. ComAmenófis IIIforam edificados os templos deLuxor, o palácio deMalaqatae oTemplo de Milhões de Anos, do qual atualmente só restam os conhecidos "Colossos de Memnon", além do templo de Amon em Karnak ter sido ampliado.104Durante seu reinado, colheitas férteis e excedentes, permitiram a Amenófis III assegurar relações com os reinos orientais e com os nobres das cidades sírio-palestinas por meio de acordo diplomáticos, alguns dos quais envolvendo casamentos reais. Cerca de1 350 a.C., a estabilidade do Império Novo foi ameaçada quandoAmenófis IVsubiu ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Após mudar o seu nome paraAquenáton(O Esplendor de Aton), decretou como a divindade suprema o até aí obscuro deus SolAton, suprimindo o culto de outras divindades e atacando o poder religioso instalado.105Mudando a capital para a nova cidade deAquetaton(Horizonte de Áton, atualAmarna), Aquenáton tornou-se desatento aos negócios estrangeiros, deixando-se absorver pela devoção a Aton e pela sua personalidade de artista e pacifista.100Durante seu reinado as relações comerciais com oMar Egeu(minoicosemicênios) são cortadas e oshititascomeçam a fazer perigar a soberania egípcia na Síria.106Após sua morte, o culto de Aton foi rapidamente abandonado, e os faraósTutancâmon,AyeHoremhebapagaram todas as referências àheresiade Aquenáton, agora conhecida comoPeríodo Amarna.107
Fragmentos do tratado de paz entre os egípcios e hititas.
SobSeti I, o Egito controlou revoltas e conquistou a cidade deKadeshe a região vizinha deAmurru, ambas localidades palestinianas.Ramsés II, também conhecido comoRamsés, o Grandeascendeu ao trono por volta de1 279 a.C., prosseguindo a construção de um número significativo de templos, estátuas e obeliscos; foi o faraó com a maior quantidade de filhos da história (110 filhos).108Transferiu a capital do império de Tebas paraPi-RamsésnoDelta Oriental. Ousado líder militar, Ramsés II comandou o seu exército contra os hititas naBatalha de Kadeshem1 274 a.C.e depois de um impasse, assinou em1 258 a.C.109o primeirotratado de pazda história, conhecido comoTratado de Kadesh, onde ambas as nações comprometiam-se a se ajudar mutuamente contra inimigos internos ou externos.100O tratado foi selado com o casamento de Ramsés II e a filha mais velha do imperadorHatusil III.110
A riqueza do Egito fez dele um alvo tentador para uma invasão, em especial delíbiose dos chamadospovos do mar. No reinado deMerenptahambos os povos se aliaram com o objetivo de atacar o Egito, incitando também osnúbiosà revolta. Com a sequente derrota dos invasores, os revoltosos acabariam por ser suplantados. Durante o reinado deRamsés IIIo faraó conseguiu expulsar os povos do mar para fora do Egito em duas grandes batalhas, no entanto, eles acabariam por assentar na costa palestina e durante o reinado de seus sucessores tomariam por completo a região.100Entretanto é importante lembrar que o Egito não estava enfrentando apenas problemas externos. Após a morte de Ramsés II e a subida ao trono de seu filho Merenptah, a instabilidade política assolou o Egito.100Diversos golpes de Estado depuseram muitos faraós em pouco tempo e diversos distúrbios civis, corrupção, revoltas de trabalhadores e roubos de túmulos contribuíram para a instabilidade interna. Como forma de ganhar popularidade, durante o início daXX dinastiaforam concedidas terras, tesouros e escravos para os sacerdotes dos templos deAmon, o que fortaleceu o poder destes,111e esse poder crescente fragmentou o país durante oTerceiro Período Intermediário.112
Terceiro Período Intermediário
Por volta de730 a.C., líbios vindos do oeste fragmentaram a unidade política do país.
Após a morte deRamsés XIem1 070 a.C.,Smendesassumiu a autoridade sobre a parte norte do Egito governando a partir da cidade deTânis. O sul foide factocontrolado pelos sumos sacerdotes de Amon em Tebas, que reconheciam Smendes apenas formalmente.113O sacerdotePiankhconseguiu deter a expansão doreino de Cucheque havia dominado boa parte doAlto Egito.114
Na mesma época, os líbios tinham se instalado noDelta Ocidental, e os líderes destes colonos começaram a ganhar autonomia. Os príncipes líbios assumiram o controle do delta no reinado deShoshenk Iem945 a.C., fundando a dinastia chamada Líbia ou Bubastilas, que governaria por cerca de 200 anos. Shoshenk também ganhou o controle do sul do Egito, ao colocar os seus familiares em importantes cargos sacerdotais. Invadiu aPalestinadurante o reinado do reiRoboãoe restaurou o comércio comBiblos, aumentando a prosperidade da dinastia.114
SobOsorkon II, o Egito auxiliando os reinos sírio-palestinos repudiou as primeiras expediçõesassírias. As muitas guerras civis que se seguiram causaram a divisão do Egito em várias dinastias. O poder líbio entrou em declínio à medida que duas dinastias rivais surgiram, uma centrada emLeontópolis(XIII dinastia) e outra emSaís(XXIV dinastia). No entanto, a constante ameaça cuchita do sul forçou a união das três dinastias com vista à sua defesa. Por volta de727 a.C., o reicuchitaPiéderrotou um exército de oito mil soldados egípcios, invadiu o norte, tomou o controle deTebase doDelta, e formou aXXV dinastia.114115
O prestígio secular do Egito diminuiu consideravelmente durante o final doTerceiro Período Intermediário. Os seus aliados estrangeiros ficaram sob a esfera de influênciaassíria, e em700 a.C.a guerra entre os dois estados tornou-se inevitável. O faraóChabatakaempreendeu uma batalha contra os assírios da qual sairia vitorioso. O seu sucessor,Taharka, incentivou revoltas na Palestina assíria, tendo conseguido expulsar os assírios das imediações em673 a.C.114No entanto, entre 671 e667 a.C., os assírios iniciaram ataques contra o Egito. Os reinados dos reis cuchitas Taharka e do seu sucessorTanutamonforam marcados por conflitos constantes com os assírios, contra os quais os governantes núbios obtiveram várias vitórias.116Por fim, os assírios empurraram os cuchitas para aNúbia, ocupandoMênfise saquearam os templos de Tebas.117
Época Baixa
Estátua de um dignitário egípcio do período Saite.
Sem planos definitivos de ocupação, osassíriosdelegaram a administração do Egito numa série de vassalos que se tornariam conhecidos como reis saítas daXVI dinastia. Por volta de653 a.C., o reiPsamético Ilogrou expulsar os assírios com ajuda de mercenáriosgregos. A influência grega expandiu-se significativamente à medida que os gregos se concentraram na cidade deNaucratis, no Delta. A partir da nova capital emSaís, os reis saítas, testemunharam um breve, mas significativo ressurgimento da economia e cultura, mas em525 a.C., os poderosospersas aquemênidas, liderados porCambises II, iniciaram uma campanha de conquista do Egito, tendo acabado por capturar o faraóPsamético IIInaBatalha de Pelusa.118Em seguida Cambises II assumiu o título formal de faraó, governando o Egito a partir deSusa, deixando a região sob a administração de umsátrapa. Algumas revoltas bem sucedidas contra os persas marcaram o Egito noséculo V a.C., mas nunca foram capazes de os derrubar de forma definitiva.119
Após a sua anexação pelo Império Aquemênida, o Egito seria aglomerado com oChipree com aFenícia, na sexta satrapia dos persas aquemênidas. Este primeiro período de domínio persa sobre o Egito, também conhecido comoXXVII dinastia, terminou em402 a.C.. De 380 a343 a.C., aXXX dinastiagovernou como última casa real nativa do Egito dinástico, que terminaria com o reinado deNectanebo II. Uma breve restauração do domínio persa, por vezes designada comoXXXI dinastia, teve início em343 a.C., mas pouco depois, em332 a.C., o governante persaMazacesentregou sem grande resistência o Egito aAlexandre, o Grande.120
Em332 a.C., Alexandre Magno conquistou o Egito com pouca resistência dos persas e foi recebido pelos egípcios como um libertador. A administração estabelecida pelos sucessores de Alexandre, osPtolomeus, foi baseada no modelo egípcio e a capital estabelecida na recém-erguida cidade deAlexandria.121A cidade era uma montra do poder e prestígio do governo grego, e tornar-se-ia um polo de cultura e ensino, centrados na famosaBiblioteca de Alexandria.122OFarol de Alexandriailuminou o caminho para os muitos navios que mantinham vivo o comércio com o exterior, uma vez que a economia, assente em empresas de grande retorno económico, era a mais alta prioridade dos Ptolomeus.123
Acultura greganão pretendeu impor-se àcultura egípcianativa, tendo os Ptolomeus apoiado tradições seculares de forma a garantir a lealdade da população. Foram construídos novos templos em estilo egípcio, apoiadas as formas de culto tradicionais, e os governantes retratavam-se a si mesmo como faraós.121Algumas tradições de ambas as culturas foram fundidas, como deuses gregos e egípciossincretizadosem divindades híbridas, comoSerápis, e formas clássicas da escultura grega influenciaram motivos tradicionais egípcios. Apesar dos seus esforços para apaziguar os egípcios, os Ptolomeus foram contestados por rebeliões locais, rivalidades entre famílias e pela poderosa máfia de Alexandria, formada depois da morte dePtolemeu IV.124Além disso, à medida queRomadependia cada vez mais de importações de cereais do Egito, os romanos começaram a demonstrar grande interesse na situação política da região. Revoltas egípcias constantes, políticos ambiciosos e poderosos oponentes sírios contribuíram para a instabilidade da região, levando Roma ao envio de tropas com o objectivo de assegurar o país como província do seu império.125
Domínio romano
Um dosretratos de Faium, uma das tentativas de unir as culturas egípcia e romana.
O Egito tornou-se umaprovíncia romanaem30 a.C., após a derrota deMarco Antônioe da rainha PtolomaicaCleópatra VIIporOtaviano(posteriormente Imperador Augusto) naBatalha de Áccio.121Os romanos dependiam fortemente das remessas de cereais do Egito, e o exército romano, sob o comando de umprefeitonomeado pelo imperador, reprimiu revoltas, fez aplicar a cobrança de impostos, e impediu os ataques de salteadores, que se tinham tornado um problema significativo durante este período.126Alexandria torna-se um centro cada vez mais importante na rota de comércio com oOriente, uma vez que emRomahavia grande procura de mercadorias e bens exóticos e de luxo.127
Embora os romanos tivessem uma atitude mais hostil do que os gregos para com os egípcios, algumas tradições foram mantidas, como amumificaçãoe o culto dos deuses tradicionais. A arte de retratar as múmias floresceu e alguns dos imperadores romanos se fizeram retratar como faraós, embora não na medida dos Ptolomeus, já que os primeiros moravam fora do Egito e não desempenharam funções cerimoniais da realeza egípcia. A administração local tornou-se romana o que tendeu a minar a liberdade dos nativos egípcios.128
A partir de meados doséculo I d.C., ocristianismose enraizou em Alexandria, sendo visto e aceito como outro culto. No entanto, o fato de ser uma religião inflexível eproselitista, que procuravaconverterpessoas dopaganismo, ameaçando com isso as tradições religiosas populares, levou à perseguição dos convertidos ao cristianismo, que culminou com o grandeexpurgo de Dioclecianoa partir de 303. Apesar disso, o cristianismo acabou por triunfar.129Em 391 o imperador cristãoTeodósio Iintroduziu uma legislação que proibiu ritos pagãos e os templos foram fechados.130Alexandria tornou-se palco de grandes protestos anti-pagãos, com imagens públicas e privadas destruídas.131Como consequência, a cultura do Egito pagão entrou em declínio. Enquanto a população nativa continuou a usar asua língua, a capacidade de ler e escreverhieróglifos, na medida em que o papel dos sacerdotes tornou-se exímio, acabou por retroceder.nt 2Os templos eram por vezes convertidos em igrejas ou abandonados.132
Noséculo IV d.C.o Império Romano dividiu-se em duas partes e o Egito se incorporou ao Império Oriental, conhecido como oImpério Bizantino. O Império do Oriente tornou-se cada vez mais "oriental" em grande estilo e suas antigas ligações com o mundo greco-romano começam a se desvanecer. O sistema grego de governos locais por cidadãos já tinha desaparecido completamente. Em 616 o reisassânidaCosroes IIconquistou o Egito,133cujo controle seria retomado pelos bizantinos em 628 sob o imperadorHeráclio.134
Conquista árabe
Mapa detalhando a rota dos invasores muçulmanos do Egito.
Em 639,Amr ibn al-As, um general árabe, à frente de um exército de4 000homensataca o Egitobizantino durante oexpansionismo árabedoséculo VII. Inicialmente tomaMênfise toma o controle das principais rotas de comunicação terrestre, o que lhe abre caminho para a capital da província,Alexandria. Após tais vitórias, seu exército recebe reforços de soldados que se interessaram pelobutim, alcançando cerca de20 000homens. Amr estabeleceu seu acampamento nas imediações da cidade deHeliópolis(local onde posteriormente seria fundada a cidade doCairo) de onde pode enviar suas tropas deassédioà cidade. Em 640 sitia Alexandria. A cidade é defendida por uma força de cerca de50 000homens, no entanto, em 642 a força bizantina rende-se, abandonando seus postos e permitindo a dominação da cidade. Os bizantinos reocupam a cidade em 645, no entanto, são novamente repelidos em 646.135
Após a submissão do Egito, a resistência dos nativos perante a ocupação árabe começou a materializar-se, tendo durado até aoséculo IX. Os árabes impuseram um imposto especial aos egípcios cristãos, ojizya.136Noséculo VII d.C.os árabes começam a empregar o termoquftpara descrever o povo do Egito. Desta forma os egípcios passaram a ser conhecidos comocoptas, e a Igreja Egípcia Não-Calcedônia tornou-se aIgreja Copta. Nos séculos seguintes, de forma gradual, os habitantes do Egito foram arabizados e islamizados, de modo que a identidade nativa e a língua egípcia sobreviveram apenas entre os coptas, que falavam alíngua copta, uma descendente direta doegípcio demóticofalado na época romana.137
A civilização egípcia se desenvolveu na região situada entre aprimeira catarata do Nilo(Assuão) e oDelta do Nilo. OSinai, que só pertenceu ao Egito após sua conquista noImpério Novo, foi utilizado como rota de comunicação para o corredorsírio-palestino, que a rigor seria a faixa de terra litorânea que liga o Egito àMesopotâmia. A leste do Nilo encontra-se oDeserto Oriental Africano(comumente conhecido como Deserto Oriental) que se estende até aoMar Vermelhoe a oeste fica oDeserto da Líbia(comumente conhecido como Deserto Ocidental) onde existem vários oásis dos quais se destacam os deSiuá,Kharga,Farafra,DakhlaeBahareia. O atual território doEgitonão pode ser comparada ao do Antigo Egito, pois, atualmente, o Sinai, e partes dos desertos Oriental e Ocidental estão dentro dos limites do Egito.138139
Ao sul da primeira catarata se localizava aNúbia.138O Nilo é formado por dois afluentes principais, oNilo Branco(que nasce noLago Vitória) e oNilo Azul(que nasce noLago Tana). Ambos os afluentes unem-se emCartum.140O Nilo corre de sul para norte, desaguando noMar Mediterrâneoe sua extensão é de aproximadamente6 740 km.12
No Antigo Egito distinguiam-se duas grandes regiões: oAlto Egitoe oBaixo Egito. Inicialmente o Alto e Baixo Egito eram reinos distintos que haviam se formado em torno de3 300 a.C.No entanto, acabaram por ser unificados poucos séculos depois. O Alto Egito (Ta-chemau) era uma estreita faixa de terra com cerca de 900 km de extensão começando emAssuãoe terminando emMênfis. O Baixo Egito (Ta-mehu) foi o Delta do Nilo, a norte de Mênfis, onde o rio se dividia em vários braços. Por vezes também se distingue na geografia egípcia uma região conhecida como oMédio Egito, que é o território a norte deQenaaté àregião do Faium.138
Vale do rio Nilo
O historiador gregoHeródoto(c, 484?-420 a.C.), chamou ao Egito"a dádiva doNilo".141Para os egípcios, o Nilo era uma verdadeira bênção dos deuses,142sendo considerado sagrado e adorado como um deus, ao qual dedicavam hinos e orações. As chuvas sazonais causavam enchentes que depositavamhúmusnas margens favorecendo a agricultura e pecuária; também fornecia água fresca, peixes, aves aquáticas além de servir para o transporte e comércio.143Como o nível do rio era inconstante os egípcios desenvolveramdiques,barragensecanaisde água para melhor aproveitarem as águas do rio, assim como o "nilômetro", uma construção usada para medir as enchentes.144Durante o período das enchentes os cidadãos eram deslocados para as cidades para trabalharem em outras tarefas.138
O meio mais fácil e rápido de viajar e transportar cargas pesadas era através de embarcações de diversos tamanhos que possuíam, no geral,remospresos a proa.145As embarcações usadas para transporte de cargas pesadas eram construídas com madeira doLíbano; as de transporte de pessoas, caça e pesca eram dejunco; as barcaças reais e as usadas para o transporte de estatuetas de deuses possuíam cabines, e eram decoradas com muitas cores eouroencrustado. O Nilo corre de sul para norte, mas o vento sopra geralmente de norte para sul, pelo que a navegação para para norte tem a corrente a seu favor e a navegação para sul é feita a favor do vento, o que era é aproveitado para utilizarvelas. No entanto, na ausência de vento causava, a única forma de navegar para sul é remar contra a corrente.138
Demografia
Estereótipo egípcio.
Os antigos egípcios foram o resultado de uma mistura das várias populações que se fixaram no Egito ao longo dos tempos, oriundas do nordeste africano, daÁfrica Negrae da áreasemítica. A questão relativa àetniados antigos egípcios é por vezes geradora de controvérsia, embora à luz dos últimos conhecimentos da ciência falar de raças humanas revela-se umanacronismo. Até meados doséculo XX, por influência de uma visãoeurocêntrica, os antigos egípcios eram considerados praticamente como brancos; a partir dos anos 1950, as teorias do "afrocentrismo", segundo as quais os egípcios eram negros, afirmaram-se em alguns círculos. Importa também referir que as representações artísticas são frequentemente idealizações que não permitem retirar conclusões neste domínio.146
O número de habitantes do Antigo Egito variou ao longo da história. Durante operíodo pré-dinástico(4 500-3 000 a.C.) a população rondaria as centenas de milhares; durante oImpério Antigo(séculosXVII-XII a.C.) situar-se-ia nos dois milhões, atingindo os quatro milhões por altura doImpério Novo. Quando o Egito se tornou umaprovíncia romanaestima-se que a população seria cerca de sete milhões. Como atualmente, a esmagadora maioria da população habitava as terras agrícolas situadas nas margens doNilo, sendo escassas as populações que viviam no deserto.148149
Governo
Administração
Ofaraóera geralmente representado usando símbolos da realeza e de poder.
Ofaraóera omonarcaabsoluto do país e, pelo menos em teoria, exercia o controle total da terra e seus recursos.150Era o comandante militar supremo e chefe do governo, que contava com umaburocraciade funcionários para administrar os seus negócios. O encarregado da administração, o vizir (tjati), era o segundo no comando, e atuava como conselheiro e representante do faraó, coordenava os levantamentos fundiários,tesouraria, projetos de construção, sistema legal e depósito de documentos.151A nível regional, o país estava dividido em 42 regiões administrativas chamadasnomos, cada uma governada por umnomarca,152que era responsável pelajurisdiçãodo vizir. Ostemplosformavam a espinha dorsal da economia. Eles não só eramedifícios de culto, mas também eram responsáveis por coletar e armazenar a riqueza da nação em um sistema deceleirose tesourarias administradas por superintendentes, que redistribuíam os cereais e os bens.153Como não era possível para o faraó estar em todos os templos para realizar as cerimônias, ele delegava o seu poder religioso aos sacerdotes, que conduziam as cerimônias em seu nome.154
Sistema jurídico
A cabeça do sistema jurídico era oficialmente o faraó, que era responsável pela promulgação de leis, aplicação da justiça e manutenção da lei e da ordem, um conceito que os egípcios antigos denominavamMa'at. Apesar de não terem chegado aos nossos dias quaisquercódigos legaisdo Antigo Egito, documentos da corte mostram que as leis egípcias foram baseadas em uma visão de senso comum de certo e errado, que enfatizou a celebração de acordos e resoluções de conflitos ao invés de cumprir rigorosamente um conjunto complicado de estatutos.155Conselhos locais de anciãos, conhecidos comoKenbetnoImpério Novo, eram responsáveis pela decisão em casos judiciais de pequenas causas e disputas menores.151Os casos mais graves envolvendo assassinato, grandes transações de terrenos e roubo de túmulos eram encaminhados para oGrande Kenbet, presidido pelo vizir ou pelo faraó. Os demandantes e demandados representavam-se a si próprios e eram obrigados a jurar que diziam a verdade. Em alguns casos, o Estado assumiu tanto o papel de acusador como o de juiz, e tinha poder para torturar os acusados com espancamento para obter uma confissão e os nomes dos co-conspiradores. Se as acusações fossem sérias, escribas da corte documentavam a denúncia, testemunhavam, e overedictodo caso era guardado para referência futura.156
As punições para crimes menores envolviam imposição de multas, espancamentos, mutilações faciais ou exílio, dependendo da gravidade do delito. Crimes graves, como homicídio e roubo de túmulos, eram punidos com execução pordecapitação, afogamento ouempalamento. A punição também podia ser estendida à família do criminoso.151A partir do Império Novo, osoráculosdesempenharam um papel importante no sistema jurídico, dispensando a justiça nos processos civis e criminais. O processo consistia em pedir a deus um "sim" ou "não" sobre o que era certo ou errado num problema. O deus, transportado por um número de sacerdotes, proferia a sentença, escolhendo um ou outro, movendo-se para a frente ou para trás, ou apontando para uma das respostas escritas em um pedaço depapiroou deóstraco.157
O exército egípcio antigo foi responsável pela defesa do Egito contra invasões estrangeiras e a manutenção da dominação egípcia noAntigo Oriente Próximo. No deserto havia patrulheiros que vigiavam as fronteiras e defendiam o império de expedições denômades. No Delta e no Vale do Nilo havia guardas rurais que defendiam os cobradores de impostos. No Império Novo surgiram osmedjayu, de origem núbia, que exerciam a função de patrulheiros do deserto, policiais das cidades enecrópoles, além de aplicadores das decisões da justiça.158O exército e a marinha egípcias eram complementares, onde os navios transportavam as tropas e os oficiais exerciam funções militares e navais. Os soldados eram recrutados entre a população em geral, mas durante e principalmente depois do Império Novo, foram contratadosmercenáriosda Núbia e Líbia para lutar pelo Egito.159Prisioneiros de guerra também foram incorporados ao exército egípcio. Por volta do Império Novo os exércitos eram divididos em unidades táticas autônomas de cinco a seis mil homens.160
Os exércitos empreenderam expedições militares no Sinai para proteção das minas locais durante oImpério Antigo161e lutaram em guerras civis durante oPrimeiroeSegundo Períodos Intermediários. Foram importantes para a manutenção de fortificações ao longo de rotas comerciais importantes, tais como as encontradas na cidade deBuhenno caminho para a Núbia. Também foram construídos fortes nas fronteiras com guarnições de 50 a 100 homens, para servirem como bases militares,160tais como afortaleza de Sile, a qual foi uma base de operações para expedições noLevante. No Império Novo, uma série de faraós usaram o exército para atacar e conquistarCuchee partes do Levante.162Há informações que alegam que houve a prática deespionagementre os exércitos egípcios.163
Os equipamentos militares típicos incluíramarcoseflechasdesílex,machados,clavas,lançasde cobre eescudosredondos feitos porestiramentode pele de animais sobre uma armação de madeira. No Império Novo, os militares começaram a usarbigase cavalos que haviam sido introduzidos pelos invasoreshicsosdurante o Segundo Período Intermediário.160As armas earmadurascontinuaram a melhorar com a introdução dobronze: os escudos eram agora feitos de madeira sólida com uma fivela de bronze, lanças receberam pontas de bronze e okhopesh, uma espécie deespadacom a extremidade curva, foi adotado a partir de modelos asiáticos.164O faraó foi geralmente representado na arte e na literatura andando à frente do exército e há evidências de que pelo menos alguns faraós, comoTaá IIe seus filhos, o fizeram.165
Economia
Agricultura
Pintura mural de um túmulo retratando trabalhadores arando os campos, a colheita das culturas e a debulha de cereais sob a direção de um supervisor.
Uma combinação de características geográficas favoráveis contribuiu para o sucesso da cultura egípcia, a mais importante das quais era o solo fértil resultante de enchentes anuais do Nilo. Os antigos egípcios foram, assim, capazes de produzir alimentos em abundância, permitindo que a população dedicasse mais tempo e recursos a atividades culturais, tecnológicas e artísticas. A gestão da terra foi crucial no Antigo Egito, porque os impostos foram avaliados com base na quantidade de terras em posse de uma pessoa.166Em teoria todas as terras pertenciam ao rei, mas a propriedade privada foi uma realidade.167
A agricultura no Egito foi dependente dos ciclos decheiasdo Rio Nilo. Os egípcios reconheceram três estações:Akhet(inundação),Peret(plantio) eShemu(colheita).168A estação das cheias dura de julho a outubro, depositando nas margens do Nilo uma camada delodorico em minerais para o cultivo. Após a redução do nível do rio, a estação deplantioia de novembro a fevereiro. Agricultores aravam a terra comaradospuxados porboise plantavam as sementes, que eram irrigadas por intermédio de sistemas de diques e canais.138142O Egito recebia pouca chuva, pelo que os agricultores usavam a água do Nilo para regar as culturas.169De março a junho, os agricultores usavamfoicespara suas colheitas, que eram depoisdebulhadascom ummangualou com as patas dos bois para separar apalhado grão. Os grãos eram usados para fabricarcervejaou armazenados em sacas nos celeiros reais para posterior distribuição.170
Assim era praticada a horticultura, sendo produzidos alho, cebola, pepino, alface e outras verduras e legumes; também eram plantadas árvores frutíferas e videiras. (...) O Egito era um dos "formigueiros humanos" do mundo antigo, em virtude da sua extraordinária fertilidade renovada anualmente pelosaluviões[cheias] do Nilo. Sendo a vida agrícola inteiramente dependente da inundação, quando esta faltava ou era insuficiente ocorria a fome - apesar das reservas acumuladas pelo Estado - e morriam milhares de pessoas. Temos muitos documentos escritos (e às vezes pictóricos) que se referem a tais épocas calamitosas. Numa delas, (...) segundo parece, houve casos decanibalismo.
”
—Ciro Flamarion S. Cardoso.O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense, 1986.176,
Criação animal
Rebanho de bovinos.
Os egípcios acreditavam que uma relação equilibrada entre pessoas e animais era um elemento essencial da ordem cósmica e que por conseguinte os animais e plantas eram membros de um todo.177Animais, tantodomésticoscomo selvagens, foram, portanto, uma fonte essencial de espiritualidade, companheirismo, e sustento. Os bovinos foram os animais mais importantes; a administração coletava impostos sobre o gado nos censos regulares, e o tamanho de um rebanho refletia o prestígio e a importância da propriedade ou do templo que o possuía. Além do gado, os antigos egípcios apascentavamcaprinos,ovinosesuínos. Aves comopatos,gansosepomboseram capturados em redes e criados em fazendas, onde eram alimentados à força com massa para engordá-los.178Asabelhastambém foram domesticadas, pelo menos desde o Império Antigo, e forneciam tantomelcomocera.179Também foram domesticadoshienaseguepardospara a caça.180
trabalhador arando o campo com tração animal.
Os egípcios usavamburrose bois como animais de carga e para lavrar os campos e debulhar as sementes. O abate de um boi gordo era também uma parte central de um ritual de oferenda. Os cavalos foram introduzidos peloshicsosnoSegundo Período Intermediário, e ocamelo, apesar de ser conhecido a partir doImpério Novo, não foi usado como um animal de carga até àÉpoca Baixa. Há também evidências que sugerem que oselefantesforam brevemente utilizados na Época Baixa, mas praticamente foram abandonados devido à falta de pastagens.178Cães, gatos e macacos eram animais comuns de estimação, enquanto animais de estimação mais exóticos importados do coração daÁfrica, como leões, estavam reservados para a realeza.Heródotoobservou que os egípcios eram o único povo que mantinha os seus animais em suas casas.177Durante operíodo pré-dinásticoe nos períodos posteriores, o culto dos deuses em sua forma animal era extremamente popular, como a deusa gataBastete o deusíbisThoth. Esses animais foram criados em grande número nas fazendas a fim de serem sacrificados.181
Para complementar a sua dieta, os egípcios caçavamlebres,antílopes, aves,hipopótamosecrocodilospor meio de redes, arcos e lanças, assim como pescavamcarpas, pescadas (no Delta) e, especialmente,tilápiascom o emprego deanzóisearpões; os peixes eram desidratados ao sol para conservação.174
“
Os egípcios foram muito ativos nas suas tentativas de domesticação de animais (...) Chegavam a experimentar hienas, antílopes,grousepelicanos! O gado maior - bois, asnos, (...) - servia em primeiro lugar para puxar o arado, para separar os grãos da palha e para o transporte. O cavalo era usado para puxar carros, e não montado. Vacas e bois eram usados também para a alimentação (carne, leite) e sacrificados aos deuses. (...) O gado menor compreendia ovelhas, cabras e porcos. (...) A agricultura e a criação eram complementadas pela pesca (...), praticada no Nilo, nos pântanos e nos canais com rede, anzol, nassa e arpão. Boa parte dos peixes era secado ao sol. Também a caça era praticada no deserto e nos pântanos, usando-se para tal o cão, o arco e o laço, e capturando-se aves selvagens com redes.
”
—Ciro Flamarion S. Cardoso.O Egito Antigo. São Paulo, Brasiliense, 1986.176,
Mineração
OMapa de Turimdescreve as minas de Wadi Hammamat e é o mapa de cunho topográfico conhecido mais antigo.
O Egito é rico em pedras de decoração e construção, cobre eminériosdechumbo,ouroepedras semipreciosas. Estesrecursos mineraispermitiram aos egípcios construir monumentos, esculpir estátuas, fazer ferramentas ejoias.182OsembalsamadoresutilizavamsaisdeWadi El Natrun(natrão) paramumificação, que também proporcionou agipsitanecessária para fazergesso.183Formações rochosas de minérios foram encontradas em barrancos inóspitos e distantes do Deserto Oriental e no Sinai, exigindo grandes expedições controladas pelo Estado para obter os recursos naturais ali encontrados. Havia extensas minas deouronaNúbia, e um dos primeiros mapas conhecidos é de uma mina de ouro na região.Wadi Hammamatfoi uma importante fonte degranito,grauvaquee ouro. Osílexfoi o primeiro mineral coletado e usado para fazer ferramentas e machadinhas de pedra. Nódulos do mineral eram cuidadosamente lascados para fazer lâminas e pontas de flechas, mesmo depois docobrepassar a ser usado para essa finalidade.184
Os egípcios trabalharam em depósitos de minério de chumbo egalenaem Gebel Rosas para fazer chumbo líquido,prumose pequenas figuras. O cobre foi o material mais importante para a fabricação de ferramentas no Antigo Egito e foi fundido em fornos de minério demalaquitaeturquesaextraídas doSinai.185Através de lavagem, eram coletadaspepitasde ouro de sedimentos de depósitos aluviais. Outro processo para obter ouro, mais trabalhoso, era a moagem e lavagem dequartzitode ouro. Depósitos de ferro encontrados no norte do Egito, foram utilizados naÉpoca Baixa.186Pedras de construção de alta qualidade eram abundantes no Egito; os antigos egípcios extraíramcalcárioao longo do Vale do Nilo,granitode Assuão ebasaltoearenitodos barrancos do Deserto Oriental. Depósitos de pedras decorativas, tais comopórfiro,quartzo,feldspato verde,ágata,diorito, grauvaque,berilo,alabastroecornalinapontilhada dos desertos oriental e ocidental foram coletadas antes mesmo da primeira dinastia. Nos período ptolomaico e romano, os mineiros trabalharam em jazidas deesmeraldasde Wadi Sikait eametistaem Wadi el-Hudi.187
Comércio
Pesos egípcios em forma de animal.
Grande parte da economia estava organizada a nível central e era estritamente controlada. Embora os antigos egípcios não utilizassemmoedasaté àÉpoca Baixa, fizeram uso de um sistema de troca monetária,188com sacas de grãos como valor padrão e odeben, um peso de cerca de 91 gramas de cobre ou prata, formando um denominador comum. Os trabalhadores eram pagos com grãos; um simples operário podia ganhar 5½ sacas (250 kg) de grãos por mês, enquanto um capataz podia ganhar 7½ sacas (340 kg). Os preços eram fixados em todo o país e registrados em listas para facilitar a negociação. Por exemplo, uma camisa custava cincodebende cobre, enquanto uma vaca custava 140deben. Grãos podiam ser trocados por outras mercadorias, de acordo com a lista de preço fixo.189Durante o séculoV a.C.odinheirofoi introduzido no Egito por estrangeiros. As primeirasmoedaseram usadas como peças padronizadas de metais preciosos e não como dinheiro propriamente dito, mas nos séculos seguintes as trocas internacionais passaram a depender das moedas.190
Os antigos egípcios estiveram envolvidos no comércio com os povos vizinhos para obter mercadorias raras e exóticas não encontradas no Egito. No período pré-dinástico, estabeleceram o comércio com aNúbiapara a obtenção de ouro,plumasdeavestruz, peles deleopardo,incensoemarfim.191Também estabeleceram o comércio com aPalestina, como evidenciado por jarros de óleos de estilo palestino encontrados nas sepulturas dos faraós da primeira dinastia.192Uma colônia egípcia fundada no sul deCanaãfoi anterior à primeira dinastia.193Na época deNarmerfoi produzida cerâmica egípcia em Canaã, que era exportada para o Egito.194
Em meados da segunda dinastia, o contato do Antigo Egito comBiblosrendeu um intenso comércio de madeira de boa qualidade não encontrada no Egito. Durante a quinta dinastia, o comércio comPuntabastecia o Egito com ouro, resinas aromáticas,ébano, marfim e animais silvestres, comomacacosebabuínos.195Houve também comércio com aAnatóliapara adquirirestanhoe para o fornecimento suplementar decobre, dois metais necessários para a fabricação debronze. Os antigos egípcios valorizaram a pedra azullápis-lazúli, que tinha de ser importada doAfeganistão. Os parceiros do Egito no comérciomediterrânicotambém incluíramCretae aGrécia, que forneciam, entre outras mercadorias,azeite.196Em troca de suas importações de luxo e de matérias-primas, o Egito exportava principalmente grãos, ouro,linhoepapiro, além de outros produtos acabados, incluindo objetos de vidro e pedra.197
Sociedade
Um casal egípcio sentado.
A sociedade egípcia antiga apresentava uma estrutura fortementehierarquizada.198199Erapatriarcal, com o homem administrando o lar, com participação da mulher, e decidindo os herdeiros através de seu testamento. Os anciãos eram consultados e honrados após a morte.200O casamento no mundo egípcio eramonogâmico(embora haja casos debigamiaepoligamiana corte faraônica) e não era sancionado pela religião. Não existia uma cerimônia de casamento, nem um registro deste. Aparentemente bastava um casal afirmar que queria coabitar para que a união fosse aceite. Os homens casavam entre os dezesseis e os dezoito anos e as mulheres por volta dos doze, catorze anos. Por serem as mulheres as transmissoras do sangue real, como forma de legitimação do poder, houve casamentos entre irmãos. Também houve casamentos entre faraós e uma de suas filhas.201Os homens com uma posição econômica mais elevada poderiam ter, para além da esposa legítima (nebet-per, "a senhora da casa"), váriasconcubinas, o que era visto como um sinal de riqueza. No entanto, as mulheres que tivessem mais de um homem eram mortas.202
Aprostituiçãoera uma prática moralmente condenada, mas foi praticada nas margens do Nilo. Foram registrados empapiroseóstracosa prática de favores sexuais em troca de dinheiro, bem como menção a relações sexuais coletivas, o que leva considerar a possibilidade da existência deprostíbulos. No Egito não houve prostituição sagrada, sendo a relação divindade-sacerdotisa, meramente simbólica.203
Os antigos egípcios viam homens e mulheres, incluindo as pessoas de todas as classes sociais, exceto os escravos, como essencialmente iguais perante a lei, e até mesmo o mais humilde camponês tinha direito de petição aovizire sua corte para reparação. Tanto homens quanto mulheres tinham o direito de possuir e vender imóveis, fazer contratos, se casar e sedivorciar, receber herança e ter litígios em tribunal. Os casais podiam possuir bens em conjunto e protegerem-se com contratos decasamentoem caso de divórcio, que estipulavam as obrigações financeiras do marido para com a esposa e com as crianças ao final do casamento. As mulheres egípcias tinham uma grande gama de escolhas pessoais e oportunidades de realização. Podiam ser da realeza, trabalhar no palácio como amas-de-leite, concubinas ouescançãs(servidoras devinhodo faraó) e, nos templos, desde cantoras a sacerdotisas.204Outras exerciam poderes divinos comoesposas de Amon. Apesar destas liberdades, as mulheres egípcias antigas, muitas vezes não participavam em papéis oficiais da administração, servindo apenas em papéis secundários, e não foram tão susceptíveis de serem educadas tal como os homens.155
Quando o marido falecia, as mulheres assumiam a chefia familiar e, no caso dos faraós, o Estado. Mulheres comoHatshepsuteCleópatrachegaram a tornar-se faraós. As mulheres podiam receber herança paterna. Normalmente, o filho mais velho assumia o trono faraônico após a morte de seu pai, no entanto, quando só havia filhas como sucessoras ao trono, a mais velha deveria casar para seu marido assumir o trono.204
Arte erótica egípcia.
“
Seja como for, (...) a mulher egípcia erasui juris, podendo dispor livremente de seus bens, intentar processos na justiça, tomar a iniciativa do divórcio tanto quanto o homem, desempenhar um papel ativo em diversas atividades produtivas, de serviços e eventualmente de gestão, enfim ir e vir com ampla liberdade. Havia, sem dúvida, certas limitações. Assim, por exemplo, se (...) achamos mulheres que desempenham funções administrativas ou sacerdotais das quais dependem bens e pessoas pertencentes ao palácio e aos templos, isto diminui muito nos períodos posteriores. Mesmo para o Império Antigo, a presença de mulheres naquelas funções sempre foi quantitativamente muito inferior à dos homens. Em outras palavras, a direção da vida pública sempre esteve maciçamente em mãos masculinas; e tal tendência se fortaleceu com o tempo.
Na vida privada, porém, em termos gerais, mantiveram-se os amplos direitos da mulher: igual participação na herança paterna e materna, controle sobre os seus bens pessoais (mesmo quando geridos pelo marido, situação bastante corrente), etc. É certo, entretanto, que a mulher era encarada como tendo uma vocação essencialmente doméstica (...) ligada seja à administração da casa (...), seja à realização de tarefas no seu âmbito: fabricação de pão e cerveja, manufatura de fios e tecidos. (...) Com maior frequência, era o homem que intervinha em transações e, em geral, na gestão do patrimônio familiar, embora a intervenção direta da mulher fosse considerada algo normal em muitos casos, por exemplo, ao estar ausente o marido, ou na sua incapacidade, ou ainda durante a viuvez, sendo os filhos menores.
”
—Ciro Flamarion CardosoAlgumas visões da mulher na literatura do Egito faraônico(milênioII a.C.). Citado em:História. São Paulo: UNESP, 1993, v. 12. p. 103-5.140,
Educação
Estátua de umescribasentado (IV dinastia, c.2 620-2 500 a.C.)
As crianças (meninos e meninas) iniciavam sua educação básica no seio familiar; os meninos aprendiam com seus pais princípios éticos, visões da vida, conduta social, ritos populares, etc; as meninas aprendiam com suas mães economia doméstica, culinária, preparação e confecção de roupas; as meninas ricas podiam aprender a tocar instrumentos, cantar, dançar assim como a ler, escrever e trabalhar com operações aritméticas.205No processo educacional das classes mais abastadas utilizava-se os chamados "Livros de Instrução", que constinham regras para se viver ordenadamente em sociedade assim como elementos morais tais como justiça, sabedoria, obediência, bondade e moderação.206207
No Antigo Egito havia poucas escolas a funcionar exclusivamente para a educação de homens da realeza, da nobreza ou daqueles que almejavam tornar-se escribas, sacerdotes, artistas, escultores ou desenhistas. Iniciando seus estudos entre os cinco e sete anos, os garotos aprendiamleituraeescrita,históriaegeografia,ciência,medicinaeastronomia,aritméticaegeometriaemúsica. Eram instituições com disciplina muito rigorosa, onde os rapazes que se comportavam mal ou não prestavam atenção eram espancados.205207Diferente dos jovens das classes abastadas que iam a escola, os jovens filhos de camponeses, pescadores e artesãos aprendiam desde tenra idade os ofícios de seus pais para que assim os pudessem suceder.208
Hierarquia social
Ofaraórepresentava a própria vida do Egito, sendo o topo da hierarquia da nação. Na foto estátua deTutmés III, noMuseu EgípciodoCairo.
No topo da hierarquia social estava ofaraó, que possuía poderes absolutos, tomando decisões militares, religiosas, econômicas e judiciais,209além de ser o dono nominal de todas as terras.198210Nos períodos de cheia o faraó ordenava que a população exercesse outras funções como, por exemplo, a construção de obras públicas.144Enquanto vivo, o faraó era encarado como uma personificação do deusHórus, enquanto que seu antecessor falecido era associado aOsíris, pai de Hórus, houvesse ou não relação consanguínea entre os soberanos. A partir daV dinastiaos reis apresentam-se também como filhos deRá, o deus solar.211
Os faraós possuíam muitas mulheres e filhos. Sua mulher principal, denominadahemet nesut, "esposa do rei", podia ser sua irmã ou uma de suas filhas. Os faraós possuíam diversas insígnias: opschent(a união das coroas doAltoeBaixo Egito), oscetroscrossaechicote, onemés(ornamento para cabeça decorado com uma cobra e um abutre que simbolizavam, respetivamente, o Baixo e Alto Egito) e a barba postiça. Podia ser simbolicamente representado como umaesfinge, e era associado a animais como a pantera, o leão e o boi. A palavra faraó, vinda do egípcioper aâ, significa "Casa Grande". Tornou-se o nome oficial dos líderes do Egito apenas durante aXVIII dinastia, pois até então habitualmente os líderes referiam-se a si mesmos comonesu(rei) ouneb(senhor). A partir daV dinastiaatitulaturados reis incluía cinco nomes reais: nome deHórus, nome das Duas Mestras, nome de Hórus de Ouro, prenome e nome.210
Abaixo do faraó e de sua família na pirâmide social encontrava-se o grupo denominado como "classedo saiote branco" (ou classe dos dominantes), em referência ao vestuário de linho decorado que trajavam.212Primeiramente vinham os nomarcas e vizires. Os nomarcas administravam as províncias imperiais enquanto os vizires controlavam o arrecadamento de impostos, fiscalizavam as obras públicas, os celeiros reais, participavam do alto tribunal de justiça e chefiavam a polícia e as tropas. Abaixo destes estavam os sacerdotes que administravam os templos, cultos e as festas religiosas, eram conselheiros dos faraós e usufruíam de terras, isenção de impostos e prestígio. Muito importantes para a máquina burocrática do governo, osescribascobravam impostos, organizavam as leis e a escrita, determinavam o valor das terras, copiavam poemas, hinos e histórias, escreviam cartas, realizavamcensos populacionaise calculavam os estoques de alimentos, produção agrícola, área de terras aráveis, atividades comerciais, de soldados, necessidades do palácio, etc. A partir do Império Novo surge uma nova classe, os grandes comerciantes, que monopolizavam o comércio exterior.198144210209213
Espancamento de um escravo.
Abaixo das classes dominantes situavam-se as classe dominadas. Primeiramente vinham os soldados que recebiam produtos por serviços prestados e tomavam espólios desaques, mas que nunca ascendiam a altos postos no exército. Abaixo destes vinham osartesãos(tecelões, pintores, barbeiros, cozinheiros, barqueiros, ceramistas, escultores, joalheiros,ferreiros, etc.), que trabalham especialmente para os faraós, para a nobreza e para os templos e para os pequenos comerciantes que vendiam seus produtos nos mercados das cidades. Os camponeses (oufélas) formavam a maior parte da população e eram agricultores, pecuaristas e pescadores. Mesmo sendo eles os produtores, os produtos agrícolas eram propriedade direta do Estado, dos templos ou da família nobre que possuía a terra.214Os camponeses também estavam sujeitos a um imposto sobre o trabalho e eram obrigados a trabalhar na construção de obras públicas e limpeza de canais em um sistema similar àcorveiamedievalna Europa.215Também eram obrigados a trabalhar nos transportes e por vezes no exército. Abaixo dos camponeses vinha a base da pirâmide, osescravos(hemue/oubaku216). Cativos ou condenados da justiça, trabalhavam em atividades domésticas, públicas ou religiosas.217Gozavam de direitos civis e aprendiam a escrita egípcia.198209199
Vida cotidiana
A maioria da população era constituída por agricultores ligados à terra. Suas habitações eram restritas aos membros imediatos da família, e foram construídas comtijolosde barro destinadas a manter o frescor no calor do dia. Cada casa tinha uma cozinha com teto aberto, o qual continha uma pedra demoinhopara moagem de farinha e um pequeno forno para cozer pão.218As paredes eram pintadas de branco e podiam ser cobertas com tapetes delinhotingido. Os pavimentos eram cobertos comesteirasde palha, enquanto que a mobília era composta de bancos de madeira, camas levantadas a partir do piso e mesas individuais.219As mães eram responsáveis por cuidar dos filhos, enquanto o pai fornecia a renda da família.220
Dançarina egípcia.
A higiene e aparência pessoais eram tidas em grande valor. A maioria banhava-se no Nilo e usava um sabão pastoso, osuabu, feito de gordura e giz. Os homens raspavam todo o corpo para limpeza, e usavam perfumes, óleos aromáticos e pomadas para ocultar maus odores e manter a pele suave.221Os óleos eram feitos com gordura vegetal ou animal e eram aromatizados commirra,incensoouterebintina. Um tipo de sal, obed, era usado para gargarejar. As mulheres da corte passavam por um processo mais completo: depilavam-se, massageavam rosto e braços com pomada de mirra, colocavam um creme verde demalaquitanas pálpebras, desenhavam uma linha dekohlpreto para alongar os olhos, colocavam pó deocrenas bochechas e lábios e pintavam as palmas das mãos e a sola dos pés comhena.222
Nefertari jogando Senet, pintura da tumba da RainhaNefertarido Egito (1 295-1 255 a.C.).
Tanto os homens como as mulheres da classe alta usavamperucas, jóias e cosméticos. Inicialmente as mulheres tinham o costume de manter os cabelos curtos, no entanto, ao longo dos séculos adotaram os cabelos compridos; os homens adultos utilizavam cabelos curtos e as crianças e os sacerdotes raspavam a cabeça. As mulheres vestiam um vestido de linho branco e os homens uma tanga; a população trabalhadora habitualmente andava nua ou então usava apenas um pedaço de tecido enrolado a cintura.223As crianças ficavam sem roupas até a maturidade, cerca dos doze anos, e nessa idade os homens eramcircuncidadose suas cabeças eram raspadas. Vizires, sacerdotes e o faraó usavam vestimentas especiais, respetivamente vestidos, peles de panteras e tangas costuradas com fios de ouro. No geral, havia apenas duas opções para os pés: nudez ousandálias. Estas podiam ser de junco e papiro amarrados com barbante (mais simples) ou de couro costurado com linha de papiro (mais sofisticadas). Membros das classes mais elevadas da sociedade, costumeiramente adornavam o corpo com joias. As joias também eram usadas pela população menos abastada da sociedade por poderem se tratar de amuletos. Eram deouro,prata,cobreoucerâmica, incrustadas com pedras preciosas ou pasta de vidro colorido. Podiam serdiademas,colares,brincos,pulseiras,anéisecintos.222
Amúsicae adançaeram entretenimentos populares para aqueles que podiam pagar por elas.Instrumentosantigos incluíamflautaeharpas,224enquanto os instrumentos semelhantes atrompetes,oboésegaitasdesenvolveram-se mais tarde e se tornaram populares. NoImpério Novo, os egípcios tocavamsinos,címbalos,tamborins, etamborese importaramalaúdese harpas daÁsia.225Osistrofoi um instrumento musical do tipochocalhoque era especialmente importante em cerimônias religiosas. Os faraós possuíam uma banda preferida, oshinodosque os acompanhavam em grandes cerimônias religiosas. Para divertimento dos presentes em banquetes havia dançarinas que dançavam em movimentos lentos,mímicos, que contavam lendas dos deuses e os imitavam, epigmeusdaÁfrica Centralque dançavam danças rápidas e rítmicas.222
Eram praticadas diversas atividades de lazer, incluindo jogos e música. OSenet, um jogo de tabuleiro onde as peças se mudam de acordo com o acaso, era particularmente popular desde os primeiros tempos; outro jogo semelhante foi oMehen, que tinha um tabuleiro em forma de serpente. Jogos demalabarismo, vara e bola eram populares entre as crianças, e também está documentada luta em uma tumba emBeni Hasan.226Os membros ricos da sociedade egípcia praticavam caça e davam passeios de barco também. Havia uma grande variedade de brinquedos infantis, todos de madeira:piões, figurinhas, bonecas, cavalinhos e até bonecos articulados.222
O egípcio antigo tinha 25 consoantes similares aos de outras línguas afro-asiáticas. Estas incluíamconsoantes faríngeaseenfáticas,oclusivassonoras e surdas,fricativassurdas eafricadassurdas e sonoras. Havia inicialmente três vogais longas e três vogais curtas, que se expandiram no egípcio tardio para cerca de nove.233Uma palavra básica em egípcio, semelhante ao berber e semita, tem consoantes e semi-consoantes deraiz triliterale biliteral. Sufixos são adicionados para formar palavras. A conjugação verbal corresponde àpessoa. Por exemplo, o esqueleto triconsonantalS-Ḏ-Mé o núcleo semântico da palavra "ouvir"; sua base conjugal ésḏm("ele ouve"). Se o sujeito é um substantivo, sufixos não são adicionados ao verbo; por exemplo:sḏm ḥmt("a mulher ouve").234
Osadjetivossão derivados desubstantivospor um processo que os egiptólogos chamamnisbaçãodevido à sua semelhança com o árabe.235A ordem das palavras em frases verbais e adjetivas éPREDICADO-SUJEITO, eSUJEITO-PREDICADOem frases nominais e adverbiais.236O sujeito pode ser movido para o início das frases se é longo e é seguido por umpronome resumptivo.237Verbos e substantivos são negados por umapartículan, mas nn é usado para frases adverbiais e adjetivas. Oacento tônicorecai sobre a última ou penúltima sílaba, que pode ser aberta (CV) ou fechada (CVC).238
Escrita
A escrita hieroglífica datada de3 200 a.C.(túmulo U-j do cemitério U deAbidos239) é composta de cerca de 500 símbolos, que podiam ser representações de animais, plantas, pessoas ou partes do corpo e utensílios utilizados pelos egípcios.240Um hieróglifo pode ser uma palavra, um som ou um determinante mudo; e o mesmo símbolo pode servir a diferentes propósitos em contextos diferentes. Os hieróglifos foram uma escrita formal, usados empapiros, monumentos de pedra e nos túmulos, que podem ser tão detalhados como obras de arte. No dia-a-dia, osescribasusavam uma forma deescrita cursiva, chamadahierática, que era mais simples e rápida de escrever, escrita em pedras, papiros e placas de madeira.241Enquanto os hieróglifos formais podem ser lidos em linhas ou colunas em qualquer direção (embora, geralmente, escritos da direita para a esquerda), a hierática era sempre escrita da direita para a esquerda, geralmente em linhas horizontais. Para se saber a direção a qual se devia ler os hieróglifos, era preciso olhar para a direção a qual as figuras humanas ou de pássaros estavam olhando, pois são estes que mostram o início do texto.242Uma nova forma de escrita surgida noséculo VII a.C., ademótica, tornou-se predominante, substituindo a hierática.243
Por volta doséculo I d.C., oalfabeto coptacomeçou a ser usado juntamente com a escrita demótica. O copta é umalfabeto gregomodificado com a adição de alguns sinais demóticos.244Embora os hieróglifos formais tenham sido usados em contexto cerimonial até aoséculo IV, no final apenas um pequeno grupo de padres sabiam lê-los. Como os estabelecimentos religiosos tradicionais foram dissolvidos, o conhecimento da escrita hieroglífica estava quase perdido. As tentativas de decifração são datadas doperíodo bizantino245e doperíodo islâmico,246mas apenas em 1822, após a descoberta daPedra de Rosetae anos de pesquisa deThomas YoungeJean-François Champollion, os hieróglifos foram quase totalmente decifrados.247Na Pedra de Roseta estão presentes três formas de escrita: hieróglifos formais, hierática e grega.242
A literatura do Antigo Egito inclui textos de caráter religioso (como os hinos às divindades), mas igualmente obras de natureza mais secular, como textos sapienciais,contosepoesiaamorosa. A literatura apareceu pela primeira vez em associação com a realeza em rótulos e etiquetas para os itens encontrados em tumbas reais. Foi principalmente uma ocupação dosescribas, que trabalhavam para a instituiçãoPer Ankhou aCasa de Vida,242para os escritórios, bibliotecas (chamadasCasas dos Livros), laboratórios e observatórios.248Algumas das peças mais conhecidas da literatura egípcia, como ostextos das pirâmidese dossarcófagos, foram escritos em egípcio clássico, que continuou a ser a língua da escrita até1 300 a.C.Durante este período, a tradição da escrita evoluiu para as autobiografias em túmulos, como os deHarkhufeUni.249
Papiro corações.
O gênero conhecido comoSebayt(instruções) foi desenvolvido para comunicar os ensinamentos e orientações dos nobres famosos. Deste género destaca-se oEnsinamento de Ptah-Hotep, que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do seu autor (um vizir) sobre as relações humanas. OPapiro Ipuur, um poema de lamentações descrevendo catástrofes naturais e agitação social, é um papiro contraditório, pois até o presente não se chegou a um consenso quanto a seu período, podendo ser um poema descritivo doPrimeiroouSegundo Período Intermediário. Ahistória de Sinué, escrita em egípcio médio, é um clássico da literatura egípcia, contando as peripécias da personagem homônima.250OPapiro Westcartambém escrito nesse período, é um conjunto de histórias contadas aQuéopspor seus filhos, relatando as maravilhas realizadas pelos sacerdotes.251A obraInstruções de Amenemopeé considerada uma obra-prima da literatura doOriente Próximo.252Outras histórias famosas são oConto do Náufrago(história de um marinheiro que naufragou em uma ilha habitada por uma serpente), doPríncipe predestinado(história de um príncipe amaldiçoado), dosDois Irmãos(história de vinganças causada pela mulher de um dos irmãos) e aSátira das profissões(sátirarealizada por escribas para mostrar os incômodos das outras profissões que não fossem o ofício de escriba).242
O egípcio tardio foi falado noImpério Novoe está representado em documentos administrativos doperíodo ramessida,, poesias de amor e contos, bem como em textos demóticos e coptas. No final do Império Novo, a língua vernácula foi mais frequentemente empregada para escrever peças populares como aHistória de Unamóne aInstrução de Any. O primeiro conta a história de um nobre que é roubado quando se dirigia aoLíbanopara comprar madeira decedroe as suas peripécias para voltar ao Egito. Durante este período, papiros como oPapiro Cester Beatty I,Papiro Harris 500e um fragmento doPapiro de Turimmostram um tipo de poesia amorosa, com temas de paixão eerotismo. A partir de cerca de700 a.C., histórias narrativas e instruções, como a popularInstruções de Onchsheshonqy, bem como documentos pessoais e empresariais foram escritos emdemótico. A ação de muitas histórias escritas em demótico durante o período grecor-romano decorria em épocas históricas anteriores, de quando o Egito era uma nação independente governada por grandes faraós comoRamsés II.253
O Antigo Egito fundamentou-se por sua plena relação com o divino e na vida após a morte de tal modo que o reinadofaraônicofoi baseado no direito divino dos reis;254considerava-se o faraó filho do deusRánt 3255A religião egípcia teve influência tanto em âmbito ideológico (a história egípcia foi explicada em viés divinos) como em carácter prático (a sociedade assim como a economia egípcias moldaram-se por influência de tal instituição); durante a história egípcia a economia local esteve intimamente relacionada com os templos. Na religiosidade egípcia o culto às divindades sobressaía as crenças gerais, o que faz da religião egípcia maisortopráticado queortodoxa.256
Os egípcios antigos erampoliteístase seus deuses representavam diversos elementos naturais que eram vinculados com elementos cotidianos.257Cada cidade possuía seu deus padroeiro assim como um específico animal sagrado que a ele era consagrado; caso uma cidade se tornasse capital do reino (p. ex.Tebas) o deus local, da mesma forma que o animal a ele dedicado, eram elevados ao âmbito nacional e, consequentemente, começavam a ser cultuados por todo o império (p. ex.Amon).255Os deuses egípcios tinham características antropomórficas, zoomórficas ou mistas;258conquanto, embora idealizassem seus deuses com certas características animais, pode-se considerar que postulavam que tal deus possuísse as habilidades daquele animal e não necessariamente sua forma.256
Os deuses, muitas vezes evocados para ajuda e/ou proteção, também eram provedores de grandes males, de modo que tinham que ser aplacados com oferendas e orações. Assim como a sociedade egípcia, omundo divino egípcioera fortemente hierarquizado; continuamente, por meio de mitos diversos, os deuses dopanteãoeram promovidos ou rebaixados neste hierarquia. Tal fato ocorreu, pois os sacerdotes não se esforçavam para organizar os diversos mitos, por vezes conflitantes, em um sistema coerente,259já que consideravam estas diversas concepções divinas, múltiplas facetas da realidade.260Os deuses eram ordenados e hierarquizados em grupos de três (tríades), oito (Enéades) e nove (Ogdóades); destes pode-se citar aEnéade de Heliópolis, aOgdóade de Hermópolise as Tríades deMênfis,TebaseElefantina.256
Os deuses, a mando dos faraós, eram adorados nos templos e os cultos eram administrados por sacerdotes que diariamente lavavam, perfumavam,maquilavame alimentavam a estátua do deus que permanecia trancada em umnaosno centro do templo. Os templos não eram locais para adoração pública, e somente em dias comemorativos ou em festas selecionava-se um santuário para onde se transportava a estátua para que houvesse adoração pública;261as procissões que transportavam as estátuas, que eram assistidas pela população, contavam com a participação de músicos e cantores. Cidadãos comuns podiam ter estátuas cultuais privadas, assim como amuletos de proteção.256Após oImpério Novoo papel do faraó como intermediário espiritual foi ofuscado devido ao desenvolvimento de um sistema de oráculos para comunicar as vontades divinas diretamente a população.262
Os egípcios durante sua história desenvolveram um pleno conceito de vida após a morte. Inicialmente acessível apenas para os faraós, a partir doPrimeiro Período Intermediárioalargou-se para toda a população, o que provocou um considerável aumento do uso de práticas como amumificação.256Segundo a visão egípcia os seres humanos eram compostos por cinco partes: corpo, sombra (šwt), alma (ba), força vital (ka) e nome.263Ocoração, ao invés docérebro, era considerado a sede de todos os pensamentos e emoções. Após a morte de um indivíduo seus aspectos espirituais são liberados e estes necessitam de restos físicos ou uma estátua para habitarem permanentemente. Todo defunto almejava voltar a seukaebade modo a se tornar umakh. Para isto acontecer era necessário que o defunto fosse julgado digno noTribunal de Osíris, onde seu coração era pesado;258caso considerado digno, este poderia continuar a existir na terra em forma espiritual;264caso contrário seria devorado por um monstro que consistia na mistura de três animais,leão,crocodiloehipopótamo.261
Práticas funerárias
cerimônia da "abertura da boca".
Os antigos egípcios mantiveram um elaborado conjunto de costumes de sepultamentos que acreditavam serem necessários para garantir a imortalidade após a morte.265Estes costumes envolviam preservar o corpo por mumificação, realizando cerimônias fúnebres, e enterrando, junto com o corpo, o espólio que seria utilizado pelo falecido quando ressuscitasse; antes doImpério Antigoos corpos eram enterrados em covas no deserto e, naturalmente, eram preservados pordessecação. Após aV dinastia, a mumificação, privilégio exclusivo para as classes abastadas do Egito, tornou-se acessível para toda a população, mesmo que de forma variada.256Durante oImpério Novotornaram-se comuns ossarcófagosantropomórficos e, durante aXX dinastiaa prática de decoração das tumbas foi alterada pela prática da decoração dos sarcófagos.266Múmias daÉpoca Baixatambém foram colocadas em sarcófagos comcartonagempintada. As práticas de preservação real diminuíram durante as erasptolomaicaeromana, quando passou a dar-se mais atenção à aparência exterior das múmias, que passaram a ser decoradas.267
Máscara de Anúbis.
Múmias de animais.
O sepultamento dos pobres era muito mais simples do que o da elite, pois não tinham condições financeiras. Os pobres recebiam uma injeção de essências e vinhos corrosivos peloânuspara dissolver os órgãos internos. Após alguns dias, com os órgãos dissolvidos, o corpo era enfaixado com peles de animais para ser enterrado no deserto onde se conservaria por dissecação. Os ricos, por outro lado, possuíam um processo diferente, a chamada mumificação artificial. Inicialmente o cérebro era removido com uma pinça metálica pelo nariz. Os outros órgãos (prática iniciada após aIV dinastia268), com exceção do coração, eram retirados, mumificados e depositados emvasos canópicos. O interior do corpo era lavado com vinho e substâncias aromáticas e depois preenchido commirraecanela; posteriormente era embebido emnatrão(mistura de sais) por 70 dias. Por fim era lavado para receber resinas e perfumes e ser enfaixado com tiras de linho embebidas em goma; entre as tiras havia amuletos de proteção. O corpo recebia uma máscara fúnebre e era depositado em sarcófagos de pedra ou madeira.256
O cortejo fúnebre se iniciava após a colocação do corpo dentro de seu sarcófago. Este era transportado por um carro de bois enquanto familiares, amigos, sacerdotes ecarpideirascontratadas o acompanhavam. Ao chegarem no seu destino se procedia a uma série de rituais dos quais o mais importante era o da "Abertura da Boca". Neste ritual, a múmia era retirada do sarcófago para ser segurada por um sacerdote com uma máscara deAnúbis. Então, o filho do morto ou outro herdeiro se vestia com roupa de leopardo e, simbolicamente, com uma machadinha, fazia um corte que abria a boca do defunto para este recuperar o fôlego da vida. Só então o corpo era depositado novamente no sarcófago para ser enterrado.261
O ricos eram enterrados com maiores quantidades de itens de luxo, mas todos os enterros, independentemente do estatuto social, incluíam bens para o defunto. A partir do Império Novo, os "livros dos mortos" foram incluídos nos túmulos, juntamente com estátuasshauabtique, segundo as crenças, realizavam trabalhos manuais por eles na vida após a morte.269Enquanto a classe pobre era enterrada em covas rasas no deserto, a elite construía para si túmulos que podiam ser pirâmides,hipogeus(túmulos subterrâneos cavados nos barrancos dos rio ou em encostas de montanhas) emastabas(tumbas de base retangular com salas para oferendas).270Como forma de proporcionar serenidade ao morto, os túmulos foram pintados com cenas da vida do morto.256Após o enterro, se esperava que os parentes visitassem ocasionalmente o túmulo para levar comida e recitar orações em nome do falecido.271
Mumificação animal
Outra prática muito comum foi a mumificação animal. Os animais mumificados podiam ser bichos de estimação, pedaços de carne para as múmias ou então animais sagrados, divinizados por sua relação com os deuses. Eram, no geral, objetos votivos destinados aos templos de culto a animais. A partir daXXVI dinastia, as múmias votivas tornaram-se populares, o que gerou um intenso comércio que empregou legiões de trabalhadores especializados. Entre os animais embalsamados podem se citar gatos, cães, vacas, touros, burros, cavalos, carneiros, peixes, crocodilos, elefantes, gazelas, íbis, leões, lagartos, macacos, aves,escaravelhos,musaranhose serpentes. Os animais eram preparados como as múmias humanas: seus órgãos poderiam ser retirados ou então dissolvidos, depois eram lavados interiormente com vinho e depois banhados em natrão para ressecamento e posteriormente eram envoltos com resinas para fixação das bandagens de linho.272
Arte
Busto de Nefertiti, pelo escultorTutmés, é uma das mais famosas obras-primas da arte egípcia antiga.
Os antigos egípcios produziram arte para servir propósitos funcionais. Por mais de 3 500 anos, os artistas aderiram a formas artísticas e a iconografias que foram desenvolvidas durante o Império Antigo, na sequência de um rigoroso conjunto de princípios que resistiu à influência estrangeira e à mudança interna.273Estes padrões artísticos – linhas simples, formas e áreas planas de cores combinadas com características projeções planas das figuras sem indicação de profundidade espacial - criou um senso de ordem e equilíbrio dentro de uma composição. Imagens e textos foram intimamente entrelaçados nas tumbas e paredes dos templos, caixões, estelas e até estátuas. APaleta de Narmer, por exemplo, exibe figuras que também podem ser lidos como hieróglifos.274Por causa das regras rígidas que presidiram à sua aparência altamente estilizada e simbólica, a arte egípcia antiga serviu a seus propósitos políticos e religiosos com precisão e clareza.275A hierarquia social e religiosa influenciava no tamanho dos personagens.276
As figuras nas pinturas ebaixo-relevossão representadas respeitando-se alei da frontalidade: cabeça, pernas, peito, ventre e braços de perfil; olhos, ombros, umbigo e baixo-ventre de frente.277278O personagem principal de uma pintura devia ser representado sempre maior do que os personagens secundários. Faraós mandaram gravar emrelevosvitórias de batalhas, decretos reais e cenas religiosas. Eram dispostos em faixas horizontais acompanhados por hieróglifos e apresentavam até "balões" indicando falas.279
As cores possuíam uma função simbólica nas pinturas. O preto usado nas sobrancelhas, perucas, olhos e bocas representava a noite, a morte, a fertilidade, a regeneração e as inundações do Nilo. O branco usado nas vestes dos sacerdotes, nos objetos rituais, nas casas, nas flores e nos templos era associado a pureza, verdade, alegria e triunfo. O vermelho representava a energia, o poder, a sexualidade eSeth. A pele dos homens era pintada de vermelho-ocre e a das mulheres de amarelo-ocre. O amarelo representava a eternidade; o verde, a regeneração e a vida; o azul, o Nilo e o céu.276279As tintas eram obtidas a partir de minerais, comominérios de ferro(ocrevermelho e amarelo),minérios de cobre(azul e verde),fuligemoucarvão(preto), ecalcário(branco). As tintas podem ser misturadas comgoma-arábicacomo aglutinante e prensadas em bolos, que podiam ser umedecidos com água quando necessário.280No entanto, análises de múmias de cerca de3 200 a.C.mostram sinais deanemia hemolíticae outros distúrbios, causados por intoxicação com metais pesados (chumbo,mercúrio,arsênio,cobre) que eram usados como pigmentos, corantes e maquiagem, especialmente pelas classes dominantes.281
Os artesãos do Antigo Egito usavam pedra (basalto,pórfiro,xisto,dioritoe ogranito) para esculpir estátuas e finos relevos, mas usavam madeira como um substituto barato e fácil de esculpir. Algumas estátuas serviam objetivos políticos, sendo colocadas diante dos templos para que o povo as visse, mas tinham sobretudo um objetivo religioso.282No geral as estátuas representam uma figura que olha para a frente, numa linha perpendicular ao plano dos ombros, com os braços colados ao corpo. As estátuas que se encontravam nos túmulos eram consideradas como uma espécie de corpo de substituição; okae obadeveriam reconhecer o rosto onde habitavam, não sendo por isso relevante representar os defeitos do corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a Esfinge de Giza e osColossos de Memnon.79104
Os cidadãos comuns tiveram acesso a obras dearte funerária, tais como estátuasshauabtie o livro dos mortos, que acreditavam que iria protegê-los na vida após a morte.265Durante oImpério Médio, modelos de madeira ou de barro que representam cenas da vida diária tornaram-se populares aditamentos aos túmulos. Em uma tentativa de duplicar as atividades da vida após a morte, estes modelos mostram operários, casas, barcos e até mesmo formações militares que são representações à escala do ideal de vida após a morte dos antigos egípcios.283
Apesar da homogeneidade da arte egípcia antiga, os estilos de determinadas épocas e lugares, por vezes reflete a mudança de atitudes culturais ou políticas. Após a invasão doshicsosnoSegundo Período Intermediário,afrescosde estilominoicoforam encontrados emAváris.284O exemplo mais marcante de uma mudança de motivação política na forma artística encontra-se noperíodo Amarna, quando as figuras foram radicalmente alteradas em conformidade com as ideias religiosas revolucionárias deAquenáton.285Este estilo, conhecido como aarte Amarna, foi rapidamente e completamente apagado depois da morte de Aquenáton e substituído por formas tradicionais.286Durante a época romana os "retratos de Faium" dominaram a composição mortuária. As máscaras mortuárias foram substituídas por retratos realistas dos defuntos.279
A arquitetura do Antigo Egito inclui algumas das estruturas mais famosas do mundo: asGrandes Pirâmides de Gizée ostemplos em Tebas. Vários projetos foram organizados, construídos e financiados pelo Estado para fins religiosos e comemorativos, mas também para reforçar o poder dofaraó. Os antigos egípcios eram construtores qualificados, usando ferramentas simples mas eficazes e instrumentos de observação, podendo osarquitetosegípcios construir grandes estruturas de pedra com exatidão e precisão.287
As habitações daelitee dosegípcios comunsforam construídas de materiais perecíveis tais comolama, tijolos deadobeemadeira.288Os camponeses viviam em casas simples, enquanto os palácios da elite foram estruturas mais elaboradas. As cidades egípcias possuíam bairros diferenciados e eram protegidas por muralhas.289Uns poucos palácios sobreviventes doImpério Novo, tais como os deMalqataeAmarna, mostram paredes ricamente decoradas e chão com cenas de pessoas, pássaros, piscinas de água, divindades e design geométrico.290
Estruturas importantes, como templos e túmulos, que se pretendia que durassem para sempre, foram construídos em pedra em vez de tijolos. Os mais antigos templos preservados do Antigo Egito, como os deGizé, consistem de simples salões anexos com lajes suportadas por colunas. No Império Novo, os arquitetos adicionaram opilone, o pátio aberto e anexos salõeshipostilosde frente com os santuários dos templos, um estilo que foi padrão até ao período grecorromano.291Os templos deKarnakeLuxorsão dois dos maiores exemplos deste tipo de edificação egípcia. A mais antiga e mais popular tumba arquitetônica doImpério Antigofoi amastaba, uma estrutura retangular de teto achatado construída de tijolos de lodo ou pedra acima de uma câmara funerária subterrânea. Apirâmide de degrausdeDjoser, a primeira pirâmides construída, é uma série de mastabas de pedra empilhadas em cima uma das outras; estas possuem simples arquitraves apoiados em motivos de papiros eflores de lótus.292Foram construídas pirâmides durante o Império Antigo eMédio, mas os governantes tardios abandonaram-nas em favor de tumbas menos notáveis escavadas na pedra.293No Império Antigo foram construídas dezenas de pirâmides, entre quais as Pirâmides de Gizé, que são uma dasSete maravilhas do mundo antigo.138294As pirâmides eram formadas por blocos de pedra de três toneladas, as quais eram cortadas com cunhas de madeira e depois eram arrastadas para cima em rampas sobre trenós.288Os interiores das pirâmides foram construídos dispondo-se um tipo de labirinto onde se era depositado o túmulo faraônico em uma câmara secreta para evitar saqueadores.278
Tecnologia e ciência
O Antigo Egito atingiu níveis de sofisticação e produtividade relativamente altos na tecnologia, medicina e matemática. As primeiras manifestações deempirismotradicional ocorreram no Egito, como é evidenciado pelos papiros deEdwin SmithnoEbers(1 600 a.C.), e as raízes do método científico podem também encontrar-se entre os antigos egípcios.295
Faiança e vidro
A produção vítrea foi uma indústria desenvolvida.
Mesmo antes do Império Antigo, os egípcios antigos desenvolveram um material vítreo conhecido comofaiança, que eles tratavam como um tipo de pedra artificial semipreciosa. A faiança é umacerâmicafeita desílica, pequenas quantidades decalesoda, e um colorante, tipicamentecobre.296O material foi usado para fazermiçangas, telhas, figurinhas, e pequenas peças cerâmicas. Vários métodos podem ser usados para criar faiança, mas a produção tipicamente envolve aplicações de materiais pulverizados na forma de uma pasta mais um núcleo deargila, a que foi ateado fogo. Por uma técnica relacionada, os egípcios produziram um pigmento conhecido comoazul egípcio, também chamadofritaazul, que é produzido por fusão (ou sinterização) de sílica, cobre, cal, e um material alcalino como onatrão. O produto pode ser triturado e usado como umpigmento.297
Os antigos egípcios sabiam fabricar objetos devidrocom grande habilidade, fato comprovado pela grande variedade de objetos cotidianos e de adorno encontrados em tumbas e pela recente descoberta de uma fábrica de vidro, no entanto não é claro se eles desenvolveram o processo independentemente.298É também pouco claro se fizeram seu próprio vidro bruto ou meramente importaram lingotes pré-feitos, que derreteram e finalizaram. No entanto, tinham conhecimento técnico para fazer objetos, bem como para adicionarsais mineraispara controlar a cor do vidro final. Eram produzidos em diversas cores, incluindo amarelo, vermelho, verde, azul, roxo, e branco, e o vidro podia ser transparente ou opaco.299
Medicina
Instrumentos médicos, representados numa gravura doTemplo de Kom Ombodo período Ptolomaico.
Os problemas médicos dos antigos egípcios estavam diretamente relacionados com o meio ambiente. Viver e trabalhar perto doNiloenvolvia riscos demaláriae deesquistossomoseprovocada por um parasita debilitante que causa danos aofígadoeintestino. Perigosos animais selvagens comocrocodilosehipopótamostambém foram uma ameaça comum. O trabalho vitalício na agricultura e em construções provocavastressnacoluna vertebralearticulações, e ferimentos traumáticos na construção e na guerra tiveram impacto significativo na saúde de muitos egípcios.Cascalhoeareiausados para moerfarinhadesgastava osdentes, deixando-os suscetíveis aabscessos(emboracáriesfossem raras).300A dieta dos ricos foi rica emaçúcar, o que provocouperiodontite.301Apesar da lisonjeira retratação do físico nas paredes dos túmulos, o excesso de peso de muitas múmias da classe alta mostra os efeitos de uma vida de excesso.302Aexpectativa de vidados adultos foi de 35 para os homens e 30 para as mulheres, mas muitos jovens não chegavam a atingir a maioridade, pois aproximadamente um terço da população morria na infância.303
Os médicos egípcios foram renomados noOriente Próximopor suas habilidades curativas, e alguns, comoImhotep, mantiveram a sua fama muito para além da sua morte.304Heródotocomentou que havia um alto teor de especialização entre os médicos egípcios, com alguns tratando só a cabeça ou oestômago, sendo outros oculistas e dentistas.305Os lugares de formação dos médicos, chamadosPer Ankhou "Casas de Vida", eram áreas de templos que funcionavam comobibliotecae arquivo, onde também se ministravam conhecimentos e se copiavam textos. Conhece-se a existência de tais instituições emBubástisno Império Novo e emAbidoseSaísnaÉpoca Baixa. Ospapiros médicos egípciosevidenciam conhecimentos empíricos deanatomia, doenças, e tratamentos práticos.306
Os egípcios foram os primeiros a afirmar que as doenças têm causas naturais, o que os motivou a produzirmedicamentospara combatê-las. Os egípcios produziram a primeirafarmacopeiaconhecida. Entre os medicamentos podem-se citar ervas medicinais, sangue delagartos,fezesanimais,leitede mulher grávida e livro velho fervido.307147Feridas foram tratadas por bandagem com carne crua, linho branco, suturas, redes e cotonete encharcado com mel para evitar infecções,308enquanto ópio foi usado para aliviar a dor.Alhoecebolaforam usados regularmente para promover boa saúde e acreditava-se que aliviavam os sintomas deasma. Os cirurgiões egípcios antigos costuravam feridas, colocavam braços quebrados no lugar, e amputavam membros doentes, mas também reconheceram que alguns ferimentos eram tão graves que a única coisa a fazer era confortar o paciente até sua morte.309
A previsão do futuro era praticada através da interpretação dos sonhos. Foi encontrado um papiro com uma relação de sonhos e interpretações.310
Os egípcios sabiam como juntar tábuas de madeira para construircascosde navios pelo menos desde3 000 a.C.OInstituto Arqueológico da Américarelatou que alguns dos mais antigos barcos alguma vez desenterrados são os chamadosbarcos de Abidos, um grupo de 14 navios descobertos em Abidos pelo egiptólogo David O'Connor daUniversidade de Nova Iorque. Foram construídos com tábuas de madeira que foram "costuradas" juntas. Foram encontradas alças de tecido usadas para manter as tábuas juntas, e para selar as costuras entre as tábuas, aquelas eram cheias compapiro(junco) e grama.9Devido ao fato de todos os navios estarem enterrados juntos perto da casa mortuária do faraóKhasekhemui(m.2 686 a.C.), originalmente pensou-se que lhe teriam pertencido, mas uma das embarcações foi datada de3 000 a.C.e jarros de cerâmica enterrados associados com os navios também sugerem datação mais antiga. O navio datado de3 000 a.C.tem 23 metros de comprimento e atualmente acredita-se que possivelmente terá pertencido a outro faraó mais antigo. De acordo com O'Connor, ele pode ter pertencido ao faraóAha.311
Os antigos egípcios também sabiam como juntar tábuas de madeira comcavilhasde madeira para firmá-las juntas, usandobreuparacalafetaras juntas. O "Navio de Quéops", uma embarcação de 43,6 metros selado em um poço naComplexo das Pirâmides de Gizéao pé daGrande PirâmidenaIV dinastiaem torno de2 500 a.C., é um sobrevivente completo que pode ter cumprido a função simbólica de uma barca solar. Os antigos egípcios também sabiam como prender as tábuas do navio juntas com peças encaixáveis (caixa e espiga).9Apesar da capacidade dos egípcios antigos para construir barcos muito grandes e para facilmente navegarem ao longo doNilo, eles não foram conhecidos como bons marinheiros e não se envolveram em amplas expedições marítimas nos maresMediterrâneoouVermelho.312313314
Matemática
Porção do Papiro de Rhind.
Côvado egípcio.
Os antigos egípcios utilizavam seus conhecimentos para resolver problemas como controle das inundações, construção de sistemas hidráulicos, preparação da terra para a semeadura, mumificação de cadáveres, etc.315
Os primeiros exemplos atestados de cálculos matemáticos são datados doperíodo pré-dinásticoNaqada, e mostram umsistema numeraltotalmente desenvolvido.316A importância da matemática para um egípcio educado é sugerido por uma carta ficcional doImpério Novoem que o escritor propõe uma competição acadêmica entre ele e outro escriba nas tarefas diárias, tais como cálculo de contabilidade de trabalho, terra e grãos.317Textos como os papiros deRhinde o deMoscoumostram que os antigos egípcios podiam realizar as quatro operações matemáticas básicas – adição, subtração, multiplicação e divisão, – usavam frações, calculavam volumes de caixas e pirâmides, e calculavam áreas de retângulos, triângulos, círculos e até mesmo esferas. Eles entendiam os conceitos básicos deálgebraegeometria, e podiam resolver conjuntos simples deequações simultâneas.318
Anotação matemáticaeradecimal, com base em sinais hieróglifos para cada potência de dez até um milhão. Cada um desses símbolos poderia ser escrito tantas vezes quanto necessário para somar o número desejado. Por exemplo, para escrever o número 880 o símbolos de dez e cem eram escritos oito vezes, respectivamente.319Por seus métodos de cálculo não poderem lidar comfraçõescomnumeradormaior que um, asfrações dos antigos egípcioseram escritas como a soma de várias frações. Por exemplo, a fração2⁄5(dois quintos) era representada pela soma de1⁄3(um terço) com1⁄15(um quinze avos), o que era facilitado pela existência de tabelas.320Algumas frações comuns, porém, eram escritas com um hieróglifo especial; existia, por exemplo um hieróglifo para representar2⁄3(dois terços).321
Aproporção áureaparece refletir-se em muitas construções egípcias, incluindo as pirâmides, mas seu uso pode ter sido uma consequência não intencional da prática egípcia de combinar o uso de cordas com nós com um senso intuitivo de proporção e harmonia.322Os matemáticos egípcios antigos compreendiam os princípios subjacentes aoteorema de Pitágoras, sabendo, por exemplo, que umtriângulotinha umângulo retooposto àhipotenusaquando seus lados estavam em uma proporção 3-4-5. Eles eram capazes de estimar a área de um círculo, subtraindo um nono de seu diâmetro eelevando ao quadradoo resultado, o que é uma aproximação razoável da fórmulaπr 2:323324
A astronomia teve grande importância religiosa, pois era por meio dela que os egípcios determinaram datas de festas religiosas. Com a observação dos astros e enchentes, os egípcios desenvolveram umcalendário,142onde o primeiro dia do ano é o primeiro dia das cheias.140O calendário egípcio possuía 365 dias divididos em 12 meses de 30 dias; os dias possuíam 24 horas, no entanto, uma hora egípcia variava de acordo com as estações agrícolas. O ano era dividido em três períodos de quatro meses: inundações (julho a outubro), plantio (novembro a fevereiro) e colheita (março a junho).168Além disso, os egípcios tinham conhecimento de alguns planetas, e agrupavam as estrelas que conheciam emconstelações, produzindo mapas astronômicos.307310
A palavra química vem do egípcioKemi, que significa "terra negra". Para fins medicinais, composições simples, pintura e decoração pessoal os egípcios utilizaram de substâncias químicas comoarsênio,cobre,petróleo,alabastro,calcário,carvão,hematita,óxido de ferro,azurita,malaquita,cobalto,sal,sílex moído,mercúrio, etc.325Alguns dos papiros descobertos ao longo das escavações no Egito contêm diversas receitas químicas que incluem: testar a qualidade ou purificar metais, formar ligas, imitar metais preciosos ou pérolas, produzir pigmentos.326
Legado
A cultura e monumentos do Antigo Egito, deixaram um legado duradouro para o mundo. Algumas práticas religiosas egípcias (circuncisão, práticasesotéricaseocultistase certas concepções doAlém) são características visíveis em certas crenças atuais. Algumas palavras (comoquímica) e expressões (comoanos de vacas magras) são de origem egípcia, além de terem sido eles os inventores do ancestral do papel, opapiro.307327Também contribuíram com alguns símbolos daalquimia, como a serpenteouroborose afênix.328329330331
O culto da deusaÍsis, por exemplo, tornou-se popular noImpério Romano, comobeliscose outras relíquias sendo transportadas para Roma.332Os romanos também utilizavam materiais de construção importados do Egito para erguer estruturas em estilo egípcio. Os primeiros historiadores comoHeródoto,Estrabão,Diodoro Sículoestudaram e escreveram sobre a terra que passou a ser vista como um lugar de mistério.333
Durante aIdade MédiaeRenascimento, a cultura pagã egípcia entrou em declínio após a ascensão, primeiro doCristianismoe depois doIslã, mas o interesse na antiguidade egípcia continuou nos escritos de estudiosos medievais muçulmanos comoDhul-Nun al-Misrieal-Maqrizi.334Nos séculos XVII e XVIII, viajantes e turistas europeus trouxeram de volta as antiguidades e escreveram histórias de suas viagens, levando a uma onda deegiptomaniaem toda aEuropa. Esse interesse renovado enviou coletores para o Egito, que levaram, compraram ou foram presenteados com muitas antiguidades importantes.335
Embora a ocupaçãocolonialeuropeia do Egito tenha destruído uma parte significativa do legado histórico do país, alguns estrangeiros tiveram atuações mais positivas.Napoleão, por exemplo, organizou os primeiros estudos emegiptologiaquando ele levou cerca de 150 artistas e cientistas para estudar e documentar ahistória naturaldo Egito, que foi publicado naDescription de l'Égypte.336
No século XX, o governo egípcio e os arqueólogos reconheceram a importância do respeito cultural e integridade nas escavações. OConselho Supremo de Antiguidadesagora aprova e supervisiona todas as escavações, que visam encontrar informações ao invés de tesouros. O conselho também supervisiona os museus e programas de reconstrução de monumentos concebidos para preservar o legado histórico do Egito.337
Notas
Parte do texto foi baseado na tradução do artigo«Ancient Egypt»na Wikipédia eminglês.
Ir para cima↑Paletas cosméticas eram artefatos utilizados para moer e aplicar ingredientes para cosméticos faciais ou corporais.
Ir para cima↑Os escribas, os únicos capazes de ler os hieróglifos, durante seus estudos da escrita hieroglífica, podiam optar entre o trabalho burocrático ou o sacerdócio. Neste ponto histórico os serviços burocráticos não mais convinham aos mesmos e, concomitantemente, com o declínio do sistema religioso egípcio, os escribas paulatinamente deixaram de existir o que inviabilizou a leitura dos hieróglifos.82
Ir para cima↑Posteriormente foi conhecido como "Amon-Rá" após ser fundido com o deusAmon.211
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