Educação e conhecimento:
o segundo nascimento do homem
GONÇALVES, Júlio César¹.
Resumo: Este artigo procurou mostrar a importância da educação na formação do ser humano, considerado-a como o “segundo nascimento do homem”. O primeiro trata-se do nascimento a partir do que as leis biológicas determinam e, o segundo está relacionado à inserção humana no contexto sócio-cultural, capaz de fornecer dados propícios à plenificação da humanidade (humanidade adquirida), e é através da transmissão do conhecimento que isso se torna capaz, bem como é de vital importância para o ser humano, uma vez que o torna capaz de intervir na realidade que o cerca.
Palavras-chave: humanidade adquirida, transmissão de conhecimento, interação social.
Abstract: This article tried to show the importance of the education in the formation of a human being, considering it as the "second birth of the man". The first one treats of the birth from what the biological laws determine and, the second is related to the human insertion in the social-cultural context, that may supply favorable information to the integration of the humanity (humanity acquired), and is through the transmission of the knowledge that it may occur, as well as of vital importance for the human being, to the extent become possible to him interfere in his own reality.
Palavras-chave: humanidade adquirida, transmissão de conhecimento, interação social.
Abstract: This article tried to show the importance of the education in the formation of a human being, considering it as the "second birth of the man". The first one treats of the birth from what the biological laws determine and, the second is related to the human insertion in the social-cultural context, that may supply favorable information to the integration of the humanity (humanity acquired), and is through the transmission of the knowledge that it may occur, as well as of vital importance for the human being, to the extent become possible to him interfere in his own reality.
Key-Words: acquired humanity, transmission of knowledge, social interaction.
Sobre o significado do conceito de educação
A palavra educação significa, dentre tantas outras sinonímias, o “conhecimento e a observação dos costumes da vida social”, (HOUAISS, 2001, p.1101) e, no seu sentido etimológico de origem na língua latina, educação (educatio, educacionis), é uma “ação de criar, de nutrir, é cultura, cultivo, instruir, ensinar”. (HOUAISS, 2001, p.1101).
A educação sempre foi um processo de vital importância para a sobrevivência do ser humano, para a formação de suas capacidades e do seu caráter, sobretudo se considerar, como base para a sua sobrevivência, a observação do meio social que o acolhe e, por conseqüência a manutenção deste meio.
Conforme observa Fernando Savater em seu livro O valor de educar (1998), para ser humano é necessário ser educado, ou seja, a sua formação está implicada na continuidade e garantia da sua própria existência, e o contrário também é verdade.
A humanidade se plenifica quando é aprendida, pois vai além da condição biológica. O ser humano nasce, mas só se torna humano (em plenitude), posteriormente, e é justamente este fator que o distingue das outras espécies, os “outros seres vivos já nascem sendo o que definitivamente são, o que serão irremediavelmente, aconteça o que acontecer, ao passo que nós, humanos, o que parece mais prudente dizer é que nascemos para a humanidade”. (SAVATER, 1998, p.30).
Ser humano é uma condição projetada; no sentido de que é algo a ser alcançado, atingido conforme se vai vivendo e aprendendo, o ser humano é conforme vai sendo, isto é, conforme o ser humano vai se deparando com conflitos e realidades do seu meio ambiente e, conforme ele vai interagindo com outros seres humanos, de forma a estabelecer ou romper laços sociais, então, vai construindo também sua subjetividade, sua personalidade, seu modo de ser e enxergar o mundo que o rodeia.
A necessidade da relação com os outros não serve tão somente como realização da satisfação pessoal (a felicidade), vai além. O relacionamento entre os seres humanos tem a importante finalidade de auxiliá-los a se tornarem conscientes, ou em outras palavras, o ser humano até poderia existir sozinho, isolado, no entanto, não teria conhecimento disso.
A capacidade de refletir e poder dizer “eu”, não é fornecida pelo patrimônio genético, uma vez que esse patrimônio fornece o necessário, mas não o suficiente para tal. A individualidade é resultado de um processo interno de reflexão, obtido, não solitariamente, mas coletivamente. A plenitude da humanidade está, justamente, aí: encontrar-se no foco dos olhares dos outros e a partir de então, humanizar-se.
Em seu livro Filosofia para não filósofos (1998), Albert Jacquard diz que os seres humanos são os vínculos que vão tecendo com os outros, de forma que o outro passa a ser uma implicação na busca da humanidade, numa relação interpessoal.Daí a importância da educação para a vida humana e seu reflexo na sociedade: aprender de alguém, que por sua vez aprendeu de outro.
Sobre este fato, pode-se afirmar que a humanidade biológica necessita de um reforço posterior ao nascimento, com o qual possibilita a sua plenitude e que Savater (1998) nomeia de “segundo nascimento”, através do qual – e pelo esforço próprio de cada ser, mas em contato com outros seres de sua espécie – o ser humano vai se aproximando de sua existência.
Para tanto, pode-se dizer que o ser humano sofre dois nascimentos: o da gestação conforme determinam as condições biológicas e, outro, do meio social que se insere – submetendo-se aos costumes culturais, lingüísticos, morais, entre outros, pois o humano não é simplesmente dado, ele se projeta no mundo, ele se torna o que é, posteriormente ao nascimento biológico, em contato com o meio em que vive e com as pessoas que o acompanha.
Deste modo, pode-se afirmar que a sua existência está além da determinação do meio no qual o envolve e o compõe. Esta autometamorfose não acontece, se não, através da troca. A natureza dá os meios necessários para os seres humanos se tornarem humanos (tecidos, órgãos e sistemas), entretanto, não indica o caminho a seguir. “Para realizar essa façanha fabulosa que é a capacidade para saber que existimos, é necessário nos beneficiarmos dos olhares dos outros; é necessário, pouco a pouco, tecer os vínculos que são nossa verdadeira pessoa”. (JACQUARD, 1998, p.05).
O ser humano, bem como todas as outras espécies de seres vivos existentes na natureza, sofreram e vêm sofrendo mudanças evolutivas constantes, o que os têm tornados seres com um grande potencial adaptativo, a fim de garantir a sobrevivência da sua espécie. A esta capacidade, pode-se destacar dois outros tipos de adaptabilidade latentes: a adaptação física e a adaptação mental, ou seja, a adaptação física diz respeito à facilidade animal de se ajustar harmonicamente ao seu meio ambiente físico, já a adaptabilidade mental está mais ligada à capacidade de ajustar-se humanas às vicissitudes simbólicas e culturais.
Esse pensamento revela a necessidade fundamental do processo do conhecimento para a vida humana, bem como a fragilidade desta espécie, haja visto que, ao que parece, o ser humano nasce prematuro, necessitando de cuidados especiais, de relações com outros de sua espécie para que sobreviva e se forme ao longo do tempo.
Savater afirma que “a possibilidade de ser humano só se realiza efetivamente por meio dos outros, dos semelhantes, ou seja, daqueles com os quais a criança, em seguida, fará todo o possível para se parecer” (SAVATER, 1998, p.33). Por isso, afirmamos que o homem é um ser histórico, e o seu conhecimento se dá desta maneira, resultando, portanto, num ser que seja, necessariamente, inacabado, incompleto que está sempre aprendendo e ensinando algo, o que justifica a existência da vida social, das culturas, das diferenças.
Os mamíferos possuem uma característica peculiar que é a fragilidade enquanto são filhotes (como foi acima citado), necessitando muito, não só dos cuidados e dos instintos dos seus progenitores, mas também de aprender as experiências com seus pais, afim de que possam sobreviver – e isto se reforça ainda mais entre a espécie humana já que as experiências aprendidas são mais importantes que as instintivas, como diz Augusto Cury “quanto mais inferior é a vida de um animal, menos dependente ele é dos seus progenitores”. (CURY, 2003, p.22).
A condição de fragilidade, juntamente com a da imaturidade e a da falibilidade são marcas próprias dos indivíduos da espécie humana e as mesmas, por sua vez, permanecem com eles até o fim de seus dias, o que remete a idéia, não só das condições volúveis dos seres humanos, mas, sobretudo, das possibilidades de estarem sempre aprendendo algo, pelo fato de serem inacabados, incompletos(como comentado acima).
É a imaturidade por parte dos recém-nascidos e a maturidade dos adultos que já vivenciaram e vivenciam o conhecimento e os costumes do seu grupo social que determinam à necessidade do ensinar, do transmitir.
Fernando Savater (1998) relata que os seres humanos, por não quererem morrer totalmente, transmitem a conservação do que são e do que anseiam à geração vindoura. Assim, o ato de educar aproxima-se do instinto de sobrevivência do ser humano, porque o homem tem em si a incapacidade de infinitude e, encontra na educação uma maneira eficaz de transmitir aos seus descendentes o seu conhecimento e as suas experiências de vida no meio social, perpertuando assim o conhecimento da sua espécie e da sua memória, tornando-se, portanto, infinito.
Alguns antropólogos designam o conceito de neotenia ou pedomorfose² (HOUAISS, 2001) para explicar o inacabamento humano. Tal conceito tem por significado a capacidade de reter características juvenis mesmo o organismo já tendo atingido uma maturidade adulta.
Na realidade querer-se-á demonstrar, com este conceito, que a raça humana nasce demasiadamente cedo, de maneira a acreditar que não há completude consumada com o nascimento, ou pode-se considerar o homem um ser prematuro até a sua morte, daí a idéia de que a espécie humana passa por duas gestações (a biológica e a sócio-cultural) – fator também importante para a constatação da ignorância e do aprendizado.
Paulo Freire no livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (2002), vê a imcompletude humana como algo “próprio da experiência vital” (FREIRE, 2002, p.55). Acredita que em todo lugar onde houver vida, haverá inacabamento, ou seja, ele coloca a reflexão da inconclusão do ser, como um fator não exclusivamente humano, no entanto, vai dizer que só os seres humanos tornam-se conscientes dela.
John Dewey (1936) relata que essa constatação da imaturidade é a primeira condição para que haja o crescimento, o conhecimento. Confirmando esta análise, Savater diz que esse fenômeno,
[...] baseia-se em algo decisivo que, ao que parece, só ocorre entre humanos [...]. Os membros da sociedade humana não só sabem o que sabem, eles também percebem e perseguem corrigir a ignorância dos que ainda não sabem ou de quem acredita que sabe algo erroneamente. (SAVATER, 1998, p.35).
Portanto, é nítida a importância da constatação da ignorância, para que haja o relacionamento interpessoal e nele aconteça o aprendizado, isto é, só será possível ensinar se for constatada a ignorância do outro e de si próprio, pois sem esse diagnóstico, não há como ensinar e aprender.
Não se ensina quem já sabe. Este ato requer a humildade tanto da parte do educador, em assumir que não sabe tudo, que não está pronto, quanto da parte do educando que se coloca nas mãos dos educadores confiando-lhes, todo o potencial de aprender que está latente em seu ser, de modo que “se não há atribuição de ignorância, também não há esforço para ensinar”. (SAVATER, 1998. p.35).
Dewey relata que “o erro consiste em considerar o espírito uma cousa completa por si mesma, pronta a ser aplicada imediatamente à matéria apresentada”. (DEWEY, 1936, p.174). Não é possível ensinar sem aprender, e o contrário também é verdade, entretanto, os homens descobriram, com o tempo e com a convivência social, que ensinar era possível, “o meio social crê nas atitudes mental e emocional do procedimento dos indivíduos, fazendo-os entregarem-se as atividades que despertam [...] determinados impulsos, que tem determinados objetivos, e acarretam determinadas conseqüências”. (DEWEY, 1936, p.37).
O ser humano vai se transformando naquilo que seu meio social, a cultura do seu povo, os costumes de sua gente, determinam devido o fato de que o imaturo precisa e se espelha no maduro, a criança, no adulto, o que ainda não sabe, naquele que sabe antes.
Dewey (1936) cita o exemplo de uma criança nascida e criada no seio de uma família de músicos dizendo que esta terá suas aptidões musicais estimuladas, mesmo que sejam as mais remotas de se exteriorizar, em comparação com outros impulsos que poderiam se manifestar no mesmo, ou em outros ambientes. Isto se dá, devido aos estímulos sócio-culturais que, de forma indireta, influenciaram esta criança.
A palavra educação significa, dentre tantas outras sinonímias, o “conhecimento e a observação dos costumes da vida social”, (HOUAISS, 2001, p.1101) e, no seu sentido etimológico de origem na língua latina, educação (educatio, educacionis), é uma “ação de criar, de nutrir, é cultura, cultivo, instruir, ensinar”. (HOUAISS, 2001, p.1101).
A educação sempre foi um processo de vital importância para a sobrevivência do ser humano, para a formação de suas capacidades e do seu caráter, sobretudo se considerar, como base para a sua sobrevivência, a observação do meio social que o acolhe e, por conseqüência a manutenção deste meio.
Conforme observa Fernando Savater em seu livro O valor de educar (1998), para ser humano é necessário ser educado, ou seja, a sua formação está implicada na continuidade e garantia da sua própria existência, e o contrário também é verdade.
A humanidade se plenifica quando é aprendida, pois vai além da condição biológica. O ser humano nasce, mas só se torna humano (em plenitude), posteriormente, e é justamente este fator que o distingue das outras espécies, os “outros seres vivos já nascem sendo o que definitivamente são, o que serão irremediavelmente, aconteça o que acontecer, ao passo que nós, humanos, o que parece mais prudente dizer é que nascemos para a humanidade”. (SAVATER, 1998, p.30).
Ser humano é uma condição projetada; no sentido de que é algo a ser alcançado, atingido conforme se vai vivendo e aprendendo, o ser humano é conforme vai sendo, isto é, conforme o ser humano vai se deparando com conflitos e realidades do seu meio ambiente e, conforme ele vai interagindo com outros seres humanos, de forma a estabelecer ou romper laços sociais, então, vai construindo também sua subjetividade, sua personalidade, seu modo de ser e enxergar o mundo que o rodeia.
A necessidade da relação com os outros não serve tão somente como realização da satisfação pessoal (a felicidade), vai além. O relacionamento entre os seres humanos tem a importante finalidade de auxiliá-los a se tornarem conscientes, ou em outras palavras, o ser humano até poderia existir sozinho, isolado, no entanto, não teria conhecimento disso.
A capacidade de refletir e poder dizer “eu”, não é fornecida pelo patrimônio genético, uma vez que esse patrimônio fornece o necessário, mas não o suficiente para tal. A individualidade é resultado de um processo interno de reflexão, obtido, não solitariamente, mas coletivamente. A plenitude da humanidade está, justamente, aí: encontrar-se no foco dos olhares dos outros e a partir de então, humanizar-se.
Em seu livro Filosofia para não filósofos (1998), Albert Jacquard diz que os seres humanos são os vínculos que vão tecendo com os outros, de forma que o outro passa a ser uma implicação na busca da humanidade, numa relação interpessoal.Daí a importância da educação para a vida humana e seu reflexo na sociedade: aprender de alguém, que por sua vez aprendeu de outro.
Sobre este fato, pode-se afirmar que a humanidade biológica necessita de um reforço posterior ao nascimento, com o qual possibilita a sua plenitude e que Savater (1998) nomeia de “segundo nascimento”, através do qual – e pelo esforço próprio de cada ser, mas em contato com outros seres de sua espécie – o ser humano vai se aproximando de sua existência.
Para tanto, pode-se dizer que o ser humano sofre dois nascimentos: o da gestação conforme determinam as condições biológicas e, outro, do meio social que se insere – submetendo-se aos costumes culturais, lingüísticos, morais, entre outros, pois o humano não é simplesmente dado, ele se projeta no mundo, ele se torna o que é, posteriormente ao nascimento biológico, em contato com o meio em que vive e com as pessoas que o acompanha.
Deste modo, pode-se afirmar que a sua existência está além da determinação do meio no qual o envolve e o compõe. Esta autometamorfose não acontece, se não, através da troca. A natureza dá os meios necessários para os seres humanos se tornarem humanos (tecidos, órgãos e sistemas), entretanto, não indica o caminho a seguir. “Para realizar essa façanha fabulosa que é a capacidade para saber que existimos, é necessário nos beneficiarmos dos olhares dos outros; é necessário, pouco a pouco, tecer os vínculos que são nossa verdadeira pessoa”. (JACQUARD, 1998, p.05).
O ser humano, bem como todas as outras espécies de seres vivos existentes na natureza, sofreram e vêm sofrendo mudanças evolutivas constantes, o que os têm tornados seres com um grande potencial adaptativo, a fim de garantir a sobrevivência da sua espécie. A esta capacidade, pode-se destacar dois outros tipos de adaptabilidade latentes: a adaptação física e a adaptação mental, ou seja, a adaptação física diz respeito à facilidade animal de se ajustar harmonicamente ao seu meio ambiente físico, já a adaptabilidade mental está mais ligada à capacidade de ajustar-se humanas às vicissitudes simbólicas e culturais.
Esse pensamento revela a necessidade fundamental do processo do conhecimento para a vida humana, bem como a fragilidade desta espécie, haja visto que, ao que parece, o ser humano nasce prematuro, necessitando de cuidados especiais, de relações com outros de sua espécie para que sobreviva e se forme ao longo do tempo.
Savater afirma que “a possibilidade de ser humano só se realiza efetivamente por meio dos outros, dos semelhantes, ou seja, daqueles com os quais a criança, em seguida, fará todo o possível para se parecer” (SAVATER, 1998, p.33). Por isso, afirmamos que o homem é um ser histórico, e o seu conhecimento se dá desta maneira, resultando, portanto, num ser que seja, necessariamente, inacabado, incompleto que está sempre aprendendo e ensinando algo, o que justifica a existência da vida social, das culturas, das diferenças.
Os mamíferos possuem uma característica peculiar que é a fragilidade enquanto são filhotes (como foi acima citado), necessitando muito, não só dos cuidados e dos instintos dos seus progenitores, mas também de aprender as experiências com seus pais, afim de que possam sobreviver – e isto se reforça ainda mais entre a espécie humana já que as experiências aprendidas são mais importantes que as instintivas, como diz Augusto Cury “quanto mais inferior é a vida de um animal, menos dependente ele é dos seus progenitores”. (CURY, 2003, p.22).
A condição de fragilidade, juntamente com a da imaturidade e a da falibilidade são marcas próprias dos indivíduos da espécie humana e as mesmas, por sua vez, permanecem com eles até o fim de seus dias, o que remete a idéia, não só das condições volúveis dos seres humanos, mas, sobretudo, das possibilidades de estarem sempre aprendendo algo, pelo fato de serem inacabados, incompletos(como comentado acima).
É a imaturidade por parte dos recém-nascidos e a maturidade dos adultos que já vivenciaram e vivenciam o conhecimento e os costumes do seu grupo social que determinam à necessidade do ensinar, do transmitir.
Fernando Savater (1998) relata que os seres humanos, por não quererem morrer totalmente, transmitem a conservação do que são e do que anseiam à geração vindoura. Assim, o ato de educar aproxima-se do instinto de sobrevivência do ser humano, porque o homem tem em si a incapacidade de infinitude e, encontra na educação uma maneira eficaz de transmitir aos seus descendentes o seu conhecimento e as suas experiências de vida no meio social, perpertuando assim o conhecimento da sua espécie e da sua memória, tornando-se, portanto, infinito.
Alguns antropólogos designam o conceito de neotenia ou pedomorfose² (HOUAISS, 2001) para explicar o inacabamento humano. Tal conceito tem por significado a capacidade de reter características juvenis mesmo o organismo já tendo atingido uma maturidade adulta.
Na realidade querer-se-á demonstrar, com este conceito, que a raça humana nasce demasiadamente cedo, de maneira a acreditar que não há completude consumada com o nascimento, ou pode-se considerar o homem um ser prematuro até a sua morte, daí a idéia de que a espécie humana passa por duas gestações (a biológica e a sócio-cultural) – fator também importante para a constatação da ignorância e do aprendizado.
Paulo Freire no livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (2002), vê a imcompletude humana como algo “próprio da experiência vital” (FREIRE, 2002, p.55). Acredita que em todo lugar onde houver vida, haverá inacabamento, ou seja, ele coloca a reflexão da inconclusão do ser, como um fator não exclusivamente humano, no entanto, vai dizer que só os seres humanos tornam-se conscientes dela.
John Dewey (1936) relata que essa constatação da imaturidade é a primeira condição para que haja o crescimento, o conhecimento. Confirmando esta análise, Savater diz que esse fenômeno,
[...] baseia-se em algo decisivo que, ao que parece, só ocorre entre humanos [...]. Os membros da sociedade humana não só sabem o que sabem, eles também percebem e perseguem corrigir a ignorância dos que ainda não sabem ou de quem acredita que sabe algo erroneamente. (SAVATER, 1998, p.35).
Portanto, é nítida a importância da constatação da ignorância, para que haja o relacionamento interpessoal e nele aconteça o aprendizado, isto é, só será possível ensinar se for constatada a ignorância do outro e de si próprio, pois sem esse diagnóstico, não há como ensinar e aprender.
Não se ensina quem já sabe. Este ato requer a humildade tanto da parte do educador, em assumir que não sabe tudo, que não está pronto, quanto da parte do educando que se coloca nas mãos dos educadores confiando-lhes, todo o potencial de aprender que está latente em seu ser, de modo que “se não há atribuição de ignorância, também não há esforço para ensinar”. (SAVATER, 1998. p.35).
Dewey relata que “o erro consiste em considerar o espírito uma cousa completa por si mesma, pronta a ser aplicada imediatamente à matéria apresentada”. (DEWEY, 1936, p.174). Não é possível ensinar sem aprender, e o contrário também é verdade, entretanto, os homens descobriram, com o tempo e com a convivência social, que ensinar era possível, “o meio social crê nas atitudes mental e emocional do procedimento dos indivíduos, fazendo-os entregarem-se as atividades que despertam [...] determinados impulsos, que tem determinados objetivos, e acarretam determinadas conseqüências”. (DEWEY, 1936, p.37).
O ser humano vai se transformando naquilo que seu meio social, a cultura do seu povo, os costumes de sua gente, determinam devido o fato de que o imaturo precisa e se espelha no maduro, a criança, no adulto, o que ainda não sabe, naquele que sabe antes.
Dewey (1936) cita o exemplo de uma criança nascida e criada no seio de uma família de músicos dizendo que esta terá suas aptidões musicais estimuladas, mesmo que sejam as mais remotas de se exteriorizar, em comparação com outros impulsos que poderiam se manifestar no mesmo, ou em outros ambientes. Isto se dá, devido aos estímulos sócio-culturais que, de forma indireta, influenciaram esta criança.
A educação e o conhecimento como forma de perpetuação da espécie humana
Por ser consciente de que a vida só se sustenta pela existência da morte – que justifica a necessidade da transmissão de saberes e experiências acumuladas no decorrer dos anos de vida – é que o ser humano não deseja a extinção de si mesmo. Pela consciência plena da sua finitude e da angústia que esta consciência traz, o homem deseja a imortalidade.
Para tanto, atribui à conservação de tudo aquilo que compõe o que ele é e o que ele anseia ser, à geração vindoura. Se, portanto, não houvesse esta transmissão de conhecimento – transmissão, neste caso, tem o sentido de o homem passar adiante o que já aprendeu com as experiências de vida, ou seja, perpetuar seu modo de pensar, sua cultura, como vimos acima e, não no sentido de um tradicionalismo pedagógico, no qual Paulo Freire remete à idéia de transmissão bancária do conhecimento –, não haveria motivações para o relacionamento interpessoal, pois “o que é próprio do homem não é tanto o mero aprender, mas o aprender com os outros homens, o ser ensinado por eles”. (SAVATER, 1998, p.39).
O conhecimento transmitido é tão importante quanto à própria existência humana em qualquer ambiente social, uma vez que é a partir das experiências vividas, trocadas e partilhadas que os sujeitos adquirem o conhecimento. Segundo Dewey (1936, p.19), “a vida é um processo que se renova a si mesmo por intermédio da ação sobre o meio ambiente”, assim como diz Paulo Freire (2002): “[...] o aprender precedeu o ensinar [...]” (FREIRE, 2002, p.26).
Então, pode-se dizer que o homem se relaciona para aprender e ensina para não ser esquecido. Todavia, o que o homem aprende de outro é diferente e mais importante do que se aprendesse somente das coisas que o cerca, uma vez que destas só aprenderia os efeitos e a maneira como funcionam, enquanto que, em interatividade com outros seres de sua espécie, aprender-se-á também a significar e re-significar as coisas, já que o ambiente no qual ele se insere possui significado. Ou seja,
A vida humana consiste em habitar um mundo no qual as coisas, além de serem o que são, também significam; o mais humano de tudo, porém, é compreender que, embora o que a realidade é não dependa de nós, o que a realidade significa é, sim, competência, problema e, em certa medida, opção nossa. (SAVATER, 1998, p.41).
Todos os seres humanos podem aprender das coisas que os cercam (e assim adquire-se muito conhecimento funcional, como supracitado) sem que ninguém os ensine – e aqui está mais uma diferença básica entre homens e animais: enquanto o homem depende de outros para aprender, os animais se limitam ao aprendizado a partir das coisas tornando-se repetitivos pelo fato desse ensino ser limitado, todavia, não há como entrar no mundo das significações sem antes estabelecer uma relação simbólica com outros homens.
Não se pode inventar significado sozinho, relata Savater (1998), mas, a partir da troca intersubjetiva com o outro da mesma espécie, pois o significado que um sujeito atribui a algo, depende do que o outro pensa a este respeito, re-significando-o.
Os seres humanos constroem suas formas mentais e utilizam-se delas para comunicarem-se uns com os outros, re-significando-as segundo a cultura, o ambiente, a língua daqueles que – com ele – compõe um determinado grupo social. Assim ocorre, porque a mente é subjetiva, tendo o ser humano que compartilhar o que pensa com os outros da sua espécie, para que os outros saibam o que tem significado para ele.
Os homens são capazes de transmitir e ensinar as experiências adquiridas, à sua descendência sem submetê-los a tais situações, por vezes doloridas. Dewey (1936) diz que o que difere o homem dos animais são as relações estabelecidas com outros seres e com o mundo e, também, a ação consciente em função de objetivos. Essa transmissão, no entanto, “efetua-se por meio da comunicação – dos mais velhos para os mais novos – dos hábitos de proceder, pensar e sentir”. (DEWEY, 1936, p.21).
Savater (1998) coloca a experiência transmitida como uma possibilidade que cria um espaço de descobertas de um passado que sempre poderá ser transmitido àqueles que ainda não o compartilha, e continua dizendo que é a partir dessas descobertas que todos os homens são capazes de ensinar algo aos seus semelhantes, já que a condição humana possibilita a todos, serem, ao menos em alguma ocasião na vida, professores de alguma coisa para alguém.
Dewey inicia sua obra, Democracia e Educação (1936), ressaltando a diferença notória entre os seres vivos e os inanimados. Ele diz que a distinção entre essas duas espécies está, justamente, na capacidade que o homem possui de se conservar por meio da renovação. Se, para tanto, houvesse outro modo de aprender, o homem talvez, até poderia sobreviver fisicamente (através dos instintos e da adaptabilidade ao meio), contudo, perder-se-ia tudo aquilo que o processo do educar tem de enriquecimento humano.
Ele acredita que o conhecimento se dá no meio social, mediante as interações interpessoais, seja ele em qualquer ambiente – desde que seja social, uma vez que é a partir das experiências vividas e partilhadas que os sujeitos também adquirem o conhecimento.
“A educação é para a vida social aquilo que a nutrição e a reprodução são para a vida psicológica”. (DEWEY, 1936, p.29).
Para tanto, atribui à conservação de tudo aquilo que compõe o que ele é e o que ele anseia ser, à geração vindoura. Se, portanto, não houvesse esta transmissão de conhecimento – transmissão, neste caso, tem o sentido de o homem passar adiante o que já aprendeu com as experiências de vida, ou seja, perpetuar seu modo de pensar, sua cultura, como vimos acima e, não no sentido de um tradicionalismo pedagógico, no qual Paulo Freire remete à idéia de transmissão bancária do conhecimento –, não haveria motivações para o relacionamento interpessoal, pois “o que é próprio do homem não é tanto o mero aprender, mas o aprender com os outros homens, o ser ensinado por eles”. (SAVATER, 1998, p.39).
O conhecimento transmitido é tão importante quanto à própria existência humana em qualquer ambiente social, uma vez que é a partir das experiências vividas, trocadas e partilhadas que os sujeitos adquirem o conhecimento. Segundo Dewey (1936, p.19), “a vida é um processo que se renova a si mesmo por intermédio da ação sobre o meio ambiente”, assim como diz Paulo Freire (2002): “[...] o aprender precedeu o ensinar [...]” (FREIRE, 2002, p.26).
Então, pode-se dizer que o homem se relaciona para aprender e ensina para não ser esquecido. Todavia, o que o homem aprende de outro é diferente e mais importante do que se aprendesse somente das coisas que o cerca, uma vez que destas só aprenderia os efeitos e a maneira como funcionam, enquanto que, em interatividade com outros seres de sua espécie, aprender-se-á também a significar e re-significar as coisas, já que o ambiente no qual ele se insere possui significado. Ou seja,
A vida humana consiste em habitar um mundo no qual as coisas, além de serem o que são, também significam; o mais humano de tudo, porém, é compreender que, embora o que a realidade é não dependa de nós, o que a realidade significa é, sim, competência, problema e, em certa medida, opção nossa. (SAVATER, 1998, p.41).
Todos os seres humanos podem aprender das coisas que os cercam (e assim adquire-se muito conhecimento funcional, como supracitado) sem que ninguém os ensine – e aqui está mais uma diferença básica entre homens e animais: enquanto o homem depende de outros para aprender, os animais se limitam ao aprendizado a partir das coisas tornando-se repetitivos pelo fato desse ensino ser limitado, todavia, não há como entrar no mundo das significações sem antes estabelecer uma relação simbólica com outros homens.
Não se pode inventar significado sozinho, relata Savater (1998), mas, a partir da troca intersubjetiva com o outro da mesma espécie, pois o significado que um sujeito atribui a algo, depende do que o outro pensa a este respeito, re-significando-o.
Os seres humanos constroem suas formas mentais e utilizam-se delas para comunicarem-se uns com os outros, re-significando-as segundo a cultura, o ambiente, a língua daqueles que – com ele – compõe um determinado grupo social. Assim ocorre, porque a mente é subjetiva, tendo o ser humano que compartilhar o que pensa com os outros da sua espécie, para que os outros saibam o que tem significado para ele.
Os homens são capazes de transmitir e ensinar as experiências adquiridas, à sua descendência sem submetê-los a tais situações, por vezes doloridas. Dewey (1936) diz que o que difere o homem dos animais são as relações estabelecidas com outros seres e com o mundo e, também, a ação consciente em função de objetivos. Essa transmissão, no entanto, “efetua-se por meio da comunicação – dos mais velhos para os mais novos – dos hábitos de proceder, pensar e sentir”. (DEWEY, 1936, p.21).
Savater (1998) coloca a experiência transmitida como uma possibilidade que cria um espaço de descobertas de um passado que sempre poderá ser transmitido àqueles que ainda não o compartilha, e continua dizendo que é a partir dessas descobertas que todos os homens são capazes de ensinar algo aos seus semelhantes, já que a condição humana possibilita a todos, serem, ao menos em alguma ocasião na vida, professores de alguma coisa para alguém.
Dewey inicia sua obra, Democracia e Educação (1936), ressaltando a diferença notória entre os seres vivos e os inanimados. Ele diz que a distinção entre essas duas espécies está, justamente, na capacidade que o homem possui de se conservar por meio da renovação. Se, para tanto, houvesse outro modo de aprender, o homem talvez, até poderia sobreviver fisicamente (através dos instintos e da adaptabilidade ao meio), contudo, perder-se-ia tudo aquilo que o processo do educar tem de enriquecimento humano.
Ele acredita que o conhecimento se dá no meio social, mediante as interações interpessoais, seja ele em qualquer ambiente – desde que seja social, uma vez que é a partir das experiências vividas e partilhadas que os sujeitos também adquirem o conhecimento.
“A educação é para a vida social aquilo que a nutrição e a reprodução são para a vida psicológica”. (DEWEY, 1936, p.29).
A educação e o conhecimento no meio social
A existência social dos grupos é mantida pela necessidade de ensinar e de aprender, afirma Savater, pois, é preciso “preparar os neófitos, cujas forças intactas são necessárias para que a grande maquinaria não se extinga, para que eles saibam nos ajudar e sustentem tudo aquilo a que a fatalidade biológica vai fazendo os adultos renunciarem pouco a pouco”. (SAVATER, 1998, p.109).
Sobre esta força necessária, esta sustentação da maquinaria, no qual Savater descreve, Dewey vai dizer que uma sociedade só vive e sobrevive pelos objetivos em comum que busca e, uma forma de alcançar tais objetivos é justamente à transmissão aos membros dessa sociedade que ainda os desconhecem.
A sociedade não só continua a existir pela transmissão, pela comunicação, como também se pode perfeitamente dizer que ela é transmissão e é comunicação. Há mais do que um nexo verbal entre os termos comum, comunidade e comunicação. Os homens vivem em comunidade em virtude das cousas que tem em comum; e a comunicação é o meio por que chegam a possuir cousas comuns. O que eles devem ter em comum para formar uma comunidade ou sociedade são os objetivos, as crenças, as aspirações, os conhecimentos. (DEWEY, 1936, p.22).
O fato de o homem ter consciência de si, do mundo, de si no mundo e estabelecer, a partir daí, vínculos de relações com outros de sua espécie, ensinando e aprendendo, torna-o também capaz de deliberar. Este é o ponto no qual se sintetiza o que deveria ser o objetivo social comum da humanidade: tornar-se potencialmente capaz de transformar, de produzir, de decidir, de criar e de se comunicar por si só – é o que se denomina de autonomia, emancipação.
Freire acredita que a própria consciência que os homens têm, do mundo e de sua atividade é o que os movem em função dos objetivos a que se propõem. São nessas relações que se percebe a preocupação em dar continuidade aos costumes sociais de um determinado grupo. Também a preocupação é a necessidade de passar à frente os saberes apreendidos, já que este ato está relacionado, até mesmo, com a própria existência da espécie humana, se o existir for encarado como sendo uma forma de viver, cujos seres são, potencialmente, capazes de transformar, de produzir, de decidir, de criar e de se comunicar.
No tocante dessa relação, a sociedade vai se construindo, se transformando, se mantendo e, sobremaneira, sobrevivendo através dos objetivos comuns que traçam e da comunicação que se estabelece entre seus membros.
Caso não houvesse a transmissão do conhecimento por outros membros da sociedade, possivelmente o homem aprenderia apenas os efeitos e funcionamentos das coisas que o cerca, pois é isso que se pode assimilar das coisas em si, enquanto das relações interpessoais, intersubjetiva, pode-se aprender significados. Portanto, sem a educação, seria impossível transmitir todos os recursos necessários para a
Conquista de uma sociedade complexa. Ela [a educação] abre, além disso, caminho a uma espécie de experiência que não seria acessível aos mais novos, se estes tivessem de aprender associando-se livremente com outras pessoas, desde que livros e símbolos do conhecimento têm que ser apreendidos. (DEWEY, 1936, p.27).
Delineia-se, a partir daqui, o objetivo primeiro da educação: proporcionar ao homem, uma consciência e possível intervenção na realidade, na sociedade da qual ele se insere; o que é muito diferente de, apenas, desenvolver as capacidades instintivas cujas finalidades são as de adaptação ao seu meio ambiente.
Sobre este ponto, Freire (2002) diz que é impossível conceber a idéia de ser humano separado da ética, muito menos fora dela. Por isso, reduzir a experiência educativa em treinamento das destrezas do aprendiz é banir com aquilo que há de fundamentalmente humano no processo educativo: o seu caráter formador. “Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando”. (FREIRE, 2002, p.33).
É essa formação moral, que vai objetivar a finalidade do processo educativo – propor ao homem a consciência – e esta formação, enquanto capacidade de aprender, é o que distingue a educabilidade do ser humano do simples adestramento animal ou do cultivo das plantas, já que ao homem é concedida a potência de intervir e transformar a realidade que o cerca, recriando-a (cultura, de certo modo).
O papel fundamental da educação, segundo Dewey (1936), é remeter aquele que não sabe a uma prática de ensinar com base na própria liberdade, que não separe a vida cotidiana do aprendizado, para que ele mesmo possa concluir suas próprias certezas, seus próprios conhecimentos, as próprias regras morais.
Neste sentido, a palavra educação (Educationis (lat.) – ação de criar, de nutrir; cultura, cultivo), faz jus ao seu significado etimológico: “assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano”, (HOUAISS, 2001, p.1101), ou, “processo de dirigir, de conduzir ou de elevar”. (DEWEY, 1936, p.30).
Pode-se considerar que não há desenvolvimento cognitivo consciente no homem – que não o proporcione uma consciência acerca da realidade – sem a educação (já que a mesma é um incentivo, um alimento), tampouco para sociedade, haja vista que, tanto a educação quanto a sociedade não podem existir isoladamente de modo que as duas estão sempre numa relação precípua.
É através da educação que se aprende a ser sociedade e é a sociedade que ensina a ser humano. “O processo educativo não tem outro fim alem de si mesmo: elle é seu proprio fim. [...] O processo educativo é um contínuo reorganizar, reconstruir, transformar”, (DEWEY, 1936, p.75), é muito mais que apenas reproduzir e transferir conteúdos. É incentivo ao desejo, ao gosto pelo aprender contínuo ao preparar as pessoas para transformar o meio em que vive.
A educação não consiste em apenas ensinar a pensar, mas a pensar aquilo que é pensado para que se possa “conseguir indivíduos autenticamente livres” (SAVATER, 1998, p.111), e para “liberar em cada homem o que o impede de ser ele mesmo” (SAVATER, 1998, p.114), fatores esses que marca o grande avanço na evolução da espécie humana em relação a outros animais.
É a educação que revela ao homem sua origem simbólica com relação aos outros indivíduos da sua espécie, e é nesse sentido que consiste a humanidade adquirida, bem como a consciência da realidade que rodeia o ser humano, podendo, assim, intervir para mudá-la.
Diante dessas condições, Freire propõe a mudança da realidade a partir do educar para a autonomia, processo este que vai proporcionar ao educando uma criticização de sua curiosidade, possibilitando-o mais e mais, a capacidade de ser criativo e alcançar enfim o conhecimento por si próprio, pois “quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto mais se constrói e desenvolve [...] a ‘curiosidade epistemológica’, sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto”. (FREIRE, 2001, p.27).
O ato de aprender está intimamente ligado à curiosidade e às situações que a fomentam, que a instigue. Para Freire (2002), a curiosidade é fundamental para a vida, haja vista que é por meio dela que o ser humano questiona, investiga, esclarece e cria novas situações, ou seja, quando a curiosidade está acompanhada de inquietações, indagações, com desejo de descoberta da verdade, então ela se torna geradora, impulsionadora e co-responsável pela aproximação do “curioso” ao objeto cognoscível, “é ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais-perguntar, reconhecer” (FREIRE apudASSMANN, 2004, p.192).
A curiosidade resulta na criatividade que, por sua vez, resulta no verdadeiro conhecimento e implica possíveis mudanças e transformações de realidades subjetivas e sociais.
Essa curiosidade, do qual Freire escreve, não é a protagonista da aquisição do conhecimento, entretanto, é o ponta-pé inicial, se assim possa dizer, para a aquisição do mesmo. A ela, Freire (2002) denomina de curiosidade ingênua. É importante relatar – e Freire já o fez – que é através de um processo de criticização do pensamento do aluno, ou seja, do reforçar a sua capacidade crítica, a sua curiosidade ingênua, a sua insubmissão e, através do trabalho rigoroso e metódico com que devem aproximar-se do objeto gnosiológico, do respeito e do estímulo à capacidade criadora do aluno, que há uma superação³ da curiosidade ingênua para o que Freire denomina “curiosidade epistemológica”.
Fernando Savater (1998, p.61) vai dizer que a capacidade de aprender – ao que ele diz, pode-se analisar comparativamente ao que Freire chama de criticização da curiosidade e Dewey de problematização, para aquisição do conhecimento – é composta “de muitas perguntas e algumas respostas; de buscas pessoais e não de achados institucionalmente decretados; de crítica e questionamento em vez de obediência que se satisfaz com o comumente estabelecido”.
O educando, quando estimulado e crítico, é capaz de pensar por si mesmo, torna-se independente do mestre, torna-se pesquisador às custas de si próprio, do seu esforço. A essa destreza se dá o nome de autonomia, pois leva à deliberação e à atuação nas decisões da sociedade a que pertence. Este foi o objetivo de Paulo Freire com relação à educação, tanto na elaboração de suas obras, quanto no tocante de suas experiências de vida.
Sobre esta força necessária, esta sustentação da maquinaria, no qual Savater descreve, Dewey vai dizer que uma sociedade só vive e sobrevive pelos objetivos em comum que busca e, uma forma de alcançar tais objetivos é justamente à transmissão aos membros dessa sociedade que ainda os desconhecem.
A sociedade não só continua a existir pela transmissão, pela comunicação, como também se pode perfeitamente dizer que ela é transmissão e é comunicação. Há mais do que um nexo verbal entre os termos comum, comunidade e comunicação. Os homens vivem em comunidade em virtude das cousas que tem em comum; e a comunicação é o meio por que chegam a possuir cousas comuns. O que eles devem ter em comum para formar uma comunidade ou sociedade são os objetivos, as crenças, as aspirações, os conhecimentos. (DEWEY, 1936, p.22).
O fato de o homem ter consciência de si, do mundo, de si no mundo e estabelecer, a partir daí, vínculos de relações com outros de sua espécie, ensinando e aprendendo, torna-o também capaz de deliberar. Este é o ponto no qual se sintetiza o que deveria ser o objetivo social comum da humanidade: tornar-se potencialmente capaz de transformar, de produzir, de decidir, de criar e de se comunicar por si só – é o que se denomina de autonomia, emancipação.
Freire acredita que a própria consciência que os homens têm, do mundo e de sua atividade é o que os movem em função dos objetivos a que se propõem. São nessas relações que se percebe a preocupação em dar continuidade aos costumes sociais de um determinado grupo. Também a preocupação é a necessidade de passar à frente os saberes apreendidos, já que este ato está relacionado, até mesmo, com a própria existência da espécie humana, se o existir for encarado como sendo uma forma de viver, cujos seres são, potencialmente, capazes de transformar, de produzir, de decidir, de criar e de se comunicar.
No tocante dessa relação, a sociedade vai se construindo, se transformando, se mantendo e, sobremaneira, sobrevivendo através dos objetivos comuns que traçam e da comunicação que se estabelece entre seus membros.
Caso não houvesse a transmissão do conhecimento por outros membros da sociedade, possivelmente o homem aprenderia apenas os efeitos e funcionamentos das coisas que o cerca, pois é isso que se pode assimilar das coisas em si, enquanto das relações interpessoais, intersubjetiva, pode-se aprender significados. Portanto, sem a educação, seria impossível transmitir todos os recursos necessários para a
Conquista de uma sociedade complexa. Ela [a educação] abre, além disso, caminho a uma espécie de experiência que não seria acessível aos mais novos, se estes tivessem de aprender associando-se livremente com outras pessoas, desde que livros e símbolos do conhecimento têm que ser apreendidos. (DEWEY, 1936, p.27).
Delineia-se, a partir daqui, o objetivo primeiro da educação: proporcionar ao homem, uma consciência e possível intervenção na realidade, na sociedade da qual ele se insere; o que é muito diferente de, apenas, desenvolver as capacidades instintivas cujas finalidades são as de adaptação ao seu meio ambiente.
Sobre este ponto, Freire (2002) diz que é impossível conceber a idéia de ser humano separado da ética, muito menos fora dela. Por isso, reduzir a experiência educativa em treinamento das destrezas do aprendiz é banir com aquilo que há de fundamentalmente humano no processo educativo: o seu caráter formador. “Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando”. (FREIRE, 2002, p.33).
É essa formação moral, que vai objetivar a finalidade do processo educativo – propor ao homem a consciência – e esta formação, enquanto capacidade de aprender, é o que distingue a educabilidade do ser humano do simples adestramento animal ou do cultivo das plantas, já que ao homem é concedida a potência de intervir e transformar a realidade que o cerca, recriando-a (cultura, de certo modo).
O papel fundamental da educação, segundo Dewey (1936), é remeter aquele que não sabe a uma prática de ensinar com base na própria liberdade, que não separe a vida cotidiana do aprendizado, para que ele mesmo possa concluir suas próprias certezas, seus próprios conhecimentos, as próprias regras morais.
Neste sentido, a palavra educação (Educationis (lat.) – ação de criar, de nutrir; cultura, cultivo), faz jus ao seu significado etimológico: “assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano”, (HOUAISS, 2001, p.1101), ou, “processo de dirigir, de conduzir ou de elevar”. (DEWEY, 1936, p.30).
Pode-se considerar que não há desenvolvimento cognitivo consciente no homem – que não o proporcione uma consciência acerca da realidade – sem a educação (já que a mesma é um incentivo, um alimento), tampouco para sociedade, haja vista que, tanto a educação quanto a sociedade não podem existir isoladamente de modo que as duas estão sempre numa relação precípua.
É através da educação que se aprende a ser sociedade e é a sociedade que ensina a ser humano. “O processo educativo não tem outro fim alem de si mesmo: elle é seu proprio fim. [...] O processo educativo é um contínuo reorganizar, reconstruir, transformar”, (DEWEY, 1936, p.75), é muito mais que apenas reproduzir e transferir conteúdos. É incentivo ao desejo, ao gosto pelo aprender contínuo ao preparar as pessoas para transformar o meio em que vive.
A educação não consiste em apenas ensinar a pensar, mas a pensar aquilo que é pensado para que se possa “conseguir indivíduos autenticamente livres” (SAVATER, 1998, p.111), e para “liberar em cada homem o que o impede de ser ele mesmo” (SAVATER, 1998, p.114), fatores esses que marca o grande avanço na evolução da espécie humana em relação a outros animais.
É a educação que revela ao homem sua origem simbólica com relação aos outros indivíduos da sua espécie, e é nesse sentido que consiste a humanidade adquirida, bem como a consciência da realidade que rodeia o ser humano, podendo, assim, intervir para mudá-la.
Diante dessas condições, Freire propõe a mudança da realidade a partir do educar para a autonomia, processo este que vai proporcionar ao educando uma criticização de sua curiosidade, possibilitando-o mais e mais, a capacidade de ser criativo e alcançar enfim o conhecimento por si próprio, pois “quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto mais se constrói e desenvolve [...] a ‘curiosidade epistemológica’, sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto”. (FREIRE, 2001, p.27).
O ato de aprender está intimamente ligado à curiosidade e às situações que a fomentam, que a instigue. Para Freire (2002), a curiosidade é fundamental para a vida, haja vista que é por meio dela que o ser humano questiona, investiga, esclarece e cria novas situações, ou seja, quando a curiosidade está acompanhada de inquietações, indagações, com desejo de descoberta da verdade, então ela se torna geradora, impulsionadora e co-responsável pela aproximação do “curioso” ao objeto cognoscível, “é ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais-perguntar, reconhecer” (FREIRE apudASSMANN, 2004, p.192).
A curiosidade resulta na criatividade que, por sua vez, resulta no verdadeiro conhecimento e implica possíveis mudanças e transformações de realidades subjetivas e sociais.
Essa curiosidade, do qual Freire escreve, não é a protagonista da aquisição do conhecimento, entretanto, é o ponta-pé inicial, se assim possa dizer, para a aquisição do mesmo. A ela, Freire (2002) denomina de curiosidade ingênua. É importante relatar – e Freire já o fez – que é através de um processo de criticização do pensamento do aluno, ou seja, do reforçar a sua capacidade crítica, a sua curiosidade ingênua, a sua insubmissão e, através do trabalho rigoroso e metódico com que devem aproximar-se do objeto gnosiológico, do respeito e do estímulo à capacidade criadora do aluno, que há uma superação³ da curiosidade ingênua para o que Freire denomina “curiosidade epistemológica”.
Fernando Savater (1998, p.61) vai dizer que a capacidade de aprender – ao que ele diz, pode-se analisar comparativamente ao que Freire chama de criticização da curiosidade e Dewey de problematização, para aquisição do conhecimento – é composta “de muitas perguntas e algumas respostas; de buscas pessoais e não de achados institucionalmente decretados; de crítica e questionamento em vez de obediência que se satisfaz com o comumente estabelecido”.
O educando, quando estimulado e crítico, é capaz de pensar por si mesmo, torna-se independente do mestre, torna-se pesquisador às custas de si próprio, do seu esforço. A essa destreza se dá o nome de autonomia, pois leva à deliberação e à atuação nas decisões da sociedade a que pertence. Este foi o objetivo de Paulo Freire com relação à educação, tanto na elaboração de suas obras, quanto no tocante de suas experiências de vida.
Referências Bibliográficas
CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
DEWEY, John. Democracia e educação: breve tratado de philosophia de educação. Tradução de Godofredo Rangel, Anísio Teixeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.
______. Vida e educação. Tradução por Anísio S. Teixeira. 6.ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1967. (Biblioteca de Educação).
FREIRE, Paulo; BETO, Frei. Essa escola chamada vida: depoimentos ao repórter Ricardo Kotscho. São Paulo: Ática, 1985. (Educação em ação).
______. Extensão ou comunicação? Tradução por Rosisca Darcy de Oliveira. 2ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Leitura).
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
JACQUARD, Albert. Filosofia para não filósofos: respostas claras e lúcidas para questões essenciais. 4.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
SAVATER, Fernando. O valor de educar. Tradução por Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
DEWEY, John. Democracia e educação: breve tratado de philosophia de educação. Tradução de Godofredo Rangel, Anísio Teixeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.
______. Vida e educação. Tradução por Anísio S. Teixeira. 6.ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1967. (Biblioteca de Educação).
FREIRE, Paulo; BETO, Frei. Essa escola chamada vida: depoimentos ao repórter Ricardo Kotscho. São Paulo: Ática, 1985. (Educação em ação).
______. Extensão ou comunicação? Tradução por Rosisca Darcy de Oliveira. 2ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Leitura).
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
JACQUARD, Albert. Filosofia para não filósofos: respostas claras e lúcidas para questões essenciais. 4.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
SAVATER, Fernando. O valor de educar. Tradução por Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
¹Licenciado pela Universidade do Sagrado Coração – USC / Bauru-SP, professor de Filosofia Geral e Jurídica da Fac – Pontal (UNIESP), Presidente Prudente e Professor de Filosofia da Rede Estadual de Ensino Médio, no projeto de Educação da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor / Marília-SP.
²Neotenia – lat. Reter o novo – paedomorphosis – características primitivamente juvenis, larvais ou embrionárias em um organismo adulto
³Superação: Termo utilizado por Paulo Freire para demonstrar que não há uma ruptura do movimento da curiosidade ingênua para a curiosidade epistemológica, mas sim uma superação, onde a curiosidade não deixa de ser curiosidade, apenas se criticiza.
Fonte:http://www.uniesp.edu.br/revista/revista3/publi-art2.php?codigo=10
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