Conheci tipos que viveram muito. Estão
mortos, quase todos: de suicídio, de cansaço.
de álcool, da obrigação de viver
que os consumia. Que ficou das suas vidas? Que mulheres os lembram com a nostalgia
de um abraço? Que amigos falam ainda, por vezes, para o lado, como se eles estivessem à
mortos, quase todos: de suicídio, de cansaço.
de álcool, da obrigação de viver
que os consumia. Que ficou das suas vidas? Que mulheres os lembram com a nostalgia
de um abraço? Que amigos falam ainda, por vezes, para o lado, como se eles estivessem à
sua beira?
No entanto, invejo-os. Acompanhei-os
em noites de bares e insônia até ao fundo
da madrugada; despejei o fundo dos seus copos,
onde só os restos de vinho manchavam
o vidro; respirei o fumo dessas salas onde as suas vozes se amontoavam como cadeiras num fim de festa. Vi-os partir, um a um, na secura
das despedidas.
E ouvi os queixumes dessas a quem
roubaram a vida. Recolhi as suas palavras em versos feitos de lágrimas e silêncios. Encostei-me à palidez dos seus rostos, perguntando por eles - os amantes luminosos da noite. O sol limpava-lhes as olheiras; uma saudade marítima caía-lhes dos ombros nus. Amei-as sem nada lhes dizer - nem do amor,
nem do destino desses que elas amaram.
Conheci tipos que viveram muito - os
que nunca souberam nada da própria vida.
Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"
Fotografia: joao santos
Largo do Carmo/Convento do Carmo, Lisboa
No entanto, invejo-os. Acompanhei-os
em noites de bares e insônia até ao fundo
da madrugada; despejei o fundo dos seus copos,
onde só os restos de vinho manchavam
o vidro; respirei o fumo dessas salas onde as suas vozes se amontoavam como cadeiras num fim de festa. Vi-os partir, um a um, na secura
das despedidas.
E ouvi os queixumes dessas a quem
roubaram a vida. Recolhi as suas palavras em versos feitos de lágrimas e silêncios. Encostei-me à palidez dos seus rostos, perguntando por eles - os amantes luminosos da noite. O sol limpava-lhes as olheiras; uma saudade marítima caía-lhes dos ombros nus. Amei-as sem nada lhes dizer - nem do amor,
nem do destino desses que elas amaram.
Conheci tipos que viveram muito - os
que nunca souberam nada da própria vida.
Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"
Fotografia: joao santos
Largo do Carmo/Convento do Carmo, Lisboa
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