CURIOSITY,O JIPE-ROBÔ COMPLETA UM ANO DE PESQUISA DE VIDA EM MARTE



No 1º ano em Marte, Curiosity tem
combustível para mais uma década

A tensão se instalou no centro de controle do Laboratório de Propulsão a Jato, na Califórnia (EUA), na madrugada do dia 6 de agosto de 2012. Da entrada na atmosfera marciana até tocar o solo, foram "sete minutos de terror" até que o time de uniforme azul pudesse comemorar o pouso bem sucedido do projeto mais ambicioso da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana), o Curiosity.
Passado um ano, cientistas e engenheiros que cuidam do jipe-robô estão tranquilos nesta terça-feira (6), quando é comemorado o primeiro aniversário da missão. Pudera, o equipamento avaliado em US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 5,7 bilhões) cumpriu seu principal objetivo já na primeira perfuração do solo marciano, em fevereiro passado, que era descobrir se o planeta vermelho teve condições de dar suporte à vida - mesmo que apenas para micróbios.
"A missão tem duração de um ano marciano, que equivale a dois anos terrestres, mas esperamos que dure mais tempo. Construído para ser robusto, o Curiosity tem combustível suficiente para trabalhar por mais uma década", destaca Sarah Marcote, responsável pela divulgação da missão em um bate-papo neste mês com os fãs do popular robô, que tem mais de 1,3 milhão de seguidores no Twitter.
Agora, o aniversariante caminha rumo à meta de sua missão, as encostas do monte Sharp, uma enorme montanha que preserva, em suas várias camadas de sedimentos, uma história da transformação das condições ambientais de Marte.
O explorador tentará subir essa encosta até atravessar os 800 metros de altura, nível que parece separar as áreas que no passado podem ter sido úmidas. Quando chegar à base da montanha, que vai levar algum tempo, o robô terá percorrido aproximadamente 8 quilômetros. 

 - Novas medições da composição da atmosfera de Marte feitas pelo laboratório interno do Curiosity fornecem evidências sobre a perda da atmosfera do planeta vermelho. Os cientistas da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) suspeitam que uma catástrofe desligou o campo magnético do planeta vermelho quando tinha menos de 500 milhões de anos e o deixou exposto a fortes ventos solares que arrasaram quase toda a sua atmosfera. Segundo estudo publicado na revista "Science", Marte perdeu rapidamente quase todo seu ar, que era bem mais espesso, ficou parecido com nosso planeta. O problema é que a erosão continuou e, hoje, a atmosfera marciana é tão rarefeita que sua pressão é de menos de um centésimo do da superfície terrestre. Acima, imagem feita pela câmera do jipe-robô no 335 dia da missão, que corresponde a 16 de julho, após atingir a marca de um quilômetro percorrido desde agosto de 2012



Nasa/JPL-Caltech

A geóloga Joy Crispy, uma das principais cientistas à frente da missão, ressalta que o Curiosity não está equipado para detectar vida, mas para informar se Marte já foi parecido com a Terra, mesmo que apenas no princípio de sua evolução planetária. "Seus instrumentos foram escolhidos para caracterizar meios e procurar por ambientes habitáveis. E ele se saiu bem ao fazer isso."
O laboratório interno do Curiosity identificou alguns dos ingredientes químicos essenciais para a vida microbiana, como enxofre, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, fósforo e carbono, ao analisar o pó coletado na rocha 'John Klein'. Essa primeira amostra também revelou ter minerais de argila e não ser oxidada, ácida nem extremamente salgada, química que sugere que água potável correu pela superfície de Marte. Outra dica para os rios marcianos foram as pedras lisas fotografadas pelo câmera do robô.
Quando o robô "cheirou" a atmosfera de Marte, não encontrou evidências de metano, considerado um elemento básico da vida, desapontando os cientistas. Como é um subproduto de organismos vivos, o gás poderia dar pistas sobre a vida microbiana "moderna" fora da Terra.
A análise mostrou, ainda, que o ar marciano é, atualmente, cem vezes mais fino do que a da Terra. Por isso, segundo a geóloga da Nasa, a água na forma líquida do passado de Marte foi parar no espaço, arrancada pelo vento solar – o planeta vermelho não tem um escudo que o protege dos perigos do espaço, como o campo magnético do nosso planeta. "O que resta agora [de água] está em forma de CO2 congelado [gelo seco] ou de gelo."


Após um ano em Marte, Curiosity abre caminho para missão tripulada


O inquestionável sucesso do veículo-robô Curiosity, da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana), abriu o caminho para a conquista de Marte pelos seres humanos, afirmam cientistas, às vésperas do aniversário de um ano da chegada da sonda ao planeta vermelho.

Desde seu bem sucedido pouso na superfície marciana em 6 de agosto de 2012, o Curiosity coletou e enviou para os pesquisadores na Terra uma verdadeira arca do tesouro de informações, que espera-se, seja vital quando uma missão tripulada a Marte for levada a cabo.

Com o tamanho aproximado de um veículo 4x4 e pesando cerca de uma tonelada, Curiosity conseguiu concluir uma das mais importantes tarefas de sua missão: estabelecer, sem sombra de dúvida, que o ambiente marciano foi capaz de abrigar vida microscópica em um passado distante.

Essa façanha, conseguida em março, significa que a missão do veículo-robô provavelmente será estendida para além do período provisório de dois anos.

"Os êxitos do nosso Curiosity - aquele pouso dramático um ano atrás e as descobertas científicas desde então - nos fazem avançar para novas explorações, inclusive com o envio de humanos para um asteroide e para Marte", disse o administrador da agência espacial americana (Nasa), Charles Bolden. "As marcas de pneus vão abrir o caminho para as marcas de botas no futuro", emendou.

A emocionante amartissagem do Curiosity no ano passado - quando o robô de seis rodas pousou na Cratera Gale, a cerca de 10 quilômetros da base do Monte Sharp, com 5.000 metros de altitude - também deu uma dose extra de coragem para aqueles que esperam um dia planejar uma bem sucedida missão tripulada.

A natureza complexa do pouso demonstrou que é possível transportar com sucesso cargas maiores até o planeta - algo que é visto como um dos maiores desafios tecnológicos de uma missão tripulada.

"Até agora estamos extremamente satisfeitos este ano", afirmou Michael Meyer, cientista-chefe do Programa de Exploração Marte da Nasa.

"Em termos de contribuição para a exploração em geral, é um avanço fantástico porque o sistema é novo. É uma forma de chegarmos à superfície planetária. Colocamos uma tonelada na superfície" de Marte, emendou.

"Quanto mais aprendermos sobre Marte, mais informados estaremos para enviar humanos no futuro", acrescentou.

Desde a sua chegada a Marte, Curiosity forneceu mais de 190 gigabites de dados - o equivalente a cerca de 45.600 músicas armazenadas em arquivos de MP3 - e enviou à Terra cerca de 36.700 imagens completas e 35 mil em miniatura.

O robô também disparou mais de 75 mil jatos de laser para investigar a composição da superfície marciana, além de ter coletado e analisado amostras de duas rochas.

Os instrumentos e as câmeras do Curiosity permitiram ao robô determinar rapidamente a questão de se Marte pôde abrigar vida microbiana, disse Meyer.

Logo após o pouso, o Curiosity detectou grupos de seixos e cascalhos formados pelo fluxo de água em um antigo leito de rio. A análise de rochas na região determinou estão que a água que no passado fluiu não era salgada ou ácida demais para impedir a existência de vida.

O veículo rodou mais de 1,6 km e agora dirige-se ao Monte Sharp, onde a Nasa espera que forneça mais pistas sobre a composição do planeta vermelho.

Os cientistas esperam que a análise de camadas sedimentares permita determinar quando Marte pode ter sido capaz de abrigar a vida.

"Se descobrir que ambientes múltiplos foram habitáveis, isto aumenta a probabilidade de existência de vida em Marte", disse John Logsdon, ex-diretor do Instituto de Política Espacial e membro do comitê consultivo da Nasa.

"A missão foi singularmente bem sucedida. Está ampliando os limites, tanto técnicos quanto de habilidades humanas, e é algo de que todos deveriam se orgulhar", acrescentou.

Enquanto isso, Meyer expressou otimismo de que o Curiosity possa inclusive detectar sinais mais definitivos de vida durante o próximo ano.

"Curiosity poderia fazer uma grande descoberta, tem muita sorte", brincou. "Os instrumentos são selecionados especificamente para determinar se em uma certa época no passado Marte foi capaz de abrigar vida ou não", explicou.

"É capaz de medir [matéria] orgânica, portanto, se houver uma assinatura significativa de vida do passado, pode ser capaz de desvendá-la", emendou.

"No entanto, qualquer confirmação de vida passada ou até mesmo de vida atual vai exigir outra missão", disse Meyer, destacando que a Nasa planeja enviar um segundo veículo-robô a Marte - Curiosity 2 - em 2020. Enquanto isso, o robô euro-russo ExoMars, um veículo que também buscará bioassinaturas de vida marciana, tem lançamento previsto para 2018.


Fonte:http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/08/06/
 
Robô Curiosity mostra a primeira amostra de rocha em pó extraída após perfuração do solo de Marte, revela a Nasa (Agência Espacial Norte-Americana). O solo empoeirado encontrado logo abaixo da superfície avermelhada do planeta na verdade tem uma tonalidade cinza clara .FotoNasa/Reuters

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