USUÁRIOS DA INTERNET SÃO PRESA FÁCEIS DE ESPIONAGEM,NO VASTO REINO DA INTERNET

A jornalista Bárbara Caldeira  deixou o Facebook depois que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) começou a monitorar as redes sociais para prever potenciais protestos (Cristina Horta/EM/D.A PRESS)
A jornalista Bárbara Caldeira deixou o
Facebook, depois que a Agência Brasileira
de Inteligência (Abin) começou a monitorar
as redes sociais para prever potenciais protestos


Usuários de computador são presas fáceis no vasto reino da internet


Escândalo ligando o governo norte-americano à espionagem digital ao redor do mundo mostra como os usuários de computador são vulneráveis

“Minha mãe me disse que grampearam o nosso telefone.” “Ela não é a sua mãe.” A tirinha que circula no Facebook é a representação bem-humorada do monitoramento na internet realizado pelos Estados Unidos sobre cidadãos brasileiros. Há duas semanas, antes mesmo de o Brasil ganhar relevância na polêmica história de espionagem do programa Prism, a jornalista Bárbara Caldeira, de 23 anos, resolveu deixar o Facebook. O estopim para a decisão foi o anúncio oficial de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está monitorando as redes sociais, até mesmo o Whatsapp, para prever potenciais protestos. “Sempre soube que o site é um ambiente virtual vigiado, mas com a declaração da Abin a espionagem foi legitimada. É uma sensação muito incômoda”, afirma.

Caldeira não tinha conta em Twitter nem Instagram e sempre foi meio avessa à exposição excessiva na rede. Mas, no dia a dia, confessa que assuntos pessoais acabam escapando por e-mails ao namorado, que mora em outra cidade. A funcionalidade da ferramenta a faz esquecer a vigilância. A jovem brinca que não tem nada a esconder e que o problema, para ela, é a insegurança: a falta de privacidade. Ela lembra que o presidente norte-americano, Barack Obama, chegou a dizer que a população terá que escolher entre privacidade e segurança.

Segundo ela, o Facebook é uma forma de monitoramento não só pela empresa, como também pelos outros contatos. “Você coloca uma foto, aonde você vai, com quem está... As pessoas o vigiam o tempo todo.” A jornalista acredita que cancelar a conta no site de Zuckerberg é um ato de resistência, já que o perfil no Face se tornou a identidade virtual das pessoas. Para ela, hoje é quase impossível estar fora do ambiente on-line. “As empresas avisam as condições de privacidade nos textos gigantescos dos termos de compromisso, mas acaba passando batido.”

Saber conviver com a realidade e não deixar que isso se transforme numa neurose. A orientação é de Eduardo D’Antona, diretor da Bitdefender no Brasil – empresa especializada em segurança computacional –, ao se referir à possibilidade de usuários de computador estarem sendo vigiados e espionados. “Se for para viver em pânico com medo do que pode ocorrer ao acessar a internet, é preferível esquecer que ela existe e não ligar mais o computador, pois é certo que a todo momento estamos sendo observados”, afirma ele, ressaltando que o escândalo da espionagem digital do governo norte-americano, que estourou nos últimos dias, não é um fato isolado. “Apesar de ilegal, isso sempre existiu. A questão é que agora o fato está sendo provado.”

POLÊMICO PROJETO


Vigilância eletrônica é a palavra de ordem no programa altamente secreto mantido pela agência de segurança nacional (NSA) dos Estados Unidos. Desde 2007, o Prism monitora mídias virtuais recuperando informações armazenadas e também em tempo real. O projeto permite a coleta de dados de clientes das empresas participantes. Google, Facebook, Apple, Yahoo!, Dropbox e Microsoft foram acusadas de estarem nessa lista.

Espionagem na internet espalha medo

'Se for para evitar ataques terroristas é válido', Lucas da Silva, analista de sistemas (Cristina Horta/EM/D.A PRESS)
"Se for para evitar ataques terroristas é válido",
Lucas da Silva, analista de sistemas
 
Imagine seis anos de sua vida virtual: e-mails, telefonemas, mensagens, pesquisas, conversas de vídeo, anexos e segredos – tudo na mão do Tio Sam. Nos últimos dias se tornou oficial: somos vigiados (até) pelos Estados Unidos. Depois do ex-analista americano da Central de Inteligência Americana (CIA) Edward Snowden ter revelado o Prism, programa de vigilância eletrônica dos EUA em execução desde 2007, os brasileiros se surpreenderam ao saber que o país tem o maior volume de informações coletadas pelos norte-americanos. Entre os usuários ouvidos pelo Informatic@ em vários pontos de wi-fi em Belo Horizonte, paira o receio: como se proteger da bisbilhotice da mais poderosa nação do mundo?

O analista de negócios Herivelto Oliveira Santos, de 45 anos, se diz preocupado. Ele afirma que não é paranoico, mas confessa que não confia em compras on-line e evita se expor na rede. No Facebook é pouco ativo. “Li que eles conseguiram rastrear o e-mail e telefonemas, mas não sei o nível dos dados coletados. Afinal, que tipo de informação interessa a eles?”, questiona.

 O supervisor comercial Henrico Cesar Toledo dos Anjos, de 27, também não gostou de saber que está sendo monitorado na rede. “Não é nada agradável, principalmente por ser gente de fora. É um total desrespeito”, diz. Já Lucas da Silva, analista de sistema de 22 anos, acredita que há outro lado da espionagem a ser discutido: “Se for para evitar ataques terroristas, é válido”. Para ele, é um absurdo gravar conversas e mensagens, mas, “se não quer que ninguém saiba, é simples: não poste.”

Rede pública


''Não é nada agradável, principalmente por ser gente de fora. É um total desrespeito'', diz Henrico Cesar Toledo dos Anjos, supervisor comercial (Cristina Horta/EM/D.A PRESS)
''Não é nada agradável, principalmente por
ser gente de fora. É um total desrespeito'', diz
Henrico Cesar Toledo dos Anjos, supervisor comercial

Em total discordância com o analista de sistemas, a enfermeira Débora Del Guerra, de 31, diz que toda essa espionagem a faz pensar que a democracia que se vive hoje é de aparência. “O governo de outra nação nos espionar é mais grave que o próprio Estado”, afirma. Del Guerra participou ativamente das manifestações das últimas semanas em Belo Horizonte e explica que não só o Facebook, mas outras redes sociais têm sido ferramentas importantes para a organização. “A gente fica inseguro, com a voz um tanto tolhida”, afirma. Considerando que a comunicação dos movimentos se deu majoritariamente pelo Face, a enfermeira reflete que o cidadão precisa de uma rede social que não seja privada. “Queira ou não, o Facebook é uma empresa. As informações podem ser usadas pelo seu dono”, ressalta.

Lei, pra que te quero?


Projetos de lei para combater a espionagem virtual não faltam no país. O principal deles, o Marco Civil da Internet, que poderia proteger os cidadãos da divulgação das informações coletadas pelas empresas de internet, está parado na Câmara dos Deputados. Depois do escândalo da espionagem, a Câmara está se mobilizando para agilizar a tramitação das matérias pertinentes para garantir a segurança e liberdade às comunicações.

O site Vote na Web (votenaweb.com.br), que tem o intuito de democratizar e facilitar o acompanhamento dos projetos de lei (PL), fez um compilado dos PLs que se relacionam com o tema. Ele simplifica a linguagem, promove o debate e comunica os parlamentares. É possível votar a favor ou contra, visualizar os votos por estado, gênero e idade, saber a classificação popular (urgente, relevante etc) além de deixar um comentário. Toda votação traz ainda quem foi o autor da proposta, a data de apresentação e sua situação.

''Eles rastrearam e-mails e telefonemas. Mas, afinal, que tipo de informação interessa a eles?'', diz Herivelto Oliveira Santos (Cristina Horta/EM/D.A PRESS )
''Eles rastrearam e-mails e telefonemas. Mas, afinal, que tipo de informação interessa a eles?'', diz Herivelto Oliveira Santos

TENTATIVAS DE PROTEÇÃO

Além do marco (
http://bit.ly/10KXOh4), há outras propostas. Confira os links abaixo:

PLC 1.429/2011
Proibirá o monitoramento de e-mails dos funcionários, a menos que a empresa informe prévia e expressamente da possibilidade do monitoramento, caso contrário, será considerado dano moral.
http://bit.ly/15tLUdh

PLC 113/2011
Fará com que o contribuinte seja informado, por e-mail, quando a Secretaria da Receita Federal do Estado acessar seus dados cadastrais e fiscais, como forma de garantir sua privacidade e dignidade e evitar abusos das autoridades fiscais.
http://bit.ly/12B5MXw

PLC 7.270/2010
Obrigará as lan houses a manterem por dois anos o registro dos usuários com nome, telefone, endereço e outros dados.
http://bit.ly/12jgsOm

PLS 427/2011
Estabelecerá pena de prisão para pessoas que invadem sistemas digitais usando a internet.
http://bit.ly/16nglPt

PLC 200 / 2011
Obrigará que as empresas que quebrarem o sigilo dos dados pessoais do consumidor comprovem que ele foi, de fato, notificado desse fato garantindo uma relação de consumo aberta e segura para ambas as partes.
http://bit.ly/11yJECo


Invasão de dados é mas comum do que se imagina. Aprenda a diminuir riscos


Para Eduardo D’Antona, diretor da Bitdefender no Brasil, o mundo digital é como um espelho do mundo real. Por isso, essa questão de espionagem digital envolvendo o governo norte-americano é simplesmente uma repetição de outros meios de vigia ilegal que ocorrem pelo mundo afora. “Mais de 30% das linhas telefônicas brasileiras eram grampeadas em outros tempos da nossa história. Muitas ainda são até hoje, para atender interesses dos mais diversos. E, se isso ocorre sem uma autorização judicial, trata-se de um fato ilegal. O mesmo acontece com a internet e o computador: estamos sendo vigiados o tempo todo. E muitas vezes, também de forma ilegal. Cabe, então, à Justiça provar e tomar as medidas cabíveis. Fora isso, não temos muito o que fazer”, afirma.

Só que ele não enxerga essa vigia como uma grave ameaça à segurança e à privacidade do usuário, desde que ele saiba como usar a rede. “Quando alguém entra num portal de notícias e acessa uma matéria falando sobre uma viagem, por exemplo, à Grécia, pode ter certeza que esse portal sabe que a pessoa visitou a página e poderá posteriormente ‘vender’ informações sobre ela para uma agência de turismo que oferece pacotes para a Grécia. Ou seja, desde que entramos na rede existem milhares de olhos sobre a gente”, diz. A questão é não deixar que isso se transforme num tormento e numa preocupação excessiva e tentar se precaver ao máximo para que o uso da internet não se torne um problema.

Segundo ele, quanto a essa questão de espionagem, as empresas der segurança computacional não têm o que fazer. Todas elas desenvolvem produtos para impedir invasões do computador e infecções por vírus e outras formas de ataque. “Mas não contra sistemas que utilizam vários roteadores, banco de dados, nuvens, enfim, a espionagem nos end points. Nosso papel, nesse caso, é avisar aos clientes caso seja detectada alguma coisa estranha”, informa.

O diretor da Bitdefender revela que, independentemente dessas questões relativas à espionagem, a verdade é que a cada dia cresce de forma exponencial o número de usuários – que as empresas de segurança denominam de inconscientes – ,que se tornam vítimas mais fáceis dos cibercriminosos. “São geralmente novos usuários, com pouca informação sobre o uso da internet, e que acessam tudo sem qualquer critério. Ao agir assim, com certeza se tornam alvos fáceis de algum golpe.”


CUIDADO NUNCA É DEMAIS


Diminua os riscos ao navegar nas redes ou utilizar um serviço na “nuvem”
» Utilize sempre um endereço de e-mail confiável para receber suas notificações de redes sociais

» Criar um post “apenas para amigos” ou mesmo “privado” não garante que o conteúdo não será visto por outros. É melhor compartilhar tais itens pessoalmente ou por meio de comunicação direta

» Se você armazenar arquivos na nuvem para uso pessoal, considere criptografá-los

» Crie senhas fortes, sem palavras fáceis, dados pessoais ou que siga uma ordem regular do teclado. Uma senha segura deve conter uma combinação de letras, números e caracteres especiais

» Ative a navegação segura (HTTPS) para encriptar a sua navegação no Facebook, evitando que alguém possa entrar na sua conta quando navega por uma rede wi-fi insegura

» Ativando notificações de login, o Facebook vai avisar sempre que a sua conta for acessada por um dispositivo novo

» Selecione aprovações de login para solicitar um código de acesso sempre que se acessar sua conta a partir de um dispositivo novo

» Verifique as suas sessões ativas nas configurações de segurança da sua conta do Facebook para saber a partir de onde foram feitos os logins

Fonte: Kasperk, empresa de segurança digital

http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2013/07/11/interna_tecnologia,420522/vigilancia-tem-que-ser-constante-aprenda-a-diminuir-os-riscos.shtml
 


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