CARTA DOS REZADORES E REZADORAS GUARANI E KAIOWÁ E CARTA DOS JOVENS GUARANI E KAIOWÁ julho 28, 2013 Gerar link Facebook X Pinterest E-mail Outros aplicativos Carta dos rezadores e rezadoras Guarani e Kaiowá e Carta dos jovens Guarani e Kaiowá Nós os rezadores Guarani Kaiowá e Guarani Ñandeva, não nos chamamos mais Ñanderu e Ñandesy. Nós reencontramos uma palavra antiga e agora somos de novo Tekoa’ruvixa, aqueles que dão vida às crianças. Nós estamos preocupados em não ver acontecer o nosso sonho de ao menos morrer em nosso tekoha terra tradicional. Queremos entrar na nossa terra e morrer nela. Nosso sonho é esse e não dá mais pra esperar. Nós temos o nosso jeito de viver, de se organizar, de lidar com as coisas. Cada reza é para uma coisa: para ter uma plantação, para ter saúde, para não vir uma tempestade e destruir tudo. Temos rezas para eclipse do sol. Nós Tekoa’ruvixa fervemos casca de cedro para beber e rezar, e também para dar banho em crianças e jovens e curar. Para toda essa cultura continuar viva nós precisamos da terra. Essa cultura funciona com a terra. Não temos como viver assim na beira de uma estrada nem num canto de uma fazenda. Enquanto não tiver a terra, não tem como viver. Muitas pessoas brancas acham que o índio só quer terra. Mas a vida do índio depende da terra. Por estarem sem tekoha há muito tempo, muitos jovens já crescem sem saber o que é isso, tem um convívio traumatizado da vida. Então às vezes os jovens não querem saber sobre os rezadores porque não sabem mais o que é isso, porque estão longe da natureza, dos remédios, do benzimento, das matas. O nosso espaço é que fornece isso. Nós sempre tivemos a nossa própria saúde. Mas sem a terra, a gente não tem todos os recursos da natureza, que mantiveram nossa saúde por muito tempo. Por não termos os recursos da natureza que a gente sempre teve, nós precisamos dos recursos de saúde do governo. A gente tinha as alimentações dentro das matas mesmo, mas por ela ter sido destruída, por ter sido tirada da gente, precisamos de cestas-básicas. A terra é a sobrevivência da nossa cultura, da nossa nação. Essas são as principais coisas. Isso não interessa para os brancos. Para os brancos isso não é nada. Uma casa de reza não pode ser mudada de lugar. Os remédios tradicionais nós só pegamos no tekoha. A gente tem a nossa própria educação tradicional também, e para ela existir precisa de toda a cultura funcionando, para os jovens indígenas continuarem a ser indígenas. Os Tekoa’ruvixa mais velhos estão envelhecendo e morrendo e queriam que já tivessem voltado tudo no tekoha. Querem entrar na terra, ainda vivo, para morrer no tekoha deles, onde morreram os nossos avôs. Não dá mais para esperar. Aty Guasu Ñanderu Mo Mbarete 27 de julho de 2013 Tekoha Jaguapiru, Dourados, Mato Grosso do Sul ***** Aty Guasu Ñanderu Mo Mbarete: Pauta de reivindicações Nós, Tekoa’ruvixa, mulheres, lideranças, caciques, professores, agentes e representantes da saúde e jovens Guarani e Kaiowá, com participação de indígenas Terena e Kaingang, reunidos na Aty Guasu Ñanderu Mo Mbarete entre os dias 23 e 28 de julho de 2013, no tekoha Jaguapiru, em Dourados, Mato Grosso do Sul, reivindicamos: Cumprimento, até o dia 5 de agosto, da promessa do governo federal de resolver o problema da demarcação de todas as terras indígenas de todos os povos do Mato Grosso do Sul. Nós estamos respeitando o acordo com o governo e aguardando alguma solução, e até agora o governo não fez nada. Nós não aceitaremos outro prazo. De norte a sul do país, nós indígenas estamos juntos na luta contra a perda de direitos, contra a perda de nossas terras, e pela demarcação de nossos territórios tradicionais. Nós não estamos brincando. O Conselho Aty Guasu referenda os seis instrumentos apresentados no Conselho Nacional de Justiça que serão utilizados na superação dos conflitos fundiários do Mato Grosso do Sul: conclusão definitiva das demarcações de terras indígenas e indenização de benfeitorias para possuidores de boa-fé; desapropriação de de áreas por interesse social; aquisição direta de terras; assentamento de pequenos proprietários rurais; transação judicial e indenização por ato ilícito do Estado, decorrente da titulação considerada posteriormente ilegítima. Nós, indígenas, não aceitaremos NENHUM acréscimo posterior no relatório. Exigimos justiça nas dezenas de casos de assassinatos de lideranças, professores e jovens indígenas no contexto dos conflitos e da falta de terra. Nenhum dos assassinos dos Guarani e Kaiowá está preso e suas famílias estão desassistidas. Exigimos punição aos culpados e respeito às comunidades atacadas! Somos contra a paralisação das demarcações de terras indígenas. Os fazendeiros cujas áreas incidem sobre território indígena precisam parar de desmatar nossa terra, legal ou ilegalmente. Exigimos que os órgãos ambientais façam a fiscalização para coibir essas ações, e também não emitam autorizações para desmatamento. Exigimos que a Sesai garanta medicamentos, médicos, veículos, combustível e todo o equipamento necessário para que o atendimento à saúde possa acontecer nas aldeias e acampamentos Guarani e Kaiowá, e que todos os tekoha tenham um agente de saúde indígena. Todas as decisões dos governos sobre saúde, todos os recursos e projetos voltados aos Guarani e Kaiowá devem passar pelo Aty Guasu, e também os conselheiros indígenas devem ser consultados. Os motoristas da saúde devem ser reconhecidos também como profissionais da saúde, e tenham os mesmos direitos como trabalhadores. Os motoristas são muito importantes na equipe da saúde – muitas vezes, são eles quem fazem partos. Exigimos que as prefeituras e secretarias de educação respeitem a organização indígena escolar. A escola tem que funcionar como a comunidade quer, e não como a secretaria de educação quer. Tanto a direção da escola quanto os professores têm que ser indígenas. A maioria das escolas é dirigida por brancos e isso traz muitos problemas, inclusive uma pressão para que os professores não participem da luta pela terra. Isso tem que acabar. Queremos que sejam criados núcleos de educação indígena ligados às secretarias municipais de educação, para que os indígenas estejamos diretamente envolvidos na gestão da política de educação do município. Exigimos que sejam garantidas escolas em todos os tekoha, inclusive os acampamentos, com sala, professores e merendeiras. Nós exigimos que secretaria estadual de educação faça a prestação de contas da verba destinada ao Ára Verá para o Aty Guasu. Queremos a ampliação dos cursos Ára Verá e Teko Arandu. Somos contra as mudanças no processo de demarcação das terras indígenas. Chega de perseguição contra movimentos e entidades apoiadoras do movimento indígena. Somos autônomos e independentes, e estabelecemos nossas próprias relações políticas como bem entendermos e isso não é crime. Somos contra o PLP 227, a PEC 215 e a Portaria 303. Queremos segurança em nossos tekoha. Com a falta de terra, sofremos os problemas de estarmos confinados em pequenas terras e muitas vezes ameaçados e atacados por pistoleiros, seguranças privados e fazendeiros. Chega de perseguição da Polícia Militar, Civil e de parte da Polícia Federal. Repudiamos a ação da Justiça Federal, Polícia Militar e Polícia Civil na condução das investigações sobre o ataque sofrido pela comunidade Ita’y. Encaminhamentos: O Aty Guasu elege Ladio Veron como representante do povo Guarani e Kaiowá no PNEGAT. O Aty Guasu indica Léia Aquino como representante do povo Guarani e Kaiowá no Consea. O Aty Guasu apresenta os cinco representantes do povo Guarani e Kaiowá na Apib: Bento Hara, Jorge Gomes, Roseli Gonçalves Barbosa, Celso Alziro e Fabio Turiba. O Aty Guasu apóia a demanda do povo indígena sobre as a saída de não-indígenas da coordenação da Sesai MS, e referenda as novas indicações de indígenas para a coordenação da Sesai: professor Alberto Terena e outro indígena ainda não escolhidos. Aty Guasu Ñanderu Mo Mbarete 27 de julho de 2013 Tekoha Jaguapiru, Dourados, Mato Grosso do Sul ***** Aty Guasu Ñanderu Mo Mbarete: Carta dos jovens Guarani e Kaiowá Nós, jovens Guarani, Kaiowá, Terena, Kadiwéu e Kinikikau reunidos junto às lideranças, rezadores Teko’aruvixa, professores, agentes e representantes de saúde, em Dourados, na aldeia Jaguapiru, no Aty Guasu – nós jovens estamos vendo o sofrimento na questão da luta de nosso tekoha. Precisamos urgente que demarquem as nossas terras tradicionais. Nós somos o futuro e a raiz da terra. Queremos nossas terras de volta. Estamos na luta pelo nosso direito. Passamos precários problemas e obstáculos por causa das nossas terras. Nos preocupa as nossas lideranças que já foram várias vezes ameaçadas, e continuam sendo ameaçadas por estarem lutando pelo que é nosso. Diante dos problemas que passam todas as aldeias e acampamentos, que estão sendo apresentados no Aty Guasu, estamos apoiando so nossos Tuvixa porque são eles a nossa raiz. Nos comprometemos a valorizar nossa cultura, nossas rezas, dando continuidade ao que nosso antepassado nos deixou. Essa é a nossa arma. Pedimos que as autoridades resolvam logo o nosso problema, pela voz de todos os indígenas. Exigimos uma educação diferenciado, que nossas escolas tenham professores indígenas, pois temos pessoas formadas pra isso. Na questão da saúde, sofremos diariamente a falta de medicamento, viaturas, médicos e dentistas. A situação de saúde nos acampamentos é precária. Falta agente de saúde e tudo mais. Queremos concurso público diferenciado para indígenas, tanto na saúde quanto na educação. Exigimos mais segurança, com condições (viaturas e combustível), principalmente em área de conflito, de retomada, pois nestes lugares sofremos ameaças por parte de pistoleiro, e outros. Garantir políticas públicas para a juventude indígena Guarani, Kaiowá, Terena, entre outros povos do MS. Na esperança de sermos atendimentos, aguardamos. Aty Guasu dos jovens Dourados, 27 de julho de 2013 Fonte:http://migre.me/fC0ut (Combate Racismo Ambiental) Comentários
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