O AMOR IDEAL - PURUSHATRAYA SWAMI



O Amor Ideal

 Purushatraya Swami
O que se entende comumente pela palavra amor? O que é o amor verdadeiro? O que é o amor sentimento e o que é o amor atitude? A resposta a estas e outras perguntas sobre a mais poderosa energia da existência.
A poderosíssima energia de amor está presente na consciência de todo ser vivo. É o sentimento mais profundo e sublime; sua essência ou natureza intrínseca é puramente espiritual. Em linguagem poética, diz-se que o coração é a fonte e o reservatório do amor. Cada indivíduo é um centro irradiador dessa energia. Aqui neste mundo, a energia de amor está afetada pelo meio ambiente e pela densa vibração material e, portanto, adquire uma coloração secular, ou seja, ela perde sua pureza espiritual.

A palavra “amor”, atualmente, é um termo altamente desgastado. O “amor” cantado em prosa e em verso no cancioneiro popular, nas novelas da TV, nos romances etc. é uma caricatura do que o amor realmente é. Em geral, chama-se “amor” a paixão sensual surgida da atração física entre dois corpos. O apaixonado experimenta um tipo de emoção sedutora que domina e arrasta a consciência. Quando a consciência está dominada por essa paixão, a postura racional, a sobriedade, a prudência, o equilíbrio etc., tudo isso fica, na maioria dos casos, em segundo plano. Nesses momentos, perde-se, literalmente, a cabeça, enfeitiçada por um encantamento mágico.

O sexo é, sem dúvida, o principal agente dessa energia poderosa. Todos os seres corporificados possuem o instinto natural de procriação. Na terminologia védica, isso se chama mithuni-bhava. Tal instinto de procriação manifesta-se com uma forte atração sexual entre corpos e está sempre associado à sensação de prazer sensual. Faz parte da Natureza essa atração mútua entre corpos físicos e a propensão a apaixonarem-se. Quando isso ocorre, a energia de amor flui, muitas vezes, de forma avassaladora. No ato natural de procriação, ocorre uma descarga intensa da energia de amor. Tal sentimento é acompanhado de uma igualmente intensa sensação de prazer corpóreo. Esse prazer sexual é, sem dúvida, o prazer mais cobiçado neste mundo; e também o mais explorado. O sexo é o catalisador poderoso da sociedade humana. Krishna diz no Bhagavad-gita (16.8): kim anyat kama-haitukam — “Pessoas com mentalidade deturpada pensam: Que outra motivação tem este mundo a não ser o sexo?”.

O amor pode, inclusive, contaminar-se de tal maneira que se transfigura em diversas paixões irracionais como luxúria, ciúme, ambições, compulsões, narcisismo e até mesmo ódio. Assume, então, qualidades diferentes; completamente seculares e mundanas. Um torcedor fanático, por exemplo, direciona sua energia de amor ao clube de futebol; um ativista político, ao partido ou à ideologia; um fanático religioso, à sua crença; um patriota, à sua pátria; um materialista, ao dinheiro; um hedonista, ao prazer sensual, e assim por diante.

O amor manifesta-se com bastante potência no ambiente familiar. A intimidade familiar faz nutrir afeto entre os membros, o que cria fortes laços de apego. É completamente natural nos apegarmos às coisas e às pessoas das quais gostamos. O apego familiar tende, assim, a tornar-se muito forte. O apego também se desenvolve em relação a tudo referente a dinheiro, fama, poder, conforto e desfrute sensual. O problema surge quando esse apego torna-se doentio. Aliás, essa é a consequência natural. Um pequeno apego ao princípio pode tornar-se, com o passar dos tempos, um monstro. O apego neurótico às coisas e a relacionamentos temporários é uma fonte implacável e severa de sofrimento.

Os Dois Aspectos

O amor pode apresentar-se em dois aspectos: sentimento e atitude. Ambos se complementam e devem estar balanceados e purificados. Qualquer carência ou anomalia nesses dois constituintes transfigura o amor. Torna-se, então, uma distorção, uma caricatura.



Hoje em dia, valoriza-se demasiadamente o mero sentimento, a paixão. Essa paixão, no entanto, tem a qualidade de ser muito impulsiva e volátil. Haja vista a precariedade em que se encontra a instituição do matrimônio, um sacramento vitalício para as religiões. Quando a relação conjugal é calcada na atração corpórea, o casamento torna-se altamente descartável. “Acabou a paixão” é um argumento forte o bastante para se romper um relacionamento conjugal de compromisso supostamente vitalício. Em nosso mundo carregado de hedonismo, é cada vez mais comum assistirmos casos em que a paixão que, no princípio, era um “mar de rosas” converte-se, de uma vez, num oceano de veneno. O que um dia tinha sido amor transforma-se em ódio. Notícias de tragédias e crimes passionais têm sempre lugar de destaque na mídia e são bem familiares a todos.

A atitude correta adotada nos relacionamentos constitui, portanto, a base sólida onde o sentimento de amor se estabelecerá e, assim, assumirá formatos, texturas e nuances variados e maravilhosos. Mero sentimento não preenche a lacuna criada pela carência da atitude ou compromisso amoroso. Esses dois aspectos do amor têm que estar equilibrados. Dá-se o exemplo de um chefe de família alcoólatra, que diariamente gasta horas e horas bebendo no bar, chegando em casa tarde da noite, bêbado. Na mesa do bar, ele fala, choramingando, aos seus amigos: “Eu amo minha família. Ela é tudo para mim…”. Enquanto isso, em sua casa, sua esposa e filhos estão sofrendo por falta de apoio e afeto, deveres básicos de um pai. De que vale, então, esse sentimentalismo se carece do mais importante: a atitude, responsabilidade ou compromisso de amar?

Madre Tereza de Calcutá chegou a dizer que é possível amar até alguém por quem não temos nenhuma atração. Nas ruas de Calcutá (hoje Kolkata), essa freira caridosa dava assistência aos mendigos leprosos. O que pode ser mais repugnante do que um mendigo leproso? Em geral, o que se sente é um misto de pena com repulsão. Que sentimento de amor pode surgir a partir disso? Madre Tereza mostrou, na prática, o valor de uma atitude amorosa autêntica ao dar um tratamento digno, conforto e atenção a essas pessoas desafortunadas.

Amor Exemplar

Neste mundo, a expressão mais pura de amor é o amor materno.



Quanto serviço uma mãe presta a seu bebê! Dia e noite, ela está sempre disponível para fazer qualquer sacrifício visando sempre o bem-estar do ser gerado por ela. Qual é a força que move tal sacrifício? Unicamente o amor. A babá também faz serviços ao bebê. Faz a maioria das coisas que a mãe faz. Contudo, a grande diferença é que a mãe executa seu serviço motivada exclusivamente pelo amor, enquanto a babá faz o mesmo serviço porém motivada pelo salário que recebe, ou seja, seu trabalho é fruitivo. Uma mãe boa não mede esforços para prover o bem-estar de seu filhinho. Se o bebê chora às duas horas da madrugada, a mãe, mesmo exausta, faz o sacrifício de atender ao bebê. Seu amor é completamente desinteressado; sua felicidade está condicionada à felicidade do bebê.

Amor Ideal

O amor ideal chama-se bhakti. É o amor em sua forma puramente espiritual. “Deus é amor”, diz a Bíblia. Nossa relação com Deus deve ser nessa base. O amor tem duas vias: “de lá pra cá” e “daqui pra lá”. Recebemos o amor de Deus através de muitas bênçãos que, em geral, passam despercebidas e para as quais não damos nenhuma atenção. Para que nosso amor a Deus seja considerado “bhakti”, ele deve estar isento de interesses materiais das coisas temporárias deste mundo. Nosso interesse deve ser um relacionamento amoroso sincero. Em bhakti, tanto a paixão quanto a atitude devem estar presentes numa mentalidade pura e espiritual. Por isso, o processo de bhakti-yoga também é designado de “serviço devocional”. O bhakti-yogi está sempre pronto a qualquer serviço devocional e faz o melhor que pode para satisfazer a Deus. A única motivação em bhakti é o prazer e o bem-estar do objeto do amor, sem nenhum interesse de usufruir vantagens pessoais.
 

Este artigo é um capítulo da obra Sanidade Espiritual, de Purushatraya Swami. Adquira a obra:

Fonte:http://anjodeluz.ning.com/profiles/blogs/o-amor-ideal-purushatraya-swami

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