Entender, não entender, entender só um pouquinho… A busca pela compreensão e a plenitude que resulta do não-entender é magistral e poeticamente traduzido pela escritora brasileira Clarice Lispector (1920-1977) na pequena crônica abaixo, do livro “A Descoberta do Mundo.“, obra póstuma de 1984, uma seleção de crônicas publicadas no Jornal do Brasi. entre agosto de 1967 e dezembro de 1973. É uma viagem pelo choque que a percepção de si mesma e do entendimento da existência sofrem quando pensamentos e percepções profundas existenciais (e transcendentais) arrebatam a protagonista após matar uma reles barata no quarto da ex-empregada. Parece tolo, mas é profundo.
Citando a própria
Clarice no prefácio de outro livro “A Paixão Segundo G.H”, essa crônica parece
ser uma obra para ser lida “apenas por
pessoas de alma já formada“. Ela mesma explica o que isso
significa, dando uma demonstração de sua particular arte de descrever a
experiência do âmago das coisas e dos momentos, dizendo que essas almas já
formadas são “aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz
gradualmente e penosamente – atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai
aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro
nada tira de ninguém”.
Segue a crônica “Não Entender“:
“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha,
como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco. Não demais:
mas pelo menos entender
que não entendo”
~ Clarice Lispector, em “A Descoberta do Mundo” (1967*1973)
A mesma crônica, na interpretação de
Antonio Abujamra:
Fonte:http://dharmalog.com/2013/05/28/
Comentários
Postar um comentário