Derry,
Irlanda do Norte, 18 de abril de 2013 – Sua Santidade o Dalai Lama realizou
sua segunda visita a Derry, a cidade irlandesa cujo lema é ‘Vida, Verdade e
Vitória’ e que, neste ano de 2013, é a cidade da Cultura do Reino Unido. Sua
Santidade foi convidado por seu velho amigo Richard Moore, diretor da
instituição filantrópica Children in Crossfire.
“É uma grande honra para mim
participar dessa discussão. Estou aqui por causa do meu maravilhoso amigo
Richard Moore, que, ainda jovem, e sem grandes inclinações religiosas, veio a
encarnar profundos valores humanos. Quando a tragédia se abateu sobre ele,
ele não se permitiu ser tomado por sentimentos de ira, ódio e ressentimento.
O resultado é claro; ele é, hoje, um ser humano feliz e pacífico.
No mundo todo, parece que
as pessoas estão cada vez mais fartas de guerra e de violência e do senso de
‘nós’ e ‘eles’ que suscita fraturas e antagonismos.Indagado acerca de qual é sua filosofia de paz, ele respondeu:A
paz genuína emerge como resultado da paz interior, portanto ela começa no
nível individual. Então você compartilha essa paz com sua família e sua
vizinhança. Paz interior é a base da confiança, a base da amizade e, por
conseguinte, a base da paz mais ampla na sociedade e no mundo em geral. A
oração não faz com que a paz se estabeleça, porque somos nós quem criamos o
problema, assim somos nós que temos que resolvê-lo.
O Prof. Hamber perguntou se Sua
Santidade estava otimista sobre o Tibete e ele foi claro em sua resposta:
O problema no Tibete não é uma questão de guerra civil, mas do fato de que um novo hóspede chegou sem convite e armado com uma pistola. Uma vez que esse hóspede chegou, a forma de vida de todos os tibetanos se viu ameaçada. Nós temos uma rica herança cultural, uma cultura de paz e de compaixão, a qual nós queremos preservar. Sim, a questão do Tibete está ligada ao que acontece na China. E as coisas estão mudando na China também, portanto, sim, nós podemos ter esperança. Wen Jiabao, até há pouco tempo primeiro-ministro chinês, falou frequentemente da necessidade de mudanças e, inclusive, da necessidade de democracia. No começo da década de 1980, Hu Yaobang foi ao Tibete. Eu o conheci em 1954 quando ele era chefe da Juventude Comunista Chinesa. Ele visitou Lhasa em 1980 e, publicamente, se desculpou pelo que havia acontecido no Tibete. Ele foi uma pessoa que seguiu a regra de Deng Xiaoping, ‘Busque a verdade a partir dos fatos’, e ele investigou realisticamente as condições locais. Algumas pessoas afirmam que a nova liderança parece estar se inspirando no tipo de abordagem de Hu Yaobang, mas ainda é muito cedo para se dizer. Nesse ínterim, nossa perspectiva do “Caminho do Meio” atrai uma grande quantidade de apoio de escritores chineses, pensadores e mesmo de aldeões comuns que chegam a conhecê-la e compreendê-la.
Diante da sugestão de que as
pessoas podem ficar cansadas de trabalhar pela paz e pela reconciliação, Sua
Santidade disse que esse tipo de trabalho não é uma questão de escolha, mas
alguma coisa que nós temos que fazer. Como
ele frequentemente diz aos Tibetanos, no longo prazo as pessoas com as quais
nós estamos em conflito são aquelas mesmas com as quais teremos que viver,
lado a lado; assim, temos que encontrar uma solução pacífica.
Em tais situações, recorrer à violência é um suicídio. Assumir uma visão mais
realística e holística pode nos dar uma perspectiva mais positiva, enquanto
que deixar-se aprisionar nas emoções destrutivas da ira, ódio e medo criam
infelicidade e nada trazem de positivo.
Dirigindo-se àqueles presentes
que tinham menos de 30 anos, Sua Santidade disse:Vocês verdadeiramente
pertencem à geração do século XXI; o futuro está em suas mãos.
No caminho entre a Universidade
Magee e a St Joseph’s School, onde Richard Moore havia sido um estudante, a
pedido de Sua Santidade, houve uma parada para que ele visitasse a mãe de
Richard. Ele teve a oportunidade de contar-lhe, pessoalmente, que seu filho
era o seu herói porque embora ele, o Dalai Lama, fale sobre compaixão,
Richard colocou-a em prática.
Na escola, após Richard Moore tê-lo apresentado, ele disse:
Conheço Richard há muitos anos e há muito admiro sua fortaleza. Hoje, eu conheci também seus irmãos e irmãs e, agora há pouco, também conheci sua mãe. Recordo-o me contando que, quando foi ferido a tiros, desmaiou e, quando voltou a si, não sentiu ira ou ódio, mas sentiu pena porque não poderia mais ver o rosto de sua mãe. Eu estou feliz por hoje ter sido capaz de vê-la eu próprio. Eu creio que os seres humanos são bondosos por natureza e isso é alimentado pela afeição que nós recebemos de nossas mães. À medida que crescemos e vamos à escola, precisamos combinar o conhecimento que adquirimos ali com a bondade. O real teste de nossa compaixão surge quando somos confrontados com um desafio, como Richard foi”.
Mais tarde, reunindo-se com a
imprensa, Sua Santidade reiterou que quando Richard Moore enfrentou a
tragédia conseguiu manter a mente tranquila, do que resultou, desde então, a
capacidade de viver uma vida pacífica, sendo capaz de fazer muito bem aos
demais. Se, como ele, nós pudermos cultivar uma preocupação pelos outros,
tendo sempre em mente a unidade da humanidade, poderemos construir um mundo
mais
compassivo. É irrealístico pensar que poderemos alcançar tal coisa somente por meio da oração. Temos que atuar como Richard Moore tem feito através do trabalho na Children in Crossfire. O altruísmo não significa que você negligencie sua própria felicidade, mas agindo de um modo transparente, você produz confiança e confiança produz amizade.
No início da tarde, enquanto o
vento castigava o rio Foyle, 300 crianças de escolas primárias locais
formaram uma guarda de honra na Ponte da Paz enquanto Sua Santidade, Richard
Moore, o Bispo Ken Good e o Monsenhor Eamon Martin lideraram uma Caminhada
pela Paz. Enquanto eles caminhavam, as crianças que se perfilavam na ponte
cantaram ‘A Paz está Fluindo como um Rio’. A chuva só chegou quando tudo
terminava.
No último evento desse dia para
marcar a Cultura da Compaixão, 2500 pessoas se reuniram para ouvir Richard
Moore e Sua Santidade. Em sua apresentação, Richard disse que o propósito do
encontro era a celebração da compaixão e que para alcançar êxito eles necessitavam
do apoio de pessoas como Sua Santidade. Sem rodeios, afirmou que o único
caminho a seguir é o da paz. Sua Santidade respondeu: Eu estou muito feliz
por estar aqui com meu herói Richard Moore. A harmonia e a paz são coisas
pelas quais é necessário trabalhar e ele trabalhou duro. Aqueles de nós que
acreditam na paz e na não violência têm a responsabilidade de prestar apoio e
solidariedade. É uma grande honra para mim vir aqui e prestar solidariedade
ao seu nobre trabalho. Obrigado por me convidar.
O dia de hoje se revelou um dia
especial para mim. Eu conheço Richard há algum tempo e ele, inclusive, veio
me ver em Dharamsala com Charles, o soldado que disparou a bala de plástico
que o deixou cego. Apesar da tragédia, ele mostrou como, enquanto seres humanos,
nós possuímos a capacidade para perdoar e se reconciliar. Mas hoje eu me
encontrei com a velha mãe de 93 anos do meu herói, o que fez deste
um grande dia”. O público aplaudiu.
A paz é crucial para nossa
sobrevivência e a não violência é a chave para a paz. Isso não quer dizer que
não enfrentaremos problemas, mas temos que estar preparados para lidar com
eles através do diálogo e não do conflito. A paz tem que ser parte de nossas vidas e parte de
nossa cultura. A não violência não significa que devamos ser
passivos, porque, por exemplo, é necessário força de vontade para
restringirmos em nós mesmos a violência. Quando nós temos um problema,
precisamos olhá-lo de muitos ângulos, com uma mente calma, a fim de
compreendermos a realidade da situação. Se não assumirmos um enfoque realista
não alcançaremos nosso objetivo”.Sua Santidade enfatizou que desenvolver uma
cultura de paz está, em última análise, relacionado com o desenvolvimento da
compaixão pelos outros. Precisamos avaliar se raiva e ódio têm algum valor.
Ele disse que possui três razões para desenvolver compaixão. Lastreia-se na
nossa experiência comum, que mostra que todo mundo responde positivamente à
bondade. É parte também do senso comum, porque é óbvio que as pessoas que têm
bom coração são mais felizes. E, por fim, os achados científicos demonstram
que emoções negativas como raiva, ódio e medo fragilizam nosso sistema
imunológico, enquanto que há evidência de que a bondade e a compaixão são boas para nossa saúde em geral. Ele concluiu: Por favor, pensem. Não é suficiente orar e esperar, temos que trabalhar duro para criar e sustentar a compaixão e a paz”.
Tradução: Sergio Ferraz
Fonte:http://bodisatva.com.br/dalai-lama-cultivando-a-paz-e-educando-o-coracao/?
Leia a matéria original em inglês:
Working for Peace, Educating the Heart and Cultivating Compassion in Derry
April 19th 2013
Derry, Northern Ireland, 18 April 2013 - Today, His Holiness the Dalai Lama made his second visit to Derry, the Irish city whose motto is ‘Life, Truth and Victory’ and is UK City of Culture for 2013. He was invited by his old friend Richard Moore, the Director of the charity Children in Crossfire.
In the morning, His Holiness met Richard Moore, his wife and daughters and several of his brothers and sisters. When Richard remarked that his 93 year old mother was hoping to meet His Holiness, but was not feeling strong enough to go out, His Holiness replied that, if possible, he would like to go to see her.
His first engagement was at Magee University where he was invited to participate in a conversation with Prof Brandon Hamber about ‘Philosophies of Peace and Conflict.’ In response to Prof Hamber’s question about whether the world is becoming a better place, he said:
“It’s a great honour for me to participate in this discussion. I’m here because of my wonderful friend Richard Moore, who as a young man, not especially religious minded, came to embody deep human values. When tragedy befell him, he didn’t allow himself to become filled with feelings of anger, hatred and resentment. The result is clear; he’s now a happy, peaceful human being.
“In the world at large it seems that people are becoming fed up with war and violence and the sense of ‘them’ and ‘us’ that provokes it is breaking down.”
Asked what his philosophy of peace is, he replied: “Genuine peace comes about as a result of inner peace, so it starts on an individual level. Then you share it with your family and your neighbourhood. Inner peace is the basis of trust, the basis of friendship and so the basis of a wider peace in society and the world at large. Prayer doesn’t bring about peace, because it’s we who create the trouble, so it’s we who have to fix it.” Prof Hamber asked if he was optimistic about Tibet and he was clear in his response. “The problem in Tibet is not a matter of civil war, but that a new guest has come without a proper invitation, armed with a gun. Once that guest arrived, every Tibetan’s way of life came under threat. We have a rich cultural heritage, a culture of peace and compassion, which we want to preserve. Yes, the Tibet issue is linked to what happens in China. And things are changing there so, yes, we can hope. The last prime minister Wen Jiabao often spoke of the need for change and even the need for democracy. In the early 1980s Hu Yaobang went to Tibet. I met him in 1954 when he was head of the Chinese Communist Youth. He visited Lhasa in 1980 and publicly apologised for what had happened in Tibet. He was someone he followed Deng Xiaoping’s stricture, ‘Seek truth from facts’ and he realistically investigated local conditions. Some people say the new leadership seem to be taking a cue from Hu Yaobang’s approach, but it’s still too early to say. In the meantime, our Middle Way Approach attracts a lot of support from Chinese writers, thinkers and even ordinary villagers who get to know about it and understand it.”
Addressing those in his audience who were less than 30 years old, His Holiness said: “You truly belong to the twenty-first century generation; the future is in your hands.” On the way from Magee University to St Joseph’s School, where Richard Moore had been a student, at His Holiness’s request, he stopped to visit Richard’s mother. He was able to tell her personally that her son was his hero, because although he talks about compassion, Richard puts it into effect. At the school, after Richard Moore had introduced him, he said:
Meeting the press later in the day, His Holiness reiterated that when Richard Moore encountered tragedy he kept a calm mind and as a result his life since has been peaceful and he has been able to do much good for others. If like him we can cultivate a concern for others, keeping in mind the oneness of humanity, we can build a more compassionate world. It’s unrealistic to think we can achieve this through prayer alone; we have to take action as Richard Moore has done through the work of Children in Crossfire. Altruism does not mean you neglect your own happiness, but by acting transparently, you create trust and trust creates friendship.
In the last event of this day to mark the Culture of Compassion, 2500 people gathered to hear Richard Moore and His Holiness speak. In his introduction, Richard said that the meeting was to celebrate compassion and to succeed they need the support of people like His Holiness. He was forthright that the only way forward is peace. His Holiness responded: “I am very happy to be here with my hero Richard Moore. Harmony and peace are things you have to work for and he works hard. Those of us who believe in peace and non-violence have a responsibility to show support and solidarity with that. It’s a great honour for me to come here and show solidarity with your noble work. Thank you for inviting me. “Today has turned out to be a special day for me. I’ve known Richard for some time, and he’s even come to see me in Dharamsala with Charles the soldier who shot the plastic bullet that blinded him. Despite that tragedy, he showed how as human beings we have a capacity to forgive and be reconciled. But today, I met my hero’s 93 year old mother, which has made it a great day.” The audience cheered. “Peace is crucial to our survival and non-violence is the key to peace. This doesn’t mean that we will face no problems, but we have to be prepared to deal with them through dialogue not conflict. Peace must be part of our lives and part of our culture. Non-violence doesn’t mean we should be passive, because, for example, it takes will-power to restrain yourself from violence. When we have a problem, we need to look at it from many angles with a calm mind in order to understand the reality of the situation. If we don’t take a realistic approach we won’t reach our goal.”
“Please think. It’s not enough to pray and to hope, we have to work hard to create and maintain compassion and peace.” He then presented the Youth Compassion award to a young medical student who regularly gives a substantial amount of his free time to volunteering in the hospital where he studies. He said that he finds it is always worth making time for others.
After the earlier rain, the sun came out as His Holiness left Derry to travel to Cambridge. He was welcomed to St John’s College by the Master, Christopher Dobson and his wife and representatives of the students who have invited him.
Fonte:http://www.dalailama.com/news/post/934-working-for-peace-educating-the-heart-and-cultivating-compassion-in-derry
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