GURDJIEFF ,OSHO, RAMANA, KRISHNAMURTI E A VERDADE

 



Esse artigo não é pra iniciantes. Dificilmente eles me compreenderão. Vou falar sobre o que Krishnamurti chamou de “terra sem caminhos” . Foi assim que ele denominou a Verdade. Você é meu convidado a fazer essa viagem que nos levará à lugar nenhum. Você provavelmente se escandalizará com isso. “Como uma viagem pode nos levar a lugar nenhum? Isto é um absurdo. Um disparate!”- será provavelmente a primeira reação da maioria dos “novatos” na busca espiritual. Mas quero fazer um breve preâmbulo, antes de entrar na questão central.

Muitos buscadores da minha geração provavelmente estão familiarizados com os quatro mestres citados no título deste artigo. Meu objetivo não é descaracterizar, nem desmerecer nenhum. Mas manifestar minhas sinceras impressões com vistas a ajudar o buscador em sua difícil viagem espiritual. Se você não tem dúvidas, então pare de ler aqui. Este artigo é para aqueles que estão atribulados em seu espírito. Afinal como saber que caminho trilhar? Quem estará certo? Que mestre seguir? O que fazer nos momentos de angústia e incertezas? Quem poderá nos transmitir algo com segurança? Até que ponto devo prosseguir no meu caminho errado até finalmente tomar uma atitude para parar, voltar ou mudar de rumo?

Se estas dúvidas assolam seu coração, então você está no lugar certo. E por providência divina você se deparou com esta mensagem que – creio- poderá lhe ajudar muito. Leia com atenção, mas não aceite nada do que vou dizer. Reflita em seu coração e peça a Deus que lhe ajude a entender. Se houver alguma verdade e se esta lhe for de alguma forma útil, renda graças a Deus e louve seu nome- mesmo em silêncio. Caso contrário, obrigado por sua atenção. Continue seu caminho. Talvez não seja a sua hora . Ou talvez, eu esteja errado e você certo. A verdade é uma terra sem caminhos- e sem donos.

Gurdjieff foi um grande mestre- não há dúvidas sobre isso. Todavia, se perdeu ao longo do caminho. Sua verdade era fragmentada e não levava a lugar nenhum. Seu último livro da série “Sobre tudo e todas as coisas” é um relato de um homem confuso, arrependido e angustiado. Um desabafo de um moribundo próximo à morte. Gurdjieff se perdeu .Não somente ele mas todos os que o seguiram- desde Ouspensky até Rodney Collin. Este último enlouqueceu e cometeu suicídio. De acordo com relatos, estava obcecado pela ideia da “morte consciente” o que o levou a pular de um prédio alto no México – para a morte. O primeiro, após a separação do mestre, viu-se perdido e sem rumo. Acabou se metendo com experiências psicodélicas, principalmente a mescalina. Em termos espirituais, foi um grande fracasso. Descobriu tarde demais que o sistema de G. ( Gurdjieff) era um beco sem saída. Suas últimas palavras foram:

- Abandonem o sistema. Comecem novamente por si mesmos!

Osho fora talvez, o guru mais famoso do século xx. O mais rico e mais insano também. Provavelmente, quando começou seu trabalho, sua intenções eram sinceras e verdadeiras. Não foi à toa que tanta gente o seguia e admirava- inclusive eu. Todavia, ao longo dos anos, o guru e seu movimento foi se afundando. Até o fracasso final que culminou com os fatos em Óregon e finalmente com a morte misteriosa de Osho e sua namorada Vivek – esta última de overdose. E Osho morrera um mês depois de “não-se-sabe-o-quê”. Sua morte é uma polêmica. Assim como fora toda sua vida. Oficialmente os discípulos dizem que Osho morrera em decorrência de envenenamento por Tálium causado pelo governo dos Estados Unidos durante o tempo em que ficou preso naquele país. Extra oficialmente, alguns dissidentes e testemunhas oculares falam em suicídio por overdose. Osho era viciado em Válium ( Diazepan) e Óxido Nitroso. Vários elementos, indícios e testemunhos levam a crer que esta última versão é a mais verdadeira.

Não se trata aqui de macular a imagem de alguém que já morreu. Mas de analisar sua Verdade e seu caminho que , ainda hoje, influencia milhares de pessoas no mundo todo. Afinal, o caminho de Osho o levou a quê? À tragédia? E que caminho é esse que culmina em tragédia? Por certo, não é um bom caminho. Os discípulos quiseram distorcer os fatos, apresentando-o como uma espécie de vítima dos cristãos fundamentalistas americanos. Uma débil tentativa de martirizá-lo, tornando-o uma espécie de Jesus ou Sócrates. Mas o caso desses últimos é totalmente diferente. Tanto Sócrates quanto Jesus tem a seu favor não somente sua história, mas também seus ensinamentos. Qualquer pessoa pode verificar por si mesmo a eficácia e a verdade daquilo que eles pregaram constatando, assim, o poder e a pureza de sua fonte.

Isso não acontece com os ensinamentos do Osho. Qualquer um que tentar seguir seus ensinamentos, ou vira um seguidor fanático, ou simplesmente fica rodando em círculos. É um caminho que não leva a lugar nenhum- não no sentido Zen da expressão - o que seria algo positivo. Mas por que é incipiente, confuso e ineficaz . Osho descobriu uma forma ímpar de ensinar: bela, mas ineficaz. Seu sistema ou visão não funciona. Traz um bálsamo que só dura enquanto o lemos ou ouvimos. É uma espécie de droga linguística. Dá uma sensação gostosa de paz e conforto. Mas quando defrontado com os reais problemas e desafios da vida, em nada ajudam. Nesses momentos só nos restam duas alternativas: ou se escolhe enfrentar a verdade- e isso inclui perceber que o mundo de beleza e celebração preconizado por Osho não existe, ou então fugimos novamente para seu mundo imaginário, gozando daquela paz superficialmente fabricada. Muitos procuram seus discípulos diretos - que agora posam de guru- na tentativa de perpetuar e fortalecer essa suposta “paz espiritual”.

Ramana é um autêntico mestre advaita ( tradição não-dualista), assim como Nisargadatta Maharaj. O problema não está nem em Ramana, nem em Nisargadatta, mas naqueles que se dizem seus seguidores e que hoje se autoproclamam gurus. Utilizaram de uma fonte pura e verdadeira, mas desvirtuaram seus objetivos e deturparam sua pureza. Há centenas de movimentos e “gurus” que se dizem inspirados nesses mestres. Todavia, é apenas jogada de marketing. Usam suas fotos e citações para ludibriar o povo e angariar o respeito dos candidatos a discípulos ( vítimas) . Mas no fundo, seus caminhos são diametralmente opostos ao seguidos pelas suas supostas fontes. Em geral são pessoas que sofrem algum distúrbio comportamental tais como a psicopatia ou esquizofrenia. São megalomaníacos, perigosos e espertos. A aparente simplicidade desses ensinamentos junto ao apelo da visão advaita (tudo já é perfeito) parece uma fórmula fácil e segura para manipular e explorar os mais sensíveis e vulneráveis.

O curioso é que, apesar de tentarem ligar suas imagens às de Ramana , o estilo de boa parte desses “gurus” se aproxima mais do de Osho . Em geral, utilizam a mesma técnica que o consagrou: palavras belas e aparentemente profundas cujo efeito principal é uma agradável sensação de paz . Paz essa que é passageira, pois só dura enquanto ouvimos, lemos ou relembramos o discurso. Mas que na prática não tem nenhuma valia - a não ser o entorpecimento, o embotamento e o isolamento do mundo. Mas quanto tempo isso dura? E eu pergunto: qual é a duração do efeito de uma droga? Pode durar dias, meses, anos… mas chegará um dia que a pessoa terá que acordar. Infelizmente, em muitos casos, será tarde demais. Restará apenas contabilizar os prejuízos espirituais, psíquicos, emocionais e financeiros daqueles que foram vitimizados.

Krishnamurti é um caso raro de autenticidade , heroísmo e sabedoria. Cedo libertou-se das garras de uma poderosa organização que tinha tudo para corrompê-lo e destruí-lo. Mas ele conseguiu se libertar e tornou-se um dos maiores mestres espirituais contemporâneos. Assim como Buda e Jesus Krishnamurti foi um rebelde. Não foi um rebelde sem causa – mas por uma grande causa: a libertação do homem dos seus grilhões espirituais e psicológicos.

Krishnamurti teve, certamente, alguns percalços ao longo de sua vida secular. Desafios que, provavelmente, tanto Osho quando Gurdjieff também enfrentaram: as tentações do dinheiro-ligado à soberba, ambição e poder. E as tentações do sexo-ligados à luxúria e ao prazer. Osho sucumbiu. Gurdjieff se arrependeu. Mas Krishnamurti superou. Apesar do famoso “escândalo” em que se envolveu com a esposa do seu secretário particular, ele continuou firme em seu caminho. Noventa anos de vida, um caso apenas que talvez o tenha envergonhado pelo resto da vida. Penso que seus milhares de admiradores viram aí uma “falha” natural do seu lado humano. E, ao contrário do que pensavam seus opositores, aumentou a admiração de seus fãs no mundo todo. Provavelmente, muitos se alegraram de saber que Krishnamurti era humano igual a todos eles. Um homem que também teve conflitos, falhas e imperfeições e que, apesar disso tudo, encontrou Deus ou a Verdade. Esse episódio tirou-o do pedestal de homem-deus, tornando-o um ser semelhante a nós.

O caminho trilhado por cada um desses mestres nos revela grandes lições que podem nos servir de inspiração e orientação em nossa própria jornada. O fato é que Gurdjieff tentou trilhar o caminho mas falhou. Osho pareceu já ter chegado-mas revelou-se um grande fracasso. Krishnamurti não chegou a lugar nenhum. Não por fracasso, mas porque ele descobriu que não havia nenhum lugar para se ir, nem nenhum caminho pra se trilhar. Ramana chegou à mesma conclusão que Krishnamurti. A diferença básica entre estes dois é que o primeiro não era revolucionário, ele não negou a tradição na qual ele próprio estava inserido- pelo contrário reafirmou-a. Krishnamurti negou totalmente as tradições, apesar dele próprio se inserir na tradição dos grandes iconoclastas como Buda e Jesus.

Ramana não teve mestres, assim como Buda e Krishnamurti. Ambos não precisaram seguir ninguém. Encontraram sua própria via de libertação sozinhos. E se você ainda está seguindo alguém- seja quem for - esqueça, abandone isso. Nunca chegarás a lugar nenhum assim. Escute os mestres autênticos, absorva suas orientações mas não adore ninguém, não bajule ninguém, nem entregue sua vida a ninguém. Encontre sua própria verdade que é única. Cuidado com os exploradores que cantam música para lhe distrair, enquanto roubam sua carteira.

Expus, em poucas palavras um pouco da minha própria experiência e visão. Todavia, sei que a minha não é única, nem pretende ser absoluta. As críticas são normais e esperadas. Mas sei também que tudo o que escrevi aqui, poderá ser de grande utilidade àqueles que realmente e sinceramente querem encontrar a Verdade e não apenas um conforto superficial, uma felicidade passageira , uma paz ilusória . Se é este o seu caso, então preste atenção, não quero que aceite, mas reflita com carinho sobre a minha última mensagem:

“Não há caminho, nenhum lugar pra se ir, ninguém pra ser seguido, nem ninguém pra caminhar”

Se entendeu isso, então meu esforço não terá sido em vão e minhas palavras não terão sido desperdiçadas.

Namastê!

Alsibar


Todas informações polêmicas aqui apresentadas podem ser checadas nos seguintes livros e links :

GURDJIEFF – George I.- Life is real only then, when “ I am”- All and Everything/ third series

SMITH, Joyce Collin- Não chame ninguém de mestre. Siciliano- 1993

MINE, Hugh -Bhagwan: O Deus que falhou Imprensa de São Martinho .

FRANKLIN, Satya Bharty -Promessa do Paraíso: vida íntima de uma mulher com 'Bhagwan' Osho Rajneesh - imprensa Colina Barrytown / Estação.

E o artigo de Christopher Calder sobre o Osho em Inglês e Português:




 
 
Fonte:http://alsibar.blogspot.com.br/2012/12/gurdjieff-osho-ramana-krishnamurti-e.html

Comentários

  1. Comentários muito relevantes. Parabéns por compartilhá-los.

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  2. Muito interessante suas colocações! Escrevi recentemente um artigo no qual considero nefasta esta tendência de buscar um líder para seguir. Krishnamurti é o contraponto para esta tendência. Ler Krishnamurti é um espancamento brutal no nosso orgulho e presunção, não espere palavras doces.

    https://vicentemanera.com/2021/09/28/coringa-osho-krishnamurti-e/

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