ESTAMOS VIVENDO A ÉPOCA DA DECADÊNCIA RELIGIOSA - IGOR KUFAYEV




“Religião versus Espiritualidade? Ordem humana versus Lei Natural? Corpo versus Alma? O que é mais sagrado? O que é mais importante? O que é mais profundo? A resposta não é óbvia, mesmo se a resposta for ambas. Afinal de contas, vivemos em um momento no tempo, quando até mesmo a verdade se trai. A Lei Natural não se manifesta inteiramente e isso significa que vivemos em engano, mesmo se não estivermos cientes disso. É por isso que é chamada a era da ignorância. Na Era de Ferro, quando tudo pode se enferrujar, um insight especial é preciso, um guia para o nível que está além da influência dos elementos.

Quando a Lei Natural se manifesta em sua plenitude, não há necessidade de se organizarem sistemas de crenças, não há necessidade de nenhuma prática espiritual, nem meditação ou qualquer outra técnica para sustentar o que está lá fora refletindo completamente o Absoluto. Cada célular e cada planeta está realinhado para expressar a totalidade. Tudo está no estado de equilibrio de qualquer maneira, deuses e homens estão bebendo soma (manna), então qual a necessidade de quaisquer mandamentos ou togas? Todo ser está ciente de um Ser. Não há um ser outro que não o Ser total. Quando o conhecimento é perdido, a harmonia não é mais possível (não há outra ignorância, exceto a ignorância da real natureza de si mesmo). Profeta e revelações vieram a esse mundo precisamente nos seus períodos, quando aquele conhecimento estava perdido e eclipsado pela escuridão.

Todas as revelações são em essência as expressões do Absoluto no seu desejo de resgatar e manter a Lei Natural. Revelação leva ao estabelecimento do ensinamento espiritual e isso, se for forte o suficiente, faz nascer uma religião. Então as religiões são o mais sagrado e mais bonito presente ao mundo. Em toda a história da humanidade é a história do espírito tomando diferentes formas de novo e de novo. A religião criada pela cultura faz nascer a civilização. A revelação da verdade Una fala através da língua mãe do profeta, o que dá a particularidade de cada religião e superioridade à nenhuma delas. Religião e civilização são sinônimos. A ascensão e queda das religiões são a ascensão e queda das civilizações. A raixa da palavra (relio) significa re-unir. É a mais alta conquista do empreendimento humano no nível coletivo e o conceito humano mais celebrado.

Não é a religião que deve ser culpada por falhar nos resultados ou pelas atrocidades cometidas em nome de seu Deus. Como pode aquilo que veio a existir para re-unir, ser usado para separar? Aquilo que veio ao mundo para resgatar a harmonia está sendo usado para manipular a própria essência da vida? É a perda da essência através do tempo que é a culpada, declara o Bhagavad Gita, é a perda daquele elemento que faz a religião ser capaz de re-unir. A transcendência de todos os opostos, na presença da Unidade.


O paradoxo da vida é que a revelação espiritual vem de um eixo vertical, e só se espalha verticalmente no plano da existência. Os videntes são moradores das montanhas, enquanto as igrejas e templos são construídos nos vales. A mensagem do topo chega distorcida, e absorvida de maneira diferente nos diferentes níveis e altitudes.


A espiritualidade é uma necessidade reconhecida para a liberdade total. A religião é uma disciplina do fenômeno cultural herdado e destilado dentro da comunidade para o fim da ordem social. Estamos vivendo os tempos da decadência religiosa, a hora da falência de sua teologia e ideologia e a hipocrisia de algumas de seus zeladores. Até que a massa crítica seja finalmente atingida, esse continuará sendo a realidade e nenhuma tentativa conseguirá converter um cristão, muçulmano ou hindu ignorante a reconhecer o Cristo, o Alá ou o Shiva no interior profundo de seus próprios corações. Até que o coração esteja cheio de Silêncio suficiente e de Paz suficiente.”
 
                                                Igor Kufayev*
 


*Igor Kufayev é um instrutor espiritual nascido em Tashkent, Uzbekistan, discípulo de Maharishi Mahesh Yogi e um dos conferencistas agendados para o Science & NonDuality Europe 2013. O texto original em inglês está em On Religion (2006).

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