SER REALISTA,SER GENTIL E MEDITAR - B.ALAN WALLACE

Alan Wallace foi aluno e tradutor
de Sua Santidade o Dalai Lama

O vídeo abaixo é a resposta do estudioso, mestre e autor budista americano B. Alan Wallace à pergunta que lhe fizerem durante um retiro no Brasil, em janeiro de 2011: “Existem muitos brasileiros interessados na prática da meditação, mas que não têm conexão com o budismo. E outras pessoas que não veem sentido em meditar ou se engajar em alguma prática espiritual. O que o professor tem a dizer para elas?”

Em 4min42seg, Alan Wallace fala de não causar sofrimento aos outros, de buscar a causa da felicidade de maneira realista e não iludida, e também de meditação e um de seus significados, que é o de “cultivar“.

De forma geral, muitos de nós, na maior parte do tempo, estamos sempre olhando para fora, pensando: “Alguém vai me fazer feliz”, “Algum trabalho vai me fazer feliz”, “Algum lugar vai me fazer feliz,” “Alguma posse vai me fazer feliz”. Mas na medida que crescemos e amadurecemos, vemos que nada daquilo é verdade. Ninguém lá fora pode nos fazer felizes de verdade. Nenhuma aquisição, nenhum emprego… É óbvio. E quanto mais cuidadosamente nós olhamos, mais óbvio se torna.
~ B Alan Wallace

A transcrição completa pode ser lida abaixo:
 
 
No fim do retiro de 9 dias de shamata no CEBB Caminho do Meio (janeiro de 2011), pedimos que Alan Wallace desse um breve conselho a quem deseja superar aflições, mas que não necessariamente tem conexão com o budismo.
O resultado é um vídeo precioso que serve como a melhor contextualização para a prática da meditação que eu já vi. Mais ainda, é uma excelente resposta para aos que nos perguntam: “Mas e esse lance de budismo, como é isso?”.
A Inez, a Jeanne e a Teresa conseguiram o horário (tinhamos 10 minutos apenas). O Fábio Rodrigues (coordenador do CEBB Joinville) filmou. Eu fiz a pergunta e fiquei ali, prestando atenção. Depois traduzimos e o Fábio Valgas, de Curitiba, editou o vídeo. Deixo meus agradecimentos a todos, começando pelo Alan Wallace, claro.
A pergunta foi mais ou menos a seguinte:
“Existem muitos brasileiros interessados na prática da meditação, mas que não têm conexão com o budismo. E outras pessoas que não veem sentido em meditar ou se engajar em alguma prática espiritual. O que o professor tem a dizer para elas?”
Além dessa pergunta, eu fiz outra, pedindo que ele desse um conselho para aqueles praticantes que já possuem todas as condições favoráveis (professor, ensinamentos recebidos, instruções de prática, tempo, saúde, energia, comunidade) e não usufruem, não aproveitam, não praticam. O vídeo será publicado em breve.
Depois de 9 dias de ensinamentos precisos (o áudio na íntegra está aqui), eu confesso que esperava uma resposta mais Wikipedia, mais previsível, mais entrevista para o Fantástico. Fiquei completamente atordoado em receber 2 respostas com a essência do budismo em apenas 10 minutos.
Desejo que cada um de nós possamos ver, rever e lembrar desse vídeo, além de outros ensinamentos, para tomar vergonha na cara e experimentar, treinar, cultivar, colocar em prática um pouco dessa sabedoria em toda a nossa vida, em todas as nossas relações.

Transcrição da fala de Alan Wallace

“Todos nós queremos encontrar felicidade. Queremos ter menos frustrações, insatisfações, problemas no coração e na mente. Todos nós queremos isso. Cada um de nós deseja paz, menos ansiedade, uma felicidade maior. Todos nós queremos isso.
De forma geral, muitos de nós, na maior parte do tempo, estamos sempre olhando para fora, pensando: “Alguém vai me fazer feliz”, “Algum trabalho vai me fazer feliz”, “Algum lugar vai me fazer feliz,” “Alguma posse vai me fazer feliz”. Mas na medida que crescemos e amadurecemos, vemos que nada daquilo é verdade. Ninguém lá fora pode nos fazer felizes de verdade. Nenhuma aquisição, nenhum emprego…
É óbvio. E quanto mais cuidadosamente nós olhamos, mais óbvio se torna. Se realmente queremos ser felizes, encontrar contentamento, liberação da ansiedade e assim por diante… realmente só há uma maneira. Você não tem que ser religioso, não tem que ser espiritual. Você tem que ser realista!
E isso é reconhecer que a única forma de você realmente encontrar satisfação, um maior sentido na vida, maior felicidade na vida, realização, é cultivando seu próprio coração e mente. Isso é apenas realista. Você não tem que acreditar em nada. É apenas bom senso.
Agora, nós podemos perguntar, antes de tudo: será que há maneiras com as quais estamos nos comportando (com nosso corpo, com nossa fala, mesmo com nossa mente) que estão prejudicando aos outros desnecessariamente?
Às vezes crianças tem que ser disciplinadas, talvez. Elas não gostam, mas estamos fazendo isso apenas pelo seu bem. Então, às vezes é assim. Mas, estamos nós prejudicando alguém, de alguma forma que não está sendo útil, mas apenas prejudicando?
Quando nós reconhecemos isso, vemos que causa dano para outras pessoas, mas também causa sofrimento a nós mesmos. Sempre. Então a primeira coisa é: realmente viver uma vida suave, sem causar danos. É o mais importante. Assim você não prejudica a si mesmo e não prejudica aos outros. Pelo menos isso!
E então se você quer realmente começar a cultivar as causas verdadeiras da felicidade, uma maior liberdade do sofrimento, da ansiedade, do medo, da aflição, então, é pra isso que serve a meditação.
Meditação, em sânscrito, é “bhavana”. E “bhavana” significa cultivar, como um agricultor cultiva o campo. Ele não sai, simplesmente, e pega alguma comida aqui e lá, mas ele realmente se dedica ao solo, ele o lavra, o fertiliza, irriga, planta a semente, ele cuida, tira as ervas daninhas e então faz a colheita.
Então, em vez de sair por aí tentando achar alguma felicidade externa, nós a cultivamos com nossos próprios corações e mentes. E meditação é uma forma de fazer isso. Há muitas maneiras para meditar. Para muitas pessoas que estão começando, um tipo de meditação chamado shamata é muito útil.
O essencial dela, antes de tudo, é aprender como relaxar, aprender como relaxar o corpo muito profundamente. Sem tensão, sem estresse, sem contração. Saber como relaxar a respiração, respirar sem esforço. E aprender como deixar a mente relaxada. Então, primeiro de tudo, aprender como relaxar.
E então, gradualmente, por meio da meditação, cultivar uma calma interna, uma serenidade interna, quietude interna, uma presença. De forma que não estamos sempre distraídos, inquietos, agitados, excitados, mas realmente temos alguma paz mental. Isso pode ser cultivado por meio da meditação. E então, gradualmente, com base em relaxamento e estabilidade, podemos desenvolver clareza e vivacidade.
Portanto, com essas três qualidades, através da meditação, da atenção plena sobre a respiração e outros métodos, nós podemos ter maior presença, maior paz mental. E também quando estamos nos relacionando com outras pessoas. Porque as nossas mentes, internamente, estão quietas. Então nós podemos realmente focar nos outros com muito mais proximidade. E não ficar sempre sendo pegos pelos nossos próprios pensamentos, esperanças, medos, mas realmente focar nas necessidades dos outros.
Dessa forma, naturalmente, quando começamos a expandir nossas mentes e corações para focar outras pessoas, outros seres sencientes, nós também encontramos felicidade, uma felicidade maior.
Porque nossas mentes e corações se ampliam há maior paz e maior felicidade.”
Alan Wallace

Fonte:http://bodisatva.com.br/conselho-precioso-de-alan-wallace/

Segue o vídeo (com legendas em português embutidas):



 
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