A Reserva Biológica do Atol das Rocas foi a primeira unidade de conservação marinha criada no Brasil, em 1979. Situa-se a 144 milhas náuticas de Natal/RN e a 80 milhas náuticas do arquipélago de Fernando de Noronha. Circundado por um anel de arrecifes contendo duas pequenas ilhas e uma laguna central, é o único atol no Atlântico Sul. Com 7,2km2 de superfície e 3,2km de diâmetro, é um recife semi-circular composto por esqueletos calcáreos de algas, corais e moluscos. A área da reserva é de 360 quilômetros quadrados, incluindo o atol e toda a área marinha em volta, até a profundidade média de mil metros.
Rocas é a segunda maior área de reprodução da tartaruga-verde (Chelonia mydas) do país, depois da ilha de Trindade, no Espírito Santo. Além das juvenis dessa espécie, também abriga a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), que utiliza essas águas para abrigo e alimentação. A temporada de reprodução ocorre de dezembro a julho, quando se registram em média 400 desovas, com geração de 35 mil filhotes.
As águas cristalinas e abrigadas do interior do atol formam verdadeiras piscinas naturais que facilitam o trabalho de monitoramento das tartarugas marinhas através do mergulho. Neste local, podem ser capturadas para estudo com relativa facilidade, em diferentes estágios de vida - inclusive os machos, que normalmente não sobem às praias -, possibilitando a coleta de dados.
O trabalho de pesquisa e monitoramento das tartarugas marinhas é executado pela equipe da Reserva Biológica do Atol das Rocas/ICMBio.
Alameda Boldró, s/n, Caixa Postal 50 - CEP 53.990-000 - Tel (81)3619-1171/1174 - Fax (81)3619-1367
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Reserva Biológica do Atol das Rocas - RN
Fonte:http://www.tamar.org.br/
A Reserva Biológica do Atol das Rocas é um santuário
É uma das maiores áreas de reprodução da tartaruga verde; detém a maior colônia de aves marinhas do Brasil, 150 mil; e é ponto de alimentação e proteção, em rotas migratórias, de 23 espécies de pássaros vindos do Hemisfério Norte. A diversidade de sua fauna marinha é gigantesca. Há inúmeros peixes, crustáceos, moluscos, corais.
Foi criada, em 1979, para conservar a área. Situa-se a 266 quilômetros da costa do Rio Grande do Norte. Só de barco se chega ao Atol. O turismo não é permitido nele. O IBAMA, órgão que o administra, autoriza visitação de pesquisadores ou de pessoas para divulgar os trabalhos científicos.
Área de Extensão: 36.249 hectares
Fonte:http://www.brasil.gov.br/localizacao/parques-nacionais-e-reservas-ambientais/reserva-biologica-do-atol-das-rocas-2013-rn
O Atol das Rocas é um recife anelar elíptico localizado a 144 mn (267 km) a lés-nordeste da cidade de Natal (RN) e a 80 mn (148 km) a oeste do arquipélago de Fernando de Noronha (PE), em águas jurisdicionais brasileiras.[1]
Atol das Rocas | |
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3° 51′ S 33° 49′ W[nota 1] | |
Geografia física | |
País | Brasil |
Localização | Oceano Atlântico |
Arquipélago | Atol das Rocas |
Área | 7,551 km² |
Atol das Rocas, fotografado da Estação Espacial Internacional durante a Expedição 22 |
História
O primeiro mapa que mostra o Brasil descoberto pelos portugueses, o Planisfério de Cantino, de 1502, já registrava a existência do Atol das Rocas. Uma outra menção a Rocas é atribuída ao Almirante Dario Paes Leite, que descreveu o naufrágio de uma das naus da expedição liderada pelo navegador português Gonçalo Coelho à costa do Brasil, em 1503.[1][2] Apesar de ser conhecido desde o século XVI, o primeiro mapa detalhado de Rocas surgiu apenas em 1852, desenhado pelo Capitão-Tenente Phillip Lee, com a denominação de Baixo das Rocas ou Baixo das Cabras. Rocas aparece caracterizado como atol em 1858, num levantamento batimétrico feito pelo Comandante Vital de Farias. O primeiro naturalista a mencionar Rocas foi Jean de Léry, em 1880.
Devido à pouca profundidade de suas águas, a navegação nesse trecho da costa é muito perigosa. Os acidentes marítimos em Rocas eram frequentes e, no final do século XIX, no dia 19 de novembro de 1881 iniciou-se a construção do primeiro farol do Atol das Rocas, na ilha atualmente conhecida como Ilha do Farol (Rodrigues, 1940 e Andrade, 1959, citados por Kikuchi, 1999).
Geografia
Os recifes que compõem Rocas crescem no topo de um monte submarino pertencente à Zona de Fratura de Fernando de Noronha. Com uma área de aproximadamente 755,1 ha, o Atol das Rocas está entre os menores do mundo. De formato oval, tem 3,7 km de comprimento, 2,5 km de largura e um perímetro 7 km.[1][2][3]As areias de Rocas têm origem biológica, sendo compostas principalmente por estruturas calcárias fósseis de algas coralináceas da sub-família Melobesioideae e da família Corallinaceae, além de algas verdes do gênero Halimeda e de foraminíferos bentônicos, principalmente Amphistegina radiata e Archaias sp (Coutinho e Morais, 1970 citado por KIKUCHI, 1999).
Essas areias de origem biológica acumularam-se em duas faixas com forma de anel aberto no interior do atol, originando a Ilha do Farol e a Ilha do Cemitério. Juntas, têm uma área de aproximadamente 36 ha. Durante a maré baixa, o anel de recifes que forma o atol fica exposto e, no seu interior, surgem piscinas naturais, de tamanhos diversos e profundidade de até 6 m. Na maré alta, apenas as duas ilhas interiores e o perímetro do atol, com sua margem formada por recifes, ficam emersas.[1][2]
Ecologia
O Atol das Rocas serve de berçário a muitas espécies. Todos os anos milhares de aves e centenas de tartarugas-verdes retornam para lá para desovar. O local também é área de abrigo e alimentação da tartaruga-de-pente. Tem uma enorme importância ecológica fundamental por sua alta produtividade biológica e por ser uma importante zona de abrigo, alimentação e reprodução de diversas espécies animais.[carece de fontes]Ao lado do Arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é considerado uma das áreas mais importantes para a reprodução de aves marinhas tropicais do Brasil, abrigando pelo menos 150 milhares de aves, de quase 30 espécies diferentes. Atualmente vivem, o ano todo, cinco espécies de aves residentes: duas de atobás, uma de trinta-réis (ave) ou andorinha do mar e duas de viuvinhas, os atobás-de-patas-vermelhas e as fragatas vêm de Fernando de Noronha para pescar. Além delas, 25 espécies migratórias fazem de Rocas um porto permanente. Passam por ali espécies originárias da Venezuela, da África e até maçaricos provenientes da Sibéria. Até o momento, nenhuma espécie potencialmente predadora foi catalogada no Atol das Rocas.
O atol é também o paraíso de muitas espécies aquáticas. Por se tratar de uma montanha isolada, próxima de mares profundos e afastados da costa, ele é ideal para peixes de todos os tamanhos, moluscos, algas, crustáceos e tartarugas. Quase cem espécies de algas, 44 de moluscos, 34 de esponjas, sete espécies de coral e duas espécies de tartarugas já foram ali identificadas. Entre os 24 crustáceos, destacam-se o caranguejo terrestre e o aratu, que somente habitam ilhas oceânicas. O primeiro levantamento da fauna de insetos do Atol foi realizado em 2000, quando 12 espécies de insetos foram registrados e 3 espécies de aracnídeos, dentre eles um escorpião com veneno pouco perigoso para humanos.[4]
Em Rocas foram ainda catalogadas quase 150 espécies de peixes diferentes, entre os sargos, garoupas e xaréus. Mas apenas duas dessas espécies, o gudião e a donzela (peixe) são exclusivas da região, que abrange o Atol das Rocas e o Arquipélago de Fernando de Noronha, o tubarão-limão, uma espécie rara em Rocas tem motivado estudos de vários cientistas brasileiros e estrangeiros, a espécie passa o início da vida em cardumes, na laguna e nas piscinas do atol.
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Património Mundial da UNESCO | |||
País | Brasil | ||
Tipo | |||
Critérios | (vii)(ix)(x) | ||
Referência | 1000 | ||
Região** | Brasil | ||
Coordenadas | 3° 51′ S 33° 49′ W[nota 1] | ||
Histórico de inscrição | |||
Inscrição | 2001 (25ª sessão) | ||
* Nome como inscrito na lista do Património Mundial. ** Região, segundo a classificação pela UNESCO. |
Área protegida
O Atol das Rocas é protegido pela reserva biológica homônima. Esta é a primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil, tendo sido em 5 de junho de 1979, através do Decreto-lei Nº 83.549.[5]
Notas e referências
Notas
- ↑ a b Estas são as coordenadas do farol na Ilha do Farol. FARÓIS EM ILHAS OCEÂNICAS E PLATAFORMA. SERVIÇO DE SINALIZAÇÃO NÁUTICA DO NORDESTE. Página visitada em 28 de janeiro de 2012.
Referências
- ↑ a b c d Plano de Manejo da Reserva Biológica do Atol das Rocas (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (14 de janeiro de 2012). Página visitada em 14 de janeiro de 2012.
- ↑ a b c Kikuchi, R (17 de setembro de 1999). Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil - 033 - ATOL DAS ROCAS, ATLÂNTICO SUL EQUATORIAL OCIDENTAL, BRASIL. Departamento de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Feira de Santana. Página visitada em 15 de janeiro de 2012.
- ↑ Schippke, Wolfgang. Das einsame Riff im Südatlantik: Atol das Rocas (em alemão). The italian weekly bulletin for serious DXers. Página visitada em 14 de janeiro de 2012.
- ↑ Almeida, C.E.; Marchon-Silva, V.V., Ribeiro, R., Serpa-Filho, A., Almeida, J.R., Costa, J. (2000). "Entomological fauna from Reserva Biológica do Atol das Rocas" (em inglês). Revista Brasileira de Biologia 60 (2) pp. 291-298. DOI:10.1590/S0034-71082000000200013.
- ↑ DECRETO Nº 83.549, DE 5 DE JUNHO DE 1979 (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (5 de junho de 1979). Página visitada em 14 de janeiro de 2012.
Ligações externas
- Entrada na lista do Patrimônio da Humanidade da UNESCO em Francês, Inglês e em Espanhol
- Informativo sobre o Atol das Rocas. Instituto Ecológico Aqualung (5 de junho de 1979).
- Uma aventura no paraíso de Atol das Rocas [ligação inativa]. Globo Video News (5 de junho de 1979).
REPORTAGEM ESPECIAL: ATOL DAS ROCAS (1)
O caderno especial Planeta, publicado toda última quarta-feira do mês pelo Estadão, traz na edição de hoje uma série de reportagens especiais sobre o Atol das Rocas, a mais antiga (e uma das menos conhecidas) das unidades de conservação marinha do País. Eu e o repórter fotográfico Jonne Roriz tivemos o privilégio de passar uma semana lá no início deste mês, a convite da organização SOS Mata Atlântica. Voltamos com uma série de imagens e histórias incríveis, algumas das quais vocês podem conferir abaixo, em versões estendidas dos textos publicados na versão impressa do jornal. Boa leitura e abraços a todos.
ATOL DAS ROCAS: A HISTÓRIA DE UM PARAÍSO INÓSPITO
por Herton Escobar / O Estado de S. Paulo
São três horas da madrugada em alto mar, com poucas nuvens no céu, e a lua cheia, prestes a se pôr, ilumina o oceano vazio a nossa volta como um holofote. Assim que ela mergulha no horizonte, é como se uma redoma de escuridão despencasse sobre o barco. Não demora muito, porém, uma nova fonte de luz aparece no horizonte. É a luz branca de um farol, sinalizando que chegamos – finalmente, após 20 horas de navegação – à Reserva Biológica do Atol da Rocas, uma das mais belas, isoladas e inóspitas unidades de conservação do Brasil.
As primeiras luzes da manhã revelam uma paisagem surreal, com moldes de miragem, que pouquíssimas pessoas além de pesquisadores, navegadores e pescadores intrometidos têm ocasionalmente o privilégio de vislumbrar. Um filete de areia branca se eleva timidamente sobre o mar, adornado de uma casinha, algumas ruínas e uma meia dúzia de coqueiros, que parecem brotar do oceano como um oásis flutuante.
Quem desembarcar neste paraíso em busca de silêncio, sombra e água fresca, porém, vai se deparar com uma beleza brutal. A ilha não tem água doce, as sombras esparsas dos coqueiros não oferecem refresco do sol e as 150 mil aves marinhas que se reproduzem ali fazem uma algazarra constante, dia e noite, 24 horas por dia.
Sem falar que esse oásis é guardado por uma fera humana, muito mais eficiente em afastar intrusos do que os tubarões que patrulham suas águas: a natalense Maurizélia de Brito Silva, ou simplesmente Zelinha, como é mais conhecida por todos.
Pouco mais de 1,60 metro de altura, 53 quilos, cabelos pretos, pele queimada de sol, pouco músculo, muita dedicação e um comprometimento inabalável com a conservação de Rocas. Funcionária da reserva desde 1991 e chefe da unidade desde 1995, Zelinha faz do atol sua casa e escritório quase que permanente há mais de 20 anos. Pequenina, ex-alcoólatra e sem nível superior, nunca portou arma nem ostentou diploma, mas conhece o atol melhor do que qualquer cientista e já botou muito pescador casca-grossa para correr dali. Uma fera para tubarão nenhum botar defeito.
“Se o atol fosse fácil de cuidar eu não seria a chefe; seria algum doutor”, resume ela.
“A Zelinha é especialista em dizer não”, brinca José Eduardo da Silva Martino, o Zeca, capitão do catamarã Borandá, que há décadas é o responsável por levar e trazer pessoas da reserva para Natal. Ele já frequentava o atol desde antes de o lugar virar reserva, para praticar pesca submarina nos recifes e fazer churrasco de peixe na praia. “Era um festa”, lembra ele. Até que Zelinha botou um basta na diversão. “Foi estranho quando falaram que ‘agora isso aqui é do governo’; mas com o tempo a gente acaba abraçando a causa”, diz. “Tem que proteger mesmo.”
Descoberta. Zelinha virou uma lenda do ambientalismo brasileiro, admirada sempre e odiada às vezes na mesma proporção. Ela fala do atol como uma mãe que fala de um filho. Sua história confunde-se com a do lugar de tal maneira que é impossível falar de uma sem falar da outra.
Para o ambientalismo, a história do Atol das Rocas começa no fim da década de 70, quando um bando de estudantes de oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande desembarcou em suas praias (foto acima). Eles haviam visto o atol da janela de um avião, a caminho de Fernando de Noronha, e resolveram voltar lá com um barco de pesca para investigar aquele misterioso anel de recifes perdido no oceano. Chegando lá, na virada de 1977 para 1978, registraram pela primeira vez tartarugas-marinhas desovando na praia.
“A praia amanhecia com a areia toda bagunçada e não sabíamos porque, pois aprendíamos na faculdade que não havia desova de tartarugas no Brasil”, conta o coordenador nacional do Projeto Tamar, Guy Marcovaldi, na época com 21 anos.
Surpresa maior veio em seguida, quando, numa noite de lua cheia, os pescadores também subiram à praia e começaram a matar as tartarugas para coletar seus ovos e sua carne. Os estudantes, perplexos, convenceram os pescadores a parar, depois fotografaram a carnificina (foto abaixo) e enviaram as imagens para as autoridades ambientais – na época, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que deu origem ao Ibama, que deu origem ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Assim a matança de tartarugas – e a necessidade de protegê-las – foi escancarada visceralmente no Brasil pela primeira vez.
Um ano e meio mais tarde, em junho de 1979, foi criada a Reserva Biológica do Atol das Rocas, a primeira unidade de conservação marinha do Brasil, com 362 quilômetros quadrados, incluindo o atol propriamente dito (de 5,5 km²) e toda sua base submersa, até uma profundidade de mil metros. No ano seguinte, nasceu do Projeto Tamar. “Nos inspiramos na beleza do atol para imaginar o Brasil com mais conservação marinha”, diz Marcovaldi.
Na época, Zelinha tinha 15 anos. Filha de um superintendente do IBDF, era uma adolescente problemática que não gostava de escola, vivia como caiçara na Praia de Pipa e não tinha muito compromisso com nada. Mais tarde, seguindo a tradição familiar, prestou concurso e conseguiu uma vaga de técnica administrativa no Ibama. Mas não deu muito certo, pelo menos de início.
Em 1991, já havia um processo de demissão correndo contra ela – “por causa do álcool” –, quando Gilberto Sales, chefe do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, foi designado como primeiro gestor da reserva do atol – que até então, 12 anos após sua criação, ainda era só um “parque de papel”, protegido apenas pelo próprio isolamento geográfico.
“Eu era considerada doida. E o Gilberto falou: ‘É de uma doida que eu preciso”, conta Zelinha. A primeira viagem de barco até o atol durou o dobro da média: 43 horas. Mas valeu a pena. “Quando desci na praia e vi aquelas aves todas, enlouqueci. Falei pro Gilberto: ‘Não saio daqui nunca mais’.”
E não saiu mesmo. Nem perdeu a fama de doida. “Muita gente fala que eu sou louca, e sou mesmo, porque tem de ser louco para viver aqui 20 anos”, diz ela, orgulhosa. “Teve muitos momentos na minha vida que eu achei que ia surtar.”
A lista de dificuldades que Zelinha enfrentou no atol parece não ter fim. Sua maior e mais longa batalha foi com os pescadores, que, atraídos pela grande quantidade de peixes na região do atol, recusaram-se por muitos anos a manter suas redes e anzóis fora da reserva.
Armada apenas com um bote a motor – que os pescadores tentavam sabotar largando linhas de nylon na água, para enroscar nas hélices e deixá-la a deriva –, uma câmera fotográfica e uma filmadora, Zelinha usava de sua autoridade e de sua malícia caiçara para afugentar os invasores. “A gente fiscalizava sem arma, sem nada, só indo pra cima e não deixando os caras pescar”, conta. “Quando tinha de peitar a gente peitava; quando tinha de correr a gente corria; quando tinha de conversar, a gente conversava. Até que chegou uma hora que virou prejuízo tentar pescar no atol.”
“A gente saia feito doido atrás de barco. Era todo dia, sem saber se a gente voltava”, lembra Jarian Dantas Ribeiro da Silva, de 39 anos, o braço direito de Zelinha desde 1996. Mais um que chegou ao atol, se apaixonou pelo lugar, e nunca mais saiu. Antes, vivia de bicos em Natal como segurança, pedreiro, marceneiro, serviços em geral. Até que seu irmão casou com uma pesquisadora do atol e Zelinha lhe ofereceu um cargo de ajudante, com um salário mínimo que ela paga até hoje do próprio bolso, para não ficar na mão.
Penúria. A rotina nos primeiros anos era duríssima. Zelinha e Jarian chegavam a passar vários meses sozinhos no atol, enfrentando os pescadores. A reserva não é aberta a visitação pública, e as expedições científicas eram esporádicas, pois a infraestrutura era mínima. Nos dois primeiros anos de ocupação, havia apenas um acampamento precário, que vivia infestado de ratos e escorpiões. Em 1993 inauguraram um abrigo pequenino de dois cômodos, quarto e cozinha, onde Zelinha praticamente morou durante 15 anos.
A casa não tem banheiro nem chuveiro; a higiene tem de ser feita no mar, com a maré vazante. Água doce, que não há no atol, sempre foi o bem mais precioso, usado a conta-gotas, exclusivamente para alimentação. A comida também precisava ser racionada, pois não havia entrega rotineira de mantimentos. Zelinha e Jarian sobreviviam em grande parte de doações, feitas por barcos de passagem, pela Marinha, ou trazidas por pesquisadores.
“A gente tinha de pedir água e comida para todo mundo”, recorda Zelinha, com lágrimas nos olhos. “Tinha dias que a gente só sentava e chorava, chorava muito.” E completa: “Chorávamos escondidos dos pesquisadores, para não mostrar fraqueza”.
Sua luta contra os pescadores lhe rendeu o apelido de “xerife dos mares”, adequado para seu comportamento perante aqueles que ela julga ser uma ameaça ao atol. Na intimidade, porém, Zelinha revela-se muito mais frágil e emotiva do que parece. Jarian também. “A gente mostrava muita coragem no mar, mas depois voltava pro atol e as pernas tremiam de tanto medo”, lembra ela. “Criamos esse personagem, incorporamos essa atitude, e assim sobrevivemos.”
A solidão também era um desafio. Até 2008 não havia uma linha de comunicação permanente do atol com o continente. O abrigo tinha uma antena para internet via satélite, mas nem sempre um laptop funcionando para tirar proveito dela. Sobrava apenas o rádio, para falar com navios e aeronaves de passagem, que traziam e levavam mensagens do continente. “Quando encostava um veleiro aqui a gente dava piruetas de alegria, porque era alguém para conversar”, lembra Zelinha. “Conseguir um refrigerante gelado, então, era a coisa mais maravilhosa do mundo.”
As coisas só começaram mesmo a melhorar a partir de 2007, quando a organização SOS Mata Atlântica resolveu expandir suas atividades para o mar e selecionou a Reserva Biológica do Atol das Rocas como primeiro “filho adotivo” de um programa criado para apoiar a gestão de áreas marinhas protegidas. A organização captou R$ 1,7 milhão em doações privadas e criou um fundo (hoje com R$ 2,6 milhões), cujo rendimento líquido será usado a partir do ano que vem para custear as despesas da reserva. Em cima disso, foram levantados outros R$ 900 mil para pagar a construção de uma nova base, compra de botes, motores, sistema de energia solar, internet (com laptop), equipamentos, comida e outros custos operacionais de necessidade imediata.
Desde 2007, a média de investimento foi de R$ 50 mil por ano, segundo a ONG. As doações vieram de empresários paulistas, que não querem ter seus nomes divulgados. Como contrapartida, eles têm o direito de visitar o atol uma vez por ano – sob a supervisão de Zelinha, sem exceções.
“Não damos dinheiro nem para o governo nem para a Zelinha; pagamos tudo diretamente aos fornecedores”, explica o presidente da Fundação SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin. “É um modelo que dá certo. O atol está funcionando de maneira exemplar.”
O ICMBio, que é o órgão federal oficialmente responsável pela gestão da reserva, ficou responsável por bancar principalmente o transporte de pesquisadores até o atol e a parte administrativa da unidade em Natal, que tem cinco servidores. Segundo informações do instituto, entre 2008 e 2011 foram gastos cerca de R$ 2 milhões com a reserva (incluindo gastos com salários, segurança, internet, veículo, investimentos e outros dispêndios).
Renovação. Os dias de penúria e mendicância acabaram. Zelinha e o atol agora têm uma base com 130 metros quadrados de área útil, com três quartos, cozinha ampla (com geladeira cheia), e decks espaçosos para convívio e trabalho (foto acima). Do lado de fora, dois botes infláveis e três motores. E o mais importante: uma agenda de pesquisa lotada até 2014, com equipes de até cinco cientistas revezando-se na nova base a cada mês. A ciência virou rotina no atol e a pesca, raridade.
“Antes, a gente via barco quase todo dia. Agora, passam-se meses sem a gente ver um”, comemora Zelinha, que, por via das dúvidas, ainda não sai da base sem sua câmera e filmadora em mãos, para o caso de aparecer algum infrator. “O atol não é um parque de papel, é uma reserva que funciona.”
Klabin conta que quando procurou o ICMBio pedindo a indicação de uma unidade de conservação marinha para a SOS apoiar, ofereceram-lhe Fernando de Noronha. Mas não; ele queria um lugar menos complicado, onde a organização pudesse fazer a diferença e produzir resultados reais rapidamente. Apareceu o atol, e ele adotou na hora. “A Zelinha é um modelo de dedicação fora do comum, que tem de ser exposto e copiado”, diz ele.
“Sempre que a coisa apertava, todo mundo me dizia para abandonar a base, para ir embora do atol, que eu era louca de ficar aqui. Inclusive no Ibama”, conta Zelinha. “Mas eu nunca fui embora. Eu vendo meu carro, passo fome, faço o que for preciso, mas não vou embora daqui e não me corrompo”, avisa ela.
Diferentemente de Fernando de Noronha, que é um Parque Nacional, a Reserva Biológica (Rebio) do Atol das Rocas não é aberta para o turismo. A categoria de Rebio é a mais restritiva no menu do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). A única atividade permitida no atol é a pesquisa científica, e Zelinha não quer nem ouvir falar em mudar isso. “Você está louco? Veja o que aconteceu com Noronha”, exalta-se. “O impacto aqui seria imenso. Claro que você tem que ter áreas abertas para visitação, mas precisa ter áreas fechadas também. Rocas tem de ser visto como a compensação ambiental de tudo que já foi destruído em outros lugares. Sem falar que seria um turismo extremamente elitizado e extremamente perigoso”, completa ela, com a experiência de quem já passou sérios apuros no atol. A entrada com bote pelo canal que dá acesso à parte interna do atol (chamado Barretinha) pode ser especialmente traiçoeira, e não foram poucas as ocasiões em que barcos capotaram ali.
Klabin concorda. “É um ecossistema muito frágil; não há como ter turismo ali”, diz ele. E finaliza com o mesmo argumento de Zelinha. “O atol é uma joia que tem de ser guardada para compensar tudo que já foi destruído no resto da costa brasileira.”
FOTO: Zelinha caminha sobre formações recifais no interior do atol. (Detalhe: Não se espantem com o fato de ela estar pisando nos recifes … esss recifes são constituídos de algas coralíneas duras; não são cobertos de corais, o que permite caminhar sobre eles sem um impacto significativo ao ecossistema — desde que sejam poucas pessoas e esporadicamente, é claro.)
OUTRAS IMAGENS
ATOL DAS ROCAS: A HISTÓRIA DE UM PARAÍSO INÓSPITO
por Herton Escobar / O Estado de S. Paulo
São três horas da madrugada em alto mar, com poucas nuvens no céu, e a lua cheia, prestes a se pôr, ilumina o oceano vazio a nossa volta como um holofote. Assim que ela mergulha no horizonte, é como se uma redoma de escuridão despencasse sobre o barco. Não demora muito, porém, uma nova fonte de luz aparece no horizonte. É a luz branca de um farol, sinalizando que chegamos – finalmente, após 20 horas de navegação – à Reserva Biológica do Atol da Rocas, uma das mais belas, isoladas e inóspitas unidades de conservação do Brasil.
As primeiras luzes da manhã revelam uma paisagem surreal, com moldes de miragem, que pouquíssimas pessoas além de pesquisadores, navegadores e pescadores intrometidos têm ocasionalmente o privilégio de vislumbrar. Um filete de areia branca se eleva timidamente sobre o mar, adornado de uma casinha, algumas ruínas e uma meia dúzia de coqueiros, que parecem brotar do oceano como um oásis flutuante.
Quem desembarcar neste paraíso em busca de silêncio, sombra e água fresca, porém, vai se deparar com uma beleza brutal. A ilha não tem água doce, as sombras esparsas dos coqueiros não oferecem refresco do sol e as 150 mil aves marinhas que se reproduzem ali fazem uma algazarra constante, dia e noite, 24 horas por dia.
Sem falar que esse oásis é guardado por uma fera humana, muito mais eficiente em afastar intrusos do que os tubarões que patrulham suas águas: a natalense Maurizélia de Brito Silva, ou simplesmente Zelinha, como é mais conhecida por todos.
Pouco mais de 1,60 metro de altura, 53 quilos, cabelos pretos, pele queimada de sol, pouco músculo, muita dedicação e um comprometimento inabalável com a conservação de Rocas. Funcionária da reserva desde 1991 e chefe da unidade desde 1995, Zelinha faz do atol sua casa e escritório quase que permanente há mais de 20 anos. Pequenina, ex-alcoólatra e sem nível superior, nunca portou arma nem ostentou diploma, mas conhece o atol melhor do que qualquer cientista e já botou muito pescador casca-grossa para correr dali. Uma fera para tubarão nenhum botar defeito.
“Se o atol fosse fácil de cuidar eu não seria a chefe; seria algum doutor”, resume ela.
“A Zelinha é especialista em dizer não”, brinca José Eduardo da Silva Martino, o Zeca, capitão do catamarã Borandá, que há décadas é o responsável por levar e trazer pessoas da reserva para Natal. Ele já frequentava o atol desde antes de o lugar virar reserva, para praticar pesca submarina nos recifes e fazer churrasco de peixe na praia. “Era um festa”, lembra ele. Até que Zelinha botou um basta na diversão. “Foi estranho quando falaram que ‘agora isso aqui é do governo’; mas com o tempo a gente acaba abraçando a causa”, diz. “Tem que proteger mesmo.”
Descoberta. Zelinha virou uma lenda do ambientalismo brasileiro, admirada sempre e odiada às vezes na mesma proporção. Ela fala do atol como uma mãe que fala de um filho. Sua história confunde-se com a do lugar de tal maneira que é impossível falar de uma sem falar da outra.
Para o ambientalismo, a história do Atol das Rocas começa no fim da década de 70, quando um bando de estudantes de oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande desembarcou em suas praias (foto acima). Eles haviam visto o atol da janela de um avião, a caminho de Fernando de Noronha, e resolveram voltar lá com um barco de pesca para investigar aquele misterioso anel de recifes perdido no oceano. Chegando lá, na virada de 1977 para 1978, registraram pela primeira vez tartarugas-marinhas desovando na praia.
“A praia amanhecia com a areia toda bagunçada e não sabíamos porque, pois aprendíamos na faculdade que não havia desova de tartarugas no Brasil”, conta o coordenador nacional do Projeto Tamar, Guy Marcovaldi, na época com 21 anos.
Surpresa maior veio em seguida, quando, numa noite de lua cheia, os pescadores também subiram à praia e começaram a matar as tartarugas para coletar seus ovos e sua carne. Os estudantes, perplexos, convenceram os pescadores a parar, depois fotografaram a carnificina (foto abaixo) e enviaram as imagens para as autoridades ambientais – na época, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que deu origem ao Ibama, que deu origem ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Assim a matança de tartarugas – e a necessidade de protegê-las – foi escancarada visceralmente no Brasil pela primeira vez.
Um ano e meio mais tarde, em junho de 1979, foi criada a Reserva Biológica do Atol das Rocas, a primeira unidade de conservação marinha do Brasil, com 362 quilômetros quadrados, incluindo o atol propriamente dito (de 5,5 km²) e toda sua base submersa, até uma profundidade de mil metros. No ano seguinte, nasceu do Projeto Tamar. “Nos inspiramos na beleza do atol para imaginar o Brasil com mais conservação marinha”, diz Marcovaldi.
Na época, Zelinha tinha 15 anos. Filha de um superintendente do IBDF, era uma adolescente problemática que não gostava de escola, vivia como caiçara na Praia de Pipa e não tinha muito compromisso com nada. Mais tarde, seguindo a tradição familiar, prestou concurso e conseguiu uma vaga de técnica administrativa no Ibama. Mas não deu muito certo, pelo menos de início.
Em 1991, já havia um processo de demissão correndo contra ela – “por causa do álcool” –, quando Gilberto Sales, chefe do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, foi designado como primeiro gestor da reserva do atol – que até então, 12 anos após sua criação, ainda era só um “parque de papel”, protegido apenas pelo próprio isolamento geográfico.
“Eu era considerada doida. E o Gilberto falou: ‘É de uma doida que eu preciso”, conta Zelinha. A primeira viagem de barco até o atol durou o dobro da média: 43 horas. Mas valeu a pena. “Quando desci na praia e vi aquelas aves todas, enlouqueci. Falei pro Gilberto: ‘Não saio daqui nunca mais’.”
E não saiu mesmo. Nem perdeu a fama de doida. “Muita gente fala que eu sou louca, e sou mesmo, porque tem de ser louco para viver aqui 20 anos”, diz ela, orgulhosa. “Teve muitos momentos na minha vida que eu achei que ia surtar.”
A lista de dificuldades que Zelinha enfrentou no atol parece não ter fim. Sua maior e mais longa batalha foi com os pescadores, que, atraídos pela grande quantidade de peixes na região do atol, recusaram-se por muitos anos a manter suas redes e anzóis fora da reserva.
Armada apenas com um bote a motor – que os pescadores tentavam sabotar largando linhas de nylon na água, para enroscar nas hélices e deixá-la a deriva –, uma câmera fotográfica e uma filmadora, Zelinha usava de sua autoridade e de sua malícia caiçara para afugentar os invasores. “A gente fiscalizava sem arma, sem nada, só indo pra cima e não deixando os caras pescar”, conta. “Quando tinha de peitar a gente peitava; quando tinha de correr a gente corria; quando tinha de conversar, a gente conversava. Até que chegou uma hora que virou prejuízo tentar pescar no atol.”
“A gente saia feito doido atrás de barco. Era todo dia, sem saber se a gente voltava”, lembra Jarian Dantas Ribeiro da Silva, de 39 anos, o braço direito de Zelinha desde 1996. Mais um que chegou ao atol, se apaixonou pelo lugar, e nunca mais saiu. Antes, vivia de bicos em Natal como segurança, pedreiro, marceneiro, serviços em geral. Até que seu irmão casou com uma pesquisadora do atol e Zelinha lhe ofereceu um cargo de ajudante, com um salário mínimo que ela paga até hoje do próprio bolso, para não ficar na mão.
Penúria. A rotina nos primeiros anos era duríssima. Zelinha e Jarian chegavam a passar vários meses sozinhos no atol, enfrentando os pescadores. A reserva não é aberta a visitação pública, e as expedições científicas eram esporádicas, pois a infraestrutura era mínima. Nos dois primeiros anos de ocupação, havia apenas um acampamento precário, que vivia infestado de ratos e escorpiões. Em 1993 inauguraram um abrigo pequenino de dois cômodos, quarto e cozinha, onde Zelinha praticamente morou durante 15 anos.
A casa não tem banheiro nem chuveiro; a higiene tem de ser feita no mar, com a maré vazante. Água doce, que não há no atol, sempre foi o bem mais precioso, usado a conta-gotas, exclusivamente para alimentação. A comida também precisava ser racionada, pois não havia entrega rotineira de mantimentos. Zelinha e Jarian sobreviviam em grande parte de doações, feitas por barcos de passagem, pela Marinha, ou trazidas por pesquisadores.
“A gente tinha de pedir água e comida para todo mundo”, recorda Zelinha, com lágrimas nos olhos. “Tinha dias que a gente só sentava e chorava, chorava muito.” E completa: “Chorávamos escondidos dos pesquisadores, para não mostrar fraqueza”.
Sua luta contra os pescadores lhe rendeu o apelido de “xerife dos mares”, adequado para seu comportamento perante aqueles que ela julga ser uma ameaça ao atol. Na intimidade, porém, Zelinha revela-se muito mais frágil e emotiva do que parece. Jarian também. “A gente mostrava muita coragem no mar, mas depois voltava pro atol e as pernas tremiam de tanto medo”, lembra ela. “Criamos esse personagem, incorporamos essa atitude, e assim sobrevivemos.”
A solidão também era um desafio. Até 2008 não havia uma linha de comunicação permanente do atol com o continente. O abrigo tinha uma antena para internet via satélite, mas nem sempre um laptop funcionando para tirar proveito dela. Sobrava apenas o rádio, para falar com navios e aeronaves de passagem, que traziam e levavam mensagens do continente. “Quando encostava um veleiro aqui a gente dava piruetas de alegria, porque era alguém para conversar”, lembra Zelinha. “Conseguir um refrigerante gelado, então, era a coisa mais maravilhosa do mundo.”
As coisas só começaram mesmo a melhorar a partir de 2007, quando a organização SOS Mata Atlântica resolveu expandir suas atividades para o mar e selecionou a Reserva Biológica do Atol das Rocas como primeiro “filho adotivo” de um programa criado para apoiar a gestão de áreas marinhas protegidas. A organização captou R$ 1,7 milhão em doações privadas e criou um fundo (hoje com R$ 2,6 milhões), cujo rendimento líquido será usado a partir do ano que vem para custear as despesas da reserva. Em cima disso, foram levantados outros R$ 900 mil para pagar a construção de uma nova base, compra de botes, motores, sistema de energia solar, internet (com laptop), equipamentos, comida e outros custos operacionais de necessidade imediata.
Desde 2007, a média de investimento foi de R$ 50 mil por ano, segundo a ONG. As doações vieram de empresários paulistas, que não querem ter seus nomes divulgados. Como contrapartida, eles têm o direito de visitar o atol uma vez por ano – sob a supervisão de Zelinha, sem exceções.
“Não damos dinheiro nem para o governo nem para a Zelinha; pagamos tudo diretamente aos fornecedores”, explica o presidente da Fundação SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin. “É um modelo que dá certo. O atol está funcionando de maneira exemplar.”
O ICMBio, que é o órgão federal oficialmente responsável pela gestão da reserva, ficou responsável por bancar principalmente o transporte de pesquisadores até o atol e a parte administrativa da unidade em Natal, que tem cinco servidores. Segundo informações do instituto, entre 2008 e 2011 foram gastos cerca de R$ 2 milhões com a reserva (incluindo gastos com salários, segurança, internet, veículo, investimentos e outros dispêndios).
Renovação. Os dias de penúria e mendicância acabaram. Zelinha e o atol agora têm uma base com 130 metros quadrados de área útil, com três quartos, cozinha ampla (com geladeira cheia), e decks espaçosos para convívio e trabalho (foto acima). Do lado de fora, dois botes infláveis e três motores. E o mais importante: uma agenda de pesquisa lotada até 2014, com equipes de até cinco cientistas revezando-se na nova base a cada mês. A ciência virou rotina no atol e a pesca, raridade.
“Antes, a gente via barco quase todo dia. Agora, passam-se meses sem a gente ver um”, comemora Zelinha, que, por via das dúvidas, ainda não sai da base sem sua câmera e filmadora em mãos, para o caso de aparecer algum infrator. “O atol não é um parque de papel, é uma reserva que funciona.”
Klabin conta que quando procurou o ICMBio pedindo a indicação de uma unidade de conservação marinha para a SOS apoiar, ofereceram-lhe Fernando de Noronha. Mas não; ele queria um lugar menos complicado, onde a organização pudesse fazer a diferença e produzir resultados reais rapidamente. Apareceu o atol, e ele adotou na hora. “A Zelinha é um modelo de dedicação fora do comum, que tem de ser exposto e copiado”, diz ele.
“Sempre que a coisa apertava, todo mundo me dizia para abandonar a base, para ir embora do atol, que eu era louca de ficar aqui. Inclusive no Ibama”, conta Zelinha. “Mas eu nunca fui embora. Eu vendo meu carro, passo fome, faço o que for preciso, mas não vou embora daqui e não me corrompo”, avisa ela.
Diferentemente de Fernando de Noronha, que é um Parque Nacional, a Reserva Biológica (Rebio) do Atol das Rocas não é aberta para o turismo. A categoria de Rebio é a mais restritiva no menu do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). A única atividade permitida no atol é a pesquisa científica, e Zelinha não quer nem ouvir falar em mudar isso. “Você está louco? Veja o que aconteceu com Noronha”, exalta-se. “O impacto aqui seria imenso. Claro que você tem que ter áreas abertas para visitação, mas precisa ter áreas fechadas também. Rocas tem de ser visto como a compensação ambiental de tudo que já foi destruído em outros lugares. Sem falar que seria um turismo extremamente elitizado e extremamente perigoso”, completa ela, com a experiência de quem já passou sérios apuros no atol. A entrada com bote pelo canal que dá acesso à parte interna do atol (chamado Barretinha) pode ser especialmente traiçoeira, e não foram poucas as ocasiões em que barcos capotaram ali.
Klabin concorda. “É um ecossistema muito frágil; não há como ter turismo ali”, diz ele. E finaliza com o mesmo argumento de Zelinha. “O atol é uma joia que tem de ser guardada para compensar tudo que já foi destruído no resto da costa brasileira.”
FOTO: Zelinha caminha sobre formações recifais no interior do atol. (Detalhe: Não se espantem com o fato de ela estar pisando nos recifes … esss recifes são constituídos de algas coralíneas duras; não são cobertos de corais, o que permite caminhar sobre eles sem um impacto significativo ao ecossistema — desde que sejam poucas pessoas e esporadicamente, é claro.)
Fonte:http://blogs.estadao.com.br/herton-escobar/reportagem-especial-atol-das-rocas-1/
Separado do continente pelo oceano, o Atol das Rocas está entre um dos menores do planeta: seu perímetro tem apenas sete quilômetros seu eixo leste-oeste tem 3,7 km e o norte-sul não ultrapassa a 2,5 km. Com forma de uma elipse quase circular, esse antigo topo de vulcão funciona hoje como um enorme berçário vivo de muitas espécies. Todos os anos milhares de aves e centenas de tartarugas-verdes retornam para lá para desovar. O local também é área de abrigo e alimentação da tartaruga-de-pente.
Ao lado do Arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é considerado uma das áreas mais importantes para a reprodução de aves marinhas tropicais do País, abrigando pelo menos 150 milhares de aves, de quase 30 espécies diferentes. Atualmente vivem, o ano todo, cinco espécies de aves residentes: duas de atobás, uma de trinta-réis ou andorinha do mar e duas de viuvinhas, os atobás-de-patas-vermelhas e as fragatas vem de Fernando de Noronha para pescar. Além delas, 25 espécies migratórias fazem de Rocas um porto permanente. Passam por ali espécies originárias da Venezuela, da África e até maçaricos provenientes da Sibéria. Até o momento, nenhuma espécie potencialmente predadora foi catalogada no Atol das Rocas.
O atol é também o paraíso de muitas espécies aquáticas. Por se tratar de uma montanha isolada, em meio a mares profundos e afastados da costa, ele é ideal para peixes de todos os tamanhos, moluscos, algas, crustáceos e tartarugas. Quase cem espécies de algas, 44 de moluscos, 34 de esponjas, sete espécies de coral e duas espécies de tartarugas já foram ali identificadas. Entre os 24 crustáceos, destacam-se o caranguejo terrestre e o aratu, que somente habitam ilhas oceânicas.
Em Rocas foram ainda catalogadas quase 150 espécies de peixes diferentes, entre os sargos, garoupas e xaréus. Mas apenas duas dessas espécies, o gudião e a donzela são exclusivas da região, que abrange o Atol das Rocas e o Arquipélago de Fernando de Noronha, o tubarão-limão, uma espécie rara em Rocas tem motivado estudos de vários cientistas brasileiros e estrangeiros, a espécie passa o início da vida em cardumes, na laguna e nas piscinas do atol.
De um branco característico, as areias do Atol das Rocas são classificados como falsas, pois derivam apenas do calcário moído de incontáveis fragmentos de conchas, ossos de aves e de peixes e de detritos vegetais (esqueletos de seres chamados vermetos), que ocuparam as rochas vulcânicas, estabilizando a faixa de recifes emersa, geralmente na forma de um círculo ou semicírculo, com uma lacuna no meio. Em Rocas, as areias acumularam-se em duas faixas, em forma de anel aberto, compondo a Ilha do Farol e a Ilha do Cemitério, já citadas anteriormente.
Na maré alta, as duas ilhas ficam emersas. Já na maré baixa surgem na área interior do atol várias piscinas naturais, de tamanhos e profundidades variadas, que funcionam como berçários para diversas espécies marinhas.
O Atol das Rocas é a primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil criada no Brasil, em 5 de junho de 1979, pelo Decreto-lei n.º 83549, constituindo-se desse modo numa reserva biológica em que a única atividade humana permitida é a pesquisa científica.
VÍDEOS:
Ao lado do Arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é considerado uma das áreas mais importantes para a reprodução de aves marinhas tropicais do País, abrigando pelo menos 150 milhares de aves, de quase 30 espécies diferentes. Atualmente vivem, o ano todo, cinco espécies de aves residentes: duas de atobás, uma de trinta-réis ou andorinha do mar e duas de viuvinhas, os atobás-de-patas-vermelhas e as fragatas vem de Fernando de Noronha para pescar. Além delas, 25 espécies migratórias fazem de Rocas um porto permanente. Passam por ali espécies originárias da Venezuela, da África e até maçaricos provenientes da Sibéria. Até o momento, nenhuma espécie potencialmente predadora foi catalogada no Atol das Rocas.
O atol é também o paraíso de muitas espécies aquáticas. Por se tratar de uma montanha isolada, em meio a mares profundos e afastados da costa, ele é ideal para peixes de todos os tamanhos, moluscos, algas, crustáceos e tartarugas. Quase cem espécies de algas, 44 de moluscos, 34 de esponjas, sete espécies de coral e duas espécies de tartarugas já foram ali identificadas. Entre os 24 crustáceos, destacam-se o caranguejo terrestre e o aratu, que somente habitam ilhas oceânicas.
Em Rocas foram ainda catalogadas quase 150 espécies de peixes diferentes, entre os sargos, garoupas e xaréus. Mas apenas duas dessas espécies, o gudião e a donzela são exclusivas da região, que abrange o Atol das Rocas e o Arquipélago de Fernando de Noronha, o tubarão-limão, uma espécie rara em Rocas tem motivado estudos de vários cientistas brasileiros e estrangeiros, a espécie passa o início da vida em cardumes, na laguna e nas piscinas do atol.
De um branco característico, as areias do Atol das Rocas são classificados como falsas, pois derivam apenas do calcário moído de incontáveis fragmentos de conchas, ossos de aves e de peixes e de detritos vegetais (esqueletos de seres chamados vermetos), que ocuparam as rochas vulcânicas, estabilizando a faixa de recifes emersa, geralmente na forma de um círculo ou semicírculo, com uma lacuna no meio. Em Rocas, as areias acumularam-se em duas faixas, em forma de anel aberto, compondo a Ilha do Farol e a Ilha do Cemitério, já citadas anteriormente.
Na maré alta, as duas ilhas ficam emersas. Já na maré baixa surgem na área interior do atol várias piscinas naturais, de tamanhos e profundidades variadas, que funcionam como berçários para diversas espécies marinhas.
O Atol das Rocas é a primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil criada no Brasil, em 5 de junho de 1979, pelo Decreto-lei n.º 83549, constituindo-se desse modo numa reserva biológica em que a única atividade humana permitida é a pesquisa científica.
VÍDEOS:
OUTRAS IMAGENS
Reserva Biológica do Atol das Rocas - Rio Grande do Norte - Brasil
Foi a primeira unidade de conservação marinha criada no Brasil, em 1979. Situa-se a 144 milhas náuticas de Natal/RN e a 80 milhas náuticas do arquipélago de Fernando de Noronha. Circundado por um anel de arrecifes contendo duas pequenas ilhas e uma laguna central, é o único atol no Atlântico Sul.
Com 7,2km2 de superfície e 3,2km de diâmetro, é um recife semi-circular composto por esqueletos calcáreos de algas, corais e moluscos. A área da reserva é de 360 quilômetros quadrados, incluindo o atol e toda a área marinha em volta, até a profundidade média de mil metros.
Rocas é a segunda maior área de reprodução da tartaruga-verde (Chelonia mydas) do país, depois da ilha de Trindade, no Espírito Santo. Além das juvenis dessa espécie, também abriga a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), que utiliza essas águas para abrigo e alimentação.
A temporada de reprodução ocorre de dezembro a julho, quando se registram em média 400 desovas, com geração de 35 mil filhotes. As águas cristalinas e abrigadas do interior do atol formam verdadeiras piscinas naturais que facilitam o trabalho de monitoramento das tartarugas marinhas através do mergulho.
Neste local, podem ser capturadas para estudo com relativa facilidade, em diferentes estágios de vida - inclusive os machos, que normalmente não sobem às praias -, possibilitando a coleta de dados. O trabalho de pesquisa e monitoramento das tartarugas marinhas é executado pela equipe da Reserva Biológica do Atol das Rocas/ICMBio.
Fonte: Tamar
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