Por eu facilmente ficar chateado e agitado, isso mostra que não tenho a mente de renúncia. A mente de renúncia de certo modo é bem simples. Temos mente de renúncia quando compreendemos que tudo isso não é grande coisa. Alguém pisa em seu dedão, qual a grande coisa aí? Quanto mais nos acostumarmos com essa ideia, mais temos mente de renúncia. Pelo menos, tento ver por que transformo tudo em uma coisa tão grande. Estou meramente dando a você um modelo de como invocar a mente de renúncia.
É um pouco como esse exemplo. Estamos andando nesse deserto por tanto tempo, e tudo que jorra, que é aquoso, é tão importante para nós. Mesmo se vermos uma miragem, nosso único desejo é se aproximar da água sem jamais compreender que é só uma miragem. Se você não sabe que é uma miragem e vai até lá, tudo que você obtém é um grande desapontamento. Então, saber que é só uma miragem é a mente de renúncia. [...]
A renúncia de algum modo tem essa conotação de abrir mão de algo. Mas é como o exemplo da miragem. Você não pode abrir mão da água porque não há nenhuma água; é só uma miragem. Além disso, você não precisa abrir mão de uma miragem porque qual é o sentido de abrir mão de uma miragem? A pessoa simplesmente só precisa saber que é uma miragem. Tal compreensão é uma grande renúncia. No momento que você sabe que é uma miragem, o mais provável é que você nem vá até lá porque sabe que é falso; ou mesmo que vá, não há desapontamento, porque você já sabia o que havia ali. No mínimo, você terá só um pequeno desapontamento. É por isso que Jamgon Kongtrul disse que a mente de renúncia é como uma fundação. [...]
A mente de renúncia não tem nada a ver com sacrifício. Como já mencionei, quando falamos sobre renúncia, de algum modo ficamos todos assustados porque pensamos que temos que abrir mão de alguns bens, algo valioso, algumas coisas importantes. Mas não há nada que é importante; não há nada que solidamente exista. Tudo que você está abrindo mão é, na verdade, uma vaga identidade. Você compreende que isso não é verdadeiro, não é absoluto; é esse o modo e o porquê de desenvolver renúncia.
Dzongsar Khyentse Rinpoche (Butão, 1961 ~):
“Dzogchen Primer”, 45-53
(citado por Marcia Dechen Wangmo, em “Confessions of a Gipsy Dakini“)
(citado por Marcia Dechen Wangmo, em “Confessions of a Gipsy Dakini“)
Fonte:http://darma.info/
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