Shangri-la, da criação literária de 1925 do inglês James Hilton, Lost Horizon (Horizonte Perdido), é descrito como um lugar paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, com a convivência harmoniosa entre pessoas das mais diversas procedências. Shangri-la será sentido pelos visitantes ou como a promessa de um mundo novo possível, no qual alguns escolhem morar, ou como um lugar assustador e opressivo, do qual outros resolvem fugir. O romance inspira duas versões cinematográficas nas décadas seguintes.
No mundo ocidental, Shangri-la é entendido como um paraíso terrestre oculto.
Shambhala, Shambala, Shamballa ou Sambala é um local místico citado amiúde em textos sagrados e presente em diversas tradições do Oriente. Depois da divulgação do termo no ocidente tornou-se conhecida em círculos esotéricos e penetrou até a cultura popular.
A tradição oriental
No budismo tibetano, Shambhala é um reino mítico oculto algures na cordilheira do Himalaia ou na Ásia central, próximo da Sibéria. É mencionado no Kalachakra Tantra [1] e nos textos da cultura Zhang Zhung, que antecedeu o Budismo no Tibete ocidental. A religião Bön o chama de Olmolungring [2].
Shambhala significa em sânscrito "um lugar de paz, felicidade, tranqüilidade", e acredita-se que seus habitantes sejam todos iluminados. A linha Tantra afirma que um dos reis de Shambhala, Suchandra, recebeu de Buda o Kalachakra Tantra, e que este ensinamento é lá preservado. Segundo esta tradição, quando o Bem tiver desaparecido de sobre a Terra, o 25º rei de Shambhala aparecerá para combater o Mal e introduzir o mundo em uma nova Idade de Ouro.
Shambhala também é associada ao império histórico Sriwijaya, onde o mestre Atisha estudou sob Dharmakirti e recebeu a iniciação Kalachakra. Também é considerada a capital do Reino de Agartha, constituído, segundo as cosmologias do taoismo, hinduismo e budismo, por oito cidades etéricas.
Inspiração para a criação literária do inglês James Hilton Lost Horizon (1925), passa a ser também conhecida e referida como Shangri-la[3]
Entre os hinduístas o nome é mencionado nos Puranas como sendo o lugar de onde surgirá o avatar Kalki , que libertará a Terra das forças disruptivas e restabelecerá a Lei Divina [4]
Como outros conceitos religiosos, Shambhala possui um significado oculto e um manifesto. A forma manifesta tem Shambhala como um local físico, embora só podendo ser penetrado por indivíduos cujo bom karma o permite. Estaria em algum ponto do deserto de Gobi, ladeada pela China a leste, Sibéira ao norte, Tibete e Índia ao sul, Khotan a oeste [5]. A interpretação oculta diz que não é um lugar terreno, mas sim interior, comparável à Terra Pura do Budismo, de caráter mental e moral, ou a um estado de iluminação a que toda pessoa pode aspirar e alcançar [6].
Segundo os ensinamentos escritos e orais do Kalachakra, transmitidos ao explorador Andrew Tomas por Khamtul Jhamyang Thondup, do Conselho de Assuntos Religiosos e Culturais do Dalai Lama (em exílio na Índia desde a ocupação chinesa comunista de 1950 no Tibete), a aparência de Shambhala variaria segundo a natureza espiritual do observador: "por exemplo, certa ribeira, pura e simplesmente a mesma, pode ser vista pelos deuses como um rio de néctar, como um rio de água pelos homens, como uma mistura de pus e sangue pelos fantasmas esfomeados, e por outras criaturas como um elemento no qual se vive"[7].
Divulgação no ocidente
A idéia de uma terra de iluminados exerceu atração no ocidente desde sua difusão inicial no século XVII a partir de fragmentos do Budismo tibetano que conseguiram, através de exploradores e missionários, ultrapassar as usualmente fechadas fronteiras tibetanas, e da Teosofia, propagada pioneiramente por Helena Petrovna Blavatsky no século XIX.As primeiras informações sobre este lugar chegaram ao ocidente pelos missionários católicos João Cabral e Estêvão Cacella, que ouviram referências sobre Shambhala - transcrita como Xembala - e imaginaram que se tratasse de um nome alternativo de Catai, a China. Dirigindo-se ao Tibete em 1627, descobriram o equívoco e retornaram à Índia de onde haviam saído [8].
Em 1833 apareceu o primeiro relato geográfico sobre a região, escrito pelo erudito húngaro Alexander Csoma de Köros, que mencionou "um país fabuloso no norte, situado entre 45º e 50º de latitude norte".
No final do século Shambhala foi mencionada por Helena Petrovna Blavatsky em seus livros, e desde então se tornou um nome familiar no ocidente, disseminando-se entre os cultos esotéricos e estimulando expedições em tentativas de localização - Nicholas Roerich (1926), Yakov Blumkin (1928), Heinrich Himmler e Rudolf Hess (1930, 1934-35, 1938-39) [9] [10].
Shambhala foi mencionada diversas vezes por Blavatsky, que alegava estar em contato com alguns de seus habitantes, todos pertencentes à Grande Fraternidade Branca. Segundo a Teosofia, Shambhala é tanto um lugar físico como um espiritual. Teria sido antigamente uma ilha quando a Ásia central ainda era um mar, há milhões de anos, a chamada Ilha Branca, ou Ilha Sagrada, e teria sido ali que os Senhores da Chama, os progenitores espirituais da raça humana, liderados por Sanat Kumara, teriam chegado e se estabelecido, vindos de Vênus [11]. Atualmente a ilha seria um oásis no Deserto de Gobi, protegida de intrusos por meios espirituais [12]. Escolas derivadas da Teosofia fazem menções ainda mais freqüentes ao lugar, enfatizando sua natureza espiritual e localizando-a invisivelmente no plano etérico ou astral.
Shambhala também foi objeto de interesse escuso de ocultistas ligados ao Nazismo, que a viam como fonte de poder. A maciça maioria de referências literárias e testemunhos a descrevem como um lugar abençoado, que tem sido fonte de inspiração para abundante literatura, bem como associações com a cultura popular, como cenário ou tema de filmes, romances, músicas, documentários, histórias em quadrinhos e jogos.
Referências
- ↑ Fic, Victor M. The Tantra. Abhinav Publications, 2003, p.49.
- ↑ Kavǣrne, Per. The Bon Religion of Tibet. Shambhala, 1996
- ↑ 'Tomas, Andrew Shambhala. A misteriosa civilização tibetana. Lisboa, Bertrand, 1979, p52;213
- ↑ Blavatsky, Helena P. Glossário Teosófico. São Paulo: Ground, s/d.
- ↑ Tomas, Andrew., idem, p218
- ↑ Trungpa, Chögyam. Shambhala, The Sacred Path of the Warrior. Shambhala, 1988
- ↑ Tomas, Andrew., ibidem, pp217/218
- ↑ Bernbaum, Edwin. The Way to Shambhala. Los Angeles: Jeremy P. Tarcher, Inc. 1980-1989. pp. 18-19. ISBN 0-87477-518-3.
- ↑ Archer, Kenneth. Roerich East & West. Parkstone Press 1999, p.94
- ↑ Hale, Christopher. Himmler's Crusade. John Wiley & Sons, Inc. 2003
- ↑ Leadbeater, Charles. W. The Masters and the Path. Adyar: The Theosophical Publishing House, 1925-1927 [1]
- ↑ Besant, Annie. The Inner Government of the World. Adyar: The Theosophical Publishing House, 1920-1940 [2]
Bibliografia
- Berzin, Alexander. The Berzin Archives - Mistaken Foreign Myths about Shambhala. (2003). [3].
- Martin, Dean. Ol-mo-lung-ring, the Original Holy Place. In: Toni Huber (ed.). Sacred Spaces and Powerful Places In Tibetan Culture: A Collection of Essays. Dharamsala: The Library of Tibetan Works and Archives, 1999. pp. 125-153. ISBN 81-86470-22-0.
- Bernbaum, Edwin. The Way to Shambhala: A Search for the Mythical Kingdom Beyond the Himalayas. Nova Iorque: St. Martin's Press, 1980-1989. ISBN 0-87477-518-3.
- Jeffrey, Jason. Mystery of Shambhala. In New Dawn, No. 72 (maio-junho 2002).[4]
- Trungpa, Chogyam. Shambhala: The Sacred Path of the Warrior. Shambhala Publications. ISBN 0-87773-264-7
- Le Page, Victoria. Shambhala: The Fascinating Truth behind the Myth of Shangri-La. ISBN 0-8356-0750-X [5]
- Allen, Charles. The Search for Shangri-La: A Journey into Tibetan History. Little, Brown & Co. Reimpresso por Abacus, Londres. 1999-2000. ISBN 0-349-111421.
- Symmes, Patrick. The Kingdom of the Lotus. In Outside, Edição especial de 30 anos, pp. 148-187. Red Oak: Mariah Media, Inc. 2007.
- Tomas, Andrew Shambhala. A misteriosa civilização tibetana. Lisboa, Bertrand, 1979.
- Keown, Damien.Oxford Dictionary of Buddhism. Nova Iorque, Oxford University Press, 2003. ISBN 0-19-860560-9
- Nhât Hanh, Thích. Opening the heart of the Cosmos. Insights on The Lotus Sūtra. Califórnia, Parallax Press, 2003.
- Tomas, Andrew.Shambhala. A misteriosa civilização tibetana. Lisboa, Bertrand, 1979.
- Liisa Berg. Shangri-la[1]
- Lost Horizon, de James Hilton – quadrinização em inglês e filipino (1977) da coleção “National Classic Comics” - da National Book Store, Inc. – Manila, Filipinas[2]; Arte: Alfred C. Manuel.
- Hilton, James.Horizonte Perdido. Trad. Francisco Machado Vila e Leonel Vallandro. São Paulo, Abril Cultural, 1980.
EM RESUMO E COMO REFLEXÃO
Shambala ou Shangri-La
Existem duas versões segundo as quais SHAMBALA poderia ser um lugar físico ou bem corresponder a um lugar espiritual. Um lugar que está e não está, pois somente os que tem o coração puro poderiam ter acesso a ele. Seria um lugar fonte de sabedoria e juventude com um micro-clima cálido e fértil rodeado de montanhas nevadas. Perfeita paz e harmonia com a natureza. Segundo as versões que o consideram um lugar físico, mais ou menos inaccessível, possuiria também uma avançada tecnologia.
Na Índia se considera um lugar perdido no Himalaia, entre os chineses estaria situado num ponto dos montes Kunlun. Madame Blavatsky, a fundadora da sociedade teosófica, escreveu sobre o lugar contando que era a residência da Grande Fraternidade de Mestres Espirituais, os quais guiariam e protegeriam a humanidade de maneira mais ou menos clandestina e indireta.
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Relacionado também com o reino de Agarta, lugar subterrâneo sede do “Rei do Mundo”, que estaria em comunicação com SHAMBALA por túneis subterrâneos com saída em todos os continentes. Entre elas as principais estariam nos pólos norte y sul, na grande pirâmide do Egito, Mongólia, nas cataratas de Foz de Iguaçu , na região do Mato Grosso e no Himalaia (Tibet).
No Tibet sua lenda teria matizes espirituais relacionados com o budismo. Um lugar fonte de sabedoria, paz e prosperidade com governantes justos e bondosos e uns cidadãos igualmente evoluídos espiritualmente. Conta-se que o Buda Shakyamuni transmitiu seus ensinamentos (recolhidos no Kalachakra Tantra) ao primeiro rei de SHAMBALA. Depois do rei todos seus cidadãos começaram a praticar a meditação e a seguir o caminho budista e assim chegou a ser um lugar povoado por seres muito evoluídos.
Nesta tradição se fala de indicações, más o menos obscuras, para chegar a SHAMBALA, mas fica muito ambíguo si se trata de um lugar físico, o se trata somente de indicações simbólicas.
Outras versões contam que todos seus habitantes alcançaram à iluminação e nesse momento o reino desapareceu do plano físico para passar a existir numa dimensão espiritual. Seus governantes também velariam pelos assuntos da terra e algum dia regressariam para salvar a humanidade de sua possível destruição. Para o budismo tibetano a atual SHAMBALA seria sinônimo do caminho do guerreiro, estaria relacionado com a tradição do Samurai Japonês, dos índios norte americanos, dos Astecas e também com a busca do Santo Graal e o rei Arthur, inclusive coincidindo com a possível volta de um rei justo e sábio para governar o mundo.
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