A SABEDORIA ESSENCIAL DO BUDISMO

           
  
 A Sabedoria Essencial do Budismo



"O bodisatva nasce do amor e da compaixão"

P. No pequeno veículo da salvação pessoal, o "Nirvana" (A liberação) é uma das quatro Nobres Verdades, mas isto parece menos importante no Grande Veículo .
R. Sim. Existem dois extremos, a existência mundana e a Liberação "Nirvana". A primeira é completamente envolvida no sofrimento e a outra vai completamente além dele.
O Grande Veículo ensina que nós não devemos entrar em nenhum dos dois, Em vez disso seguir o Caminho do Meio, o que significa que, através do poder da sabedoria não devemos permanecer na existência mundana e devido ao poder da compaixão não devemos permanecer na Liberação "Nirvana". Se você permanece na Liberação não pode ser ativo, não pode ajudar os outros seres: Você mesmo estará completamente livre do sofrimento, mas não haverá nada que possa fazer pelos outros. [a não ser pelo exemplo de sua vida]
Atingindo a iluminação, a qual nós chamamos de Grande Liberação, você não apenas estará livre do sofrimento, como também poderá ajudar imensamente a todos os seres sencientes. Esta é a principal diferença.
P. Quais são as principais práticas do Mahayana?
R. Existem três práticas principais: Amor, Compaixão e Mente de Iluminação. Amor significa que você deseja que cada ser senciente em todos os seis níveis de existência estejam felizes. E Compaixão é o desejo de que todos os seres em sofrimento saiam de seu sofrimento. A Mente de Iluminação significa, falando de maneira genérica, o desejo de atingir a iluminação pela salvação de todos os seres sencientes. Esses três são muito importantes. Sem Amor e Compaixão a Mente de Iluminação não vai nascer e, sem Mente de Iluminação você não pode atingir a Iluminação.
Desta forma Amor e Compaixão são necessários. Mas de todos a Compaixão tem particular importância. É dito que ela é a raiz do Grande Caminho no princípio, a água que faz a semeadura crescer no meio, e o amadurecimento do fruto no fim. Desta forma a compaixão está no princípio, no meio e no fim, ela é muito importante. Por essa razão, quando Chandrakirti escreveu o Madhyamakavatara, precedeu o trabalho com uma homenagem à Compaixão. "O Budha", disse ele, "nasce do Bodhisattva e o Bodhisattva nasce do Amor e Compaixão, mas especialmente da Compaixão". A principal causa do grande Veículo é a Compaixão.
P. Como devemos praticá-la?
R. Primeiramente é necessário o estudo, depois a meditação. Visualize aquelas pessoas que lhe são caras e deseje para elas a felicidade e que estejam livres do sofrimento: então reze para que você possa ter o poder de realizar isso para elas, que seja capaz de fazer isto. Então medite naqueles que não estão próximos de você e finalmente em todos os seres sencientes. De fato você deve começar lembrando-se das Quatro Recordações, depois tomar Refúgio, então visualizar sua mãe e pensar muito claramente com muitos detalhes, os mais elaborados, em sua bondade para com você, no cuidado que ela teve para com você. Então compreenda que ela ainda está sofrendo e criando as causas do sofrimento; assim o desejo de ajudá-la vai nascer e, quando você desejar socorre-la do sofrimento, vai nascer a Mente de Iluminação. Finalmente reze ao Guru e à Jóia Tríplice para que ela possa ser feliz e livre de sofrimento. Depois pense no seu pai, em outros seres e em seus piores inimigos como estão criando estados de grande sofrimento. E assim medite em todos os seres dos seis reinos até que nasça naturalmente o amor para com eles sem nenhuma reserva. Finalmente deseje que todos os méritos acumulados através disto possa beneficiar todos os seres sencientes igualmente: esta distribuição de mérito conclui qualquer meditação.
A Compaixão tem a maior importância e deve ser praticada o maior número de vezes possível. Ela deve tornar-se completamente instintiva. Avalokitesvara, o Senhor da Compaixão, disse num Sutra, "Aquele que desejar alcançar a iluminação não deve praticar muitas coisas, mas apenas uma, e esta é a Compaixão". A prática de Compaixão é de três maneiras: Compaixão dos Seres é o desejo de que primeiramente sua mãe e depois todos os ilimitados seres sencientes estejam livres do sofrimento, e o desejo de que você seja capaz de ajudá-los. Compaixão do Samsara é o desejo de que os seres sencientes abandonem a raiz do sofrimento, já que a raiz do sofrimento é a ignorância. A terceira prática é chamada Compaixão sem objetivo. Você tem que compreender que, realmente, todos os seres sencientes não existem mas, devido à ignorância do Real, estão muito apegados ao ego e isto causa para eles o sofrimento.
P. Os seres sencientes não existem realmente?
R. Não. De fato os seres sencientes não existem, mas através de seus apegos ao ego nascem aparências ilusórias. No momento em que você deseja alguma dessas aparências. Passa a ter também aversão por outras, e logo que você ignorantemente acredita nelas como realmente existentes você está preso no círculo vicioso que é a Existência Mundana.
A terceira prática é a Mente de Iluminação, que é a prática mais importante. Falando de maneira genérica, existem duas mentes de iluminação, a Relativa e a Absoluta.
A Mente de Iluminação Relativa também tem duas partes que se chamam "Aspirante" e "Entrante". A mente de iluminação Aspirante tem aspiração, o desejo de atingir a iluminação por todos os seres sencientes, e isto é como o desejo de fazer uma viagem. A mente de iluminação Entrante é como fazer tal viagem: todas as coisas que você realmente faz tem o propósito de atingir a Iluminação. Esta Mente inclui todas as práticas budistas como as Seis Paramitas de doação, conduta moral, paciência, vigor, meditação e sabedoria. Finalmente a Mente de Iluminação Absoluta é a compreensão da verdadeira natureza de todas as coisas, o que é chamado de Vacuidade. (Sunyata)
Compreender isto é Mente de Iluminação Absoluta.
P: Como podemos entender a Vacuidade?
Vacuidade é apenas um nome. O que não significa que todas as coisas sejam vazias ou vácuo.
Todas as religiões tentam explicar a natureza dos fenômenos, mas todas chegam à conclusão de que alguma coisa existe, seja positiva, seja negativamente. Normalmente as pessoas não pensam muito acerca dos fenômenos e suas origens, mas a maior parte das pessoas espirituais sim, e buscam saber por que as coisas existem e de onde elas vêem. A conclusão Cristã é de que todas as coisas foram criadas por Deus. Uma Escola Budista antiga, a Sarvastivada, concluiu que, ainda que as coisas grosseiras realmente não existem, átomos —tão pequenos que não têm lados voltados para qualquer direção — existem como elementos básicos. A Escola mais avançada do Budismo, a Vijnanavada, decidiu que de modo último iiada existe externamente e que as coisas que nós parecemos perceber são apenas projeções mentais. Igualmente, quando os filósofos Madhyamika examinaram os fenômenos, todas as coisas pareciam desaparecer e eles não puderam achar nada. Eles não se satisfaziam com a explicação de que Deus criou tudo, ou de que pequenos átomos existem, e eles raciocinaram que era impossível à mente subjetiva existir se os objetos não existissem, já que mente e objeto são interdependentemente inseparáveis como direita e esquerda. Assim, se não existe substância externa, não pode haver a mente. A Madhyamika concluiu, após muito exame cuidadoso, que não existe nada, de modo último, que possa ser tido como uma realidade existente. Positivamente as coisas não podem ser descobertas, negativamente as coisas não podem ser descobertas, nada pode ser aceito como uma realidade existente porque a verdadeira natureza de todas as coisas está além da existência e não-existência, além do pensamento e inexpressável. Shantideva disse, "O Absoluto não é um objeto da mente; está além da mente. E ai g uma coisa que você não pode descrever; é o prodígio do incompreensível". Entretanto, quando nós falamos destas coisas, não temos um nome para elas, e assim nós as chamamos de Vacuidade, mas realmente Vacuidade não é alguma coisa que possa ser nomeada, ela é inexpressável.
Claro, isto de um modo "último". Relativamente falando, a Madhyamika aceita o que as pessoas normalmente aceitam, mas os escritos desta Escola mostram uma experiência da inexpressibilidade de todas as coisas.
P. Não é esta crítica dos fenômenos meramente um paradoxo lógico? Tem isso algum propósito na vida diária?
R. Claro que sim. Quando você compreende a Realidade Ultima, você está livre do sofrimento. Nós estamos em sofrimento porque não estamos despertos desta ilusão relativa. Nós estamos envolvidos nesta ilusão relativa e, devido a isto, tomamo-la como real; tomando-a como real, agimos e por isso sofremos e criamos mais causas de sofrimento.
P. Assim o principal ponto é apego?
R. Quando você não se apega às coisas como reais, você já não cria as causas do sofrimento.
P. Este é um assunto de meditação?
R. Existem muitas meditações sobre isto no Grande-Veículo, e especialmente no Veículo Tântrico. Nós temos de compreender que o sofrimento vem do mau Carma, o qual nasce da corrupção, e que a corrupção nasce do ego. Se estamos iludidos, podemos pensar que um rolo de corda é uma serpente; fazemos isto na suposição de que o eu exista. Quando você tem "eu", tem de haver "outro"; quando existe "outro", existe o desejo pelo "eu", e aversão pelo "outro", e isto leva a mais ilusão e obscuridade da verdadeira natureza. A Mente de Iluminação é a melhor maneira de arrancar a errônea noção do eu. De que maneira existem outros seres diferentes de você? Tente primeiro vê-los como iguais a si próprio e amá-los mais do que você se ama a si próprio, até que você possa amar os outros seres mais do que a si próprio. Tente constantemente desejar que, por mais que você esteja sofrendo, mesmo assim que todo o sofrimento dos outros seres venha para dentro de você, e que todas as suas causas de felicidade sejam doadas para eles. E você pode desejar sempre que o mérito conseguido através disto seja em benefício de todos os seres.
A prática para compreender Vacuidade, a Mente de Iluminação Absoluta, tem duas partes: a prática da concentração e a análise da experiência, a qual nos mostra claramente a experiência Madhyamika. Mas estas práticas necessitam algumas explanações mais extensas, e eu não poderia tratar deste assunto adequadamente agora. Mas, antes de cada prática, você deve tomar Refúgio e depois distribuir os méritos.
P. Se coisas e mente não existem, o que são as aparências? Quando elas começaram e quando elas terminam?
R. Elas não começaram. Existe um fim, contudo, quando você atinge a Iluminação. Isto tudo é uma ilusão, não é real, como um sonho. Onde os sonhos nascem? Para onde eles vão? Isto é assim. É um longo sonho.
P. Assim, o que são as aparências?
R. Um longo sonho.
P. Amor e Compaixão são coisas boas, mas não existe um ponto em que é melhor ter raiva das pessoas? A raiva é alguma vez justificável?
R. Talvez, se a intenção é branca, ainda que a ação seja negra. Mesmo que você tenha raiva, se é com o pensamento de beneficiar o ser, sua raiva nasce da compaixão, e tudo o que nasce da compaixão é bom. Se a raiz é medicinal, mesmo que o fruto pareça ser mau, ele será medicinal.
P. Frequentemente se pensa que o Budismo leva ao negativo e ao comportamento passivo.
R. E verdade, se você entra e permanece em Liberação. Mas se você entra no Grande Veículo, em lugar do egoístico desejo de quiescente liberação, você possui compaixão que é o desejo ativo pelo benefício de todos os seres.
P. O Budismo é algumas vezes dito ser ateísta porque assegura que não existe Deus.
R. O Budismo não acredita num deus como criador do mundo e, neste sentido, você pode dizer que é ateísta. Se, entretanto, Deus é alguma coisa mais, uma compaixão divina ou uma sabedoria divina, manifesta em forma de uma deidade, você pode dizer que o Budismo não éateísta, mas politeísta.
P. Se realmente não existe eu, então o que renasce?
R. O contínuo da mente, a serial corrente mental da pessoa e o resultado de suas ações dão origem a um novo ser. Em todo caso o renascimento é uma verdade relativa. A interpretação da verdade relativa difere de escola para escola, de religião para religião. A Madhya,n ika acredita ser relativo o que quer que nós vejamos sem examinar: o ponto de vista do comum das pessoas. Relativamente existe renascimento, mas não ultimamente.
R. Claro que é budista: é o real significado dos Sutras Prajnaparamita, onde claramente se diz que quem seguir os extremos nunca estará livre do sofrimento, Os extremos são o positivo e o negativo, de acreditar na existência ou na não-existência, e assim por diante. A filosofia é desenvolvida a partir dos Sutras, que foram pronunciados pelo Buda.

P. Se nós não aceitamos a existência dos seres, já que todas as coisas são vazio, por que razão temos de ter compaixão por eles?

R. Tudo não é apenas vacuidade; vacuidade é também uma visão errônea, é um extremo. A verdadeira natureza das coisas está longe dos extremos. Para compreender isto, você tem de acumular uma grande soma de mérito e a melhor maneira de fazê-lo é praticar amor e compaixão por todos os seres. Enquanto este mérito não for acumulado, a compreensão da vacuidade não vai nascer.

P. Como nasceu a filosofia "Madhyamika"? Não foi depois da época do Buda?


Fonte:http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=953


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