O VERDADEIRO AMOR - THICH NHAT HANH (VÍDEO)




A Linguagem do Verdadeiro Amor

Praticamos com nossa família e praticamos com os amigos que compartilham a nossa espiritualidade porque não é fácil alcançarmos sozinhos o sucesso. Precisamos de aliados. No passado, causamos sofrimento uns aos outros, empreendendo juntos a escalada da raiva. Agora queremos ser aliados para cuidar bem da nossa tristeza, raiva e frustração. Queremos negociar uma estratégia de paz.

Inicie uma negociação de paz com a pessoa que você ama: "Meu amor, causamos muito sofrimento um ao outro no passado. Ambos fomos vítimas da nossa raiva. Criamos um inferno mútuo. Agora, eu quero mudar. Quero que nos tornemos aliados, para que possamos proteger um ao outro, praticar os ensinamentos e transformar nossa raiva juntos. Vamos construir uma vida melhor a partir de agora, baseada na prática da plena consciência. Meu amor, preciso da sua ajuda. Necessito do seu apoio. Preciso da sua colaboração. Não posso ter êxito sem você."

Diga essas palavras para seu parceiro, seu filho, sua filha, seus pais, seus irmãos, seus amigos. Está na hora de tornar essa atitude, pois ela representa o despertar e o amor. Você pode alcançar um pouco de iluminação escutando durante cinco minutos uma palestra sobre o darma. Mas é indispensável manter essa iluminação na vida cotidiana, levando-a para casa e aplicando-a no seu dia-a-dia. À medida que a iluminação cresce em você, a confusão e a ignorância têm que se retirar. A iluminação influenciará seu pensamento, seu corpo e seu modo de viver. Por isso, é extremamente importante que você se volte para a pessoa que você ama e negocie uma estratégia de paz, uma estratégia de consumo, uma estratégia de proteção. Para ter sucesso nessa negociação, e para que os dois parem de causar sofrimento um ao outro, você precisa usar o que tem de melhor: seu talento, suas habilidades. Você quer recomeçar, você deseja se transformar. Cabe a você convencer a outra pessoa.

Conheço um jovem americano que não falava com o pai havia cinco anos. A conversa entre os dois tornara-se totalmente impossível. Certo dia, o jovem entrou em contato com o darma e este exerceu um forte impacto sobre o rapaz. Ele quis começar tudo de novo, mudar de vida. Assim, decidiu se tornar monge. Desde o dia em que veio para o nosso centro, ele praticou a respiração e o consumo consciente, a meditação andando, a meditação sentada, e participou de todas as atividades do sangha.

Graças a esse tipo de vida, no qual fez as pazes consigo mesmo, ele foi capaz de escrever todas as semanas para o pai. Sem esperar receber nenhuma resposta, descreveu sua prática e as pequenas alegrias que experimentava todos os dias, Seis meses depois, pegou o telefone e inspirou e expirou conscientemente, o que o ajudou a permanecer calmo. Discou o número e o pai atendeu. Ele sabia que o filho havia se tornado monge e estava muito zangado por causa disso, de modo que a primeira coisa que disse foi: "Você ainda está com aquele grupo? Você ainda é um monge? Que futuro você tem pela frente?" O jovem respondeu: "Meu pai, meu maior desejo no momento é estabelecer um bom relacionamento entre nós. Isso me faria muito feliz. É o que há de mais importante para mim no momento. Ser capaz de me comunicar com você para que possamos nos aproximar de novo é minha única preocupação. Isso é mais importante para mim do que qualquer outra coisa, inclusive o meu futuro."

O pai permaneceu em silêncio durante um longo tempo. O jovem monge apenas continuou a acompanhar a própria respiração. Finalmente, o pai disse: "Tudo bem, eu concordo. Isso também é importante para mim." A raiva, portanto, não era a única coisa que o pai sentia pelo filho, Em muitas das cartas, o rapaz escrevera a respeito das boas lembranças e de tudo o que percebia de positivo no pai. A partir daquele dia, o pai passou a telefonar para ele todas as semanas. A comunicação foi restabelecida, e a felicidade do pai e do filho se tornou uma realidade.

Como já disse, antes de fazer profundas modificações na nossa vida, temos que examinar nossa alimentação, nosso modo de consumir. Temos que parar de consumir as coisas que nos envenenam e intoxicam. Essa prática ajudará para que o melhor em nós venha à tona e deixemos de ser vítimas da raiva ou da frustração.

Vale a pena repetir que tudo é possível quando a porta da comunicação está aberta. Precisamos nos dedicar à prática de abrir e restabelecer a comunicação. Expresse sua disposição, seu desejo de fazer as pazes com a outra pessoa. Peça a ela que lhe dê apoio. Diga a ela, como fez o jovem com o pai: "A comunicação entre nós é a coisa mais importante para mim. Nosso relacionamento é o que há de mais precioso para mim, nada é mais importante." Deixe isso bem claro e peça apoio.

Comece a negociar uma estratégia, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance. Dê o máximo de si. Não espere. Não apresente condições, dizendo: "Se você não fizer um esforço para que nos reconciliemos, eu também não farei." Isso não funciona. A paz, a reconciliação e a felicidade começam com você.

É errado pensar que, se a outra pessoa não mudar nem melhorar, nada pode ser modificado. Existem sempre maneiras de criar mais alegria, paz e harmonia, e você tem acesso a elas. A maneira como você anda, respira, sorri, o modo como reage, tudo é muito importante. Você precisa começar a fazer isso.

Existem muitas maneiras de se comunicar, e a melhor delas é demonstrando que você não guarda nenhum sentimento de raiva ou reprovação. Você mostra que entende e aceita a outra pessoa, e transmite isso a ela não apenas através de palavras, mas também com o seu jeito de ser com os olhos cheios de compaixão e as ações repletas de ternura. O fato de você ser uma pessoa renovada e de sua companhia ter se tornado agradável já muda muita coisa. Todos começam a sentir desejo de se aproximar de você. Você se torna uma árvore cuja sombra é fresca, um riacho de água cristalina. As pessoas terão vontade de se aproximar porque sua presença é estimulante e agradável. Quando você começa a mudar, torna-se capaz de restabelecer a comunicação, e a outra pessoa naturalmente se modifica.

Dizemos à pessoa que amamos: "Meu amor, causamos muito sofrimento um ao outro no passado porque nenhum de nós dois era capaz de lidar com a raiva. Agora temos que criar uma estratégia para cuidar bem da nossa raiva." O darma é capaz de remover o calor da raiva e a febre do sofrimento. Ele é uma sabedoria que consegue trazer paz e alegria para o aqui e agora. Nossa estratégia de paz e reconciliação deve se basear nesse conhecimento.

Quando a energia da raiva vem à tona, é comum querermos expressá-la para punir a pessoa que julgamos ser a causa do nosso sofrimento. Esta é a energia do hábito que existe dentro de nós. Quando sofremos, sempre culpamos o outro por nos ter feito sofrer. Não compreendemos que, em primeiro lugar, a raiva é problema nosso. Somos basicamente responsáveis por ela, mas ingenuamente acreditamos que sofreremos menos se pudermos dizer ou fazer alguma coisa para punir a outra pessoa. Este tipo de crença deve ser afastado, porque tudo que dizemos ou fazemos quando estamos com raiva só causa mais danos ao relacionamento. Em vez disso, devemos tentar não fazer ou dizer nada quando estamos zangados.

Quando você fala alguma coisa realmente desagradável, quando você diz algo para revidar, sua raiva aumenta. Você causa sofrimento à outra pessoa e ela provavelmente dirá ou fará alguma coisa para se ver livre do sofrimento. E assim o conflito vai ficando cada vez mais intenso. Como isso aconteceu tantas vezes no passado, você conhece bem esse aumento da raiva e do sofrimento, mas ainda não aprendeu nada com eles. Tentar punir a outra pessoa só vai piorar a situação.

Castigar a outra pessoa é autopunição. Este fato é verdadeiro em todas as circunstâncias. Toda vez que os Estados Unidos tentam punir o Iraque, não apenas o Iraque sofre, mas os Estados Unidos também. Isso também acontece entre judeus e palestinos, muçulmanos e hindus, entre você e a outra pessoa. Sempre foi assim. Vamos então despertar e nos tornar conscientes de que castigar o outro não é uma estratégia inteligente. Use sua inteligência, e converse com a outra pessoa para chegarem a um acordo sobre uma estratégia comum destinada a cuidar da raiva. Tornem-se ambos conscientes de que punir um ao outro não resolve nada, e prometam um ao outro que, cada vez que ficarem zangados, vocês não dirão nem farão nada motivados pela raiva. Em vez disso, cuidarão da raiva, voltando-se para dentro de si mesmos praticando a respiração e o andar consciente.

Aproveitem os momentos em que estiverem felizes juntos para assinar o contrato, o tratado de paz, que é um tratado de amor verdadeiro. Esse tratado de paz deve ser redigido e assinado com base no amor, e não como um tratado de paz assinado por partidos políticos. Estes fundamentam seus acordos apenas nos interesses de cada país, mas ainda estão repletos de desconfiança e de raiva. O seu tratado de paz deve ser um tratado de puro amor.

Do livro “Aprendendo a lidar com a raiva”  de Thich Nhat Hanh





VÍDEO-Thich Nhat Hanh 1 2011-O Verdadero Amor




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