VEM.CONVERSEMOS ATRAVÉS DA ALMA : O CONVITE POÉTICO DE RUMI



A poesia abaixo é uma das preciosidades do poeta e mestre sufi persa Jalāl ad-Dīn Muḥammad Rūmī (1207-1273), ou somente Rumi, considerado o poeta mais traduzido para o idioma inglês e o maior poeta persa da história. O livro “Poemas Místicos” é uma coletânea de 79 poemas extraídos de uma coleção de mais de 5 mil, criados a partir de um encontro iluminado de Rumi com seu mestre Shams ud-Din de Tabriz – o mesmo mestre que transformou a vida de Rumi no primeiro encontro, indicado como tendo acontecido em 15 de novembro de 1244 (Wikipedia), e que teria tirado Rumi da vida de professor e jurista e o colocado na vida asceta.
Embora a tarefa de descrever a presença da alma ou a comunicação que acontece além dos sentidos seja difícil, Rumi faz um belo esforço nesse poema, e fala ao coração pedindo um tempo à visão e à fala, e confiança na sabedoria que acontece além. O livro “Poemas Místicos” está na Coleção de Trabalhos Representativos da UNESCO, na seção da Herança Persa.

Rumi nasceu onde hoje é território do Afeganistão, no início do século XIII. Seu pai era doutor da lei muçulmana e também místico e pregador, tendo Rumi crescido em um ambiente espiritualizado onde conviviam diversas culturas.

Aos 37 anos, Rumi já possuía grande reputação como mestre e profundo conhecedor de filosofia, teologia, poesia clássica e jurisprudência. Nesta época ele conhece o dervixe errante Shams (Sol) de Tabriz, este já idoso, uma personificação do amor. Fundidos em êxtase Rumi e Shams passam meses em profunda comunhão mística. É para seu mestre e companheiro que Rumi irá dedicar uma monumental obra poética conhecida como Diwan de Shams de Tabriz.

Após a morte de Shams, Rumi já um dervixe, cantor extático, ébrio de Deus, irá encontrar a companhia de mais dois homens, que irão acompanhá-lo por dez anos cada um.
Sua obra totaliza mais de 50.000 versos, clássicos da poesia e da mística. O Amor é a grande tônica de sua portentosa obra, e muitas vezes não se pode mais distinguir onde acaba o amor humano e começa o divino, ou vice-versa; humano e divino se fundem numa grande e comovente canção de Amor.

GHAZAL 1540 (“Fountain of Fire”)
Por Rumi

Vem.
Conversemos através da alma.
Revelemos o que é secreto aos olhos e ouvidos.
Sem exibir os dentes,
sorri comigo, como um botão de rosa.
Entendamo-nos pelos pensamentos,
sem língua, sem lábios.
Sem abrir a boca,
contemo-nos todos os segredos do mundo,
como faria o intelecto divino.
Fujamos dos incrédulos
que só são capazes de entender
se escutam palavras e vêem rostos.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Como podes dizer à tua mão: “toca”,
se todas as mãos são uma?
Vem, conversemos assim.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma.
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma.
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.
~ Rumi

Fonte:Nando Pereira-http://dharmalog.com/

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