SOBRE CÃES E OUTROS BICHOS TERAPÊUTAS



Cães e outros bichos-terapeutas ajudam ser humano a cuidar da saúde

Nem só de cavalos é feita a terapia com animais. Outros seres de quatro patas (e até os duas asas) são usados para ajudar o ser humano a cuidar de sua saúde e a lidar com suas limitações.
O denominador comum a todas as terapias com bichos é a facilidade de estabelecer vínculos com os animais e o conforto emocional que eles trazem, segundo o fisioterapeuta Vinícius Ribeiro, diretor da ONG TAC (Terapia Assistida por Cães).

Juca Varella/Folhapress
Manoelina Santa Lúcia, 81, como a Boston-Terrier Madá, durante sessão de terapia com animais na associação Recanto da Vovó, em Cotia (SP)
Manoelina Santa Lúcia, 81, como a Boston-Terrier Madá, na associação Recanto da Vovó, em Cotia (SP)

As características de cada espécie são usadas para criar diferentes estratégias de tratamento. Por exemplo, aves, como o papagaio, são boas em terapias com autistas.
"A criança faz um ruído e a ave imita. É um retorno sensorial muito grande", diz a psicopedagoga Liana Santos.

Tartarugas entram em jogos de tabuleiro para ajudar casos de agitação excessiva e de ansiedade -e haja paciência para esperar o bicho percorrer as casas até chegar ao ponto estabelecido.
Coelhos anões são usados para desenvolver a coordenação motora: segurar aquela bolinha de pelos macia e que não para de se mexer é um ótimo exercício.
As grandes estrelas, no entanto, são os cães. Além da empatia fácil, o hábito cultural de tratar o cachorro "como gente" faz dele um mediador de conflitos.
"O animal é um catalisador de emoções, a pessoa expressa seus sentimentos por meio dele: diz que quem está triste, cansado, chateado é o cachorro", exemplifica Ribeiro.
Os cães também podem ser adestrados para objetivos terapêuticos específicos -de fazer fisioterapia com o paciente a reconhecer quando a pessoa precisa de afeto.
Em alguns países, há cachorros sendo treinados para serem cuidadores de idosos com Alzheimer. "Eles evitam, por exemplo, que a pessoa saia sozinha e se perca", conta Ribeiro.
A presença de um cão também provoca a liberação de hormônios ligados a sensações prazerosas.
"Estudos com autistas mostram que o convívio com o cachorro aumenta a liberação de oxitocina, hormônio ligado ao afeto e à interação social", diz o fisioterapeuta.
Nesse clima, até uma cansativa sessão de fisioterapia parece ser feita sem esforço. "Que criatura. A gente vê nos olhos dela que está gostando", diz Manuelina de Moraes Santa Lúcia, 81, beijando sua "treinadora", a pug Filó, 3, depois de passar quase uma hora fazendo exercícios com os cães da TAC.

Os efeitos conhecidos da equoterapia no tratamento de pessoas com deficiências estão atraindo novos adeptos para a técnica. Adultos e crianças que não têm limitações neuromotoras ou cognitivas, mas lidam com outras dificuldades da vida, como estresse, depressão, problemas na escola...


Efeitos rápidos da equoterapia atraem novo público
 

Mesmo para quem não enfrenta essas dificuldades, a técnica é usada como uma forma de preveni-las e, de quebra, dar um gás a mais para os neurônios.
"Andando a cavalo, a pessoa recebe de cerca de 2.000 novos estímulos cerebrais", afirma a fisioterapeuta Letícia Junqueira, que coordena sessões de equoterapia e equitação lúdica no Jockey Club de São Paulo.
AÇÃO CEREBRAL
O nome equitação lúdica é dado para diferenciar o trabalho feito com pessoas sem deficiência, mas o princípio de ação é o mesmo da equoterapia, tradicionalmente usada para reabilitação.
"Os ajustes corporais da pessoa para se adaptar aos desequilíbrios causados pelo deslocamento do cavalo mandam sinais nervosos pela medula espinhal até o sistema nervoso central. Isso gera a formação de novas células nervosas no cérebro", diz Junqueira.

Isadora Brant/Folhapress
Laura Chiavarelli, 2, pratica equitação lúdica no Jockey Club de São Paulo
Laura Chiavarelli, 2, pratica equitação lúdica no Jockey Club de São Paulo

A possibilidade de estimular precocemente as habilidades cognitivas de Laura, 2, atraiu sua mãe, a dermatologista e clínica-geral Ana Carolina Chiavarelli, 39.
Apesar de morrer de medo de montar a cavalo, Ana Carolina viu na equoterapia uma forma de evitar que Laura passe pelos mesmos problemas de rendimento escolar que os irmãos mais velhos (de 19 e quatro anos) tiveram.
"Quero que ela seja centrada, tenha atenção. Eu pesquisei a literatura e vi que o movimento do cavalo melhora a coordenação, a linguagem, o raciocínio. Estou apostando nisso para colher frutos quando ela começar a escolarização", diz Ana Carolina.
A cereja do bolo é que todo esse aprendizado é feito num ambiente muito diferente e muito mais prazeroso que uma sala de aula.
No caso de pessoas que precisam de tratamento, é uma vantagem imensa, segundo a psicopedagoga Liana Pires Santos, representante da Associação Nacional de Equoterapia em São Paulo.
"Tirar o paciente do consultório é um motivador e um alívio, tanto para ele quanto para a família", diz ela.

Outra motivação é a rapidez com que surgem os ganhos motores e psicológicos na equoterapia. "Com 12 sessões já fica evidente a melhora postural e de tônus muscular", afirma Santos.
Esses ganhos não se restringem ao aspecto corporal. "Todo ato motor envolve uma transformação psíquica", diz a psicopedagoga.

Aprumar as costas, entre outras coisas, eleva a autoconfiança e faz a pessoa respirar melhor -benefícios importantes nos tratamentos contra o estresse e a depressão, segundo a terapeuta ocupacional Luciane Padovani, do centro de equoterapia Camaster, em Salto, interior de São Paulo.

Editoria de arte/folhapress

CABEÇA ERGUIDA
O alívio veio a cavalo para Neil Anderson de Almeida Saubo, 36. Ele é o único caso conhecido na América Latina de uma doença raríssima de nome complicado (síndrome de Hallervorden-Spatz), que provoca rigidez e perda muscular irreversíveis.

Isadora Brant/Folhapress
Neil Anderson de Almeida, 36, em sessão de equoterapia em Santo André, SP
Neil Anderson de Almeida, 36, com o apalooza Snoob, em sessão de equoterapia em Santo André, SP

Quando começou a fazer equoterapia, há um ano, ele chegava à sessão semanal todo curvado, queixo no peito, mal conseguindo respirar.
Hoje, Neil aproxima-se com a cabeça erguida para acariciar o cavalo. Ao montar, ele mantém a coluna totalmente ereta.
Sua mãe, Valdete Saubo, 57, conta que foi ele quem pediu para fazer o tratamento, após ver uma reportagem sobre a terapia. Neil cursou até o segundo ano da faculdade de veterinária e tem paixão por três cês: "Corinthians, chocolate e cavalo".
A facilidade de criar vínculo afetivo com um animal ao mesmo tempo tão dócil e tão poderoso é outro facilitador do tratamento, segundo a fisioterapeuta Ariane Rego, do centro de equoterapia Cresa, na Grande São Paulo.


Isadora Brant/Folhapress
Samuel Sirqueira,5, com a fisioterapeuta Vanessa Brugiolo, faz exercícios em centro de equoterapia na Grande São Paulo
Samuel Sirqueira,5, com a fisioterapeuta Vanessa Brugiolo, faz exercícios em centro de equoterapia na Grande São Paulo

Para Samuel, 5, "Foi amor à primeira vista", diz a mãe, Ana Rosa de Sirqueira, 41.
Por causa da paralisia cerebral, o menino não conseguia nem sustentar a cabeça. Começou a fazer uma sessão semanal de equoterapia e, em poucos meses, teve um desenvolvimento "muito rápido, fora do normal", segundo conta a mãe.
Tanto para reabilitação quanto para outras finalidades, a recomendação é fazer uma sessão semanal, com 30 minutos de montaria. O custo é cerca de R$ 500 por mês. Alguns locais têm tratamento gratuito para deficientes (veja no site da Ande-Brasil).
ONDE ENCONTRAR
Ande- Brasil (Associação Nacional de Equoterapia)
www.equoterapia.org.br

Centro de Reabilitação Camaster
www.camasterequoterapia.wordpress.com

Centro de Reabilitação e Equoterapia Santo André
www.equoterapiasantoandre.com.br

Gati Equoterapia
www.lianaequoterapia.com.br

Jockey Club de SP - Letícia Junqueiraequoterapia@jockeysp.com.br


Cavalo entra no tratamento de doenças da moda, como hiperatividade

A equoterapia é reconhecida como ferramenta terapêutica pelo Conselho Federal de Medicina desde 1997, mas a difusão da técnica no Brasil é bem recente.
"Hoje temos quase 5.000 praticantes no Estado de São Paulo. Há cinco anos, não passavam de 1.500", diz a psicopedagoga Liana Santos, da Ande-Brasil (Associação Nacional de Equoterapia).
O número de profissionais que procuram especialização na área (entre fisioterapeutas, psicólogos e instrutores de equitação) também cresceu. Quando começou a dar os cursos de formação da Ande, em 2000, Santos tinha 250 alunos. Nos últimos quatro anos, formou mais de 7.000 especialistas.
O objetivo, agora, é incluir a equoterapia nos cursos regulares de fisioterapia e terapia ocupacional e nos planos de saúde, segundo Santos.
CONCENTRAÇÃO
"Terapia com bicho está na moda, as pessoas estão procurando mais tratamentos alternativos", acredita a terapeuta ocupacional Luciane Padovani.
A demanda também aumentou porque a técnica se mostrou eficaz para alguns distúrbios da modernidade. Em especial, o transtorno de deficit de atenção, que tem deixado pais e professores de cabelos em pé e causado polêmica em torno do uso ou não de medicamentos.
Uma característica da equoterapia que colabora no tratamento desses casos é o que especialistas chamam de conjunto "cavaleiro-cavalo".
Quem monta tem que se concentrar, ficar focalizado no cavalo, senão ele empaca. E é mais fácil exercitar a concentração quando a resposta (o que os psicólogos chamam de "feedback") é imediata.
"Essa resposta concreta faz toda a diferença quando queremos atuar nos comportamentos", diz Santos.

Fonte:IARA BIDERMAN
-http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/

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