RITOS DE PASSAGEM


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Ritos de passagem são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Os ritos de passagem podem ter caráter religioso, por exemplo. Cada religião tem seus ritos, sendo parecidos com de outras religiões, ou não.
O termo foi popularizado pelo antropólogo alemão Arnold van Gennep no início do século vinte. Outras teorias foram desenvolvidas por Mary Douglas e Victor Turner na década de 1960.
Os ritos de passagem são realizados de diversas formas, dependendo da situação celebrada; desde rituais místicos ou religiosos até assinatura de papéis (ou ainda os dois juntos).
Em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o indivíduo, representava igualmente a sua progressiva aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo, portanto tanto o cunho individual quanto o coletivo.
Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada dentro do próprio ambiente familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito, o recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral. Seu nome, previamente escolhido, era então pronunciado para ele pela primeira vez, de forma solene. Alguns anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia.
Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação, marcando o fato que, entrando no seu período fértil, estava apta a preparar-se para o casamento.
Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento em que ele fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ligadas, portanto, ao derramamento de sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela pessoa como membro produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade (pela procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã.
Variadas cerimônias marcavam, ainda, a idade adulta. Entre os nativos norte-americanos, algumas tribos praticavam um rito onde a pele do peito dos jovens guerreiros era trespassada por espetos e repuxada por cordas. A dor e o sangue derramado eram, dessa forma, considerados como uma retribuição à Terra das dádivas que a tribo recebera até ali. Outras cerimônias seguiam-se, ao longo da vida. O casamento era uma delas, e os ritos fúnebres eram considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no reino dos mortos e garantia o retorno futuro ao mundo dos vivos.
Todas essas cerimônias, no entanto, marcavam pontos de desprendimento. Velhas atitudes eram abandonadas e novas deviam ser aceitas. A convivência com algumas pessoas devia ser deixada para trás e novas pessoas passavam a constituir o grupo de relacionamento direto. Muitas vezes, a cada uma dessas cerimônias, a pessoa trocava de nome, representando que aquela identidade que assumira até então, não mais existia - ela era uma nova pessoa.
Nos tempos atuais e nas sociedades modernas, muitos desses ritos subsistiram embora muitos deles esvaziados do seu conteúdo simbólico. Batismo e festas de aniversário de 15 anos, por exemplo, são resquícios desse tipo de cerimônia, que hoje representam muito mais um compromisso social do que a marcação do início de uma nova fase na vida do indivíduo. No entanto, a troca do símbolo pela ostentação pura e simples, acaba criando a desestruturação do padrão social.
Tomando o batizado cristão como exemplo, poderia-se perguntar quantas pessoas que batizam os seus filhos são, realmente, cristãs. Quantas pretendem realmente cumprir a promessa solene, feita em frente ao seu sacerdote, de manter a criança na dos seus antepassados? Obviamente, nas sociedades primitivas, tais promessas eram obrigações indiscutíveis e sagradas. Rompê-las era colocar em risco a própria sobrevivência da tribo como unidade coerente, o que não era, ao menos, cogitável.

A Iniciação dos Xamãs e Heróis
Ao lado dos ritos que abordamos, de certa forma institucionalizada e regulada pela família e pela sociedade, havia outros ritos específicos, que poderiam configurar uma categoria distinta de passagem ou iniciação. Embora pudessem acontecer depois de alguma preparação, era comum que esses ritos ocorressem espontâneamente, a partir de uma casualidade que era então tida como propiciada pelos deuses. Estes eram os ritos de iniciação dos xamãs ou dos heróis. Muitas pessoas, após passarem incólumes por algum tipo de experiência traumática, que poderia ter provocado a sua morte, eram consideradas como pertencendo a uma classe especial.
Estados semicomatosos induzidos por doenças, picada de animais peçonhentos, etc, eram normalmente considerados como modificadores da pessoa, que retornaria desses estados possuindo uma nova e mais clara visão do mundo. Essas pessoas, geralmente, eram alçadas à condição de xamãs pela tribo.
Por um outro lado, o contrário também poderia acontecer: dentro do processo normal de treinamento de um xamã, chegavam-se-se a um ponto em que determinadas provas deveriam ser enfrentadas, para que o treinando comprovasse a sua capacidade de enfrentar seus medos e seus próprios limites físicos e mentais.
Isolamento, frio, fome, às vezes extremos, eram utilizados nesse sentido. A idéia aqui, portanto, não era a de rito de passagem simplesmente como transição de um período para outro da vida, mas também como de um estado de consciência para outro. Ou seja: essa forma de rito não depreendia uma idade ou ocasião específica, e nem ao menos uma cerimônia específica. Poderia acontecer a qualquer momento da vida, por acaso ou por escolha própria, e tinha um cunho de transformação de personalidade mais profundo, geralmente associado a uma missão a cumprir, após a iniciação. O caráter de morte e renascimento nesses ritos era profundamente marcado.
Vê-se tal caráter em diversas lendas de heróis mitológicos, como, por exemplo, no mito egípcio de Osíris, que possui todas as características associadas ao processo das iniciações míticas.
Osíris era uma divindade civilizadora - a ele era atribuída a invenção da escrita e o desenvolvimento da agricultura. No mito, seu corpo é despedaçado e espalhado por todo o Egito; em seguida sua esposa Ísis empreende uma longa busca pelos seus pedaços, e reúne-os para que ele gere com ela seu filho Hórus, que irá prosseguir seu trabalho civilizador. Há de se notar que Ísis, além de esposa, era irmã de Osíris, ou seja: a idéia é que os dois, na verdade, eram duas faces distintas de uma mesma pessoa.
Osíris representa o aspecto de nossos conhecimentos prévios que hão de ser desfeitos, ao passo que Ísis representa a parte de nós que realiza a busca e a reconstrução. Note-se, também, que Osíris (o conhecimento), após ser reconstruído, não permanece existindo, mas apenas cumpre a função de gerar em Ísis um novo ser, filho da fusão entre as duas partes.
A mensagem, portanto, é: aquele que busca o conhecimento deverá morrer (perder a individualidade, desfazer-se), recolher suas partes através de um árduo e longo trabalho e, por fim, transformar-se em um novo ser, com uma missão a cumprir.

 Religiões afro-brasileiras

Os ritos de passagem são inseridos em algumas das religiões afro-brasileiras mas onde estão mais presentes é no Culto de Ifá, Candomblé e Culto aos Egungun, que seguindo as tradições africanas fazem o ritual do nascimento, ritual do nome quando uma criança é apresentada ao Orun e ao Tempo, ritual de iniciação ou feitura de santo, algumas fazem o ritual do casamento, o ritual fúnebre e o ritual do Axexê quando a pessoa iniciada morre.
Umbanda e Quimbanda
A Umbanda e Quimbanda não incluem os ritos de passagem, nem feitura de santo propriamente dita, uma vez que não incorporam Orixás incorporam os Falangeiros de Orixás, usa-se o termo fazer a cabeça onde pode existir a catulagem e pintura, porém a cabeça não é raspada completamente, e não tem imposição do adoxú. A reclusão nesses casos é de três a sete dias, é feita a instrução esotérica, aprendizado das rezas e pontos riscados e cantados, e é feita a apresentação pública.

Outras religiões

A cerimonia de batismo é um exemplo de ritual praticado por cristãos ao longo da història, que simboliza a admissão na comunidade religiosa. A circuncisão, ou brit milá, acontece oito dias apòs o nascimento, é uma cerimonia de iniciação judaica.

Fonte:Wikipédia

 

O que são ritos de passagem?



jovem da etnia yawalapiti se submete a ritual de passagemJovem da etnia yawalapiti (Alto Xingu, Brasil) submete-se a um ritual de passagem, em que a sua pele é arranhada com dentes de peixe até sangrar. 
Os ritos de passagem (ou de iniciação) são cerimónias que assinalam transições importantes no desenvolvimento do indivíduo e em que ocorre uma mudança de estatuto social. Por exemplo: os ritos ligados ao nascimento (como o baptismo), os ritos da puberdade (a iniciação à condição de adulto), o casamento, ritos de integração em grupos específicos (nomeadamente as praxes nas escolas e nas Forças Armadas), ritos ligados à morte (como os funerais).
Vejamos com mais detalhe os ritos da puberdade. Estes assinalam o fim da infância e a entrada na maioridade (que por vezes tem várias fases), ou seja, o início da capacidade sexual e reprodutiva e o direito de desempenhar as funções próprias dos adultos. Essas cerimónias constituem uma iniciação na vida dos adultos. (Nalgumas sociedades não se reconhece a adolescência como um período diferenciado.)
Em muitas sociedades essa passagem para a condição de adulto é bastante dramatizada e é vista como uma grande mudança – como se a criança morresse e o adulto fosse outra pessoa. Muitas vezes chega-se ao ponto de atribuir um novo nome ao iniciado.
As características desses ritos dependem principalmente do estilo de vida do povo em causa e do sexo da pessoa iniciada, pois as provas incluídas nas cerimónias pretendem ser uma preparação para a vida e uma ocasião para o iniciado demonstrar as suas qualidades.
Por isso, quando se trata de um povo guerreiro (ou então um povo cuja sobrevivência depende de actividades, como a caça e a pesca, cujo exercício requer coragem, força e resistência) as provas exigidas aos iniciados são normalmente violentas e dolorosas.
Quando as atividades predominantes numa sociedade são mais “pacíficas”, como a agricultura, os ritos são normalmente menos violentos e menos exigentes.
Contudo, por vezes a violência e a exigência dos ritos deve-se a crenças religiosas e morais e é independente do estilo de vida. É por isso que nalgumas sociedades existem ritos de passagem femininos muito violentos e dolorosos (envolvendo, por exemplo, mutilações genitais).
Os ritos da puberdade, e outros ritos de passagem, simbolizam a aceitação por parte do indivíduo das crenças, costumes e normas comunitárias: ao submeter-se às provas ele dá o seu assentimento à tradição.
Esses ritos simbolizam também o reconhecimento social do indivíduo e a sua integração no grupo – dos homens, das mulheres, etc. É como se lhe dissessem: “agora és um de nós”, “agora podes viver (caçar, pescar, comer, conversar de igual para igual, casar, etc.) connosco”.
A repetição dos ritos e o facto de os iniciados de hoje serem os futuros iniciadores, reforçam a coesão do grupo e a sua identidade cultural colectiva.
Pertencer ao grupo, ser aceite pelos outros, partilhar essa identidade colectiva, é importante em termos psicológicos e ajuda a definir a identidade individual – ajuda a pessoa a saber quem é e a ser reconhecida pelos outros como tal. Sem isso, as pessoas normalmente sentem-se desenraizadas e “perdidas”.
Devido a essa necessidade de identificação e reconhecimento, em muitos ritos de iniciação são feitas marcas corporais características do grupo e que demonstram publicamente que aquele individuo dele faz parte: tatuagens, cicatrizes, dedos amputados, etc.
Nas modernas sociedades industrializadas continuam a existir ritos de passagem ou iniciação: baptismo, casamento, entrega de diplomas, praxes, etc.
Mas não têm a importância social que têm em sociedades mais pequenas e “primitivas”: não envolvem toda a comunidade e têm um significado mais vago e muito menos força simbólica. Não têm quase nunca um carácter obrigatório. Por isso, não têm o poder integrador dos ritos de outras sociedades e são menos eficazes a promover a identidade colectiva e influenciam menos a identidade individual.
No caso dos ritos de puberdade isso é muito notório. Nas nossas sociedades a passagem da infância à idade adulta é muito gradual, pois pelo meio existe o longo período da adolescência, e não se faz através de um grande e simbólico rito de iniciação, embora existam pequenos ritos de iniciação ligados à entrada na escola (nomeadamente as praxes universitárias) e à celebração de alguns aniversários (nomeadamente os 18 anos, que permitem votar, tirar carta de condução, etc.).


Rituais de passagem


Pode encontrar aqui alguns vídeos com impressionantes rituais de passagem ou iniciação, bem como uma breve explicação dos mesmos.


Reportagem televisiva sobre o ritual da Tucandeira, na aldeia Inhaã-Bé, dos Sateré-Mawés (perto de Manaus, Amazonas).

Fura a orelha e serás um homem


O vídeo mostra a cerimónia de perfuração da orelha, um ritual de iniciação através do qual os rapazes Xavante acedem à condição de adultos.
homem Xavante 
Homem Xavante com a orelha perfurada.


Fonte:Carlos Pires -http://cadernosociologia.blogspot.com/

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