JUNG E O OCULTISMO







O CHAMADO DO ALÉM 

O primeiro objeto de estudo que despertou o insaciável interesse intelectual de Carl Gustav Jung, foi o que se denominava em sua época de Fenômenos Ocultos. Dividido entre uma rigorosa educação protestante dada pelo pai e o mundo mágico de comunicação com os mortos, herança do universo esotérico da mãe, o pequeno garoto cresceu nesta estranha atmosfera, cujos efeitos sobre sua saúde física e mental foram devastadores.Durante anos sofreu de pseudo-crupe, machucava-se constantemente e pelo menos uma vez teria feito uma tentativa de suicídio, inconscientemente, quando escorregou pelas frestas de uma ponte sobre um precipício. A baba o salvou. Anos depois, no início da Universidade, teve seu interesse voltado para o mundo silencioso e misterial dos fenômenos transpessoais.
Dois eventos inexplicáveis ocorridos em sua casa, foram a gota d’água para que calouro de medicina acreditasse que tais sinais eram um explícito chamado do mundo do além. Uma resistente mesa de nogueira se partiu ao meio e uma faca espatifou-se em quatro pedaços! Nos dois casos, Jung e a família materna não conseguiram outra explicação para o estranho acontecimento a não ser a decidida intromissão do mundo sobrenatural na rotineira realidade de suas vidas.
A partir daquele dia o jovem Jung decidiu organizar uma série de sessões espíritas em sua própria casa. Religiosamente os encontros eram promovidos aos sábados a noite, reunindo a mãe, alguns convidados especiais e a estrela do espetáculo, sua prima Hélèn Preiswerk. Induzida por ele ao transe, a jovem menina - tinha 13 anos na época - incorporava um sem número de entidades que aguardavam, ansiosas, o momento certo para exibir-se. O leque de manifestações era amplo: do mais sofisticado espírito de luz até aqueles que só conheciam a escuridão e o mundo das trevas.,br> Mais tarde o sóbrio Eugen Bleuler, diretor do mundialmente famoso hospital Psiquiátrico de Burghölzli, sugeriu a Jung que transformasse as suas pesquisas com a médium Hélèn no objeto de sua tese de doutoramento. A oferta foi prontamente atendida. E assim surgiu o seu primeiro grande trabalho Psicologia e Psicopatologia dos Assim Chamados Fenômenos Ocultos.

FENÔMENOS PARANORMAIS NA VISITA A FREUD 

Na primeira visita que fez a Freud em Viena, após conversarem por mais de 13 horas initerruptamente, ele sentiu uma poderosa força comprimindo seu diafragma. Alguma coisa não estava bem. Subitamente um grande barulho se fez ouvir. Eles se assustaram. Parecia que a estante onde Freud acomodava seus livros iria desabar. Carl Jung, que tentava convencer o colega de Viena da realidade de forças transpessoais atuando na realidade deste mundo, não perdeu tempo. Interpretou o fenômeno como uma “exteriorização cataléptica de energia”. Com um meio sorriso no rosto, advertência explícita que não iria se deixar influenciar pelo obscurantismo suíço, Freud sacudiu a cabeça pesarosamente e rebateu o apressado entusiasmo de Jung. Tudo era tolice. O armário estava velho e poderia despencar a qualquer momento. Não apenas os homens fadigam e morrem,. As coisas também. Neste combate mítico, onde um dos heróis é o personagem transcendental, ligado ao mistério e as forças incomuns e seu opositor encarna a dura e tediosamente realidade cotidiana, repetida sempre e invariavelmente da mesma forma, Jung se sairá melhor.
Pelo menos neste episódio em Viena. Enchendo-se de coragem, ele diz: : “O senhor esta enganado, doutor, e para provar que tenho razão aviso previamente que o estampido ira se repetir.” Freud o olhou estarrecido. Mal podia acreditar que o filho que o sucederia na cruzada Psicanalítica continuasse envolvido com esses fenômenos que ele deplorava e dos quais não queria se aproximar, pouco menos ver as suas teorias envolvidas neles. O “Psicologia e Psicopatologia dos Assim Chamados Fenômenos Ocultos”, não teria sido suficiente para o nebuloso esoterismo de Jung? Ainda assustado, ele esperava que a profecia junguiana se consumisse. Enquanto aguardava a manifestação do além pensou em Jung como um psicótico que acreditava em espíritos e, o que era pior, conversava com eles, recebendo suas mensagens e avisos. Se tudo falhasse, então era sua vez.
Com um golpe mortal devolveria os perturbados espíritos de Jung de volta para o lugar de onde nunca deveriam ter saído: a sua rica imaginação. Mas aquele não era o dia de Freud. Para seu desespero o estampido se fez ouvir mais uma vez. O PROJETO PARANORMAL OU PROJETO INFINITO Por toda a vida Jung nunca perdeu o interesse pelos fenômenos paranormais ou estados holotrópicos de consciência. No entanto, ninguém sabe ao certo o que pensava realmente sobre isso. Nunca se manifestou claramente. Ora dizia uma coisa, ora outra. Quando jovem, acreditou que esses fenômenos fossem exteriorização da psique.
Projeção de material reprimido e tenso. Com mais de oitenta anos, andou dizendo que não mais apoiava seu ponto de vista do passado. Olhando através dos anos e de suas assombrosas vivências interiores foi capaz de assumir o que sempre soube, mesmo quando era apenas um menino pobre, vitimado por terror noturno e com todo o corpo tomado por feridas: existe uma realidade transpsíquica, para além do ego e do inconsciente. Nós não somos só o que a razão nos diz. O projeto humano rompe as barreiras do tempo e projeta-se rumo ao infinito, ao cosmos, a Deus. E Deus, não limita-se a ser somente “Deus-em-nós”, como um Deus psicológico, engendrado a partir das profundezas da psique. É também Deus que nos atinge de fora. Sem aspas. Temos que a psique cria o mundo, mas antes dela, alguém com uma “psique” ainda maior, a plasmou. E nem se necessita da fé para admitir esse princípio.
Os estados holotrópicos de consciência confirmam que a vida cotidiana é permeada em todos os seus contornos por uma outra vida não sujeita à corrosão. Tal existência é transpessoal. Dizer isso é afirmar a realidade da transfiguração e abolir definitivamente as fronteiras entre espírito e matéria. Sem saída e evitando vestir a fantasia de “místico” que os freudianos costuraram sob medida para ele, buscou as novas teorias da física quântica e em W. Pauli, Nobel de física, apoiou suas pesquisas sobre os fenômenos da sincronicidade. O livro autobiográfico Memórias, Sonhos Reflexões é, no fundo, o resumo de uma vida tremendamente marcada por incompressíveis fenômenos que a ciência ainda hoje não consegue decifrar. 

O VÍDEO

São nove extraordinários depoimentos dos mais competentes especialistas nesta área. Dos quatro tradutores oficiais escolhidos diretamente pelo rigoroso grupo editorial de Zurique para traduzir as obras completas de Jung para o português, entrevistamos três: Léon Bonaventure, Jette Bonaventure e Dora Mariana Ferreira da Silva. O competentíssimo analista junguiano Carlos Byignton, membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, dá um show de erudição e equilíbrio analítico em Jung e o Ocultismo, quando se dispõe a interpretar os fenômenos paranormais como legítima expressão da imensa capacidade da psique inconsciente em manifestar-se de diferentes modos.
O escritor José Carlos Leal e o psiquiatra Jorge Andréa se responsabilizam pelo lado oculto das história junguianas e dão a elas uma interpretação com tonalidade algo esotérica. Já o psicólogo Philippe B. de Mello constrói boas pontes de comunicação entre as experiências dos arquétipos e a existência de possíveis vidas pré-natais. Os criadores do vídeo, psicólogos José Raimundo Gomes e Carlos Augusto Silva investigam algumas passagens da vida pessoal de Jung cheias de sincronicidades, aparições, dé javu, materializações e outros mistérios que desafiam a compreensão humana. 

ENTREVISTA COM OS PRODUTORES 

Psicólogos José Raimundo Gomes Carlos Augusto Silva Pergunta: Dois psicólogos e um vídeo.
Como surgiu a idéia de produzir um vídeo sobre JUNG E O OCULTISMO?
José Raimundo Gomes: Jung e o Ocultismo é um velho sonho. Em 1990 quando visitei Franz Jung, em Küsnacht, Suíça, arrisquei uma pergunta cuja resposta era imprevisível: ‘O senhor sabe os motivos que levaram seu pai, Carl Jung, a se interessar pelos fenômenos ocultos.?
Ele riu e disse: ‘na época de meu pai, muitos fenômenos estranhos aconteciam nesta casa. Eu mesmo presenciei alguns deles’. Naquele momento tive a certeza de que um dia estaria envolvido com o estudo do “ocultismos” na obra de Jung.
Pergunta: Houve algum incentivo?
Carlos Augusto Silva: Não. Eu e meu colega apostamos na idéia e decidimos realiza-la. É um vídeo muito bem produzido, sério. Aborda o problema dos fenômenos paranormais de maneira equilibrada. Jung e o Ocultismo é um trabalho pioneiro de dois psicólogos sem nenhuma experiência nesta área. O resultado foi tão bom que a própria Editora Vozes, que publica as obras completas de Jung em português, se interessou em distribuí-lo para todo país.
Pergunta: A palavra Ocultismo não levanta suspeitas?
J. R. Gomes: Só nas pessoas tolas. Ninguém duvida que certos fenômenos escapam a racionalidade da consciência e não se deixam aprisionar pela limitadas explicações que consciência pode oferecer. São experiências que acontecem a toda hora. Alguma vez na vida um sonho se realizou no dia seguinte; pensa-se em alguém e tal pessoa telefona, imediatamente; às vezes estamos em lugares que juramos já ter estado antes. Esse conjunto de fenômenos sempre foram desacreditados pela ciência que só agora começa a demonstrar algum respeito por eles. No entanto, eles estão ai, todo dia, toda hora e nos desfiam a entendê-los adequadamente. As recentes pesquisas de Stanislav Grof demonstram o que Jung já sabia desde do início do século XX: a psique se estende para além das fronteiras pessoais. Seu fundamento último é o cosmos. A física esta chegando a mesma conclusão.
Não existe distinção ente psique e matéria.
Pergunta: Como foi realizado o vídeo?
C. A. Silva: Carl Jung teve coragem de assumir como tese doutoral um tema avesso ao meio acadêmico de seu tempo, e ainda assim dar uma validade científica para suas pesquisas. Obviamente tais experiências de sua vida repercutiram em sua obra, o que despertou nosso interesse. A idéia de realizar o vídeo vem ao encontro dessa inspiração inicial pois o assunto continua pleno de atualidade. Montamos o trabalho com esmero utilizando uma técnica de edição que estimula o debate no espectador, enriquecidos pelos diferentes depoimentos ali reunidos.
Pergunta: Jung acreditava em espíritos?
J. R. Gomes: Ele sempre teve certeza da existência de realidades transpsicológicas. Não assumia publicamente essa atitude por questões políticas. Mas seu interesse por discos voadores, pelos oráculo advinhatórios como o I Ching, os estudos com W. Pauli, Nobel de física, sobre os fenômenos de sincronicidade, o respeito que nutria por livros sagrados de antigas religiões como O Livro Tibetano dos Mortos é prova irrefutável de que Jung tinha certeza de que a vida se estendia além das fronteiras de nossa existência material. Nesse sentido ele pode ser considerado como o precursor de toda essa psicologia que só agora começa a ganhar alguma respeitabilidade na academia, como por exemplo, a psicologia transpessoal.
Pergunta: Nestas pesquisas você encontrou alguma curiosidade sobre os Fenômenos Ocultos?
J. R. Gomes: Nas sessões espíritas que ele organizou em sua casa quando era estudante de medicina há especialmente um episódio digno de registro. Helen teria “recebido” o avô morto há muitos anos. E ele trazia notícias de Berta Preiswerk, irmã de Hélèn. Ela havia desaparecido da Suíça sem deixar pistas e todos estavam muito preocupados. Em suas peregrinações espirituais, o velho Samuel, que em vida fora pastor e espírita ao mesmo tempo, esteve num país muito distante dos elevados picos suíços e ali teria encontrado a neta.
A notícia encheu de alegria os convidados da reunião. Quiseram logo saber de seu paradeiro. E aí veio a notícia. Berta havia desembarcado no Brasil! Mas isso não era tudo. Ela teria se casado com um negro e tido dois filhos mulatos. O grupo mal pode acreditar no que ouvia. Se era mesmo o velho Samuel Preiswerk na pele da neta, então temos descendentes de Carl Jung brasileiros e... mulatos! É, no mínimo, uma bela mistura. 

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Léon Bonaventure Jette Bonaventure Carlos Byington Dora Mariana Ferreira da Silva José Carlos Leal Jorge Andrea
José Raimundo Gomes - psicologiapravoce

Fonte:http://www.hierophant.com.br/

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