COSMOLOGIA BUDISTA




Cosmologia budista é a descrição do formato e da evolução do Universo de acordo com a tradição canônica e comentarial do budismo.

A cosmologia budista considera que o Universo é composto por vários sistemas mundiais, sendo que cada um desses possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio que dura bilhões de anos. Num sistema mundial existem seis reinos, que por sua vez incluem vários níveis, num total de trinta e um.


O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é diferente da concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de permanência eterna nem o renascimento nesse local é o resultado de um castigo divino; os seres que habitam no inferno libertam-se dele assim que o mau carma que os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o budismo considera que existem não apenas infernos quentes, mas também infernos frios.

Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo, encontra-se o reino animal, o único dos vários reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies. Acima do reino dos infernos pelo lado direito, encontra-se o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas (preta). Os seres que nele vivem sentem constantemente sede ou fome, sem nunca terem essas necessidades saciadas. A arte budista representa os habitantes desse reino como tendo um estômago do tamanho de uma montanha e uma boca minúscula.

O reino seguinte é o dos reino dos Asura (termo traduzido como "Titãs" ou dos antideuses). Os seus habitantes ali nasceram em resultado de ações positivas realizadas com um sentimento de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.

O quinto reino é o reino dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento desejável, mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via intermédiaria nessa cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que de acordo com a perspectiva budista favorece a tomada de consciência sobre a condição samsárica.

O último reino é o reino dos devas (deuses) e é composto por vários níveis ou residências. Nos níveis mais próximos do reino humano, vivem seres que, devido à prática de boas ações, levam uma ação harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo são denominados como "Residências Puras", sendo habitadas por seres que se encontram perto de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como humanos.



Kamma e Renascimento 

De acordo com os ensinamentos do Buda, todos os seres, exceto os arahants, estão sujeitos à “renovação da existência no futuro”, (punabbhava), isto é, ao renascimento. O renascimento na concepção Budista não é a transmigração de um eu ou alma, mas a continuidade de um processo, um fluxo de devir, no qual vidas sucessivas estão conectadas juntas através da transmissão causal de influências, ao invés de uma identidade substancial. O padrão causal básico subjacente a esse processo é aquele definido pela origem dependente que também demonstra como é possível o renascimento desprovido de um eu que reencarna.

O processo de renascimento, o Buda ensina, exibe uma regularidade definida essencialmente ética no seu caráter. Esse caráter ético é estabelecido pelo dinamismo fundamental que determina os estados nos quais os seres renascem e as circunstâncias que eles encontram ao longo das suas vidas. Esse dinamismo é kamma, a ação volitiva através do corpo, linguagem e mente. Aqueles seres que praticam ações ruins – ações motivadas pelas três raízes prejudiciais da cobiça, raiva e delusão – geram kamma prejudicial que os conduzirá ao renascimento nos estados de existência inferiores e se o kamma amadurecer no mundo humano, trará dor e infortúnio. Aqueles seres que praticam boas ações – ações motivadas pelas três raízes benéficas da não cobiça, não raiva e não delusão – geram kamma benéfico que os conduzirá aos estados de existência superiores e que amadurecem no plano humano como prazer e boa fortuna. Como as ações que uma pessoa realiza ao longo de uma única vida podem ser extremamente variadas, o tipo de renascimento que virá mais adiante pode ser bastante imprevisível, como mostra o Buda . Mas apesar dessa variabilidade empírica, há uma lei invariável que governa os resultados produzidos, sendo que as correlações básicas são também delineadas pelo Buda .

Em vários suttas  o Buda se refere aos vários planos de existência nos quais pode ocorrer o renascimento e também dá alguma indicação dos tipos de kamma que conduzem a esses planos. Essa tipografia cosmológica não é, sob o ponto de vista Budista, um produto da conjectura ou fantasia mas um tema que o Buda conhecia diretamente através dos “poderes do conhecimento de um Tathagata”. Até certo ponto o processo também pode ser verificado por aqueles que obtêm o olho divino .Pode-se dar aqui uma breve visão geral dos planos de renascimento reconhecidos na cosmologia Budista e os seus antecedentes cármicos, como apresentado na tradição Theravada.

O cosmo Budista está dividido em três amplos reinos – o reino da esfera sensual, o reino da matéria sutil e o reino imaterial. Cada um destes compreende um conjunto de planos subsidiários, totalizando trinta e um planos de existência. O reino da esfera sensual, assim chamado porque nele predomina o desejo sensual, consiste de onze planos divididos em dois grupos, as destinações ruins e as destinações boas. As destinações ruins ou “estados de privação”, (apaya), são quatro em número: os infernos, que são estados de intenso tormento como descrito ; o reino animal; o mundo dos fantasmas, (peta), seres afligidos pela sede e fome incessantes; e o mundo dos titãs, (asuras), seres envolvidos em constante combate (não mencionados como um plano separado). Os tipos de kamma que conduzem ao renascimento nesses planos são classificados em um conjunto de dez - três com o corpo, quatro com a linguagem e três com a mente. Estes estão enumerados resumidamente  e explicados no . Graduações na gravidade das intenções ruins responsáveis por esses atos explicam as diferenças específicas no modo de renascimento que resulta dessas ações.

As destinações boas no reino da esfera sensual são o mundo humano e os planos paradisíacos. Estes últimos são seis em número: os devas sob os Quatro Grandes Reis; os devas do Trinta e Três, (tavatimsa), que são governados por Sakka, uma metamorfose Budista de Indra, retratado como um devoto discípulo do Buda, mas dado à negligência ;os devas de Yama; os devas do paraíso de Tusita, a morada do Bodisatva antes do seu último nascimento ;os devas que se deliciam com a criação; e os devas que exercem poder sobre a criação dos outros. Este último dizem ser a morada de Mara, a Tentação no Budismo, que além de ser um símbolo para o Desejo e a Morte, é também considerado uma divindade poderosa com intenções maldosas que deseja ardentemente evitar que os seres escapem da rede do samsara. A causa cármica para o renascimento nas destinações boas do reino da esfera sensual é a prática dos dez tipos de ações benéficas, definidas .

No reino da matéria sutil os tipos de matéria mais grosseiros estão ausentes e o prazer, poder, luminosidade e vitalidade dos seus habitantes são muito superiores aos dos seres do reino da esfera sensual. O reino da matéria sutil consiste de dezesseis planos que são a contrapartida objetiva dos quatro jhanas. A realização do primeiro jhana conduz ao renascimento como membro do cortejo de Brahma, ministro de Brahma ou Maha Brahma, dependendo do grau de desenvolvimento desse jhana, se inferior, médio ou superior. O Brahma Baka  e o Brahma Sahampati parecem ser residentes do terceiro nível. Os suttas mencionam especialmente as moradas divinas como o caminho para os mundos de Brahma .A realização do segundo jhana nos mesmos três graus conduz respectivamente ao renascimento entre os devas da Radiância Limitada, da Radiância Imensurável e dos que Emanam Radiância; o terceiro jhana ao renascimento entre os devas da Glória Limitada, da Glória Imensurável e da Glória Refulgente. O quarto jhana em geral conduz ao renascimento entre os devas do Grande Fruto, mas se ele for desenvolvido com o desejo de alcançar um modo de existência insensitivo, ele conduzirá ao renascimento entre os seres não perceptivos, nos quais a consciência é temporariamente suspensa. Por outro lado, o reino da matéria sutil contém cinco planos especiais que são exclusivamente para o renascimento daqueles que não retornam. Eles são as Moradas Puras - Aviha, Atappa, Sudassa, Sudassi e Akanittha. Em cada um dos planos do reino da matéria sutil, dizem que o tempo de vida tem uma duração enorme e que aumenta de modo significativo em cada plano superior.

O terceiro reino da existência é o reino imaterial, no qual a matéria se tornou inexistente e existem apenas processos mentais. Este reino consiste de quatro planos, que são as contrapartidas objetivas das quatro realizações meditativas imateriais, das quais estes resultam e com as quais compartem os nomes: as bases do espaço infinito, consciência infinita, nada, nem percepção, nem não percepção. Os tempos de vida atribuídos a cada um respectivamente são: 20.000; 40.000; 60.000; e 84.000 éons.

Na cosmologia Budista a existência em cada reino é necessariamente impermanente em virtude do resultado de kamma ter um potencial finito. Os seres renascem de acordo com as suas ações, experimentam os bons ou maus resultados, e depois que o kamma generativo tiver gasto a sua força, os seres falecem e renascem noutro lugar determinado por algum outro kamma que encontrou a oportunidade favorável para amadurecer. Por conseguinte, os tormentos do inferno bem como os prazeres do paraíso estão sujeitos a ter um fim, não importando o quanto eles possam durar. Por essa razão o Buda não localiza o objetivo final dos seus ensinamentos em nenhum lugar dentro do mundo condicionado. Ele guia aqueles cujas faculdades espirituais ainda são imaturas a aspirar pelo renascimento nos paraísos celestiais e ensina os tipos de comportamento que conduzem à satisfação das suas aspirações .Mas aqueles cujas faculdades espirituais estão maduras, capazes de compreender a natureza insatisfatória de tudo que é condicionado, são incitados a aplicar esforço diligente para dar um fim à perambulação no samsara e realizar Nibbana, que transcende todos os planos de existência.



Os Trinta e Um Mundos de Existência







Os suttas descrevem trinta e um mundos de existência nos quais os seres renascem durante a sua perambulação por samsara. A existência em cada um desses planos é temporária e passado o tempo de vida ocorre o renascimento em algum outro mundo; na cosmologia Budista não há um paraíso ou inferno eternos. Os seres renascem em cada um dos mundos de acordo com o fruto de kamma em particular que amadurece no momento da morte.

Os mundos em geral são agrupados em três reinos, relacionados em ordem descendente de pureza:

* O Reino Imaterial (ou sem forma) (arupa-loka)

* O Reino da Matéria Sutil (ou com forma)(rupa-loka)

* O Reino da Esfera Sensual (kama-loka)



I. O Reino Imaterial (ou sem forma)(arupa-loka)

(31) Devas da nem percepção, nem não percepção (nevasaññanasaññayatanupaga deva)

(30) Devas do nada (akiñcaññayatanupaga deva)

(29) Devas da consciência infinita (viññanañcayatanupaga deva)

(28) Devas do espaço infinito (akasanañcayatanupaga deva)



II. O Reino da Matéria Sutil (ou com forma)(rupa-loka)

(27) Akanittha deva

(26) Sudassi deva

(25) Sudassa deva

(24) Atappa deva

(23) Aviha deva

(22) Asaññasatta deva

(21) Devas do grande fruto (vehapphala deva)

(20) Devas da glória refulgente (subhakinna deva)

(19) Devas da glória imensurável (anasubha deva)

(18) Devas da glória limitada (asubha deva)

(17) Devas que emanam radiância (abhassara deva)

(16) Devas da radiância imensurável (appamanabha deva)

(15) Devas da radiância limitada (parittabha deva)

(14) Grandes Brahmas (maha brahma)

(13) Ministros de Brahma (brahma-purohita deva)

(12) Cortejo de Brahma (brahma-parisajja deva)



III. O Reino da Esfera Sensual (kama-loka)

Destinos Felizes (sugati)

(11) Devas que exercem poder sobre a criação de outros (paranimmita-vasavatti deva)

(10) Devas que se deliciam com a criação (nimmanarati deva)

(9) Tusita deva

(8) Yama deva

(7) Devas do Trinta e Três (tavatimsa deva)

(6) Devas dos quatro grandes reis (catumaharajika deva)

(5) Seres humanos (manussa loka)

Estados de Privação (apaya)

(4) Titãs (asura)

(3) Fantasmas famintos (peta)

(2) Animais (tiracchana yoni)

(1) Infernos (niraya)





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