A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES AFETIVAS NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA


Nas últimas décadas, cientistas têm encontrado provas objetivas do que há muito tempo poetas, artistas e místicos já sabiam: as relações afetivas são o fundamento da existência humana. Sem amor, adoecemos. Mais recentemente, com o avanço das Neurociências - que permitiu o estudo das áreas cerebrais relacionadas aos processos emocionais – constatou-se que falhas dos pais em fornecer um ambiente afetivo adequado aos filhos causam perturbações graves na estruturação do sistema nervoso, podendo ocasionar conseqüências desastrosas por toda a vida.


Na verdade, pelo menos desde a primeira metade do século XX, estudos de crianças institucionalizadas durante as duas Guerras Mundiais já comprovavam que a privação de cuidados afetivos pelos pais pode comprometer gravemente a saúde física e mental, ao ponto de levar à morte. Também a Psicanálise, pela faceta subjetiva, vinha mostrando a importância das experiências emocionais da infância para o desenvolvimento dos indivíduos. O que a Neurociência veio acrescentar foi a comprovação de que tais experiências modelam concretamente a estrutura e o funcionamento do cérebro.

O bebê humano vem ao mundo num estado de total dependência, tanto física quanto emocional, de seus pais (pessoas que desempenham as funções materna e paterna, não necessariamente os pais biológicos). Com eles, estabelece uma relação afetiva que permite o desenvolvimento da personalidade, moldando a organização do sistema nervoso.

Para que uma semente germine, cresça e se torne uma bela árvore, é necessário que tenha sido plantada em solo fértil, e que receba a quantidade de água e de luz solar adequadas. Da mesma forma, o amor dos pais dá condições para que a criança se desenvolva. Os pais devem representar a base segura a que a criança recorre para continuar crescendo, o espelho em que vê refletidas e valorizadas as suas conquistas, o modelo de conduta em que se inspira para formar o caráter, o limite que a organiza, canalizando seus impulsos de forma positiva, e o reduto de amor incondicional que permite o surgimento de uma pessoa singular, mesmo se esta singularidade for em tudo diferente da maneira de ser dos pais.

Pais que não atendem suficientemente as necessidades emocionais básicas da criança (segurança, reconhecimento, exemplo, limites, respeito à singularidade), principalmente nos primeiros quatro anos de vida, comprometem seriamente o desenvolvimento dos filhos. O afastamento dos pais neste período, por exemplo, está relacionado ao adoecimento físico (desde manifestações alérgicas, digestivas ou respiratórias simples até a morte), à interrupção no crescimento, e ao surgimento (nas separações menos duradouras) de quadros ansiosos e depressivos ao longo da vida. Mesmo situações aparentemente menos dramáticas de falhas no atendimento às necessidades emocionais podem gerar diversos problemas futuros: adultos incapazes de estabelecer relações mais profundas, com sensações crônicas de tédio e vazio ou comportamentos compulsivos (consumismo, problemas alimentares, etc.).

A relação da criança com seus pais é exclusiva, específica e insubstituível. A criança pequena tem uma capacidade extremamente reduzida de suportar a ausência física dos pais. Quando o afastamento supera esta capacidade, gera-se um trauma, que poderá marcar definitivamente a personalidade, nesta fase ainda em formação. Uma breve viagem dos pais no fim de semana, deixando a criança com os avós ou com a babá habitual, embora aparentemente inofensiva, pode ser suficiente para provocar tal problema.

Todos estes fatos suscitam algumas questões concretas. Assim, numa sociedade em que há maior liberdade de escolha, não ter filhos deve ser uma opção válida para casais que não se dispõem às mudanças de vida que o cuidado de uma criança torna necessárias. Também fica evidente que os pais não deveriam se afastar de seus filhos pequenos por períodos longos (não mais que um dia). Recursos como babás ou creches devem ser utilizados como auxiliares, e não como substitutos.

A capacidade afetiva intuitiva de que somos dotados permitiu que por milênios pessoas desprovidas de conhecimentos técnicos cuidassem bem de seus filhos. Não aprendemos a amar em livros. Desta forma, por mais que avance a ciência, explicando as

bases biológicas do comportamento humano, nunca substituirá a real vivência das relações afetivas.

Autor: Dr. Roberto Santoro Almeida -
http://www.soperj.org.br/publico/textos_detalhe.asp?Id=238

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